domingo, 26 de maio de 2013

PROJETO HIP HOP NAS ESCOLAS

Essas são as fotos do álbum coletânea HIP HOP NAS ESCOLAS CAPIXABA, a qual participei junto com o meu parceiro e irmão B.G. e minha parceira e irmã NANDA SILVA com o single SOMOS CARIACICA. Segue o link do rap abaixo confiram e façam seu download.






sexta-feira, 24 de maio de 2013

ALIADOS DA É NÓS POR NÓS - BIGGIE ÊNI

PARCEIRAÇO E PRODUTOR BIGGIE ÊNI.

ALIADOS DA É NÓS POR NÓS - DUDU DO MORRO AGUDO


TEXTO: ESTADO, CLASSE E MOVIMENTO SOCIAL


Por: CARLOS MONTAÑO E MARIA LÚCIA DURIGUETTO

Os indivíduos são voltados para si, numa competição desenfreada na conquista do mercado. Uma livre iniciativa particular do individuo, em seu território, no que se diz respeito a sua liberdade de comércio e de mercado. Exercem o poder sem política, fazem da política um jogo para seus interesses mútuos, agindo assim de forma que a máquina do Estado fique a seu favor e a sua ambição expansionista de controle, e de destruição das massas. Colocam-se acima dos controles públicos e das responsabilidades sociais.
Mas surgem reações de todos os cantos, de todas as partes. O desejo por uma democracia popular, justa, de um governo do povo para todos se emana em resposta ao egoísmo exorbitante do individualismo implantado pelo (neo)liberalismo. Contra a opressão do sistema do capitalista e suas conquistas expansionistas, movimentos surgem e se unem para mudar e criar um mundo novo. Contra a privatização e a privação de uma vida digna e justa, os movimentos sociais e suas aglomerações lutam por políticas públicas mais justas, que não asseiem o desejo do capital e sim de toda a massa, por igualdade e cidadania.
Assim é o homem moderno. Por ser filho de uma sociedade que se diz democrática, que valoriza o homem pelo o que ele possui e não pelo que ele é, passa a aceitar como óbvio o que pensa, a cumprir uma função produtiva, a deixar de lado a sua característica de querer ver a si mesmo com uma visão exterior, a deixar de buscar a verdade, a pensar de modo prático, a renunciar a si mesmo, gerando dentro dele um sentimento de vazio, solidão e ansiedade que pode levá-lo ao consumo de substâncias químicas, suicídio, ou diversão apenas para fugir. Por outro lado, romper com tudo isso pode trazer conseqüências tão ou mais penosas que essas.
            Surgem as visões de mundo capitalista e socialista, num modo de produção industrial através da técnica de trabalho e a divisão social do trabalho. É nesse momento de expansão do capitalismo que vimos que a comunidade se dividiu, o coletivo separou-se do privado, surge a sociedade civil e o mundo do estado. Hoje vemos claramente os efeitos dessa separação, um mundo egoísta e particular, disputas e individualismo. A moral passou a ser vista como uma conduta do individuo que passa a ser julgado pelos seus atos e ações particulares, não há, mas o compromisso com o coletivo.
            A moral adquiri uma relevância social porque torna-se a referência de conduta dos indivíduos. Ela determina total equilíbrio do conjunto e por isso necessária a sua privatização e pacificação. No entanto, segundo o autor, a moral acaba sendo uma moral do particular em conflito com os padrões ou eixos coletivos, mesmo assim permeia a sociedade e se define como uma moral coletiva, uma moral de grupo e de classe. No processo de trabalho capitalista, onde se predomina o sistema de produção e acumulação de lucro, o trabalhador tende a se fundir totalmente nesse novo modo de vida e confundir moral social com moral individual. Caso que no ambiente de trabalho, quando um individuo tem uma certa dificuldade em realizar suas funções, o outro passa a cobrá-lo pois o mesmo está atrapalhando todo o processo de realização do trabalho em grupo. O trabalho que se sente prejudicado pela má atuação de seu companheiro, impõe de certa forma a moral de trabalho, moral capitalista que passa a fazer parte de seu modo de vida assim sendo ele avalia como sendo uma moral certa, uma moral verdadeira onde sempre fez parte de seus costumes e tradições, não enxerga essa moral como sendo uma moral construída para que ele realize ações a favor do capital.
O trabalhador que impede o processo de produção, se sente cobrado, e intimado pelo seus companheiros para que preste mais atenção em suas tarefas, de certo modo ele está inserido num processo de produção em série, no qual uma falha por mínima que seja pode prejudicar o processo de produção em sua escala. A moral passou por transformações a atua no sistema capitalista, como uma forma de controle sobre o individuo, passou a formular a moral dos trabalhadores. O trabalhador passa a crer que tem que atuar num coletivo, mas um coletivo que favoreça ao empregador.  A moral passou a ser privatizada, os valores coletivos e sociais foram postos de lado. Com a moral sendo privatizada surge a ética como forma de regulação da profissão, do profissional e sua postura em seu ambiente de trabalho de acordo com a sua profissão exercida. Nada de coletivo, e sim executar a função de acordo com os interesses mútuos, do capital.
Mas essa mesma sociedade está atualmente dando ênfase ao Pensar do homem, não para melhorar a si mesmo e ao mundo, mas Pensar para criar um produto que assim o faça e para vender esse produto.
            A racionalidade prática e a necessidade da busca dentro de um equilíbrio são fundamentais para a existência da humanidade, já que ambas completam o homem.
            Se o homem não se atentar que é necessário Pensar para sua melhoria pessoal e transmitir essa característica às futuras gerações, o futuro será provavelmente incerto, instável, e talvez não muito melhor do que o presente, já que a conduta humana em sua jornada existencial tem sido a de buscar cada vez mais meios de obter lucros sem Pensar que as conseqüências poderão ser inúmeros problemas capazes de destruí-lo.

TEXTO: ESTADO, CLASSE E MOVIMENTO SOCIAL.
CARLOS MONTAÑO E MARIA LÚCIA DURIGUETTO

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Bonde das Maravilhas, a sexualidade da mulher negra e a hipocrisia nossa de cada dia


Por Paula Libence

Há algum tempo, tenho visto algumas repercussões nas redes sociais extremamente ofensivas e incômodas em relação a um grupo de jovens dançarinas do Rio de Janeiro, o chamado Bonde das Maravilhas. As meninas, adolescentes na faixa dos 13 aos 20 anos de idade, vieram a público mostrar o inacreditável. Danças tão cheias de contorcionismos que confesso que a primeira vez que assisti ao vídeo, julguei ser humanamente impossível se equilibrar na nuca para dançar. Tanto que vi outras vezes e, boquiaberta, não conseguia crer, enfim.
Mas o que tem causado tanta polêmica, se assim posso dizer, na mídia, não são os contorcionismos dançantes que as meninas do Bonde das Maravilhas apresentam ao seu público, e sim a estranheza social de ver garotas jovens, bonitas, negras e periféricas dançando e cantando de modo tão singular.
Fiquei a me perguntar por que o ataque ao grupo tem sido tão severo. Por que essa antipatia mordaz às garotas?

Revirei e retirei do fundo do baú alguns grupos que fizeram sucesso com danças sinônimas ao do Bonde, o que não foi tão necessário, pois temos mulheres que dançam funk e põe seus bumbuns pra cima sem causar maiores estranhamentos por parte do público hoje. Mas creio que vale a pena relembrar de alguns.
Suponho que muitos ainda se lembrem do grupo É o Tchan!. O grupo ganhou fama e notoriedade em meados da década de 1990 com danças tão “insinuantes” e “pornográficas” executadas pelas dançarinas Carla Perez e Scheila Carvalho quanto as do Bonde das Maravilhas.
As dançarinas do É o Tchan! seguravam e amarravam o tchan ao seu bel prazer, e nem por isso ninguém as levou ao ministério público. Lembro que Gugu Liberato, no seu antigo programa Domingo Legal, explorou bastante a imagem do grupo e ainda criou um quadro chamado “Banheira do Gugu”, em que mulheres ficavam praticamente nuas em rede nacional e num horário em que as crianças ainda estavam na sala.
Até aqui, ninguém disse nada. Por que será? Perceberam a diferença?
Há também um grupo mais recente de funk, também do Rio de Janeiro, chamado Gaiola das Popozudas, formado só por mulheres e liderado pela funkeira Valesca Popozuda, que trazem a público ritmos dançantes e eivados de insinuações – do tipo “balança o rabo” e “late que eu tô passando” – e nem por isso caiu no desgosto popular. As garotas do referido grupo são mulheres brancas. Elas trazem consigo o patrimônio da cor, o que por si só é um fator extremamente favorável na busca pelos quinze minutos de fama na mídia.
Ah, tem mais uma figurinha cativa. Lembram-se da Gretchen? Lembram o sucesso que ela fez na década de 1980 com o Conga Conga, que inclusive a atual novela das nove remasterizou para a personagem de sua filha, Thammy Miranda? Pois bem, Gretchen ganhou fama e notoriedade com danças insinuantes para a época (afinal, estávamos falando de década de 1980, período em que o Brasil vivia os momentos finais da ditadura). E como os purismos do século XXI condenam o Bonde das Maravilhas, esse é um aspecto que vale lembrar. Não só fama e notoriedade na mídia alavancaram a carreira da cantora e dançarina Gretchen, assim como ela ganhou prêmios e mais prêmios com essa dancinha insinuante e com sonoplastia puramente sexy hot, porque era assim que Gretchen cantava. Parecia que estava gozando!

Não condeno nenhuma dessas cantoras e/ou dançarinas. Só parto do princípio que minha mãe desde cedo me ensinou: “o pau que dá em Chico tem de ser o mesmo que dá em Francisco”. Se for pra escrachar tem de ser geral, e não fazer o que essa mídia podre e asquerosa está fazendo, dando de cacetada no grupo do Bonde das Maravilhas. E o pior de tudo, é a participação popular de uma gentinha hipócrita nas redes sociais.
E pra não dizer que sou insuportável (porque sou mesmo), a mídia tem jogado pra debaixo do tapete as Panicats, assistentes de palco do Programa Pânico na TV.
Isso sem contar a Anitta, outra jovem cantora de funk que largou a faculdade de administração e um estágio numa transnacional pra seguir seu sonho de virar artista e ficar famosa. Aos vinte anos, ela é sucesso nacional. Sua trajetória artística e história de vida ganharam os louros da Rede Globo, exibido naquela medíocre revista eletrônica semanal.
Ah! E ela sabe dançar o quadradinho, só não o faz, pois tem de parecer fina. Quer dizer que Anitta largou a faculdade pra seguir um sonho de menina, ao tempo que as que são malhadas atualmente são piriguetes, burras e futuras prenhas solteiras? Muito bom. Adoro o contexto em que Anitta se insere, frente à análise que a mídia perfaz.
Difícil levantar esse debate sem trazer à tona os aspectos sociais e raciais imbricados nesse bojo teórico reflexivo que envolve o Bonde das Maravilhas.

Não há como não falar da sexualidade da mulher negra sem atentar aos detalhes sutis que emanam dos ataques ao grupo nas redes sociais. Pois, falar que fazer o quadradinho de oito traz como consequência direta uma barriguinha de nove é o extremo do julgamento que se possa deliberar sobre mulheres jovens negras e moradoras de periferia.
Afinal, só mulher preta e pobre transa casualmente e engravida nesse país, e ainda por cima tem o sacrilégio de tornar-se mãe solteira? As brancas de classe média e de boas famílias também fazem isso, oras!! Maria Rita, a filha da saudosa musa Elis Regina, transou casualmente sem o menor compromisso que uma mulher branca do nível social que ela representa possa “merecer”, e engravidou duas vezes, diga-se de passagem, de homens diferentes.
Volto à pergunta. Por que ninguém malha Maria Rita? Porque ela é branca, rica, canta MPB e não mora na favela? Ah, e mais, porque fora alfabetizada? Sim, porque fazer quadradinho de oito é impossível já que se fosse quadradinho de oito não seria quadradinho e sim octógono. Total coisa de quem não concluiu sequer o ensino primário. Não é o que proferem por aí? Ou só eu que estou vendo?
Ou melhor, as meninas do Bonde “emprenham” cedo porque o único destino de meninas pretas, pobres e faveladas é “abrir o rabo pra parir”, ao tempo que branquinhas de classe média alta, ricas e famosas enfileiram um filho atrás do outro e muitas vezes são mães solteiras porque curtem uma “produção independente”, ou até mesmo porque “são férteis”. Faça-me o favor!
Mulheres brancas de classe média têm filhos “do primeiro e do segundo relacionamentos”. Mulheres pretas e faveladas têm filhos “com um e com outro”. Já perceberam isso?
Se for pra jogar na masmorra o Bonde das Maravilhas, tratemos de assegurar o mesmo valhacouto para todas as outras que as antecederam nesse processo provocativo e pornográfico.
Não estou deste modo a defender as representações pejorativas que possam surgir desse movimento musical e a representação que a mulher negra, por sua vez, está cerceada. Só defendo o direito dessa mesma mulher negra não ser condenada por suscitar ações que outras mulheres brancas, ricas e com formação escolar reproduzem sem passar pelo mesmo crivo midiático ao qual se expõe.
No mais, creio que muito ainda se tem para discutir. Isso aqui é só uma provocação.


FUNK-CARIOCA EM BOM JESUS DO ITABAPOANA-RJ. PARTE 1

MEU DIÁRIO PRETO.


NOS DEEM LICENÇA É A SOCIEDADE NÓS POR NÓS
BOM JESUS E PÁDUA ESSA É A VOZ
CHEGAMOS PRA INCOMODAR E DERRUBAR O IBOPE
NOSSO CARTÃO DE VISITA É O RAP O SOM É FORTE.
SEM NEUROSE SEM THE VOICE
É A REALIDADE NUA E CRUA, SEM CLOSE E SEM BUNFUNFA
É A RUA EM BOM JESUS OS EMERGENTES
NEM PIOR, NEM MELHOR APENAS DIFERENTE
CLICK CLECKE BANG OUÇA O ESTALO
NÃO SE APAVORE SINTA O BEAT ESTILO LOCK
E AGORA AS CAIXAS VÃO BOMBAR NO ESTÉREO, GRAVE, AGUDO
ENQUANTO ISSO EU NOS BASTIDORES OUVINDO OS BALANÇOS DE RAY CHARLES, TUPAC E OS DIAS DE HOJE.
FEITA A APRESENTAÇÃO ME DESPEÇO DE FININHO
DEIXANDO VC´S NA COMPANHIA DO GRANDE MESTRE DA BLACK BONJESUENSE DJ BETINHO.

Pretérito perfeito ou imperfeito, não importa a época, só sei que são lembranças maravilhosas. Épocas em que a Voltaça nos pegou numa corrida da praça indo pela beira-rio até a minha casa na Figueiredo. Época que me iniciou nas rimas.

Tudo começou com um grupo de funk carioca chamado Nova Geração, se não me engano havia um grupo num programa da Xuxa que também levava esse nome não me vem a memória nesse momento quem fazia parte. O grupo de funk carioca Nova Geração de Bom Jesus do Itabapoana-RJ era formado por mim Marcelo Silles, Almeida, Betinho, Ostim, JB, Léocadio e mais uma pá de gente, na verdade era quase uma banca indo para formação de um coletivo. Os mc´s eram eu Marcelo Silles, Betinho, Almeida, Ostim. MC Almeida (Vitor Almeida) é filho de uma das famílias tradicionais de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, a família Almeida. Lembro bem da primeira vez que rimamos no Aero Club de Bom Jesus, o seu pai e mais um amigo foram lá conferir o evento, de certo festa de preto e os brancos burgueses tinham medo, pois na época o funk carioca ainda era uma novidade e classificado como festa de marginais. Recentemente um dito blogueiro bonjesuense redigiu um texto criticando o carnaval de 2013 de Bom Jesus onde somente estava tocando músicas para marginais, estava tocando somente funk. O funk carioca é representante da classe pobre periférica é normal que pessoas tenham essa visão distorcida, racista e preconceituosa.

Bem a primeira apresentação do grupo, que além de ter o rap (no estilo funk carioca) como elemento, também tinha a dança, e a primeira apresentação do grupo foi na Igreja Capela São Sebastião onde a maioria fazia parte do grupo Jovem na época. E foi uma performance de dança. Eu não dançava, não sei dançar, rs. O grupo durou muito pouco tempo, um episódio muito triste marcou o seu fim, a morte do pai do nosso grande irmão e líder do grupo, Betinho, José Roberto na qual abalou a todos. Betinho logo em seguida, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro onde reside até hoje. Quem realmente continuou por um tempo fomos eu e meu parceiro MC Almeida, o tal da família tradicional de Bom Jesus. Rimamos num evento de festival de funk carioca que ocorreu em 1995, no Aero Club de Bom Jesus onde quem venceu foi um MC de Niterói. Tudo indica que já estava firmada a sua vitória, sabe como é né os cidadãos de Bom Jesus só dão valor o que é de fora.

No mesmo ano rimamos no Olympico Futebol Clube, onde também ocorreu um festival de MC´s, 99% do público era da Voltaça. Lembro-me bem que eu e MC Almeida cantamos um funk exaltando a Figueiredo. O clima para o nosso lado não estava bom, estávamos representando um bairro rival, a Figueiredo. Lembro-me bem de geral nos zuando por causa das nossas roupas (não fazíamos questão de roupas de marca, andar na modinha) e também não tínhamos fama de comedor e nem de pegador. Nesses estilos quem é comedor demais, pegador demais ou se puxou um tempo encarcerado tem certa moral com as minas, elas se amarram.

Essa foi a última apresentação de nossa parceria. Logo continuei solo. A primeira vez que rimei sozinho, foi no mesmo ano no Aero Club de Bom Jesus onde muitos gritavam “o Marcelo é rei, uhuuhu o Marcelo é rei”, confesso que fiquei muito envaidecido com essas palavras hehehehehe. Depois dessa veio a minha última na quadra do bairro Pimentel Marques no mesmo anos, onde não fui bem e, portanto perdi a minha coroa, a minha majestade. Mas esse último evento foi importante pra mim, pois eu descobri que na verdade não rimava funk-carioca e sim rap/hip hop. Na verdade eu fazia parte da Cultura de Rua, da Cultura Black Music. Percebi pela forma e formato das minhas rimas, meu flow e ginga, no emprego das palavras, pela forma crítica e bem elaborada das minhas letras com conteúdos totalmente diferente dos mc´s daqui. E também pela forma rasteira. Mas esse processo contribuiu muito para o meu aprendizado e descobrimento.

Retornei com tudo em 2005 agora na cidade de Cariacica-ES. De 2005 a 2008, fiz muitas coisas, muito mais de quando eu morava em Bom Jesus do Itabapoana-RJ. Gravei o meu primeiro single com os meus irmãos B.G. e Nanda Silva onde fomos convidados a participar da coletânea Hip Hop nas Escolas. Gravei com o grupo de rap Negritude Ativa, Vila Velha-ES, e com o meu parceiro MC Agulha, Vitória-ES, e também com o meu grande parceiro de Guiné Bissau/África Fabian Ifrikan. Atuei em projetos sociais ligados a Cultura de Rua, e vários outros.

Como a Black Music e A Rua estão na alma, à atividade não para e junto com o meu parceiro da antiga daquela época de Bom Jesus, DJ Betinho prossigo na caminhada preparando novos trampos.

Um breve relato de minha parte de como surgiu o funk-carioca em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, aconteceram muitas e outras coisas mas o espaço é curto. De volta a Bom Jesus do Itabapoana-RJ e resgatando a Cultura de Rua. É Nós Por Nós.

Texto:

Rapper Marcelo Silles


ALIADOS DA É NÓS POR NÓS - LÉO DA XIII


ALIADOS DA É NOS POR NÓS - FABIO EMECE


ALIADOS DA É NÓS POR NÓS - FELIPE ALEM


domingo, 19 de maio de 2013

MARCIO DISKINA

Grande parceiro nosso e aliado fortíssimo da É NÓS POR NÓS, rapper MARCIO DISKINA, diretamente de Cariacica-ES divulgando seus novos trampos beat´s que são puro luxo. Confira e se estiver afim é só entrar em contato com esse grande Rapper.

Entrevista com Eduardo Facção central falando do seu livro e periferia


O Eduardo fala claramente à situação que vivemos no Brasil e infelizmente não tem o apoio que merece, tem que ter coragem pra falar como ele fala, a verdade é que sem união nada vai mudar, os políticos usam do nosso dinheiro para entreter o gado com virada cultural...
Espero estar vivo para ver mais de Um milhão de pessoas protestando nas ruas e lutando pelo o que é nosso de direito. (Comentário na page-youtube)


sábado, 18 de maio de 2013

NÃO QUIS ENXERGAR - ÚLTIMO SUSPIRO

Apresentação do grupo de rap de Cariacica-Es, ÚLTIMO SUSPIRO. Cliquem e confiram o single NÃO QUIS ENXERGAR. Puro Luxo


O QUADRO DA ESCRAVIDÃO


‘Eu sou da época em que se comemorava o 13 de maio’, ouvi de uma professora de Antropologia da PUC - Rio esta semana. Achei isso triste e interessante. Nunca tive isso no colégio. Hoje em dia, se comemora mais o Dia da Consciência em todo 20 de novembro do que a data em que a escravidão negra supostamente terminou. Afinal, essa liberdade é, e deve ser muito questionada até hoje. Mesmo assim, é raro ver quem fale sobre isso fora do mundo acadêmico. Brasileiro nunca soube lidar muito bem com traumas do passado. O racismo é um e o assunto é muito feio.
Sim, racismo é feio, mas parece que, por aqui, apontá-lo é mais feio ainda. Se você cisma de falar sobre isso, corre o risco de te pedirem para bater na boca e tudo. No Brasil, é um assunto tão incômodo que nem deve ser mencionado, finge-se que não existiu da forma que existiu ou pedem para “deixar para lá”. Essa última é a preferível.

Há uns quatro meses, eu estava com minha namorada em um restaurante de temática colonial em Botafogo e, mais uma vez, pude constatar isso. O lugar, muito bom, é um dos únicos pela Zona Sul que não chegou ainda a preços surrealmente absurdos, mas já havíamos sido alertados por uma amiga dela sobre a decoração tida como “duvidosa” do local.
Mesmo tendo ido ao restaurante algumas vezes, nunca havíamos nos deparado com nada de mau gosto por lá (se todo estabelecimento de temática colonial fosse abordado assim, teriam que fechar inúmeros lugares). Porém, nessa última vez, notamos que um quadro ilustrava explicitamente um leilão de escravos, com um homem branco de postura senhoril segurando um péssimo “menu” com o preço dos negros melancólicos e acorrentados aos seus pés.
O restaurante, devidamente informado via Serviço de Atendimento ao Consumidor sobre o péssimo gosto do quadro e o nosso incômodo por aquela atrocidade estar sendo usada como decoração, nem ao menos enviou um pedido de desculpas ou deu qualquer outra forma de retratação. Assim, o quadro permanece lá para quem quiser ver e naturalizar o holocausto negro que foi oficialmente extinto há 125 anos.
O racismo no Brasil é exatamente isso: um quadro na parede de nossa história que, apesar de tão feio, faz parte do cenário há tanto tempo que não querem sequer tocar nele. Assim, falar sobre ele e pedir pela sua retirada é muito problemático, já que todos se acostumaram com ele ali compondo o ambiente.
Afinal, quem ele incomoda?

Fonte: Jornal O Dia de 16/05/2013, colunista Gilberto Porcidonio, jornalista e mantém o site otitere.com.br

sexta-feira, 17 de maio de 2013

TÁ VALENDO - SILLES

Gravação caseira. Divulgando esse single que será gravado em outro beat. O que acharam?

1001 UTILIDADES.




É pixain, é bom. Natural, fenomenal, sem igual. É o meu cabelo crespo que quando cresce, se amontoa nasce uma coroa vira Black, Black Power, 4P. Sem desmerecer o seu liso, até que é bunitinho, engraçadinho bem sedoso, mas não chega ao ponto de ser maravilhoso igual ao meu Black Power, ao meu pixain. Orgulho? De monte tenho sim, por mais que os plin, plin tentem transformá-lo em objeto comercializável, a sua história remonta a pré-história da África. Portanto está nos livros, nos contos, na cultura nunca um cabelo foi tão exaltado como o meu, dos meus irmãos pixain, natural, fenomenal, sem igual e 4P.
Preto seja louvado, sinto-me agraciado pela natureza que me presenteou com rara tamanha beleza, e ao meu Deus todo poderoso que fez nascer em África o início de tudo, o mundo. Em África as mulheres pretas as mais belas, belas não, verdadeiras Deusas, Deusas de Ébano, indiscreto sou elogios as pretas sempre faço não meço palavras, nem letras, nem parágrafos são rainhas, autênticas Candaces. A humanidade em África surgiu e pelo mundo se multiplicou, transformaram-se de onde derivaram-se.
E o crespo, como é rei, é rainha mesmo longe de seu habitat, onde habitou adequou-se para melhor viver e sobreviver. Volumoso, charmoso, sexy, belo mais belo mesmo não é “o belo” sinônimo de feio não, é BELO como sempre há de ser. Gerações e mais gerações hão de exaltá-lo, pois muitos sempre criticarão e perguntarão “porque você não alisa esse cabelo?”, os incomodados há os incomodados que nunca hão de entender o esplendor de tamanha beleza e representatividade cultural e identidade. E meu crespo pixain, natural, fenomenal, sem igual, Black Power, 4P está aí mesmo para incomodar, pois tudo que incomoda é lindo, maravilhoso. Portanto, dêem licença para o meu rei Crespo, curvem-se diante de tamanha beleza e realeza. Curvem-se para o crespo, pixain, natural, fenomenal, sem igual, Black Power, 4P.

Texto:
Rapper Marcelo Silles

quarta-feira, 15 de maio de 2013

O QUE VEM POR AÍ...............


Um prévia dos beat´s dos novos lançamentos do Rapper Marcelo Silles, os singles NINA SILVA, QUEM VAI PRA NOITE, DUVIDA? e É DESSE JEITO. Aguardem....

Rapper Marcelo Silles

terça-feira, 14 de maio de 2013

DIZZY- POR AÍ (REMIX)




ALMA AFRICANA, NÃO VIVO EM ÁFRICA, MAS A ÁFRICA VIVE EM MIM.





Boa tarde cidadão de cor pode me dá uma informação? Essa pergunta foi me dirigida no domingo 12 de maio de 2013 na Praça Governador Portela em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, por um senhor aparentemente de avançada idade e com um perfil cultural bem coloquial ruralista para o nosso tempo. Inocentemente talvez ingênuo não soube formular sua pergunta em busca de uma informação de forma correta.  Educadamente o informei, não o questionei sobre a sua conduta mediante a mim, já que o senhor havia sido educado e notadamente reparei a sua postura tanto corporal quanto em seus gestos, simples e de modo humilde destituído de certo saber acadêmico que a sua face mostrava o quão à vida lhe havia sido dura.
O que sempre me chama a atenção é simplesmente a dificuldade tamanha de pessoas se dirigirem aos negros e os chamá-los de negros. Ou simplesmente não diga nada, simplesmente diga senhor, senhora esse lance de cidadão de cor chega uma hora que é um saco.  Bom somos a nação que aboliu a escravidão tardiamente, brasileiro sempre é o último em tudo veja a industrialização, a abolição aconteceu à apenas 125 anos então os pretos escravizados foram libertos há apenas uns anos atrás, portanto resquícios da escravidão ainda são recentes. Bem sabemos que na verdade o final exato da escravização se deu por volta de 1930, segundo alguns historiadores.
Muitos negros pode se afirmar a maioria, sucumbiram a subserviência e aos modos de vida branco, foi o germinar para um ambiente fértil para a implantação do projeto de miscigenação e destruição da raça negra. Certo nada de novo. Bom o que sempre é novo é essa classificação de “cidadão de cor”, sendo que cor tem a sua denominação preta, amarela, azul, vermelha etc. fica muito vaga e ambígua essa classificação a indivíduos negros de cidadão de “cor”.
Analiso da seguinte forma, muitos negros não atingiram o seu ápice do devir negro, ou seja, negaram e continuam negando as suas origens, suas historicidades. Só vem ao caso por conivência, resumindo para aparecer, o famoso negro é lindo! Ah como eu me sinto como Olinto, um afro-brasileiro com total alma Africana um vício africano que pulsa em mim os ancestrais, a pretitude, a negritude

“Zora e eu estávamos fisgados, e não o sabíamos...
Estávamos arpoados, presos, marcados para o
resto da vida. Corria o nosso sangue o vício da
África de que ninguém se livra mais.”
OLINTO, Antonio. In: Brasileiros na África. São Paulo: Ed. GRD/ Inst. Nac. do Livro, 1980, pg. 229.

Esse rompimento de muitos negros com a diáspora africana, exercido através de fatores ligados a colonização que forçaram a negação da história africana como também o clareamento, distorce completamente a realidade cotidiana dos pretos pobres brasileiros, pois a cultura africana na diáspora é absorvida e reinventada de forma que possa a ser comercializada com conteúdos padronizados onde muita das vezes seus reinventores são brancos que se dizem doutores na cultura africana.
Ontem, data de 13 de maio de 2013, assisti uma cena, uma aberração transcorrida na novela das 19h da rede esgoto de televisão que se chama Sangue Bom. Uma atriz que tem filhos adotados, como assisti por acidente, portanto não assisto novelas e por isso não sei a quantidade de filhos adotados, apresentou o seu filho branco-africano adotado. Até aí normal o garoto podia ser da África de Sul e de origem inglesa. Mas pelo que pude notar o garoto foi apresentado como sendo negro, e coincidentemente estava com uma blusa escrita 100% negro. Bom nada contra é uma simples camiseta. Mas se fosse ao contrário se eu saísse na rua com uma blusa escrita 100% branco, será que a reação de aceitação seria a mesma?
Estou tentando dizer é que, se um branco pega algo dos pretos como sendo seu tanto o branco quanto o negro acham normal. Mas quando é ao contrário, até mesmo o negro critica a atitude do negro que está usando uma camisa escrita 100% branco. Inversão e destruição de valores é o que permiti chamar um negro de cidadão de “cor” porque simplesmente um branco está usando uma blusa 100% negro de cor negra. Mas o branco não é cor, portanto o negro não pode usar uma blusa 100% branco.
Mas acaba-se percebendo que o dizer 100% negro é muito mais bonito soa muito mais lindo do que 100% branco. É como deixar um afrobeijo o toque é mais doce do que whitekiss que uma garota branca enviou para mim uma vez. Confesso que estranhei e achei bem esquisito. Tudo relacionado a nossa Mãe África suas músicas, culturas, histórias é mágico e lindo. Um dia irmãos e irmãs acordarão dessa hipnose clara eurocêntrica e enxergarão, aceitarão suas origens e histórias. Não vivo em África, mas a África vive em mim.

Rapper Marcelo Silles

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A RUA NÃO PARA

SEMPRE FORTALECENDO EM BREVE NOVOS SINGLES.



O INIMIGO DEMASIADAMENTE INOFENSIVO.



Caim matou Abel, Abel matou Caim e assim vai caminhando a infâmia cidadania. O nosso TAC – Termo de Ajustamento de Caráter – das Ruas é muito mais eficaz do que o TAC dos conservadores, liberais, elitizados, burgueses etc. Sabemos quem é quem, quem é aliado e quem se vende. Como sempre digo satiricamente e maquiavelicamente não confie em amigos demasiadamente poderosos.
A medida que o poder aumenta a humildade diminui. A medida que se adquire um carro, uma moto, uma casa o mau-caráter vai se revelando e a humildade vai diminuindo. Agora sou um homem da sociedade dita do “bem”, homem de “família” busco meu respeito, não posso andar mais contigo. Comporta-se de tal forma parecer-se que todos os seus pecados originais e carnais foram todos perdoados. Ou seja, beatificou-se e santificou-se a si mesmo. Datavenia meu ex- grande brother e amigo.
Foi na Rua através do É Nós Por Nós que conheci e vivi sabores e dissabores e ainda continuo experimentado. E foi através da Rua e do É Nós Por Nós com os nossos sofrimentos, ansiedades, alegrias, tristezas, felicidades que somente Nós com nossas lutas diárias, matando um leão por dia, com os meus, com os nossos inserindo no cenário de luta societária que podemos transformar a sociedade justa para Nós. É Nós Por Nós Maquiavelicamente falando “porque o tempo leva por diante todas as coisas, e pode mudar o bem em mal e transformar o mal em bem”.
Na Rua o inimigo demasiadamente poderoso pode ser um ser inofensivo, enquanto o amigo demasiadamente poderoso pode se tornar um ser nocivo. De forma clara e objetiva, um irmão (ã) conhece as fraquezas e riquezas um (a) do (a) outro (a), e conseguinte o (a) outro (a) fica em significativa vulnerabilidade. O inimigo demasiadamente poderoso pensará duas, três ou milhares de vezes antes de tentar dominar um território, canalizará todas as suas forças na astúcia, malandreado, mas como o outro sabe que se trata de um inimigo demasiadamente poderoso ficará de olho em todas as suas movimentações. Permitindo-se assim a entrada do inimigo demasiadamente poderoso no território da irmandade, o amigo demasiadamente poderoso se sentirá ofendido. Está maculada a nocividade, Maquiavelicamente falando “pois os homens ofendem ou por medo ou por ódio”.
Portanto, devemos colher frutos e ensinamentos do inimigo demasiadamente poderoso, devemos sugar ao máximo tudo o que pudermos de seu ser para que seja utilizado de forma a nosso favor. Sejamos excelentes anfitriões, estude-o a fim de que ele se revele para nós. Mas também, não deixemos nosso amigo demasiadamente poderoso afogar-se na traição inflamando-se de ofensas a qual ele mesmo as plantou achando que as recebeu em seus momentos de delírio. Por final, assim sendo É Nós Por Nós Maquiavelicamente falando “as injúrias devem ser feitas todas de uma vez, a fim de que, tomando-lhes menos o gosto, ofendam menos. E os benefícios devem ser realizados pouco a pouco, para que sejam mais bem saboreados”.
Então, seja bem-vindo inimigo demasiadamente poderoso.

Por Rapper Marcelo Silles

Referência bibliografia:

O Príncipe de Nicolau Maquiavel.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

SANTA TERESINHA: DESCOBERTA DE UM CONFLITO RACIAL, DE IDENTIDADE E CULTURAL

1. A SEGREGAÇÃO SOCIAL/RACIAL E A CULTURA COMO \MECANISMO DE ENFRENTAMENTO.
1.1 A SEGREGAÇÃO RACIAL NO BRASIL
O bairro Santa Teresinha, popularmente conhecido como Volta da Areia, é um bairro do município de Bom Jesus do Itabapoana, município este situado na região noroeste-fluminense do estado do Rio de Janeiro. É um bairro periférico da cidade, que fica a 2 KM de distância do centro da cidade, dotado de uma infraestrutura como posto de saúde, um mini-mercado, duas mercearias, uma igreja católica, duas igrejas evangélicas, uma escola municipal e uma creche municipal. Apesar desse aparato estrutural, apresenta dificuldades com relação à manutenção dos aparelhos públicos (o posto de saúde, creche e escola). Faltam recursos principalmente na área da saúde.
Tal bairro, num primeiro olhar, aparenta se constituir de uma comunidade mista onde convivem negros, brancos e os ainda, ditos no popular, morenos e mulatos. Mas adentrando a comunidade, percebe-se uma clara separação espacial e racial.
Na parte mais baixa, no pé do morro, onde foram construídas na década de 1970 as casas populares pela COHAB[1], a maioria dos moradores são brancos e de pele mais clara. Na parte alta, onde as construções irregulares e demais aglomerações foram erguidas fora da faixa de zoneamento e na parte baixa, mais ao lado leste[2], a maioria dos moradores são negros e de pele mais escura.
Os moradores são marginalizados e discriminados por morarem no local, pelo tocante das questões de criminalização que permeiam a comunidade. A maioria das mulheres, mesmo com alguma formação, são domésticas, faxineiras, estão inseridas no mercado informal de trabalho. O mesmo ocorre com os homens, que em sua maioria é pedreiro e servente.
A aceleração do fenômeno do branqueamento e clareamento nas periferias e favelas não descaracteriza a condição do negro enquanto maioria nesses espaços segregados. Dada à condição de marginalizados e segregados socialmente, referência essa herdada pelos séculos de escravização a qual foram submetidos, os negros ainda perpetuam nos patamares mais baixos da classe societária. Portanto, uma falsa convivência harmônica não diminui e nem desvaloriza a condição de segregação fenotípica, no entanto só retroalimenta uma pré-condição já existente e não anula a luta pela igualdade, mas cabe o teor valorativo da diferença. Sendo assim,
A luta contra todas essas formas de discriminação e de segregação deve ser uma pré-condição para a verdadeira unidade da luta dos explorados, uma unidade que parte do reconhecimento da igualdade como síntese das diferenças, e não da igualdade que pretende anular com o método de Procusto. (Almeida. 2007, p. 98)

2. BOM JESUS DO ITABAPOANA UMA HISTÓRIA DE PRECONCEITOS E DESVALORIZAÇÃO DO NEGRO.
2.1 – BOM JESUS DO ITABAPOANA E O RACISMO, UMA ZONA DE DESCONFORTO.

          
  De acordo com o Artigo 5º da Constituição Federal (1988), todos são iguais perante a lei, ou pelo menos deveriam ser. Não simplesmente por uma formulação constitucional, mas sim por questões de direitos humanos e respeito mútuo.
            Nesse momento somos levados a problematizar sobre a questão racial. Como diagnosticar um racismo? Diante dessa pergunta desconfortável, certamente iríamos colher comentários dos mais variados desde àqueles que afirmam que o brasileiro é racista até àqueles do contra simpatizantes de Ali Kamel[3], não, não somos racistas.
            Uma vez, tecendo uma abordagem desafiadora, somos levados a tentar solucionar uma questão pertinente, que soma a nossa discussão: bom se não somos racistas, de que forma olhamos o outro? Será que realmente olhamos o outro, o diferente como igual?  A busca por responder questões tão delicadas faz com que fujamos da realidade e vivamos numa realidade em que, violências como o racismo, não existam, são meramente fantasias nas cabeças de quem não tem nada para fazer.
            A descoberta do racismo em Bom Jesus do Itabapoana eclodiu numa verdadeira zona de desconforto. O ranço do rancor branco manifesta-se de uma forma que tal debate sobre o racismo, atrasa o avanço tanto do progresso quanto humano da cidade. “Esse debate não cabe em discussão em nossa terra”, ressalva alguns indivíduos simpatizantes da democracia racial, já até nos disseram que tal questão negra, não vem ao caso num município do interior.
            A verdade a bem saber, é que tal racismo já existia desde quando os primeiros habitantes chegaram e constituíram famílias nessas terras bonjesuenses. Trouxeram seus escravos e com isso, o racismo introjetado da superioridade branca sobre o negro, a cultura da caridade, do favor, da sucumbência servil a que o negro estava fadado eternamente ao homem branco.
            Bom Jesus do Itabapoana é um município brasileiro que fica na região nororeste-fluminense do Estado do Rio de Janeiro. A população é de 35, 411[4] habitantes, e tem uma área de 598,824 km², subdividida nos distritos de Bom Jesus do Itabapoana (sede), Calheiros, Carabuçu, Pirapetinga de Bom Jesus, Rosal, Serrinha, Usina Santa Isabel, Usina Santa Maria, Barra do Pirapetinga. Bom Jesus do Itabapoana é rodeado ao norte pelo Rio Itabapoana que delimita a fronteira com o Estado do Espírito santo; a sudeste estão os municípios de Campos dos Goytacazes e Italva; ao sul e sudeste o município de Itaperuna e ao oeste-noroeste o município de Varre-Sai. A economia está voltada para a  agropecuária e setores comerciais e de serviços. Conta com um pequeno parque industrial. (Fonte: FIRJAN)
Bom Jesus do Itabapoana, como qualquer cidade do interior na Brasil, convive com a idéia que seus habitantes vivem em perfeita harmonia racial, portanto não existe segregação espacial e muito menos racial. No entanto o que sempre esteve escondido acaba sendo descoberto. O racismo enrustido do interior acaba por se revelar como sendo o mais cruel dos racismos velado, leva em consideração o passado ruralista da região onde qualquer piada com tons de insultos direcionados a cor da pele, não é caracterizado como ofensa.
            ‎"Primeiro o ferro marca a violência nas costas. Depois o ferro alisa a vergonha nos cabelos. Na verdade o que se precisa é jogar o ferro fora, É quebrar todos os elos dessa corrente de desesperos.[5]” É de fato perceptível essa colocação acerca da destruição da cultura do outro, percebe-se na condução de seu cotidiano onde é aprisionado, acorrentado ao modo de vida que se mantêm ainda em vigência, o branco. Podemos enquadrar essa ação de destruição da cultura do outro, numa passagem de Carneiro (2005) onde a relação do epistemicidio[6] se encaixa perfeitamente. Nesse ambiente animalizado essa ação destruidora da cultura do outro nada mais é “uma forma de seqüestro da razão em duplo sentido: pela negação da racionalidade do outro ou pela assimilação cultural que em outros casos lhe é imposta” (Carneiro. 2005, p. 97)

2.2 – A DESCOBERTA DO “ELEMENTO” NEGRO NO BAIRRO SANTA TERESINHA.
O município de Bom Jesus do Itabapoana foi elevado a condição de freguesia com o nome de Senhor Bom Jesus do Itabapoana em 14 de novembro de 1862. No brasão do município instituído, junto com a bandeira, na data de 14 agosto de 1965 encontra-se a data de 1842 e 1938. De acordo com TEIXEIRA[7] (2005) as datas representam “1842 – início da povoação, com a primeira denominação de Campos Alegre. – 1938 – restauração do município” (2005, p. 57)
A história do negro na sociedade bonjesuense, remota ao século XIX precisamente, a partir de 1863

Os novos donos das terras introduziram o elemento negro. O escravo, com o seu trabalho persistente e barato, representou papel primordial na evolução da agricultura. “Em cartórios de Campos-RJ, encontram-se escrituras várias, a partir de 1863, de compra, venda ou troca de escravos, como simples mercadorias, embora se referindo a pessoas que trabalharam sempre e exclusivamente, pelo engrandecimento local.” (Teixeira. 2005, p. 14)

Em Teixeira (2005), a história do negro como a sua importância para o progresso e desenvolvimento de Bom Jesus é praticamente nulo. Não há registros históricos escritos que descreva a colaboração, participação do negro, muito menos alguma genealogia familiar dos negros escravizados que trabalharam como escravos em Bom Jesus do Itabapoana que possa ser compartilhada.
Os autores destacam somente a genealogia de descendentes de brancos europeus e mais tarde de árabes. Destacamos aqui a venda de um escravo de nome Domingos[8]. Colocamos os seguintes questionamentos: E o escravo Domingos, qual a sua história? Sua genealogia? Sobre o escravo Domingos apenas encontramos uma cópia de um documento[9] de sua venda nos livros que narram à história branca de Bom Jesus do Itabapoana.
Também em seu livro a autora relata a primeira negra escravizada que foi alforriada, “em 15 de abril de 1866, há o registro da primeira carta de liberdade, dada a Faustina Theodoro” (2005, p. 14). Novamente colocamos os seguintes questionamentos: E Faustina Theodoro a primeira negra alforriada de Bom Jesus do Itabapoana, qual a sua história, sua genealogia? Praticamente não existe.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ALVES, Marcelo Siles. SANTA TERESINHA: DESCOBERTA DE UM CONFLITO RACIAL, DE IDENTIDADE E CULTURAL. Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Serviço Social, Universidade Federal Fluminense-UFF/Campos dos Goytacazes-RJ. 2º semestre de 2012. Ano 2013, pág, Capítulo 1; 20-21: Capítulo 2; 38-42.




[1] Companhia de Habitação Popular do Rio de Janeiro.
[2] Essa parte mais a leste do bairro na parte baixa, faz-se ao encontro de um córrego que corta o bairro, onde são despejados os detritos de esgoto. Também onde ainda se encontram algumas casas populares em seu formato original. Percebe-se, no entanto que, com o passar do tempo, as moradias foram se deteriorando.
[3] Diretor Executivo da emissora Rede Globo que em uma palestra, admitiu que o brasileiro não é racista.
[4] De acordo com o último censo do IBGE de 2010.
[5] Luis Silva Cuti poema O Ferro.
[6] SANTOS, Boaventura de Souza Santos classifica de epistemicídio “a morte de conhecimentos alternativos”.

[7] TEIXEIRA, Ana Maria. História de Bom Jesus do Itabapoana. UFF/Eduff. 3ª edição ampliada. 2005.
[8] A cópia do documento se encontra no livro Bom Jesus do Itabapoana de Francisco Camargo Teixeira 3ª edição ampliada. Páginas 78-79.
[9] Vinde anexo Xerox do documento da venda do escravo domingos