terça-feira, 3 de junho de 2014

RAEL - Ainda Bem Que Eu Segui As Batidas Do Meu Coração (2013), um álbum para... GUIAR!...


De cantor em cantor a gente vai descobrindo novos mundos. De rap em rap então, meu Deus, são novos horizontes a cada batida, a cada letra. Meu movimento com o rap e hip hop é recente. Sempre tive contato com o movimento norte americano, via MTV, década de 90, tem coisa que curto, mas tem coisa que quero distancia. De uns tempos pra cá, com meu afastamento da musica norte americana, suas (fabricadas) divas de todos os anos e seus pop stars rebeldes sem causa, busquei um caminho sonoro em outros países. Assim descobri o zouk, quizomba e afins, a musica pop indiana e outro lado da musica brasileira...
Rael, negão, paulistano, boa voz, é uma das melhores descobertas que meus ouvidos acharam de gostar. O cantor é dono de uma voz suave, mas ao mesmo tempo forte, proveniente da pegada do seu som, regaae e rap, rima e swing, Afro beat, Gilberto Gil, Jamaica e Avenida Paulista, tudo misturado de uma forma muito prazerosa de ouvir. A produção é gringa - Beatnick e K-Salaam, mas o resultado (ops, O RESULTADO) é maravilhosamente brasileiro.
Este “Ainda Bem Que Eu Segui as Batidas do Meu Coração” (do selo Laboratório Fantasma) é seu segundo cd. Nele encontramos um Rael superior ao seu trabalho de 2010 – MP3 Musica Popular do Terceiro Mundo. A sonoridade é melhor, as letras mais coesas, tudo reflete amadurecimento em cada faixa. Primeira vez que ouvi Rael, fiquei encantado com a fluidez e o cuidado da produção do álbum, repetia trechos de canções, sorria, ouvia mais atentamente... Cd realmente bom!
O álbum abre definitivamente pulsando, batidas de um coração, forte, em ‘Ainda Bem” Rael mostra o que move sua vida, o que motiva seu trabalho, o fazer de sua arte. Soa até como “faixa de agradecimento”, mas o rapper inova em colocar este tipo de canção no começo. Nela ele agradece suas referencias e abre o cd falando que para chegar até aqui ele seguiu suas próprias vontades. Na verdade CAMINHO seria a palavra mote do 2° cd do cantor. Seguindo o desenvolvimento do álbum, “Caminho”, dá conta de outras referencias do cantor. Pedras, conflitos, pessoas nobre ou não, paz, guerra, discurso, buracos, tudo que é feito o caminho de um cidadão de bem, trabalhador, mais a batida black batendo no centro na condução da letra. Em “Semana” o clima ameniza totalmente, canção romântica, sensações que o amor nos faz ter, misto entre a pressa da paixão e a certeza de cada momento aproveitado pelo amor. Com “Tudo Vai Passar” o reggae começa a pegar, feat perfeito com Msario, outra sobre cruzamento entre escolhas & oficio artístico.

“Anda” muda um pouco o alvo do cd. Rael fala diretamente pra favela, seus habitantes, o dia a dia, escadarias, vielas, o esquivo do mal e os Orixás. “Só Não Posso” versão remix fala sobre tentações, do mal que faz questão de bater a nossa porta se nos afastarmos. Rap de raiz brasileira, balanço bom. “Quizumba” e “Causa e Efeito” são exemplos de canções sobre fé (em si, nos outros e nos deuses), persistência, trabalho e da gente que cruza nosso caminho (olha ele de novo) para nos destruir.

“Diáspora”, uma das minhas preferidas, outro reggae, faz jus ao nome. Nosso povo está espalhado pelo mundo, pelo Brasil. Referências, crenças, religiões, visões de mundo tudo diferente unidos em um só povo, uma só cor e uma só luta. O som é bem relaxante, mas a letra é forte demais. “Coração” fala sobre as diferenças do amor, dele, dela... A motivação é clichê, mas o resultado me surpreendeu. “Ela me Faz”, outra querida por mim, primeira musica que me fez ligar em Rael, depoimento sincero de um cara largadão que curte mina certinha e quer se consertar também, mas com ela do lado, é claro...
Em “Diferenças” e “Pedindo Pra Deus”, a velha luta de interesses entre patrões e empregados, população e governantes. Emicida e Péricles dão uma mãozinha no samba regravado “Oya”, pedidos ao céu do povo trabalhador. Nesta faixa Rael vem apoiado por dois grandes intérpretes, um do samba das “novas gerações” e outro do rap brasileiro da gema. “Leão de Judah” finaliza o cd dizendo que apesar das dificuldades nós não podemos nos entregar.
Curioso que o caminho que Rael segue quando ouve o sentido das batidas de seu nobre coração é o da fé. É acreditando em dias melhores que o cantor mostra seu trabalho. A fé move montanhas, não importa o tamanho delas. O cd em nenhuma faixa lembra aas batidas de rap ou hip hop norte americano. Sempre Brasil e sempre rap com leves (ou não) toques de reggae. E isso é bom. Não sou purista. Tem cantor brasileiro que prefere caminho diferente e acerta, mas não adianta escolher um viés mais nosso se o resultado fica aquém. Com Rael o efeito é superior.

Este 2° álbum está na minha play list com certeza! Ouço a caminho do trabalho, na academia, escapando das pregações fanáticas dentro do ônibus. Aliás, este álbum entrega uma positividade muito melhor que muito pregador por ai, sem cobrar nada e seus ouvidos ao final vão agradecer pelas boas batidas.

Fonte:http://peliculanegra.blogspot.com.br/2014/06/rael-ainda-bem-que-eu-segui-as-batidas.html