quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

MEDIOCRIDADE É COISA DE GENTE BRANCA

Se tem um efeito do racismo que passa bastante batido, apesar de resultar em uma infinidade de prejuízos até mesmo para pessoas brancas, diria que esse colateral poderia ser chamado de #MediocridadeBranca. Não quero dizer que toda pessoa branca é medíocre. Longe disso! Até tenho amigos que são pessoas extraordinárias. Mas, infelizmente para todos nós, o próprio conceito do que é “normal” na nossa sociedade é profundamente pautado pela branquitude. Tampouco pretendo afirmar que toda pessoa negra – da terra ou africana – é excepcional. Longe de mim reiterar ainda mais esse fardo. Digo reiterar porque essa cobrança já existe. Principalmente nas balelas acerca de “meritocracia” e “histórias de superação” profissional.

“PORQUE NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO”

Antes de mais nada, se faz necessário definir racismo como um sistema que subjuga, sobretudo, vidas negras. Até, aí tudo certo. O que não costuma ficar muito escuro é que para que pessoas negras sejam diminuídas em sua humanidade, é preciso constantemente elevar pessoas brancas ao patamar de suprassumo da beleza, da moral, da intelectualidade, da competência, da loteria genética, da fé etc. Ainda que, individualmente, isso não reflita uma realidade. Não poderia ser diferente visto que o nosso racismo foi uma construção coletiva de todo um continente movido pelo propósito de lucrar “doa a quem doer, portanto que não seja a gente”. Afinal fica sempre mais fácil cometer atrocidades contra seres considerados “não tão humanos quanto ‘nós'”. Pois, quando julgamos algo – ou alguém – como inferiores, fica possível, e até mesmo coerente, alegar que vai trazer civilização enquanto se comete as piores barbaridades da humanidade. Por séculos.
Durante os séculos de elaboração das justificativas – religiosas e científicas – para o domínio sobre os “incivilizados”, os “brancos” – antigos europeus, hoje “berço do mundo ocidental” – se catapultaram ao topo do mundo. Trocando em miúdos: para conseguirem explorar, torturar e assassinar outros seres humanos sem lidar com sentimentos de culpa ou piedade, os povos do gelo tiveram que demonizar e desumanizar tanto os outros povos com que entraram em contato que acabaram se convencendo de que eram seres pré-destinados e magníficos demais para ficarem se igualando. Puxaram tantos cardumes de sardinha pro lado deles – e por tanto tempo – que, até hoje, a palidez de suas peles está intrinsecamente associada a tudo que há de melhor e exemplar no rolê chamado mundo globalizado. Até hoje pessoas brancas nascem todas boas e inocentes até provas incontestáveis do contrário e nós temos que mostrar a que viemos.

“A CARNE MAIS BARATA”

Não é nenhuma novidade para  pessoas negras que se desejamos ter o valor dos nossos esforços – principalmente intelectual – respeitados reconhecidos, é preciso que sejamos duas vezes melhores, ou mais, que nossos colegas/concorrentes brancos. Seus pais podem nunca ter colocado isso nesses termos, mas certamente boa parte dos exemplos de pessoas negras bem sucedidas que se tem são de pessoas que ralaram a beça para superar incontáveis obstáculos até o topo. Não que não existam pessoas brancas com vitórias parecidas. Todos conhecemos exceções. No entanto, para negros e negras costuma ser a regra. Na dúvida, experimente dar uma olhada atenta à qualquer coluna social e a candidatos ganhadores de premiações por terem se destacado de algum forma em seus campos de atuação.
Uma das coisas que esse discurso de que “com esforço todos chegamos lá” esconde é que por mais de três séculos pessoas negras, literalmente, se matavam de tanto trabalhar sem nunca ter tido direito nem mesmo ao próprio nome ou a seus corpos. Quem dirá a remuneração! A verdade é que qualquer conceito de trabalho referente a pessoas negras desde a colonização é indissociável de sacrifício. Se antes nos sacrificavam para pagar por nossa “degeneração”, hoje ainda estamos condenados a mostrar que temos valor, caso queiramos desfrutar das mesmas regalias que a branquitude sempre nos negou. Então, quando exigem nosso suor e lágrimas como método de superação das adversidades estruturadas pelos ex-escravocratas, há implícita a imposição de que devemos compensar a nossa negritude com extremada persistência. Pois, ainda hoje para que qualquer pessoa negra seja aceita em cargos historicamente ocupados por pessoas brancas, é necessário que ela demonstre que não é “igual aos outros negros”. Para se ganhar um passe livre na Casa Grande tem que saber se comportar bem – leia-se como se branco fosse – e ter o aval criterioso de pelo menos um avaliador branco.

“HEY, BACANA, QUEM TE FEZ TÃO BOM ASSIM?”

Um dos maiores exemplos que posso citar de como essa mesma lógica que demanda nada menos que o nosso apogeu enquanto se contenta com qualquer pessoa branca marromenos foi o resultado das eleições estadunidenses. A vitória de Trump, assim como a de Bush filho, revela como as exigências para homens brancos são ridiculamente menores que para pessoas negras e até mesmo mulheres brancas. Em um país de maioria branca um cara pouco brilhante, desqualificado técnica, psicológica e politicamente foi a escolha do mesmo país que passou oito anos cobrando a certidão de nascimento do Obama, uma vez que não havia nada em sua trajetória que o condenasse. Por aqui também não é lá muito diferente. Todos conhecemos a história de Dilma, mas quanto sabem dizer a de Temer? Assim como durante a campanha do Aécio o seu feito mais notável era a origem familiar.
Usei primeiro política, mas no entanto, poderia citar milhares de celebridades brancas que não sabem cantar, nem dançar, ou atuar e ainda assim movem milhões na indústria do entretenimento, enquanto que artistas negros de enorme talento dificilmente saem do anonimato. Novamente, não falo dos brancos de talento que não chegam a lugar nenhum, só quero atentar que não há tantos ídolos culturais negros que sejam simplesmente bonitos, que tenham apenas o sobrenome e os contatos “certos” ou que tenham deslanchado por conta de algum escândalo. Pruma pessoa negra ser admirável ela tem que ter no mínimo um combo de predicados e evitar qualquer polêmica.
Outro reflexo disso percebe-se também no mercado afetivo e sexual. Pretendentes negros, quando tolerados/desejados costumam acompanhar um verdadeiro check-list que inclui biotipo, escolaridade, vocabulário, postura, renda, bairro de origem e outros indicativos igualmente aleatórios de “sucesso”. Se bobear analisam até os dentes, visto que quadril/pênis avantajados parecem ser pré-requisito, assim como a falta de uma consciência racial politizada. Ou você nunca reparou que negrófilos(as) raramente têm interesse em quem não soube fazer as pazescom a posição subalterna na qual a sociedade nos encaixou.
Ou seja, ser apenas um cara/uma moça nunca é suficiente se você é lido(a) socialmente como negro. Ser confundido com “qualquer um(a)” diariamente nos leva pra cadeia e pra vala. Ser só mais um(a) não nos cabe. Ou somos bons demais ou nunca somos bons o suficiente. Tal qual nossos ancestrais, temos sempre que fazer valer o “investimento” feito  por termos sido “incluídos” onde nunca nos quiseram. Temos sempre que ostentar credenciais se quisermos evitar que nos apontem a porta de serviço ou a da rua. Há quem ache que isso um avanço comparado ao tronco. Já eu não esqueço do irmão que foi preso porque o policial não acreditou nos documentos que constavam que ele era o dono do próprio carro. Ano passado. Aqui mesmo. Nem na gringa foi.

“O SIMONAL QUE CÊS NÃO VÃO FUDER!”

Exatamente por ter noção de que a mediocridade só passa em branco, que enquanto nos cobram a alma aceitam qualquer nota dos deles e que existem carreiras longas de gente branca que não preenche requisito nenhum colhendo loiros que passei esse ano fazendo questão de enaltecer produtores negros – independente do ramo. Não apenas porque  reconheço o esforço, mas porque entendo que os nossos maiores apoiadores devemos ser nós mesmos. Tanto porque assim poderemos nos fortalecer como mercado e grupo, como também para inviabilizar – um dia – o peso que a opinião das mesmas pessoas que sempre viram cifras em nós, mas nunca deram grande valor.  Por isso que no ano que vem preferirei evitar tretas envolvendo brancos famosos e dar holofote pra algum de nós que merece mais  minha atenção, seja ainda que em forma de like ou compartilhamento. Invés de gerar mídia espontânea para mediocridade, pretendo louvar, da maneira que me for possível, o esforço daqueles que não me vêem como nicho ou objeto, mas sim sujeito dotado de potencialidade como eles mesmos.
FONTE:http://www.revistaforum.com.br/osentendidos/2016/12/27/mediocridade-privilegio-de-gente-branca/

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Acervo de 360GB com mil horas Jazz está disponível de graça

O professor norte-americano David W. Niven sempre foi fã de jazz e acumulou ao longo dos anos um respeitável acervo de faixas do gênero, em nada menos que 650 fitas cassete.
Agora, está disponível para download esse catálogo com mais de 1000 horas e 360GB de áudio de músicas de Duke Ellington, Charlie Parker, Thelonious Monk, Chat Baker, Frank Sinatra, Django Reindhart, Billie Holiday e muitos outros.

É mesmo um trabalho de amor do professor, que catalogou à mão o setlist do show em que foi gravado, a data, local e outras informações, do acervo que vai de 1921 a 1991.
Para acessar o acervo, basta ir ao archive.org.

FONTE:https://catracalivre.com.br/geral/dica-digital/indicacao/acervo-de-360gb-com-mil-horas-jazz-esta-disponivel-de-graca/amp/

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Morre Dona Ana, a rainha, mãe de Mano Brown

É com grande pesar que informamos que, nesta segunda-feira (19), a Dona Ana, conhecida nacionalmente por ser mãe de um dos mais importantes rappers do Brasil, veio a falecer aos 85 anos — a causa da morte não foi divulgada.
Dona Ana viveu grande parte de sua vida na periferia, no bairro Capão Redondo, no extremo sul de São Paulo. A rainha, como é lembradas nas letras de Rap, foi mãe de Pedro Paulo Soares Pereira, um rapaz latino americano que mudou completamente o Rap brasileiro. Além dos aprendizados das ruas, é notório nas letras ou numa troca de ideia com Brown a imensa influência que Dona Ana teve em sua vida artística.
Dona Ana parte no mesmo ano que partiu Afeni Shakur, mãe de Tupac. Expresso os meus sentimentos, pesares. Descanse em paz guerreira!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Representatividade Preta importa sim. Bravo Elaine

Durante audiência pública realizada nesta quarta-feira (30) na Alerj, Elaine Melchiades, estudante do Ciep Glauber Rocha, defendeu seu colégio que terá turmas fechadas e exigiu democracia e diálogo nas decisões que envolvem a educação pública.
“Se é para mim, eu quero participar. A gente tem que ir para a luta, tem que pedir, tem que falar, quem necessita sou eu. Se eu não falar, quem vai falar por mim? Se meus representantes não estão me representando direito, eu vou lá e faço, vou lá e falo”.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Você conhece a origem macabra da expressão 'Fulano está ferrado'?


Você já ouviu ou falou a expressão “fulano(a) está ferrado(a)”, certo? Pois saiba que aí tem uma origem macabra que muitos desconhecem: vem do hábito de marcar escravos com ferro em brasa!

Marcar a pele dos escravos com ferro em brasa era uma prática bastante comum durante o período de escravidão no Brasil. Assim como o gado, o negro era tratado como propriedade passível de marca de identificação.

O pior é que havia base jurídica para justificar a marcação de escravos com ferro quente. Estavam nas Ordenações Filipinas Portuguesas, que vigoraram no Brasil de 1603 até a chegada do Código Civil Brasileiro, em 1916.

Nelas, os escravos e os animais eram tratados sem distinção. O senhor tinha direito, por exemplo, de “enjeitar [rejeitar] os escravos e bestas por doença ou manqueira, quando dolosamente vendidos”.

Nem a Constituição de 1824, que proibia açoites, tortura, marcas de ferro quente e todas as penas cruéis aplicadas aos escravos, surtiu efeito nesse caso.

Alguns eram ferrados ainda em sua terra-natal, antes do embarque. De acordo com Clóvis Moura, autor do Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, a palavra “carimbo”, que é de origem africana, surgiu a partir desse hábito.

Nem as crianças foram poupadas. Há relatos de escravos com 10 anos já com marcas da violência na pele.

A carne queimada dos escravos indicava a quem eles pertenciam. Era um mecanismo de controle cruelmente eficiente. Os jornais da época traziam uma seção denominada “Escravos fugidos”, em que descreviam o sujeito capturado e as iniciais.

Veja este exemplo de 1884:
“Acha-se acourado nesta cidade o escravo pardo de nome Adão de 29 anos de idade, pertencente ao fazendeiro abaixo assinado. É alto, magro, tem bons dentes e alguns sinais de castigos nas costas, com a marca S.P. nas nádegas. É muito falador e tem por costume gabar muito a Província da Bahia de onde é filho. Quem o prender e levar à casa de correção será gratificado com a quantia de 200$000”.  

Os “carimbos” podiam variar de acordo com o gosto do comprador. Alguns preferiam na coxa, outros no braços, no ventre, no peito e até no rosto. As marcas podiam ser letras, flores, símbolos ou sinos. Alguns dos que eram obrigados a se converter à religião cristã recebiam como recompensa um ferro incandescente em formato de cruz no peito.

Os escravos fujões ou aqueles que se rebelavam com frequência podiam receber uma nova marca, às vezes na testa, para tornar pública a insubordinação.

Os relatos obtidos em jornais e da época são de causar náuseas. O historiador José Alípio Goulart, revela, em seu livro “Da Palmatória ao Patíbulo – Castigos de Escravos no Brasil” que os escravos não eram feridos só com ferro em brasa – “com ponta de charuto, senhores de escravos divertiam-se fazendo chiar carne de negro.

A medida, apesar da violência, não foi capaz de deter a busca por liberdade. Nem o carimbo nem a mutilação (que era permitida em escravos que fugiam com frequência) surtiram o efeito desejado.  A luta por liberdade seguia inalterada.

FONTE:http://seuhistory.com/microsite/raizes/news/voce-conhece-origem-macabra-da-expressao-fulano-esta-ferrado