sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Bone Thugs-n-harmony confirma shows no Brasil em maio de 2015


Agora é oficial, o grupo de rap americano Bone Thugs-n-harmony, formado por Krayzie Bone, Layzie Bone, Bizzy Bone, Wish Bone e Flesh n Bone, começou ontem (28/1) uma turnê mundial comemorando o aniversário de 20 anos.
Bone, com a formação completa, vai passar por diversas cidades de diferentes países no mundo todo e, para surpresa dos fãs, o grupo deve fechar a turnê com quatro shows no Brasil.
Serão dois shows em São Paulo, um em Porto Alegre e o último no Rio de Janeiro. O grupo estaria no Brasil em setembro do ano passado, mas devido a alguns problemas jurídicos isso não foi possível, mas agora prepare-se porque é quente!
Confira a agenda de shows divulgada na página oficial do grupo no facebook e aguarde mais detalhes:

FONTE: http://rapnacional.virgula.uol.com.br/bone-thugs-n-harmony-confirma-shows-no-brasil-em-maio-de-2015/

Shukid rapper do leste africano "Quênia" para o Mundo #RapAfricano

Muitos podem se perguntar como um cara do Quênia envia seu material de divulgação para um blog Brasileiro?
Creio eu que seja por a um bom tempo divulgar o rap africano, de uns tempos pra ca ,de vez em quando eu recebo emails de rappers africanos, pedindo para ser divulgado, mesmo eles sabendo que o blog é um português, eu acho foda isto, ja esta na hora de olharmos para outra região que não seja os Estados Unidos fora da terra do "tio sam" tem muito rap de qualidade. conheça o trampo do mano.

Apos o sucesso de sua primeira mixtape (dupla) que vendeu o primeiro lote em uma semana, " O Rei Shukid" como é apelidado, esta se firmando,introduzindo e elevando seu rap ao nivel mais alto do Hip Hop Africano. Como o Primeiro Lote de sua mixtape foi vendido em uma semana, certamente o rapper vai fazer muito barulho neste ano de 2014.

O rapper queniano ja esta pensando no futuro quer ser um empreendedor e esta planejando lançar uma linha de roupas que vai ser mais uma jogada para se firmar na cena africana.
Inspirando em grifes norte americanas como a G-unit que tem parceria com a Rebook, ele esta fechando  uma parceria com uma grande grife queniana, o rapper não quer por seu nome em suas roupas e sim lançar moda, uma marca.

Enquanto isto o rapper ja esta trabalhando em novas gravações e  fazendo videos de musicas de sua mixtape, veja o video.

Shukid - As I See It


Biografia


Nascido Feisal Khaemba, King Shukid começou na música  em 2009, quando ele gravou de forma independente e lançou sua primeira mixtape, "Thy Kingdom Come". Isso era para ser seguido por uma série de diferentes projetos ao lado de uma série de artistas como eles imediatamente tomou conhecimento de seu talento. Como parte do grupo coletivo Coola Gang, eles lançaram o amplamente bem sucedido "Justamixtape" e foi pioneira na cultura Cypher em Nairobi que eventualmente se espalhou para os países vizinhos como a Tanzânia e Uganda. Isso o levou a realizar em um show em  2012  no Kisima Prémios Cyphers. Sob sua nova gravadora "indie, ID37", o Rei está pronto para levar  a seus súditos seus rap do Leste Africano para o mundo.


Shukid - For Real



Para conhecer melhor o rapper entre em seu site oficial Kingshukid.wordpress.com



#Ouça
FONTE:http://www.noticiario-periferico.com/2014/03/shukid-rapper-do-leste-africano-quenia.html#more


Confirmado Bone Thugs N Harmony no Brasil!!


O grupo Bone Thugs N Harmony, planejou uma turnê comemorativa de 20 anos do grupo, e para sorte dos brasileiros o grupo vai fazer 4 shows no Brasil, 2 em São Paulo, 1 em Porto Alegre e termina fazendo 1 show no Rio de Janeiro.
Lembrando que por problemas jurídicos o grupo não pode vir no ano passado, mas este ano se tudo der certo o grupo promete vir com sua formação original.

Confira os lugares dos Shows.

FONTE:http://www.noticiario-periferico.com/2015/01/confirmado-bone-thugs-n-harmony-no.html

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Por trás do discurso da "meritocracia", o nosso passado mal resolvido

O uso “meritocracia” como verdade suprema acaba servindo a quem ignora que as pessoas não tiveram acesso aos mesmos direitos para começarem suas caminhadas individuais e que partem de lugares diferentes. Uns mais à frente, outros bem atrás.

O discurso da “meritocracia” esconde o nosso passado mal resolvido

A palavra “meritocracia” funciona em um debate como um coringa num jogo de buraco: quando falta carta para bater, ela aparece para salvar uma sequência incompleta. Não fica lá a coisa mais bonita do mundo, mas resolve sua vida porque todo mundo aceita que aquela carta pode preencher um vazio.
“Discordo de cotas étnicas, sociais ou por cor de pele no vestibular porque defendo a meritocracia.”
“A preferência para pessoas com deficiência em seleções de contratação é, a meu ver, um erro porque não segue a meritocracia.”
“Se vivêssemos em uma sociedade em que a meritocracia valesse algo, não haveria porcentagem mínima obrigatória de mulheres candidatas em cada partido nas eleições.”
Ela acaba passando um senso de lógica, racionalidade e Justiça que ergue o interlocutor a um patamar mais elevado dos mortais. Em suma, algo do tipo “venha, querido, não se misture com essa gentalha”.
Eu não sou contra que competência e experiência individuais sejam parâmetros de avaliação. Uma coisa é o mérito em si. Outra, um sistema de poder criado em torno dele como justificativa para manutenção do status quo.
O problema é que o uso dessa palavra como verdade suprema acaba servindo a quem ignora que as pessoas não tiveram acesso aos mesmos direitos para começarem suas caminhadas individuais e que, portanto, partem de lugares diferentes. Uns mais à frente, outros bem atrás.
Achar que um estudante que comia bolachas de lama, brincava com ossinhos de zebu, andava 167 quilômetros por dia para chegar à escola e ainda trabalhava no matadouro do município para ajudar na renda da família parte com igualdade de condições com outro que frequenta uma escola com laboratórios que simulam gravidade zero e possui professores com pós-doutorado em Oxford e são remunerados à altura, que viaja para um lugar diferente todos os anos a fim de conhecer o mundo e não precisará trabalhar até o final da pós-graduação é um tanto quanto irracional.
Os dois podem chegar lá. Mas se o segundo caso cruza a linha de chegada mais vezes, o primeiro é um a cada milhão. Por isso, essas histórias são contadas e recontadas à exaustão: primeiro, nós gostamos de falar de milagres e, segundo, são histórias úteis para convencer os outros que se um consegue, todos podem.
O que não é verdade. Pois, dessa forma, jogamos a responsabilidade de erros históricos não compensados e de uma desigualdade crônica de condições nas próprias pessoas que terão que vencê-las.
Há muita gente contrária a conceder benefícios para tentar equalizar as condições de quem a sorte sorriu menos. Acreditam que a única forma de garantir Justiça é tratar desiguais como iguais e aguardar que as forças do universo façam o resto.
E esse discurso é tão bem contado que, não raro, são apoiados por pessoas que, apesar de largarem em desvantagem, venceram. “Tive uma infância muito pobre e venci mesmo assim. Se pude, todos podem.” Parabéns para você! Mas ao invés de pensar que todos têm que comer o pão que o diabo amassou como você, não seria melhor pensar que um mundo melhor seria aquele em que isso não fosse preciso? De vez em quando penso que, quando nos esforçamos, podemos ser bem mesquinhos.
Como não boto muita fé que o lema “Pátria Educadora” vá resultar em melhoria do sistema educacional público, o que ajudaria a igualar um pouco as condições, e como não é possível acabar com o direito a qualquer herança (o que, hipoteticamente levaria cada geração a começar do zero, mas destruiria a sociedade como a conhecemos), o jeito é continuar apoiando medidas compensatórias e que tratam diferentes de forma diferente.
E demonstrando muito amor e paciência com quem acha que, quem não vence, é vagabundo.
FONTE:http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/por-tras-discurso-da-meritocracia-o-nosso-passado-mal-resolvido.html



DIA 05 E 08/05 NA CIDADE DE SÃO PAULO E DIA 09/05 NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO


A inimiga pública número 1 dos EUA

A trajetória de Angela Davis: considerada inimiga pública número 1 dos Estados Unidos (ou a mulher mais perigosa do mundo), ela se tornou uma das principais vozes do movimento anticarcerário.

Angela Davis, a mulher mais perigosa do mundo

Na última segunda-feira (26), a ativista e professora Angela Yvonne Davis completou 71 anos, um ótimo momento para relembrar a trajetória desta brilhante militante do coletivo Panteras Negras, que teve o seu nome, recentemente, alçado à fama mundial por conta do documentário Free Angela Davis, que trata do período em que esteve presa, o que provocou uma mobilização nacional pela sua libertação.

A mais perigosa
Angela Yvonne Davis é natural do estado do Alabama, considerado um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos e, de acordo com a sua autobiografia, desde criança sofreu na pele humilhações racistas. Leitora voraz desde criança, aos 14 ganhou uma bolsa para estudar em Greenwich Village, em Nova Iorque, fato que transformaria a sua vida, pois é neste momento que ela entra em contato com as teses comunistas e inicia a sua militância no movimento estudantil.
Ainda nos idos de 1960, Davis tornou-se militante ativa do Partido Comunista e do Panteras Negras, que à época lutava para conquistar o apoio da sociedade para libertar três militantes negros que estavam presos: George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette, conhecidos como os “irmãos soledad”, já que estavam detidos na Prisão de Soledad, em Monterey.

Em agosto de 1970, o FBI (Federal Bureau of Investigation) incluiu o nome de Angela Davis na lista dos dez fugitivos mais procurados pelo FBI. Na mesma época, o presidente de então, Richard Nixon, chegou a declarar que “Angela Davis era uma ativista muito perigosa”. Assim, tornou-se a ativista negra classificada pelas forças estatais como a “mais perigosa” e “mais procurada”, pois estava em fuga.
No dia 7 de agosto, Jonathan Jackson, irmão de George, juntamente com outros dois companheiros, interromperam um julgamento onde o réu era o ativista James McClain, que respondia pela acusação de ter esfaqueado um policial. Jackson e os colegas conseguiram render McClain, porém, durante a fuga, houve troca de tiros e Jackson e um outro membro foram mortos. O juiz Harold Haley também acabou morto e as investigações levaram para o “fato” de que a arma utilizada por Jonathan Jackson estava registrada no nome de Angela Davis.

A prisão de Angela Davis foi decretrada e a fotografia de “procurada” estampada nas vias públicas e nos principais jornais. Após dois meses, Davis se entregou. O seu julgamento levou 18 meses, tempo em que esteve presa e que resultou no livro “Angela Davis – Autobiografia de uma revolucionária”. A campanha pela libertação de Angela Davis, que ganhou a chamada de “Free Angela Davis” teve forte repercussão na sociedade norte-americana e contou com o apoio de figuras como John Lennon e Yoko Ono e da banda The Rolling Stones, ambos compuseram músicas em homenagem a Davis.

A ativista foi inocentada de todas as acusações.

Da luta racial para a luta da abolição
Em 1980 e 1984, Angela Davis foi candidata a vice-presidente da República pelo Partido Comunista dos EUA na chapa de Gus Hall. Desde a sua saída da prisão, Davis passou a entender o sistema carcerário como uma continuação das políticas racistas contra negros e imigrantes dos Estados Unidos. Desde então, seu ativismo político e acadêmico tem centrado fogo nesta questão.
Atualmente, a sua principal luta diz respeito à eficácia das políticas de cárcere. “O aprisionamento é a única maneira de tratar os crimes e as disfunções sociais? As despesas prolongadas com os aprisionamentos valem os benefícios momentâneos de supostamente deter o crime?”, questiona. Essa linha de pensamento é chamado por Davis de “democracia da abolição”.
“A democracia da abolição é, portanto, a democracia que está por vir, a democracia que será possível se dermos continuidade aos grandes movimentos de abolição da história norte-americana, aqueles em oposição à escravidão, ao linchamento e à segregação. Enquanto a indústria do complexo carcerário persistir, a democracia norte-americana continuará a ser falsa. Uma democracia falsa desse tipo reduz o povo e suas comunidades à subsistência biológica mais crua, pois ela os exclui da lei e da sociedade organizada”, explica Angela Davis.
A ativista do abolicionismo do século XXI é muito objetiva ao dizer que é necessário desmantelar as ferramentas de opressão e não passá-las às mãos daqueles que a criticam. “O desafio do século XXI não é reivindicar oportunidades iguais para participar da maquinaria da opressão, e sim identificar e desmantelar aquelas estruturas nas quais o racismo continua a ser firmado. Este é o único modo pelo qual a promessa de liberdade pode ser estendida às grandes massas”, avalia Davis.
Angela Davis também é uma crítica ferrenha a situação das mulheres em cárcere e o assunto ganhou destaque desde a estreia da série Orange is the New Black, que trata do cotidiano de mulheres encarceradas. Em entrevista ao jornal Los Angeles Times, Davis foi questionada se assistia a série e qual era a sua opinião. “Eu não só assisti a série, mas li o livro de memórias [de Piper Kerman , que deu origem a série]. Ela tem uma análise muito mais profunda do que se vê na série, mas como uma pessoa que olhou para o papel das prisões femininas na cultura visual, principalmente filmes, acho que a série não é ruim. Há tantos aspectos que muitas vezes não aparecem em representações de pessoas nessas circunstâncias opressivas. Doze Anos de Escravidão, por exemplo, uma coisa que eu perdi naquele filme era uma sensação de alegria, alguma sensação de prazer, algum senso de humanidade”, critica Davis.
FONTE:http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/angela-davis-inimiga-publica-numero-1-dos-eua.html

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A história mal contada do assassinato de Patrick, 11 anos

O caso de Patrick, criança de 11 anos assassinada em uma favela no Rio de Janeiro, já foi esquecido pela grande mídia. A PM alegou ter encontrado com o menino uma pistola, drogas e um rádio transmissor. Será mesmo?


Criança de 11 anos morre em uma favela do Rio de Janeiro. Estarrecido por ver que o caso está sendo esquecido pela grande mídia, quero aqui descrever, com muito desconforto, o que está sendo o extermínio do povo da favela.
Quando há um caso como o do menino Patrick, vemos o futuro da favela ser exterminado junto com ele. A criança de apenas 11 anos, morreu a tiros na manhã de quinta-feira (15), na comunidade Camarista Méier, Zona Norte do Rio. A incursão da polícia na favela tirou a vida de um menino e alegou ter com ele uma pistola, uma mochila com drogas e um rádio transmissor.
Ainda para elucidar o caso, segundo o jornal O Dia, o pai da criança afirma que não havia qualquer pistola perto do corpo logo depois que o menino foi baleado. O caso foi registrado na 25ª DP (Engenho Novo), que descreveu o caso como morte decorrente de intervenção, ou seja, mais um auto de resistência.
O que me deixa estarrecido, como falava no inicio do texto, é a naturalização da violência. Uma CRIANÇA de 11 anos foi morta a tiros e a população não se incomoda com isso. Ao saber do ocorrido fiquei com uma dor horrível, me frustrei e me perguntei se a sociedade sentiu a dor que eu estava sentindo. Pelo jeito não.
Pouco importa para a sociedade se mais um negro foi morto na favela. Foi só mais um dos milhões que a política de segurança quer exterminar. Acho que na verdade foi menos um. Menos um que não vai para o asfalto para roubar o playboy. Menos um que não ira ser o assaltante que roubou o empresário, que sequestrará o seu filho. Foi só menos um que não vai tirar a vaga do seu filho branco na universidade.
Quando uma criança negra da favela morre desta forma, vemos nitidamente as faces do racismo institucional. Historicamente a criminalização da pobreza esconde as tragédias que são cotidianas dos moradores das comunidades periféricas. Se Patrick estava ou não envolvido com o caso não cabe a mim julgar, mas caracterizar o ocorrido como pena de morte para um menino de 11 anos é, no mínimo, um problema de saúde mental e um grande complexo de divindade.
Perdemos mais uma criança para a violência, mais uma que pode vir a ser julgada de ‘menos uma’. Me pergunto: Patrick se continuasse vivo seria um perigo para a sociedade? O futuro de uma criança negra da favela é mesmo julgado pelos registros de violência na comunidade? Sinceramente, gostaria de falar que na favela os sonhos são cortados na sua raiz e poucos são os sobreviventes desta guerra. Patrick foi a vítima da vez. Quem será o próximo?
FONTE:http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/historia-mal-contada-assassinato-de-patrick-11-anos.html

Marginalzinho: a socialização de uma elite vazia e covarde


Parada em um sinal de trânsito, uma cena capturou minha atenção e me fez pensar como, ao longo da vida, a segregação da sociedade brasileira nos bestializa
por Rosana Pinheiro-Machado Do Carta Capital
Era a largada de duas escolas que estavam situadas uma do lado da outra, separadas por um muro altíssimo de uma delas. Da escola pública saíam crianças correndo, brincando e falando alto. A maioria estava desacompanhada e dirigia-se ao ponto de ônibus da grande avenida, que terminaria nas periferias. Era uma massa escura, especialmente quando contrastada com a massa mais clara que saia da escola particular do lado: crianças brancas, de mãos dadas com os pais, babás ou seguranças, caminhando duramente em direção à fila de caminhonetes. Lado a lado, os dois grupos não se misturavam. Cada um sabia exatamente seu lugar. Desde muito pequenas, aquelas crianças tinham literalmente incorporado a segregação à brasileira, que se caracteriza pela mistura única entre o sistema de apartheid racial e o de castas de classes. Os corpos domesticados revelavam o triste processo de socialização ao desprezo, que tende a só piorar na vida adulta.
Mas eis que, de repente, um menino negro, magro e sorridente, ousou subverter as regras tácitas. Brincando de correr em ziguezague, ele “invadiu” a área branca e se esbarrou num menino que, imediatamente, se agarrou desesperadamente no braço da mulher que lhe buscara. Foi um reflexo automático do medo. O menino “invasor” fez um gesto de desculpas – algo como “foi mal” -, e voltou a correr entre os seus, enquanto que a outra criança seguia petrificada.
No olhar do menino “invadido”, havia um misto de medo, de raiva, mas principalmente, de nojo – como que se a outra criança tivesse uma doença altamente contagiosa. Não é difícil imaginar o impacto de esse olhar no inconsciente do menino negro e pobre. Este aprendia, desde muito cedo, que era um intocável, que vivia em uma sociedade na qual seu corpo, na esfera pública, valia menos que o de um menino da mesma idade, que ainda não tinha nenhum mérito conquistado, apenas privilégios herdados.  As consequências desse gesto minúsculo serão trágicas para o menino “invadido”, pois é vítima da ignorância social. Mas será muito mais trágica para quem é negro e desprovido de capital econômico, social e cultural. Para que essa que criança não se corrompa no futuro, ela precisa ser salva do olhar de nojo.
É possível que, por meio de leitura e mistura, o menino amedrontado se engrandeça politicamente no futuro, se liberte do muro que lhe protege e dispense o braço da babá. Mas, infelizmente, há uma tendência grande de que ele, cercado por medo e preconceito, passe o resto de sua existência se protegendo do “marginalzinho”. Pivetes, favelados, fedorentos: isso é tudo que o ele ouve sobre seus vizinhos. Trata-se de uma verdade histórica a priori, para além da qual não se consegue pensar. Essas categorias compõem o discurso forjado sobre a pobreza, que, em última instância, visa à intervenção e à manutenção do poder. Reproduzindo este discurso, então, o menino tornar-se-á um adulto. Ele blindará seu carro, colocará alarme em sua casa, pedirá a morte de traficantes. Dirá que rolezinho é arrastão, pedirá mais polícia e curtirá a vida em camarotes. Pode ser até que ele peça a volta da ditadura. Achando que é um cidadão de bem que age contra a marginalidade do mal, forma-se um perfeito idiota.
Ah, mas os pobres da África a gente gosta
Em 2012, enquanto eu estava em Harvard, recebi a visita de uma orientanda do Brasil. Ela tirava fotos e se exibia no Facebook: “#Orgulho”, “Minha orientadora é pós-doutora por Harvard, e a sua?”. Em uma pausa, ela me perguntou em que escola eu havia estudado para ter chegado a uma universidade da elite internacional. Ela buscava identificação. Eu era um exemplo de uma mulher jovem, branca e “bem sucedida”, exatamente como ela se projetava nos próximos dez anos. Eu, sabendo que ela havia estudado do lado de dentro do muro, respondi que passei a parte mais rica da minha vida, dos 2 aos 17 anos de idade, do outro lado do muro. Ela não postou, mas bem que pensou: #MinhaOrientadoraÉMarginalzinha…”.
A reação dela era de decepção, vergonha e certa pena de mim. Ela ficou vermelha, desconcertada, sem chão. Engasgou-se e começou a tossir para disfarçar a cor de suas bochechas. Isso tudo porque ela sabia muito bem que tinha passado aproximadamente quinze anos de sua vida chamando pessoas como eu de “tigrada”. Ela se socializou negando a alteridade e, portanto, nunca imaginou que a relação de poder entre os atores dos diferentes lados do mundo se inverteria. Tudo que ela havia aprendido sobre aquele Outro era simplesmente de que se tratava de uma não-persona. O motivo pelo qual o seus vizinhos tinham menos do que ela não cabiam em sua imaginação. Fazendo parte da meritocracia sem mérito, ela simplesmente merecia ter o que tinha.
Ela, então, tinha que desvendar um enigma: como uma pessoa que tinha vindo de um lugar tão ruim podia estar em uma Universidade tão boa? A única maneira de ela se reconciliar com seus próprios preconceitos era me classificar como um daqueles casos excepcionais de superação que aparecem Globo Repórter. Eu respondi que não, que o destino de quem sai de lá tem sido muito variado. Há quem entra para o crime e morre antes dos 18 anos, mas a maioria tem histórias de lutas, perdas, mas, sobretudo, conquistas. Uma pena que ela nunca quis saber dessas histórias e deixou de crescer por meio da alteridade.
Ironicamente, essa aluna estava voltando de um programa voluntário para ajudar uma comunidade miserável de Ruanda.  Havia poesia – e alívio cristão – em (arrogantemente) querer salvar a África. Por algum motivo, os pobres e negros do lado de lá do oceano (que não assaltariam a sua caminhonete já adquirida aos 21 anos) eram mais dignos de sua profunda bondade do que os pobres e negros que ela havia ignorado por toda a sua existência.
Eu sempre me pergunto as razões pelas quais esse perfil de elite se comove com a pobreza romantizada, mas nega a solidariedade ao pobre da mesma cidade. Nessas horas, me vem à cabeça o dia em que meus colegas de escola estavam participando de um campeonato de futsal, mas não tinham quadra para treinar. Marcamos uma reunião com a diretora da escola do lado no intuito de solicitar, em nome de nossa vizinhança, o uso da quadra durante a noite, que ficava inativa. Em um ato de profunda humilhação, fomos “escoltados” até o escritório e recepcionados com as piadas das outras crianças (que não teriam tido coragem de debochar fora da fortificação). Depois de muita resistência, a diretora liberou o uso do ginásio, o que foi vetado uma semana depois em função de uma bola que tinha desaparecido. Apesar de eu ter convicção de que não houve roubo, eu nunca vou poder afirmar isso com 100% de certeza. O que eu posso afirmar para o resto da minha vida é que, desde então, eu sou contra a pena de morte – e de toda a concepção de que bandido bom é bandido morto – justamente porque muitos inocentes terão suas vidas abortadas por causa do preconceito. Quinze jovens tiveram seu sonho de competir interrompido por causa de uma falsa verdade: a de que nós só poderíamos ser ladrões. Consequentemente, “não adianta mesmo querer ser generoso e dar oportunidade para marginal”.
Entender que o pobre do lado tem o mesmo valor do pobre da África é uma tarefa para uma vida toda, pois envolve uma postura política de grandeza reflexiva intelectual e o reconhecimento de nossa responsabilidade sobre o Outro. Reclama-se da ineficiência do Estado brasileiro, mas toda a violência estrutural gerada por este Estado é reproduzida por sujeitos covardes e apáticos que negam, estigmatizam e inviabilizam o Outro.
Faz vinte anos que eu deixei a escola. Em minha última visita, em 2014, as instalações estavam muito mais deterioradas. As goteiras continuam lá. Sem professores em sala de aula, os alunos não podem ir para área de esportes porque o lugar está interditado há seis anos por risco de o teto desabar. Mas o muro da escola do lado continua a crescer.
Desde pequena eu aprendi que a violência é holista. As elites não são vítimas da violência urbana. A agressão sofrida é a mesma que se pratica.  O olhar de nojo é também assassino. E os muros ferem mais do que protegem.  Será que as pessoas imaginam o quanto podem crescer derrubando muros?


FONTE:http://www.geledes.org.br/marginalzinho-socializacao-de-uma-elite-vazia-e-covarde/#axzz3Q7I13xUO


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A NEGRA QUE SE TORNOU MADRINHA DA INFANTARIA NAVAL

Paula, a Baiana, madrinha da Infantaria Naval | FOTO: Reprodução
Em sua coluna, Oswaldo Faustino conta a história de Paula, a Baiana, que mostra a humanidade na Marinha do Brasil tornando-se Madrinha da Infantaria Naval
Não. O lado humano nada tem a ver com a instituição, mas com parte de seus integrantes. Mais precisamente sua infantaria, os valorosos e sofridos Fuzileiros Navais. Descobri isso por meio do blog Coisa de Naval, de Gil Cordeiro Dias Ferreira, e do maravilhoso livro Mulheres Negras do Brasil, uma obra fundamental de Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil, publicada pela Editora Senac,em parceria com a Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh).

Tirei essa conclusão ao tomar conhecimento da existência de Paula, a Baiana (seu nome verdadeiro, nem um nem outro revela), provavelmente do Recôncavo, como muitas que seguiram ainda jovens para o Rio de Janeiro, no século 19. Consta que sua chegada na então Capital Federal se deu em 1895. E ela foi residir numa pequena casa alugada no subúrbio de Rocha Miranda, na zona norte do Rio de Janeiro. Quituteira de mão cheia, Paula levava seu tabuleiro à porta do Corpo de Infantaria da Marinha, na Ilha das Cobras, para vender aos militares esfaimados bolinhos de tapioca, pés de moleque, cuscuz, laranjas e bananas, entre outras guloseimas. João Cândido certamente a conheceu. Aquela negra cativou não só a marujada, mas também o pessoal do clube dos oficiais.

Assim, ela foi autorizada a montar sua pequena cantina, conhecida como Mafuá da Baiana, no pátio do Batalhão Naval. Perfilava-se, ao lado do tabuleiro, diante das altas patentes e, aos poucos, foi conquistando respeito e admiração. Em datas cívicas, como o 7 de setembro e o 15 de novembro, vestia sua saia branca engomada, seu dólmã vermelho com botões dourados, ajeitava seu turbante branco e sobre ele a cesta de vime em que carregava seus quitutes. Considerada madrinha da Infantaria, era Fuzileira Honorária e marchava ao lado das tropas, aclamada pela população. Quando não estava vendendo ou preparando as guloseimas, Paula lavava roupas na Cova da Onça, hoje uma tradição na Fortaleza São José, na Ilha das Cobras. 

Ao falecer, em abril de 1935, foi homenageada pelo Batalhão Naval que cruzou os fuzis cobertos de flores brancas e vermelhas sobre sua sepultura. Um bonito gesto por parte de integrantes dessa instituição de 190 anos, fundada após aIndependência do Brasil. Infelizmente, em nome da segurança nacional, ela arranca famílias – com violência – de tradicionais terras quilombolas e perde a oportunidade de conhecer e reconhecer centenas de outras Paulas Baianas...

FONTE:http://raca.digisa.com.br/colunistas/a-negra-que-se-tornou-madrinha-da-infantaria-naval/2003/

LIDERANÇA FEMININA AFRICANA

Kimpa Vita, grande liderança africana | Ilustração: Serge Diantantu

Oswaldo Faustino conta a história de Kimpa Vita, grande liderança feminina que foi queimada na Inquisição por pregar um cristianismo africano

liderança feminina no movimento social negro tem um sem número de referências históricas. Uma delas floresceu no início do século XVIII, no então Império do Kongo. Depois de um período de 200 anos de decadência, a situação tenebrosa do reino levou a jovem profetisa Kimpa Vita a liderar uma reação religiosa e política. Facilmente, Kimpa Vita pode ser comparada à jovem camponesa francesa Joana D’Arc, acusada pela Inquisição de bruxaria e de blasfemar. Assim como ela, a africana teve visões, cativou as massas, enfrentou guerras e irritou os ortodoxos do catolicismo. Foi igualmente acusada de heresia e executada na fogueira. A diferença é que a francesa, cinco séculos depois, recebeu o título de mártir e foi canonizada. A africana, não. Algumas de suas ideias, porém, podem inspirar a inculturação evangélica expressa nas chamadas missas-afro.

O Império do Kongo, fundado no século XIII por Ntinu Wene, seu primeiro manicongo – título do imperador –, existiu até 1914. Seus 130 mil quilômetros quadrados se estendiam pelo que é hoje o norte de Angola, a República Democrática do Congo (ex- Zaire), a República do Congo (Brazzaville) e parte do Gabão. Sua capital era Mbanza Kongo. Ao chegarem ali, no final do século XV, os navegadores portugueses encontraram uma nação que gozava de supremacia: civilização desenvolvida e opulenta, que vestia seda e veludo; soberanos poderosos, mais de 1 milhão de habitantes, terras férteis cultivadas, indústrias, tecnologia de extração do sal, produção de joias e recursos naturais, como o ouro, o cobre e o ferro. Convertido, o manicongo Nzinga-a-Nkuwu, em 1509, tornou o catolicismo a religião oficial do Império. Mudou seu nome para João I e o da capital para São Salvador. Os demais soberanos que se sucederam também adotaram nomes europeus. Porém, no final do século XVII, o Kongo vivia duas realidades: forte influência dos missionários e uma guerra civil, por disputa pelo trono ocupado por Pedro IV. Ele então abandonou a antiga capital, que foi arrasada pelos dissidentes, e se refugiou nos montes Kibangu.

Foi neste contexto que nasceu, em 1684, numa família aristocrática e católica, Kimpa Vita, batizada Beatriz. Em 1704, aos 20 anos, ela teve uma experiência de quase morte. Ao se recuperar, afirmava que Santo Antônio de Pádua havia reencarnado em seu corpo. Percorreu todo o território difundindo uma forma de sincretismo religioso, denominado Antonismo. Dona Beatriz, como passou a ser chamada, pregava que o Kongo era a Terra Prometida, que Jesus Cristo havia nascido em São Salvador e sido batizado em Nsundi. Também afirmava que a Virgem Maria e São Francisco eram originários do Kongo. Questionava a alvura dos anjos que, em suas visões, eramnegros. E acreditava que o império só reencontraria a paz com a partida dos europeus, que espoliavam os africanos dos seus bens e da sua humanidade. Tanto Pedro IV quanto o general Pedro Constantino da Silva, seu adversário político, sonhavam em ter Dona Beatriz como aliada. Mas diante da ameaça a seus privilégios, os missionários capuchinhos, sob a liderança do italiano Bernardo di Gallo, convenceram o manicongo do perigo que representava a popularidade da jovem e suas teorias contra o eurocentrismo. Acusada de heresia, Kimpa Vita teve a sua prisão decretada. Ela se refugiou na floresta com seus aliados. Foi presa dias após dar luz a um menino. Interrogada por di Galllo, afirmou que seu filho vinha do céu e seria o salvador de seu povo, o que foi utilizado como prova da suposta heresia. Em 2 de julho de 1706, Kimpa Vita foi queimada na fogueira da intolerância religiosa e da dominação política. Hoje, em Angola, há uma universidade com seu nome.

FONTE:http://raca.digisa.com.br/colunistas/lideranca-feminina-africana/2123/


Fundador da primeira escola de samba, Ismael Silva já foi impedido de assistir aos desfiles.


Criador ao lado da sua turma do Estácio da primeira escola de samba do país — a Deixa Falar —, Ismael Silva passou por maus bocados para ver sua criação de perto. Sem dinheiro para comprar o ingresso de Cr$ 8 mil para assistir à passagem das agremiações no carnaval de 1965, o compositor fez um apelo à Secretaria de Turismo para ter direito de acompanhar de perto os desfiles. O pedido nem foi considerado.

Em 75, virou enredo da escola Canarinhos da Engenhoca, de Niterói. No mesmo ano, ganhou dos órgãos públicos dois ingressos nas cadeiras cativas para ver os desfiles através de uma lei estadual. Mas no carnaval seguinte, Ismael, aos 70 anos na época, foi barrado por funcionários da Riotur, quando tentava chegar ao camarote e ocupar seu lugar devido — e merecido.

“Nem sequer me deixaram falar com o pessoal da imprensa, que podia explicar tudo. Fui humilhado, tive que me retirar como se fosse um marginal. No meu caso, por exemplo, mesmo quem não me conhece vê logo que não se trata de um delinquente. Não ofereço perigo nenhum, caminho com dificuldade”, desabafou Ismael Silva ao jornal O Globo na época.

A convite do diário, o poeta do Estácio voltou no dia seguinte, na segunda-feira de carnaval, para acompanhar os desfiles de blocos e ranchos. Só não foi impedido de entrar novamente após a insistência do repórter que explicava ao segurança quem era o senhor de bengala. Ismael entrou e foi cumprimentado por Paulinho da Viola, um dos jurados do concurso de ranchos. Ficou por lá durante duas horas e depois pediu para ir embora. Estava emocionado.

Para tentar contornar o episódio, foram entregues dois ingressos de arquibancada para os desfiles no ano seguinte. Ismael recusou. Não pisaria mais naquele palco. Morreu em 78, desgostoso com aquele mundo que ajudou a criar.





terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O que é colorismo?



Só aos vinte anos de idade consegui me reconhecer e autoafirmar negra. Mesmo quando tentei por muitas vezes me identificar como branca - por conta de ter mãe e avós maternos brancos -, não deixei de sofrer racismo. Fui, ao longo dos anos, embranquecida, e tive minha identidade e descendência invisibilizadas. Aprendi, somente muito tarde, que o colorismo é uma das formas cruéis em que o racismo semanifesta.

Autoafirmar-se negro é, além de uma postura política, um grito de resistência. Não há como combater uma opressão sem reconhecê-la primeiro e sem conhecer sua raiz. 

Colorismo, amizades, é por definição a divisão de negros entre “os verdadeiros” (de pele escura) e os negros-não-negros (de pele clara). O colorismo é o que podemos chamar de uma forma legítima de racismo velado. Desde o nascimento, negros filhos mestiços de pai branco e mãe negra e vice-versa, são chamados pardos. Pardos por quê? O que é, afinal, ser pardo? 

“Pardo” é mais um dos muitos termos criados para nos chamarem “não tão negros assim”. Somos chamados de negros-não-negros por não sermos aptos ao padrão que a branquitude estabeleceu para legitimar nossas identidades, mas ao mesmo tempo não possuímos privilégio branco. Nossos traços gritam e nenhum embranquecimento os cala.

O colorismo funciona como um agente de manutenção da branquitude e garante que a sociedade continue a enxergar o que é “branco/claro” como bom e o que é “negro/preto/escuro” como ruim. Somos embranquecidos porque é assim que servimos, sendo os negros que na verdade “nem são tão negros assim”. As revistas, a televisão, os outdoors; a publicidade nos diz que tudo bem ser negro se não for “tão negro assim”. Nossos referenciais são embranquecidos em campanhas publicitárias. Tentam nos sufocar através de todos os meios.

Nossos traços denunciam nossa ancestralidade e nos definem, portanto, como negros. Não somos mais “quase negros” ou “negros de pele clara”, somos negros.

Me lembro de que na infância, meu único referencial de mulher negra foi a avó de uma amiga minha. A mulher, uma negra gorda de cabelos lisos, era sempre elogiada pelos cabelos que mesmo brancos, chamavam a atenção. Eu também os elogiava e me perguntava, muitas vezes, como era possível uma negra de cabelos tão lisos. Hoje entendo que os cabelos da Vó Regina eram elogiados por remeter à branquitude e discorro, a partir de leituras que fiz há algum tempo, sobre quão tamanha é a crueldade do racismo. A miscigenação de negros começou na senzala, quando escravas eram estupradas por seus sinhôs. Será, então, que exaltar os traços “brancos” de um negro não é legitimar a dor daquelas mulheres? A animalização a qual elas foram submetidas?

Acho necessário, contudo, fazer a ressalva de que a autoafirmação não deve ser banalizada. A afirmação de sua negritude não é um espaço aberto para brancos se apropriarem e reivindicarem espaço de fala no nosso movimento. A autoafirmação é um agente empoderador para pessoas negras que foram embranquecidas durante a vida. Vi nos últimos dias duas pessoas se dizerem negras por terem o cabelo cacheado. Ser negro não é ter o cabelo cacheado. O cabelo cacheado é um traço europeu também, inclusive. Às pessoas brancas eu digo: cuidado com a apropriação e atenção ao local de fala.

A valorização de termos como “pardos”, “mulatos” e “morenos” nos aproxima do “quase brancos” e não somos isso. Somos negros. Reafirmo: existimos e somos muitos.

Como uma última consideração levanto o questionamento: Por que é que brancos existem em milhares de biotipos – ruivos, loiros, de olhos claros e escuros - e ainda assim são afirmados brancos, mas negros têm de se encaixar no padrão traços fortes/pele escura ou então são “não tão negros assim”?


FONTE:https://www.facebook.com/Feminiciantes/photos/a.230451850495877.1073741828.230165277191201/317761845098210/?type=1