sexta-feira, 25 de julho de 2014

Programa Universo Hip Hop - Pandora entrevista NEGRITUDE ATIVA (20.07.2014)



“O racismo produz privilégios”, diz Jurema Werneck em entrevista ao Correio

A fundadora da ONG Criola estará na capital para participar da conferência Legados dos ialodês: samba e resistência feminina

Fundadora da ONG Criola, Jurema Werneck é do tempo em que as universidades públicas ainda não adotavam o sistema de cotas para negros. Ela fez toda a trajetória acadêmica em escola pública e, ao contrário das estatísticas, graduou-se em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e virou doutora em Comunicação.
Sexta (25/7), às 14h30, a estudiosa — nascida e criada na favela Morro dos Cabritos, em Copacabana (RJ) — estará na capital para participar da conferência Legados dos ialodês: samba e resistência feminina. “Vou propor que as pessoas pensem sobre esse tema. Porque nós sabemos que as mulheres negras no Brasil são bastante vitimadas pela violência que o racismo, a exclusão e a desvalorização significam. Pelo samba, elas fizeram uma importante ação política de afirmação da tradição da comunidade”, adianta.

Cinco perguntas / Jurema Werneck

Você ocupa espaços que são, tradicionalmente, de homens e de brancos. Como é ser mulher negra nesses ambientes?
A medicina não é uma carreira exclusiva masculina, mas é de privilégios masculinos. Aquelas especialidades e posições de maior prestígio ainda continuam pelo controle dos homens brancos. A discussão sobre cota para as mulheres e a questão de igualdade de gênero é muito antiga no Brasil e, ainda assim, não produziu mudanças. As cotas raciais estão chegando e, se não houver uma política mais profunda, para além da entrada no vestibular, as ações afirmativas vão terminar não dando o resultado necessário.

Por que o brasileiro tem tanta dificuldade de aceitar políticas afirmativas, como as cotas?
Porque o brasileiro é racista. Tem uma parte do Brasil que luta contra o racismo e foi a parte que propôs as cotas. Mas tem a outra parte que se beneficia com as desigualdades. Uma coisa importante a entender sobre o racismo é que ele produz muitos privilégios na sociedade. Inclusive, o de estar em uma universidade pública com todas as vantagens na trajetória acadêmica. Quando eu fiz medicina, em toda as turmas, só havia três negros. Agora pode ser que já tenham mais. Mas ainda há uma forte resistência contra os cotistas.

Você é favor de cotas para outros âmbitos como concursos e cinema?
Sou a favor de todo e qualquer mecanismo que promova a igualdade de oportunidade, de inserção e de acesso aos benefícios. E não só das cotas. Sou a favor de que se faça um investimento profundo, inclusive, de recursos financeiros das ações que o Brasil precisa desenvolver para acabar com o racismo e para acabar com as desigualdades.

Nos últimos meses, vários casos de racismo ganharam destaque nos veículos de comunicação. A que se deve isso?
Primeiro foi uma vitória do discurso do movimento negro ao longo do século 21. O movimento negro passou o século 20 todo tentando ensinar a sociedade brasileira que o racismo existe. Essa vitória provocou maior visibilidade. Mais pessoas reconhecem, veem o racismo e reagem a ele. Por outro lado, ainda que haja o bloqueio na mídia comercial, agora esses setores são capazes de emitir esse discurso e de ganhar realmente uma ampliação dessa voz. Ampliou-se a voz dos sujeitos, mas a polícia e a Justiça não estão atuando como deveriam e como a lei manda. A gente ainda tem um longo caminho pela frente.

Em Salvador, Os Ferreiras de Santo podem ser despejados dos Arcos da Montanha por conta de projeto executivo de restauração dos imóveis localizados lá. Esse episódio é um resultado de uma ação racista somada à intolerância com as religiões de matriz afro?
Não tenho dúvida. São três fenômenos ocorrendo para essa tragédia: o racismo, a intolerância religiosa e a violência contra os poderes de ocupação africana. Isso tem crescido bastante e se utiliza do racismo e do fundamentalismo para agredir essas religiões. Mas tem um outro fenômeno também que é importante denunciar: a especulação imobiliária patrocinada pelos governos locais. O governo e a prefeitura de Salvador têm sido criminosos, coniventes e têm facilitado muito essa especulação, que sempre busca o lado mais fraco para atacar. Nós vimos isso no Rio de Janeiro, na época de definição dos destinos do projeto Porto Maravilha. É uma área de profunda tradição afro-brasileira, que tem inclusive o Cais do Valão, que foi de grande luta do movimento negro. Ou seja, a especulação imobiliária tira vantagem do racismo para atacar as tradições negras.

FONTE:http://www.geledes.org.br/o-racismo-produz-privilegios-diz-jurema-werneck-em-entrevista-ao-correio/


Presídios, um bom negócio

Reportagem da agência Pública, de 27/5, chamou atenção para a inauguração, em janeiro de 2013, da primeira penitenciária privada do país, localizada em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte (MG). O slogan do complexo penitenciário, informa a reportagem, é “menor custo e maior eficiência”, questionado por especialistas, como Robson Sávio, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP) da PUC-Minas. Para ele, essa eficiência tende a se expressar no aumento das prisões e não no sucesso na ressocialização dos presos.

Também para Bruno Shimizu e Patrick Lemos Cacicedo, coordenadores do Núcleo de Situação Carcerária da Defensoria Pública de São Paulo, o modelo merece críticas. Bruno considera que “do ponto de vista da Constituição Federal, a privatização das penitenciárias é uma excrescência”, explicando que o poder punitivo do Estado é delegável.

Patrick aponta como maior perigo do modelo o encarceramento em massa, em um país que já é o quarto com maior população carcerária do mundo. Nos Estados Unidos, que adota o modelo privado desde 1980 e reúne metade das 200 dessas instituições existentes no mundo, encarcerar tornou-se negócio bilionário, informou na reportagem. Agora, a semente foi lançada no Brasil: nos documentos disponíveis sobre a parceria, é levado em conta o “retorno ao investidor”. Integra da reportagem: HTTP://apublica.org/2014/05/quanto-mais-presos-maior-o-lucro.


FONTE: Revista RADIS, nº 142, julho de 2014.


quinta-feira, 24 de julho de 2014

KAROL CONKÁ




A maldição branca


Artigo do escritor uruguaio Eduardo Galeano debate a tragédia do Haiti numa perspectiva histórica: "Nada tem de novo o menosprezo pelo Haiti. Há dois séculos, o país sofre desprezo e castigo".
Eduardo Galeano *
No primeiro dia deste ano a liberdade completou dois séculos de vida no mundo. Ninguém se inteirou disso, ou quase ninguém. Poucos dias depois, o país do aniversário, Haiti, passou a ocupar algum espaço nos meios de comunicação; não pelo aniversário da liberdade universal, mas porque ali se desatou um banho de sangue que acabou derrubando o presidente Aristide.
O Haiti foi o primeiro país onde se aboliu a escravidão. Contudo, as enciclopédias mais conhecidas e quase todos os livros de escola atribuem à Inglaterra essa histórica honra. É verdade que certo dia o império que fora campeão mundial do tráfico negreiro mudou de idéia; mas a abolição britânica ocorreu em 1807, três anos depois da revolução haitiana, e resultou tão pouco convincente que em 1832 a Inglaterra teve de voltar a proibir a escravidão.
Nada tem de novo o menosprezo pelo Haiti. Há dois séculos, sofre desprezo e castigo. Thomas Jefferson, prócer da liberdade e dono de escravos, advertia que o Haiti dava o mau exemplo, e dizia que se deveria “confinar a peste nessa ilha”. Seu país o ouviu. Os Estados Unidos demoraram 60 anos para reconhecer diplomaticamente a mais livre das nações. Por outro lado, no Brasil chamava-se de haitianismo a desordem e a violência. Os donos dos braços negros se salvaram do haitianismo até 1888. Nesse ano o Brasil aboliu a escravidão. Foi o último país do mundo a fazê-lo.
O Haiti voltou a ser um país invisível, até a próxima carnificina. Enquanto esteve nas TVs e nas páginas dos jornais, no início deste ano, os meios de comunicação transmitiram confusão e violência e confirmaram que os haitianos nasceram para fazer bem o mal e para fazer mal o bem. Desde a revolução até hoje, o Haiti só foi capaz de oferecer tragédias. Era uma colônia próspera e feliz e agora é a nação mais pobre do hemisfério ocidental. As revoluções, concluíram alguns especialistas, levam ao abismo. E alguns disseram, e outros sugeriram, que a tendência haitiana ao fratricídio provém da selvagem herança da África. O mandato dos ancestrais. A maldição negra, que empurra para o crime e o caos.
Da maldição branca não se falou.
A Revolução Francesa havia eliminado a escravidão, mas Napoleão a ressuscitara:
- Qual foi o regime mais próspero para as colônias?
- O anterior.
- Pois, que seja restabelecido.

E, para substituir a escravidão no Haiti, enviou mais de 50 navios cheios de soldados. Os negros rebelados venceram a França e conquistaram a independência nacional e a libertação dos escravos.
Em 1804, herdaram uma terra arrasada pelas devastadoras plantações de cana-de-açúcar e um país queimado pela guerra feroz. E herdaram “a dívida francesa”. A França cobrou caro a humilhação imposta a Napoleão Bonaparte. Recém-nascido, o Haiti teve de se comprometer a pagar uma indenização gigantesca, pelo prejuízo causado ao se libertar. Essa expiação do pecado da liberdade lhe custou 150 milhões de francos-ouro. O novo país nasceu estrangulado por essa corda presa no pescoço: uma fortuna que atualmente equivaleria a US$ 21,7 bilhões ou a 44 orçamentos totais do Haiti atualmente. Muito mais de um século demorou para pagar a dívida, que os juros multiplicavam. Em 1938, por fim, houve e redenção final.
Nessa época, o Haiti já pertencia aos brancos dos Estados Unidos.
Em troca dessa dinheirama, a França reconheceu oficialmente a nova nação. Nenhum outro país a reconheceu. O Haiti nasceu condenado à solidão. Tampouco Simon Bolívar a reconheceu, embora lhe devesse tudo. Barcos, armas e soldados lhe foram dados pelo Haiti em 1816, quando Bolívar chegou à ilha, derrotado, e pediu apoio e ajuda. O Haiti lhe deu tudo, com a única condição de que libertasse os escravos, uma idéia que até então não lhe havia ocorrido. Depois, o herói venceu sua guerra de independência e expressou sua gratidão enviando a Port-au-Prince uma espada de presente. Sobre reconhecimento, nem uma palavra.
Na realidade, as colônias espanholas que passaram a ser países independentes continuavam tendo escravos, embora algumas também tivessem leis que os proibia. Bolívar decretou a sua em 1821, mas, na realidade, não se deu por inteirada. Trinta anos depois, em 1851, a Colômbia aboliu a escravidão, e a Venezuela em 1854.
Em 1915, os fuzileiros navais desembarcaram no Haiti. Ficaram 19 anos. A primeira coisa que fizeram foi ocupar a alfândega e o escritório de arrecadação de impostos. O exército de ocupação reteve o salário do presidente haitiano até que este assinasse a liquidação do Banco da Nação, que se converteu em sucursal do City Bank de Nova York. O presidente e todos os demais negros tinham a entrada proibida nos hotéis, restaurantes e clubes exclusivos do poder estrangeiro. Os ocupantes não se atreveram a restabelecer a escravidão, mas impuseram o trabalho forçado para as obras públicas.
E mataram muito. Não foi fácil apagar os fogos da resistência. O chefe guerrilheiro Charlemagne Péralte, pregado em cruz contra uma porta, foi exibido, para escárnio, em praça pública.
A missão civilizadora terminou em 1934. Os ocupantes se retiraram deixando no país uma Guarda Nacional, fabricada por eles, para exterminar qualquer possível assomo de democracia. O mesmo fizeram na Nicarágua e na República Dominicana. Algum tempo depois, Duvalier foi o equivalente haitiano de Somoza e Trujillo.
E, assim, de ditadura em ditadura, de promessa em traição, foram somando-se as desventuras e os anos. Aristide, o cura rebelde, chegou à presidência em 1991. Durou poucos meses. O governo dos Estados Unidos ajudou a derrubá-lo, o levou, o submeteu a tratamento e, uma vez reciclado, o devolveu, nos braços dos fuzileiros navais, à Presidência. E novamente ajudou a derrubá-lo, neste ano de 2004, e outra vez houve matança. E de novo os fuzileiros, que sempre regressam, como a gripe.
Entretanto, os especialistas internacionais são muito mais devastadores do que as tropas invasoras. País submisso às ordens do Banco Mundial e do Fundo Monetário, o Haiti havia obedecido suas instruções sem pestanejar. Eles o pagaram negando-lhe o pão e o sal.
Teve seus créditos congelados, apesar de ter desmantelado o Estado e liquidado todas as tarifas alfandegárias e subsídios que protegiam a produção nacional. Os camponeses plantadores de arroz, que eram a maioria, se converteram em mendigos ou emigrantes em balsas. Muitos foram e continuam indo parar nas profundezas do Mar do Caribe, mas esses náufragos não são cubanos e raras vezes aparecem nos jornais.
Agora, o Haiti importa todo seu arroz dos Estados Unidos, onde os especialistas internacionais, que é um pessoal bastante distraído, se esquecem de proibir as tarifas alfandegárias e os subsídios que protegem a produção nacional.
Na fronteira onde termina a República Dominicana e começa o Haiti, há um cartaz que adverte: o mau passo.
Do outro lado está o inferno negro. Sangue e fome, miséria, pestes…
Nesse inferno tão temido, todos são escultores. Os haitianos têm o costume de recolher latas e ferro velho e, com antiga maestria, recortando e martelando, suas mãos criam maravilhas que são oferecidas nos mercados populares.
O Haiti é um país jogado no lixo, por eterno castigo à sua dignidade. Ali jaz, como se fosse sucata. Espera as mãos de sua gente.
* Eduardo Galeano é escritor e jornalista uruguaio, autor de "As Veias Abertas da América Latina" e "Memórias do Fogo". Artigo publicado no jornal Brasil de Fato.

FONTE:http://unecombateaoracismo.blogspot.com.br/2010/01/maldicao-branca.html

Os sutis estabelecimentos racistas, excludentes e discriminadores de Bom Jesus. Texto de Marcelo Silles

De tempos para acabar observo o surgimento de alguns estabelecimentos típicos de classe-média a elite em Bom Jesus. São estabelecimentos que claramente decorados, estruturados exigem uma clientela de acordo com seus serviços e ambientes. A clientela desses estabelecimentos exibe um boçal status que trazem e um enojado despeito classista, não disfarçam o horror em dividir certos ambientes com negros e pobres.

Nesse sentido, emerge em Bom Jesus espaços reservados a indivíduos com o perfil encaixável da bendita família bom-jesuense. Espaços rançosos e rancorosos com o único intuito de manifestar o desejo simpático ao apartheid bom-jesuense. São espaços impróprios para pessoas de bem pretas, trabalhadores pobres honestos e periféricos.

Passando em frente desses estabelecimentos e reparando o ambiente decorativo e apanhado percebe-se a indireta e singela expressão de seus freqüentadores e donos, lê-se em suas faces e olhares os seguintes dizeres que não estão explícitos nas placas com os nomes dos respectivos estabelecimentos: “AQUI NÃO É LUGAR PARA PRETO E POBRE.” Se algum preto ou pobre atreve-se a adentrar dentro de um desses estabelecimentos, logo recebe de antemão olhares de nojo e reprovação tanto de proprietários quanto de clientes.

Por um lado, o bom disso tudo é a afirmação da classe bastarda e rançosa desses indivíduos racializados bom-jesuenses que sim são racistas e que sim sentem nojo de dividirem o mesmo espaço com pobres. O que nós pretos pobres e brancos pobres devemos fazer? Não entrar nesses estabelecimentos que nos rejeitam e excluem, portanto o nosso dinheiro também não vale nada para esse tipo de gente. Devemos fortalecer somente os nossos, fechar com os nossos.

Sim, existem jabuticabas e los macaquitos que discordam desse ponto de vista, mas visto que já escolheram o lado que querem fazer parte, claro sentem-se infelizes por terem nascidos negros.

O racismo, a discriminação e o preconceito em Bom Jesus agem de forma sutil, sagaz e silenciosa como várias vezes já havia afirmado. Sim eles existem e se prestarmos bastante atenção em ações do cotidiano através de falas, gestos, posturas podemos enxergá-los a olho nu. 


Marcelo Silles
Assistente Social. Bacharel da Universidade Federal Fluminense, UFF/Campos dos Goytacazes/RJ


Atrasado para quem?


A marca de roupas Ellus lançou camiseta com os dizeres Abaixo este Brasil atrasado, vestida por celebridades à guisa de participação na cena política. A empresa justificou-se: “Dificuldade para tudo! As coisas não fluem! Tudo é tão difícil! Tudo isso gerando esse custo. Brasil= ineficiência, improdutividade”, diz trecho do texto que a marca fez circular pela internet para justificar a iniciativa.

“Por que eles estão frustrados? Seriam eles tão altruístas quanto os ativistas que protestam com um objetivo, seja qual for esse objetivo? Ou os brasileiros ricos expressam suas críticas por puro tédio?”, indagou de Londres, onde vive, o jornalista Maurício Savarese, em longo texto publicado inicialmente em inglês em seu blog A Brazilian Operating in this Area (um brasileiro trabalhando neste espaço).

“A maioria dos freqüentadores da Ellus são pessoas que não usam o sistema público de saúde. Eles não estudam em escolas públicas. E eles raramente põem os pés em transporte público nas principais cidades do Brasil (embora tenham prazer em fazê-lo no exterior)”, observou, ainda, o jornalista, expressando a indignação de muitos outros brasileiros, que replicaram seu texto nas redes sociais.


A Ellus só não listou entre os problemas causadores de tão repudiado atraso que a empresa vem sendo questionada na Justiça por suspeita de uso de Mao de obra escrava, como bem lembrou o também jornalista Marcelo Rubens Paiva em coluna no Estadão (26/5). A denúncia foi feita em 2012 e o processo corre na 2ª Região do Ministério do Trabalho.

FONTE: Revista RADIS, nº 142, Julho de 2014.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

RACISMO E PRECONCEITO RELIGIOSO


Atenção e mobilização são sempre necessárias quando o poder público demonstra não reconhecer plenamente os valores culturais da população. Depois de ter sustentado que, para ser considerada religião, uma doutrina tem que seguir um livro-base, como o Corão ou a Bíblia, ter estrutura hierárquica e “um Deus a ser venerado” – o que exclui as crenças de matrizes africanas -, o juiz da 17ª Vara de Fazenda Federal do Rio de Janeiro, Eugênio Rosa de Araújo, voltou atrás (20/05). Justificou a decisão pelo “forte apelo dado pela mídia e pela sociedade civil”, como escreveu na nota em que admitiu o erro. A sentença inicial do juiz referia-se ao julgamento de uma ação movida pelo Ministério Público Federal, que pedia concessão de liminar para retirada do Youtube de 15 vídeos ofensivos à Umbanda e ao Candomblé, postados pela Igreja Universal. Eugênio Rosa, no entanto, parou na admissão do erro: não deferiu a liminar autorizando a suspensão dos vídeos. Alegou liberdade de expressão. Liberdade utilizada em nome da segregação e do preconceito.

FONTE: Revista RADIS, nº 142, julho de 2014.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Karla da Silva


Nem tão samba, nem tão rock, nem tão jazz. Éassim que Karla da Silva define seu primeiro álbum que apresenta canções de compositores contemporâneos e é produzido pelo jovem guitarrista Felipe Chernicharo com o músico, compositor e produtor Vinícius Castro.
Cheia de novidades, a carioca vai de encontro às cantoras de sua geração que são em sua maioria também compositoras. Karlinha, como é natural chamá-la, gosta de apaixonar-se pelas canções e vestí-las, torná-las suas.Nessa busca pelo repertório do disco conheceu Matheus von Krueger, que a presenteou com a canção “Quintal” – e já que toda a paixão por cantar começou nesse espaço de afeto e sonoridades, é ela quem dá nome ao trabalho. Do compositor mineiro, João Bernardo, gravou quatro canções: “Hoje só volto amanhã”, música que abre o disco, “Samba, amor e carnaval” (dele com Ana Clara Horta e Miguel Jorge), a jazzística “Lobo” que na gravação contou com a delicada participação do trompete flugelhorn de Gilsinho Oliveira e “Calundu”, parceria dele com seu conterrâneo, Marco Aurélio. Nesta faixa, Karla faz um solo de kazoo, instrumento africano que acrescenta um tom lúdico à canção.Karla da Silva empresta ainda sua voz à composição do paulista Pedro Ivo, que misturou o rock e o samba em “Para celebrar”, à romântica “Vice-versa” (de Qinho, Rodrigo Cascardo e André Carvalho), à “Fé, tempero e amor” – ijexá do baixista Diogo Brown, ritmado com guitarras e congas – e à doce “Duas palavrinhas”, do veterano Evandro Navarro. O balanço de “Samba do bem” (Germana Guilherme) encerra o disco e apresenta duas versões, uma delas um remix com beat criado por Du Brown da Toka F.K. e “feat” do rapper Ramonzin. Com bom gosto e simplicidade, a carioca abre a porta de seu quintal para o mundo se aproximar e, entre a amora e o maracujá, se envolver pela voz e pelos sons que ali plantados sempre darão frutos,
que tal?
Este disco foi pós produzido via crowdfounding, com a contribuição de muitas mãos amigas que possibilitaram  o alcance de 120% da meta por nós estabelecida no Catarse! Foram 100 colaboradores que  acreditaram e investiram em nosso sonho de "quintal". Aqui, ali, hoje e sempre: minha GRATIDÃO!


FONTE:http://www.karladasilvaoficial.com/#!baixe-o-disco/c1x9v

O que é o Rap nacional de verdade .. ? #DitaduraNoRap


O que é Rap nacional de verdade .. ?

Hoje venho falar de uma parada que vem me incomodando a muito tempo, são os rappers que se intitulam "Gangsta" e acham que só eles fazem rap de verdade, que eles são os O.G (Original Gangsta) do rap nacional.
Eu sei que todos sabem o que o que significa a palavra RAP, mas vou mostra para ilustra o que eu quero dizer.

O RAP significa "Ritmo e Poesia" assim como no Inglês (Rhythm and Poetry),não é uma sigla que impoe limites no modo de fazer rap,claro que o rap ficou conhecido no cenário mundial, pelo seu discurso politico, mas o rap sempre falou de outros assuntos.
No Brasil tem este negocio que só quem faz rap criticando o sistema que faz rap de verdade.
Quando o rap chegou no Brasil, o rap nem falava de consciência social ou racial, se você ouvir o álbum "Hip Hop Cultura de Rua" que é a primeira coletânea de rap lançado no brasil, mal se fala em consciência social.

Só quero dizer que eu sou a favor do Rap Gangsta, do Rap Consciente, do Rap de amor,Underground com Samba,forro eu sou a favor do RAP.
O Rap de verdade é aquela que você canta no que você acredita! claro que tem que ter qualidade e coerência 

Eu estou cansado de ver em redes sociais os rappers das antigas que são atuais, não estou dizendo que são ultrapassados, quero dizer os rappers de miliano no "bagui" ficam atacando rapper A ou MC B.
Nos anos 90 se pregava a união, hoje até os rappers gangsta estão mostrando que estão com seu EGO ferido..e inflado
Nas redes sociais vejo rappers O.G, criticando rappers, por irem na tv, pelo conteúdo em suas letras , que estes rappers não representam a favela.

Ai eu te pergunto o que é representar a favela..? fazer letra criticando a PM,bater no peito que não se vendeu, que não faz som pra rebola.. e pagar de revolução..?
No meu ver você só esta fazendo Musica, assim como o que faz rap de role ou de amor.
O rap é musica,a revolução ela é individual em prol de um coletivo, a revolução ela vela ao lado do rap e isto não pode ser regra.
A caminhada no rap é individual cada um faz seu corre, o rapper também tem família e conta para pagar, por comida no prato do seu filho também é revolução

O rap esta parecendo uma ditadura, você pode isto, mas não pode aquilo. como mostrei acima o RAP é Ritmo e Poesia, o Ritmo é livre e a Poesia Também!!!!.

Isto é minha Opinião, estes rappers usam seus respectivos publico como massa manobra,e semeiam o ódio dentro do rap.
Eles fazem isto tanto nas redes sociais, como em seus Shows.
O RAP é muito mais do que falar de cadeia,crime e etc, falam em liberdade ao povo mas tenta manter uma ditadura no RAP!.

Porque ir na TV é ser vendido, e vender bombeta a quase 100 reais não..? não sou contra a nenhum dos 2. só estou questionando, e mostrando que se vender é algo relativo


A critica do texto foi aos rappers e a consequencia são os capitão do mic" os "valentinho da internet"


FONTE:http://www.noticiario-periferico.com/2014/07/o-que-e-o-rap-nacional-de-verdade.html

terça-feira, 15 de julho de 2014

Racialismo e Racismo


Ariana Mara da Silva[1]
É plausível, e talvez não correto, dizer que a grande dificuldade nas discussões sobre racismo e racialismo está na origem das palavras. Tanto um quanto o outro dependem da existência de raças, nesse caso raças humanas, para fazerem sentido. Esse texto não tem a intenção de ir a favor ou contra os que defendem o racialismo, para o bem ou para o mal, mas apresentar diferentes pontos de vista sobre a questão e as possíveis consequências da construção de uma teoria que pretende discutir raças sem ser racista. E para melhor ilustrar essa discussão partiremos da visão de um autor que se mostra claramente contra o racismo, Tzetzan Todorov. O autor afirma que
A palavra “racismo”, em sua acepção corrente, designa dois domínios muito diferentes da realidade: trata-se, de um lado, de um comportamento, feito, o mais das vezes, de ódio e desprezo com respeito a pessoas com características físicas bem definidas e diferentes das nossas; e, por outro lado, de uma ideologia, de uma doutrina referente às raças humanas. As duas não precisam estar necessariamente presentes ao mesmo tempo. O racista comum não é um teórico, não é capaz de justificar seu comportamento com argumentos “científicos”; e, reciprocamente, o ideólogo das raças não é necessariamente um “racista” no sentido corrente do termo, suas visões teóricas podem não ter qualquer influência sobre seus atos; ou sua teoria pode não implicar na existência de raças intrinsecamente más. (TODOROV, 1993, p.107)
Dessa forma, quem estuda as raças não necessariamente é um racista de comportamento, ou seja, é um racista no campo teórico e ideológico. Isso se explicaria pelo fato do comportamentodo racista estar baseado no ódio pelas diferentes raças e não na pesquisa científica. Esse discurso sobre racialismo parece estar na moda a partir do século XIX, quando surgem as teorias científicas sobre as raças. Mas isso pode ser considerado um engano se pensarmos que a questão racial aparece desde a antiguidade como forma de fundamentação e justificação de mitos e religiões, e que essa situação sempre determinou ideais políticos e sociais dos povos e sociedades.
[1] Acadêmica do curso de História na Universidade Federal da Integração Latino Americana (UNILA) – ariana.silva@unila.edu.br.

A questão a ser levantada é a seguinte: mas existem raças humanas? De acordo com o texto A vitória depende da raça do atleta?[2] a resposta é não. O autor do texto afirma que raças são grupos menores, uma subdivisão, dentro de uma espécie animal e na comparação genética entre seres humanos existem mais similaridades que diferenças. Logo ser negro, branco ou asiático não seriam classificações raciais. Então o que explicaria as diferenças na cor da pele, na compleição física ou na linguagem? A explicação está no fato de que as variações morfológicas dos indivíduos humanos estão relacionadas à adaptação dos organismos no ambiente que vivem.
O desenvolvimento do corpo humano apresenta plasticidade suficiente para que, na presença de diferenças sutis nas condições de crescimento e condições de vida, possa ser modificado de modo significativo. Diferentes regiões geográficas, diferentes padrões alimentares e diferente padrão de exposição aos raios ultravioleta são fenômenos que podem modificar a compleição física humana. De fato, os seres humanos apresentam uma incrível diversidade de tamanhos, cores e formas e, quando comparados a outros mamíferos, esta variação morfológica é significativamente maior entre humanos. Contudo, a variação genética entre as populações humanas é menor que aquela observada entre outras espécies. (BIOLOGIADASAUDE.ORG)
Assim, o conceito de raça que conhecemos é uma construção social, baseada na percepção de características demográficas, culturais e sociopolíticas dos diferentes grupos humanos.
É importante ressaltar que o debate sobre o racialismo e o racismo é muito forte no século XIX, principalmente por causa da formação dos Estados Nação e das colônias que estão se tornando independentes na América Latina. Os Estados europeus numa tentativa de justificar os anos da colonização e, às vezes, até justificando o porquê da América Latina não ter capacidade de ser independente, utilizam o cientificismo em alta para explicar as diferenças entre as raças e afirmar a superioridade europeia. O mesmo discurso volta a ganhar força em um momento específico: após a Segunda Guerra Mundial, quando se apresenta para o mundo a noção real do que foi o nazismo para os judeus. A ONU, através da UNESCO, mobiliza biólogos, antropólogos e outros cientistas a fim de provar que as raças não existem. Na Primeira Declaração sobre Raça da UNESCO a afirmação “raça é menos um fato biológico do que um mito social e, como mito, causou severas perdas de vidas humanas e muito sofrimento em anos recentes[3]” (UNESCO apud MAIO e SANTOS, 2010, pp. 147-148) fica evidente os rumos que a discussão sobre raças tomará.
[2]Ver http://www.biologiadasaude.org/
[3]Grifo próprio

Interessante é perceber que os conjuntos de países que conformam a ONU nesse período não se ativeram às perdas de vidas e aos sofrimentos causados pela neocolonização na África no século XIX e XX, ou mesmo as consequências da colonização na América Latina nos séculos anteriores. Ou seja, a discussão sobre raça só ganha importância no momento em que os Europeus se veem afetados pelo racismo justificado no racialismo. Vale lembrar que o racialismo é um conceito que surge nas sociedades europeias, com o objetivo de desclassificar os movimentos antirracistas como uma estratégia eficaz ao combate ao racismo.
No Brasil, especificamente, o discurso racialista foi apropriado pelo Movimento Negro como questão de construção identitária. Ou seja, são racistas e antirracistas partindo de um mesmo campo simbólico para se enfrentarem, mas a diferença agora é que os negros (nesse caso) que sempre foram discriminados com a base nas teorias racialistas se apropriaram dessas teorias para mostrar que são diferentes mesmo e que por causa dessa diferença sempre foram colocados em condições econômicas e sociais precárias e então agora querem ser ressarcidos por causa disso. Dessa forma surgem os universalistas tentando mostrar que todos são iguais e que por isso não há motivo para “privilégios” como as cotas raciais nas universidades, por exemplo. Enquanto raça estava sendo utilizado como estereótipo para opressão não havia grandes discussões sobre o tema, a partir da apropriação do conceito como forma de auto definição e resistência às vozes contrárias aparecem para desmerecer uma luta que levou séculos para chegar ao patamar que se encontra hoje.
Partindo do mito da democracia racial, diversos autores, dentre eles Demétrio Magnoli e Célia Maria de Azevedo, se apropriam do discurso que o Movimento Negro brasileiro foi fortemente influenciado pelo Movimento Negro estadunidense que impuseram uma falsa universalização do racismo nos países emergentes e que o intercâmbio entre os intelectuais negros dos dois países seria uma estratégia de imposição do sistema bipolar de relações raciais existentes somente nos Estados Unidos. Esse tipo de afirmação desqualifica não somente os intelectuais brasileiros, mas os intelectuais e acadêmicos negros que teorizam sobre o tema.
Não há como admitir a existência do racismo negando a existência das raças no momento em que diversos povos, populações e etnias se apropriam do conceito para se auto afirmarem num mundo construído em cima das desigualdades baseadas nas diferenças. Dessa forma, os debates sobre racismo e racialismo estão apenas no começo, mas a transformação para um mundo sem raças e diferenças causadas por esse conceito social só ocorrerá quando a discussão estiver esgotada e nenhum ser humano sendo destratado pela cor da sua pele, pela sua cultura ou etnia.


Referências
ISRAEL, J.L. Razas, clases sociales y vida política em el México colonial 1610-1670. pp. 35-85. México: Fondo de Cultura Economica, [2010].
MAIO, Marcos Chor (ORG.); SANTOS, Ricardo Ventura. Cientificismo e Antirracismo no Pós Segunda Guerra Mundial: uma análise das primeiras Declarações sobre Raça da UNESCO. In: Raça como questão: história, ciência e identidades no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2010. 316p.
__________________________. Antropologia, Raça e os Dilemas das Identidades na Era da Genômica. In: Raça como questão: história, ciência e identidades no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2010. 316p.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. pp. 09-67.São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
TODOROV, T. Nós e os outros: a reflexão francesa sobre a diversidade humana. Tradução Sérgio Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
FONTE:http://www.geledes.org.br/racismo-e-racialismo/

Coluna África em Verso:"Não sou de Cor, sou Negra", por Morgado Mbalate

Foto: Joana Choumali - Modelo: Jessy Okpo / Maquiagem Madoussou Kone

Não sou de cor, sou negra cor de luto.
não sou de cor, sou negra e contra o preconceito luto.
não sou de cor, sou negra com coração sem rancor.
não sou de cor, sou negra com coração que brota amor.
os negros também merecem louvor.
todas as raças merecem valor.
não sou de cor, sou negra
por que sou oprimida com o desnível social e racial?
não sou de cor, sou negra com direitos humanos como no geral.
a cor negra é uma das diferenças e riquezas.
pele negra, também, é a cor da beleza.

*Morgado Henrique Mbalate poeta moçambicano.

FONTE:http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/coluna-africa-em-verso-nao-sou-de-cor-sou-negra-de-morgado-mbalate

ECONOMIA: UMA LINGUAGEM AINDA LONGE DO ENTENDIMENTO DO SENSO COMUM

Resenha crítica ao texto Economia Política: uma introdução crítica, de José Paulo Netto e Marcelo Braz. Cortez Editora, 2ª edição.

O mercado continua florescendo, caminhando com muito sucesso. Com sua maciça propaganda individualista e de auto-consumo, vai invadindo e conquistando mais e mais lares, arrebanhando adeptos, e convertendo aqueles “pagãos” “leigos” que são infiéis ao grande capital. No final das contas, acabam se rendendo a sua doutrina, ao discurso manso regado de promessas, sucessos, conquistas, algo tentador que converteria nos dias de hoje até mesmo o grande Karl Marx. Quem sabe?

José Paulo Netto e Marcelo Braz, em Economia Política: uma introdução critica, traz uma visão da política econômica mais acessível, de fácil compreensão e entendimento diferente de, outros autores que só trazem como está escrito no resumo do verso da capa “... são redigidos para especialistas,..., e/ou são escritos para justificar o estágio em que se encontra o capitalismo de nossos dias (a globalização)”. Em seus capítulos 2,3 e 4 destacam questões bastante interessantes, como o ponto da categoria reflexiva no terceiro parágrafo onde os autores citam a questão banal do uso da moeda. “O leitor sabe lidar com o dinheiro, expressão imediata de uma categoria da Economia Política, o valor diariamente, realiza com ele varias operações, compra, vende, não é enganado nas trocas, revela-se cuidadoso com seu orçamento pessoal, pede e concede empréstimos e até talvez faça algum investimento. (pág.55 – 1º par.)”. Certo, mais adiante no mesmo parágrafo já postam um ponto de vista questionador no uso da moeda pelo leitor, podemos assim dizer cidadão: “entretanto, se lhe pedíssemos que conectasse o dinheiro com o valor, que nos dissesse quais as suas funções econômicas, esclarecesse suas relações com o trabalho e a propriedade ou narrasse como ele se constituiu historicamente etc., com certeza o leitor se sentiria embaraçado .(pág.55 – 1º par.)”. Bem o cidadão pode ter lá as suas limitações no que se diz respeito a economia política, não assimilando suas teorias e transformações neoliberais. Mas vem-me ao acaso dizer que tal procedimento é fruto de um sistema de modelo ocidental que deu certo, certíssimo venhamos e convenhamos, portanto foram anos de implantações e estratégias liberais e neoliberais para se chegar ao estágio ao qual estamos vivenciando hoje: avanço da globalização e seus ideais pressupostos do capital. Bem , o leitor aqui, sabe manusear a moeda que recebe no início do mês, por trinta dias trabalhado quando bate na mão se vai num passe de mágica, não dá nem pra pensar em constituição histórica do dinheiro e seu valor, já que o pensamento das próximas contas toma conta total da mente, já que não vivemos mais e nunca viveremos novamente uma sociedade primitiva, de valores coletivo por se assim dizer.

A linguagem clara dos autores nos deixa a par de todo movimento da engrenagem capital em suas forças produtivas que envolve o trabalho e seus meios, objetos e a força, empregando assim a produtividade do trabalho “...isto é, a obtenção de um produto maior com o emprego da mesma magnitude de trabalho”(pág.: 58 – par:3º). O leitor aqui então, compõe o exército de força de trabalho, nesse ambiente de uma perversa globalização. No capitulo três, o valor e o dinheiro são postos de uma forma calculada sobre a força do trabalho, o quanto vale o trabalho humano empregado de forma bruta e aviltante, expropriado de todo valor humano e ético de vivência e sobrevivência, a favor de uma política econômica vil e desumana. Mas tecnicamente no cotidiano, no corre-corre alienado do dia-a-dia, o trabalhador nem sente que faz parte dessa engrenagem que impulsiona a mola neoliberal. Os dias são sempre os mesmos, as rotinas sempre iguais. “O fetichismo daquela mercadoria especial que é o dinheiro, nessas sociedades, é talvez a expressão mais flagrante de como as relações sociais são deslocadas pelo seu pode ilimitado”(pág.92 e 93 – par. 3º), citado pelos autores, é o resultado da transformação dos valores sociais, dos indivíduos cada qual no seu pertencimento em sua sociedade, em objetos, coisas, sujeitos alienados ao auto-consumo e ao individualismo. O sujeito torna-se parte da máquina capitalista, não se importando o quanto custe o seu suor, a sua auto-estima, pois as forças já se cessaram, seguir com a vida é o lema, porque insistir? se o destino está traçado, os autores esqueceram de validar essa afirmação e de valorizar o esforço do sujeito alienado ao apenas classificá-lo de sujeito portador do senso comum, coloquemos nesse sentido.

No quarto capitulo os autores, voltam a retomada da exploração da força de trabalho no âmbito econômico, capitalista com o aval da mais-valia, um termo usado para definir o excedente de esforço de trabalho do operário e a sua não compensação por esse extra excedente de mão de obra, que se torna então para o trabalhador não compensatória, já que ele está vendendo a sua força de trabalho a um preço muito baixo desvalorizando a sua mercadoria na condição humana, submetendo muita das vezes as condições de servil a serviço condicionalmente do sistema. As mercadorias feitas pelo trabalhador acabam saindo para o capitalista, na condição de ressarcir o vinculo empregatício do trabalhador, muitas das vezes satisfatório, pois ele tem um excedente fabricado e paga menos da metade pela sua produção em escala. Nada tem de segredo então nesse entendimento, na produção da mais-valia, visto que ela é bastante praticada e de comum acordo pelos sujeitos que por ela sofrem tal ardor do oficio. O salário é apenas um valor simbólico estipulado, pago bem abaixo do que realmente deveria ser:” é na fixação do preço da força de trabalho que mais imediatamente vem à tona o antagonismo entre os interesses do capitalista e os dos trabalhadores”(pag.103 – 4º par.). “... o excedente lhe é extraído sem o recurso à violência extra-econômica; o contrato de trabalho implica que o produto do trabalho do trabalhador pertença ao capitalista”(pág.107 – par: 2º)”.

Enfim, esse processo de exploração, apropriação alheia da força de trabalho de outrem pelo capitalista, pela forma mais voraz e subumana condicional do sistema neoliberal, ainda está longe de se findar. Contudo, os autores José Paulo Netto e Marcelo Braz nos deixam claros sobre os rumos da economia política em seu viés globalizado, inserido junto às crises que acompanha o capitalismo desde o seu nascimento até os dias de hoje. A obra é válida, e o conteúdo bastante proveitoso para estudos e porventura criticas, pois a nova demanda para um surgimento de um novo modelo social, em que a economia política torne uma linguagem mais popular, está longe de vir.

MARCELO SILES ALVES
Rapper,  Assistente Social.