quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A DITADURA PRETA E A PASSIVIDADE NEGRA.

Por Marcelo Silles
Assistente Social

O que acontece com a negritude brasileira?

O fato é que, o branco trabalhou muito bem o quesito dividir para conquistar. Apoderando-se das culturas afro-brasileiras, cedendo aos pouquinhos alguns espaços e reconhecimentos, o branco foi promovendo habilmente a política da boa vizinhança e da reconciliação do tipo “deixa disso”, “vamos perdoar e esquecer”, “só o amor racial é a solução” e por aí vai.

Só que eles promovem a cordialidade somente entre os nossos, entre eles, os brancos, essa cordialidade para conosco não é totalmente demonstrada e nem aplicada. A verdade, que seja dita e doa a quem doer, é que novamente a máxima de manter os negros dóceis e passivos é o real objetivo da política da boa vizinhança branca. Infelizmente existem negros que concordam e querem está do lado, segundo eles, vencedor e harmônico.

Negros passivos que não querem saber absolutamente nada de consciência negra e nem coletiva. Acusam, nós pretos, de querer forçá-los a fazer parte de nosso empoderamento de luta e consciência a favor dos nossos, que somos ditadores e queremos implantar uma ditadura totalmente preta no Brasil. Viajem pura desses jabuticabas.

O Devir Negro Afro-Diásporo brasileiro, não é para qualquer negro, tem que ser preto por dentro e por fora. Tem que trazer na pele, no sangue e na alma, o orgulho da negritude, honrar aqueles que um dia lutaram para que desfrutássemos hoje essa liberdade de certo modo, honrar nossos ancestrais.

Toda vez que um preto ou uma preta levanta a voz para glorificar a sua raça, é tido(a) como racista, intolerante, que quer dividir o país e implantar uma ditadura. Toda vez que um preto ou uma preta se defende de um branco ou uma branca, é tido como racista, intolerante, que quer dividir e implantar uma ditadura.

Em verdade vos digo, exigir direitos sociais e econômicos justos não é ser ditador, nem intolerante e nem racista. Direitos que esses jabuticabas, palmiteiros, negropeus já estão gozando com as ações afirmativas que, com certeza absoluta eles se quer suaram a camisa e ferveram a mente para merecê-las.

Negros passivos nos acusam de ditadores? Então nós pretos os acusamos de colaboradores dos propósitos brancos para extirpação e extinção do negro brasileiro, de colaboradores para a destruição de nossa cultura e apropriação imoral da mesma. A divisão do povo negro é tudo que a elite e a sociedade branca brasileira quer novamente, querem que voltemos a sermos totalmente passivos, dóceis, obedientes, sim senhor e não senhor. Tudo com o apoio e aval de negros jabuticabas que tem vergonha da sua cor e lamentam pelos cantos por ter nascido negro em vez de branco.


Sou preto com orgulho por dentro e por fora, e se isso me faz ter um perfil ditatorial, que assim seja.

Mc Soffia, 11 anos: “Aceitem seu cabelo, sua cor”

Criada na Cohab Raposo Tavares, em São Paulo, sucesso entre as crianças, e autora de versos como “Crianças da periferia não conseguem brincar com alegria”, Mc Soffia deu entrevista ao site “Nós, mulheres da periferia“, onde fala da sua descoberta do racismo, na escola: “Fazem  a cabeça das crianças falando para elas alisarem o cabelo, falam que são feias porque são negras, zoam elas. Elas não precisam aceitar isso. Aceitem o que são, que a mãe delas as levem em eventos de Hip Hop, onde também há muitas mulheres negras. Ah, e não ter vergonha de ser da periferia também”, ensina
Por Jéssica Moreira, no Brasil 247
“Aceitem seu cabelo, sua cor”, diz Mc Soffia às crianças da periferia
” Crianças da periferia não conseguem brincar com alegria”. O verso faz parte de uma das músicas da rapper mirim que vem sendo sucesso entre as crianças da periferia paulistana, Mc Soffia. Mc Soffia é Soffia Gomes da Rocha Gregório Correia, 11 anos. Cresceu na Cohab Raposo Tavares, em São Paulo, onde vive com a mãe Kamilah Pimentel. Adora jogar futebol, pular corda ou brincar de esconde-esconde na rua com os amigos. “Eu sempre tenho que brincar antes dos shows, senão não consigo cantar”, conta a menina, que diz não ter vergonha de subir ao palco e adora ver as meninas soltando seus cabelos crespos.
Foi na escola que Soffia descobriu o que era o racismo. As crianças, muitas vezes, a ofendiam pelo fato de ser negra e ter cabelos crespos. A garota, então, contou à mãe que queria ser branca para não passar mais por aquelas situações. Kamilha acentuou a importância da história africana à filha e também a introduziu na cultura do Hip Hop, além de eventos culturais e shows onde havia outras mulheres negras.
E esse é exatamente o recado que Sofia deixa para as meninas negras hoje: que elas [as meninas] aceitem seu cabelo, sua cor. “Fazem  a cabeça das crianças falando para elas alisarem o cabelo, falam que são feias porque são negras, zoam elas. Elas não precisam aceitar isso. Aceitem o que são, que a mãe delas as levem em eventos de Hip Hop, onde também há muitas mulheres negras. No samba-rock, então, há muitas mulheres. Ah, e não ter vergonha de ser da periferia também”.
Na entrevista cedida ao Nós, mulheres da periferia, por telefone, Soffia fala ainda dos problemas que persistem na periferia e impedem as crianças de brincarem de forma feliz; quais as soluções para isso e como as escolas poderiam enfrentar o preconceito e racismo entre as crianças . “As crianças, a maioria da periferia, são negras. Podem sofrer racismo, preconceito. A própria questão da polícia, que mata muitas crianças inocentes, aparece na TV, então elas não conseguem brincar. Tem bala perdida, elas não conseguem brincar direito. Eu acho que deveriam fazer oficinas, por exemplo, pra quem gosta de funk, batalhas do passinho, oficina de hip hop, ballet, natação, teatro, como nos lugares do centro, deveria ter tudo isso na periferia”.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.

Nós, mulheres da periferia: onde você nasceu e como foi sua infância nesse local?
MC Soffia: Eu nasci na Santa Casa, em São Paulo. Minha infância, que ainda estou, está sendo legal, né? Eu gosto de brincar na rua de futebol, de pular corda, mas o que gosto mais de brincar é de esconde-esconde, tem muita criança lá na minha rua, eu moro na Cohab Raposo Tavares desde que nasci. Antes eu morava no centro, quando era bem pequenininha, antes de fazer um ano.

Nós, mulheres da periferia: quantas escolas você já estudou, lembra-se delas?

Mc Soffia: Hoje estudo no Projeto Âncora, em Cotia, mas já estudei em seis escolas, contando as creches.

Nós, mulheres da periferia: você já passou por situações de racismo?

MC Soffia: Sim, tudo que já falei em outras entrevistas. Na escola, a gente tem um projeto de racismo, bullying e preconceito na escola, as crianças mesmas que fazem, se alguma criança sofre, as crianças vão lá e conversam. Deveria ter em todas as escolas.

Nós, mulheres da periferia: Em uma de suas canções você diz “Crianças da periferia não podem brincar com alegria”. O que acha que essa frase quer dizer?

MC Soffia: ” Porque as crianças, a maioria da periferia, são negras, podem sofrer racismo, preconceito. A própria questão da polícia, que mata muitas crianças inocentes, aparece na TV, então elas não conseguem brincar, tem bala perdida, elas não conseguem brincar direito”.

Nós, mulheres da periferia: O que você acha que deveria mudar para as crianças conseguirem brincar como deveriam?

MC Soffia: Eu acho que deveriam fazer oficinas, por exemplo, para quem gosta de funk, batalhas do passinho, oficina de Hip hop, ballet, natação, teatro, como nos lugares do centro, deveria ter tudo isso na periferia, conseguiriam brincar, não iriam para esse mundo de crescer e ser bandido.

Nós, mulheres da periferia: Qual a mensagem que você gostaria de passar para as meninas e crianças todas com suas canções?

MC Soffia: ” Que elas [as meninas] aceitem seu cabelo, sua cor. Fazem a cabeça da criança falando para elas alisarem o cabelo, falam que são feias porque são negras, zoam elas. Elas não precisam aceitar isso, aceitem o que são, que a mãe delas as levem em eventos de Hip Hop que também há muitas mulheres negras, samba-rock, então, há muitas mulheres. Ah, e não ter vergonha de ser da periferia também”.

Nós, mulheres da periferia: Quais são seus planos para quando crescer?

MC Soffia: Quando eu crescer eu vou ser médica, cantora, atriz, jogadora de futebol, vôlei. Tudo isso. Mas o que quero mesmo é ser  medica, atriz e cantora, mas eu também posso jogar em alguns lugares.

Nós, mulheres da periferia: quais são seus livros ou leituras favoritas?

Mc Soffia: Já li coisas sobre a Anastácia,  Dandara, Carolina Maria de Jesus.

Nós, mulheres da periferia: você brinca bastante?

Mc Soffia: Antes dos shows eu brinco na rua, ou brinco em todo lugar, e antes do show sempre tenho que brincar, senão eu não consigo cantar direito. Antes do show, dou umas piruetas, fico pulando, quando tem brinquedo, eu brinco. Na minha escola eu brinco bastante, tem pista de skate, quadra, tem um monte de coisas, pista, tem natação, lá eu brinco bastante.


FONTE:http://www.geledes.org.br/mc-soffia-11-anos-aceitem-seu-cabelo-sua-cor/#gs.L_fIl7o