sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Coleção da Maria Filó com estampa de escravos causa revolta em consumidores.


Uma estampa de roupa que retrata a escravidão de negros e faz parte da coleção da rede de lojas Maria Filó está causando constrangimento em lojas de todo o Brasil e bastante revolta na internet. A polêmica veio à tona com a postagem de uma consumidora numa rede social. Tâmara Isaac, de 29 anos, decidiu se manifestar depois de se deparar com a imagem de mulheres negras servindo brancas durante uma visita à loja de Niterói, na região metropolitana no Rio de Janeiro.

— Fiquei chocada. Não é possível que esse seja o tema de uma campanha. Eu perguntei para a vendedora se tinha algum sentido naquilo ou se era apenas uma estampa racista. Ela só me disse que era a coleção sobre o Brasil — contou Tâmara, que é servidora pública.


A consumidora afirma ter ficado transtornada também com o fato de as pessoas da marca acharem normal o uso da imagem que, para ela, é um clara apologia ao racismo. Tâmara fez uma publicação de desabafo no Facebook, onde milhares de pessoas concordaram com ela. A página da Maria Filó também recebeu uma enxurrada de comentários contra a estampa. “Uma marca de roupa em pleno 2016 fazer uma estampa fazendo apologia à escravidão e racismo é tão absurdo que eu nem sei por onde começar a expressar minha indignação”, escreveu uma consumidora.



Marca pede desculpas e diz que vai retirar estampa das lojas

Procurada pelo EXTRA, a Maria Filó enviou uma nota afirmando que a estampa será retirada das lojas. "A Maria Filó esclarece que a estampa em questão buscou inspiração na obra de Debret. Em nenhum momento houve a intenção de ofender. A marca pede desculpas e informa que já está tomando providências para que a estampa seja retirada das lojas", afirmou a empresa.

No site da empresa não é possível ver nenhuma explicação sobre a estampa, que faz parte da coleção chamada pindorama. Tâmara também não encontrou respostas para o uso de escravos em peças como blusas e calças. “Quando cheguei em casa entrei no site da marca, com a esperança de que houvesse algum sentido naquilo, mas só encontrei uma marca que não satisfeita em representar somente mulheres brancas achou que esse toile de jouy (estampa francesa) de escravas seria de muito bom gosto”, escreveu no Facebook.


Lamentavelmente, Tâmara afirma estar acostumada ao racismo, mas se surpreendeu pela naturalidade.
— As pessoas não acham que é um problema . E não veem como isso é danoso e agressivo. Sendo uma pessoa negra, a gente encontra racismo todo dia, mas esse (da estampa) é muito evidente. O que me deixou mais chocada é pensar em quantas pessoas acharam normal essa estampa — afirmou.



 Advogado não vê racismo em estampa


Presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra da OAB, o advogado Humberto Adami, não viu a estampa como racista ou ofensiva, mas acredita que é importante debater a história do Brasil.

— Uma roupa com uma estampa alusiva a questão afrodescendente na época da escravidão pode ser uma pintura que retratou em muitos momentos a história do brasil. E só pelas pinturas é que nós temos notícia de como foi. Como a estampa traz uma uma mulher negra com uma bandeja, ela poderia ser uma imagem das quituteiras e escravas de ganho que vendiam seus quitutes na rua, o equivalente às baianas de hoje em dia — afirmou.

Para o advogado a história da escravidão é deixada de lado na história do Brasil e os resquícios que permanecem até hoje.

— O mais importante é discutir a escravidão. Não sei qual a intenção da loja ao fazer essa linha, mas poderia ser uma oportunidade. O registro de uma denúncia de tortura de escravos numa forma de arte— afirmou, acrescentando que enquanto o Brasil não olhar para seu passado escravocrata, terá negros sendo tratados como cidadão de segunda categoria.

FONTE:http://extra.globo.com/noticias/rio/colecao-da-maria-filo-com-estampa-de-escravos-causa-revolta-em-consumidores-20288235.html

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