terça-feira, 27 de maio de 2014

As Minas - LOKA (CLIPE OFICIAL)




MN, Juventude, marxismo, teoria e prática.

No inicio de setembro, ao participar do debate: MOVIMENTO NEGRO, com o ilustre professor Valter Silvério; pelo mano doutorando Deivson Nkosi, e a irmãzinha mestranda Larissa Nascimento, do Coletivo Malick, coordenado pelo irmão Danilo Alberto, todos da Sociais-UFScar, como parte da Programação da X Semana de Ciências Sociais, tendo como tema central geral: Marxismo e Movimentos sociais, senti-me motivado a retornar as velhas teorias, e as contradições para o enfrentamento da luta por mudanças sociais, nessas terras tupiniquins.

Este artigo não tem a pretensão de discutir o marxismo em profundidade, apenas apontar as conexões dessa ferramenta teórica que busca explicar e interpretar as relações sociais reais entre produtores, excluídos, marginalizadas e oprimidos e seus expropriadores proprietários (ou apropriadores do resultado do trabalho alheio), apontando que isso é a razão da concentração de poder econômico e político, com a sofisticação do estado burguês, contra os reais produtores da riqueza, os trabalhadores.

Na academia, nos partidos e no movimento social, e no movimento negro, atualmente, muitos abominam o marxismo. Da direita, por razões obvias, e por oposição ideológica, é natural a postura; Entretanto, não se admite das viúvas do socialismo real, por capitulação e rendição aos propósitos neoliberais e mercadistas. Para a galera que o faz, por mera ignorância sectária, não temos outros adjetivos.

Há também uma corrente, que conhecendo ou não, o faz, na tentativa de desqualificação.  Via de regra, seus argumentos não se sustentam, e de tão superficiais, não progridem, suas justificativas parte de premissas equivocadas, "de que o marxismo é europeu, de que não fala da opressão estrutural que é o racismo, ou por que o marxismo não é vigente, com governo, em nenhuma sociedade atual". Não teria funcionalidade, não é um método eficiente e por isso não possui aplicabilidade real.

Entre estes, encontram-se os afro centricos, afro centrados e afro centristas. Tentam bancar África e a cosmovisão africana, como centro do debate da retomada da valorização da origem diásporica, e pan-africanista, relegando a nada as contribuições históricas da humanidade não africana. Esta posição legitima a apropriação do conhecimento e de todos os recursos do planeta, pelo imperialismo cristão-sionista-anglo saxão.

As idéias, as descobertas, as invenções, o conhecimento, as contribuições e vivencias, são patrimônio de toda humanidade. Devemos utilizar as melhores idéias e experiências em beneficio de todos. É preciso conhecer o opressor para entender suas praticas, táticas e estratégia. e por conseguinte: Abaixo patentes e monopólios!

O Marxismo não é só ideologia, é ciência de analise filosófica, sócio-política e econômica. Esquecem que a teoria do valor e da mercadoria de Marx, é referencial para o estudo da economia capitalista, inclusive para os próprios capitalistas. Assim como a abordagem do desenvolvimento das forças produtivas, como fundamental ao desenvolvimento da política e das relações humanas, de apropriação do esforço social, e das contradições inerentes as classes, que levariam a organização e o surgimento do estado nacional e do monopólio de mercado. Portanto, discute e elabora sobre projetos opostos de poder: Da Burguesia, concentrador e mantenedor de riqueza e poder; o outro, do proletariado de solidariedade, poder coletivo e libertação dos trabalhadores do julgo da opressão patronal.

Partindo de um conceito fundamental: O trabalho como geração de riqueza, empregado na transformação dos recursos naturais (pertencente a toda a humanidade), agregando valor, e transformando-o em mercadoria, em recursos, dos quais os capitalistas se apropriam e reinvestem (o produto da expropriação do esforço e do trabalho do proletariado), ficando com a maior parte do resultado econômico-financeiro. O salário, por sua vez, para os capitalistas, nada mais é do que a remuneração para a reprodução continuada da força de trabalho.

O conceito de propriedade privada, surge da acumulação acima descrita, é resultado e a consolidação desse projeto de poder, econômico, nacional e capitalista (mais tarde, imperialista), legitimando a exploração, a apropriação, a acumulação e os crescentes lucros da burguesia.

Ora, como método de analise histórica, que estuda e denuncia a construção do capitalismo e do imperialismo econômico, desde a sua origem, o marxismo tem o compromisso e se propõe a desvendar as alternativas de projeto para o seguimento social ao qual se identifica e é destinada a sua elaboração: A classe operária, em pujança inevitável em seu tempo, simboliza e protagoniza, as transformações revolucionarias e anti-burguesas. A superação do feudalismo e a explosão do capitalismo industrial, e as relações entre proprietários capitalistas e trabalhadores oprimidos e explorados, são as suas referencias. Marx, mesmo sem uma bola de cristal, se propõe construir para o futuro das relações humanas e políticas.

Por seu turno, a teoria cientifica, apontava que na pujança do desenvolvimento industrial, se encontrava o futuro da humanidade, a produção de bens em massa, a crescente distribuição e a facilidade de acesso a esses bens, melhoraria a vida das pessoas, e permitiria a elas acesso a educação, a cultura, a consciência e a organização para a luta contra seus algozes e expropriadores, em busca da felicidade, enfim. A Europa em rápido processo de industrialização e superação do feudalismo.
Este é o cenário dos estudos de Marx e dos marxistas no século XIX.

A revolução Francesa foi a confirmação das previsões de Marx, e também laboratório para desvendar muito das contradições entre a burguesia e proletariado, no programa e na compreensão das composições político-ideológicas de ambos os lados. Republicanos e monarquistas, assim como o imperialismo se unem para sufocar um programa operário e socialista. Confirmando a discussão sobre a independência (ou colaboração) de classe, abandonada pelos sindicalistas burocratas e políticos "marxistas" em nossos dias, pela tática de um projeto de governo e gerencia do capitalismo (a social democracia), relegando a nada a tática da independência e autonomia de classe.

Contestadores do marxismo, atualmente, sustentam que Marx estava errado, com o argumento que a classe operária não é numérica, nem a mais importante, ou o mais revolucionário setor da classe trabalhadora.  Citam os trabalhadores do setor terciário e do 4º setor como majoritários. Argumentam, com isso, que o marxismo não se aplica mais, pois que aos trabalhadores, inclusive aos industriais, só interessa a ascensão social, adquirir bens que facilite sua vida. Uma distorção ideologica dos pseudos sociais-mercadistas.

Propõem que é nesse marco, que se encerram as pretensões revolucionárias, uma vez que a democracia representativa burguesa, é a ultima alternativa factível. Sobretudo após o fim do socialismo real na URSS, e a queda do muro de Berlin, desconsiderando  o contexto histórico do triunfo da revolução Russa, da ascensão oportunista da burocracia soviética, em razão do fustigamento da guerra imperialista, da construção do muro, o desenrolar das relações imperialistas sobre a guerra fria, os motivos e o momento da derrocada de ambos. Portanto, outro momento historico, e correlação de forças.

A alienação pequeno burguesa da sociedade atual contaminou a juventude a tal ponto de crer que chegamos ao fim dos tempos, e que a desigualdade material é uma determinação divina, cuja solução para os escolhidos (individual e coletiva) é a religião?

A resistência dessa juventude ao estudo do marxismo na historia e nas ciências sociais é resultado da manipulação das instituições, a serviço da lógica e hegemonia capitalista, trata-se de instituições das elites, para qualificação de mão de obra para a gerencia do mercado e das instituições de manutenção do capitalismo.

A resistência dos jovens, é motivada pela forma como a questão é tratada por seus mestres (a burocracia universitária), a maioria de classe média, sem vivencia da luta social, e que se rendeu ao imediatismo reformista como estratégia (o debate reforma ou revolução),  adaptando-se aos tempos de consumismo, desprezando os conceitos históricos (estratégia e tática), ignorando o papel de correlação de forças na luta contra hegemônica, e anti-capitalismo.

O açodamento em realizar mudanças táticas, ocupou todo o espaço da discussão, relegando a posição secundária às transformações estratégicas. Hoje se fala em crescimento, abandonou-se a perspectiva do desenvolvimento. O Crescimento visa manter os lucros e os postos de trabalho em um nível que evite acirramento de tensões, sem se preocupar em incluir todas as pessoas. Só para manter as aparências. Socialismo e revolução, só como utopia. O PT e os partidos “de esquerda” PDT, PCdoB e PSB, tem muita responsabilidade nisso.

É como a miséria e a pobreza, fosse natural e seguisse os desígnios de alguma divindade, portanto inevitável, concluem conformados: Não há o que fazer! È parte do incentivo ao individualismo social, e da sanha incontida do consumismo, que aliena as pessoas e a maior parte da juventude, para a solidariedade social, racial, de classe ou humana, resultado muito útil às elites políticas racistas e proprietários de capital.

A bem da verdade, a juventude ainda se indigna, se revolta com as injustiças, mas repetem a o mesmo comportamento de seus pais, quando jovens, é mais fácil contestar quem está próximo, inclusive rejeitando seus conceitos, experiência e luta (mesmo que não tenham propostas, ou que suas propostas sejam incompletas e incipientes), do que buscar na vivencia e na sabedoria, as lições pra não repetir a historia.

Um Projeto de Nação, diferente do atual monarco-escravista, é o que buscamos construir. Uma nação multirracial e pluricultural, radicalmente democrática, onde as diferenças sejam respeitadas, a igualdade jurídica e materiais, garantidas. Próximo passo, a construção de uma sociedade igualitária, sem opressores ou oprimidos. Chamem-na como quiser, mas convencionou-se, a muito tempo,  denomina-la Socialista.

Não é possível, contestar sem conhecer, nem inventar sem estudar. Para toda construção é necessário um projeto. Todo projeto é composto de etapas, sobretudo do conhecimento anterior. “Um povo que não conhece sua historia e suas manifestações mais autenticas, jamais será um povo livre” disse o fundador do Teatro dos Oprimidos, o teatrólogo maldito, como ele próprio se atribuía, Plínio Marcos. Outro alguém retrucou, “...quem não conhece a própria historia, está fadado repeti-la!”.

E tome-lhe mais gás, perpetuando a vitória e a opressão das oligarquias capitalistas!
Chamo os mestres, a militância e a juventude pra dançar....

Reginaldo Bispo – Coordenador Nacional de Organização do MNU, e membro da Fração MNU de Lutas, Autônomo e Independente. Cpn, 15/09/12.