quarta-feira, 30 de abril de 2014

MOS DEF - Mos Def - Ms. Fat Booty [Explicit]




DILATED PEOPLES - THIS WAY




ROUPAS AFRICANAS


Vestir-se com arte, vestir África!



CORES DA TERRA

Sobre

Vista arte negra!
Missão
Nossa missão consiste em valorizar a cultura negra brasileira em peças delicadas mas que mostrem a força de nosso povo de forma alegre e em cores vibrantes.
Informações gerais
Encomendas pelo facebook, nos e-mails: passos.k.c@gmail.com, coresterraartesanato@gmail.com. Ou no tel: 16-993299678 
Entregamos em todo país, via sedex.
Descrição
A Cores da Terra é uma empresa que busca valorizar o tom local em suas peças. Para isso buscamos colocar um pouco de nossa cultura popular em cada novo trabalho, seja nas cores vibrantes de nossas peças, ou no resgate de aspectos da cultura afro-brasileira.
Informação Geral
-As peças possuem número de referência em suas imagem e podem ser confeccionadas em qualquer tamanho.
-Estampas de tecidos e modelos de camisetas estão sujeitos a disponibilidade de fornecedores
-Nas compras pela internet com entrega por sedex, a peça será enviada em até 7 dias úteis após o depósito
- Compras no cartão de crédito tem acréscimo de 5% do valor total
-Parcelamos em até 3x no cartão




terça-feira, 29 de abril de 2014

Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor! - Por Douglas Belchior

À esquerda, foto de Neymar em apoio a Daniel Alves; À direita foto de Ota Benga, Zoológico do Bronx, Nova York, em 1906.

A foto da esquerda todo mundo viu. É o craque Neymar com seu filho no colo e duas bananas, em apoio a Daniel Alves e em repulsa ao racismo no mundo do futebol.
Já a foto à direita, é do pigmeu Ota Benga, que ficou em exibição junto a macacos no zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do que os cientistas da época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A história de Ota serviu para inflamar crenças sobre a supremacia racial ariana defendida por Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo”.
A comparação entre negros e macacos é racista em sua essência. No entanto muitos não compreendem a gravidade da utilização da figura do macaco como uma ofensa, um insulto aos negros.
Encontrei essa forte história num artigo sensacional que li dia desses, e que também trazia reflexões de James Bradley, professor de História da Medicina na Universidade de Melbourne, na Austrália. Ele escreveu um texto com o título “O macaco como insulto: uma curta história de uma ideia racista”. Termina o artigo dizendo que “O sistema educacional não faz o suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do ser humano, porque se o fizesse, nós viveríamos o desaparecimento do uso do macaco como insulto.”
Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo.
Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio a Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar.
No Brasil, a maioria dos jogadores de futebol advém de camadas mais pobres. Embora isso esteja mudando – porque o futebol mudou, ainda é assim. Dentre esses, a maioria dos que atingem grande sucesso são negros. Por buscarem o sonho de vencer na carreira desde cedo, pouco estudam. Os “fora de série” são descobertos cada vez mais cedo e depois de alçados à condição de estrelas vivem um mundo à parte, numa bolha. Poucos foram ou são aqueles que conseguem combinar genialidade esportiva e alguma coisa na cabeça. E quando o assunto é racismo, a tendência é piorar.
E Daniel comeu a banana! Ironia? Forma de protesto? Inteligência? Ora, ele mesmo respondeu na entrevista seguida ao jogo:
“Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados.”
É uma postura. Não há o que interpretar. Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir!
Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas à vontade!
O racismo os incomoda. E os atinge. Mas de que maneira? Afinal, são ricos! E há quem diga que “enriqueceu, tá resolvido” ou que “problema é de classe”! O elemento econômico suaviza o efeito do racismo, mas não o anula. Nesse sentido, os racistas e as bananas prestam um serviço: Lembram a esses meninos que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam brancos!
Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos com um assaltante e de ficar presos alguns dias como no caso do ator Vinícius; pouco provavelmente serão desaparecidos, depois de torturados e mortos, como foi Amarildo; nada indica que possam ter seus corpos arrastados por um carro da polícia como foi Cláudia ou ainda, não terão que correr da polícia e acabar sem vida com seus corpos jogados em uma creche qualquer. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum país cordial, de franca democracia racial, assim como as centenas de Haitianos o fazem no Acre e em São Paulo.
O racismo não os atinge dessa maneira. Mas os atinge. E sua reação é proporcional. Cabe a nós dizer que sua reação não nos serve! Não será possível para nós, negras e negros brasileiros e de todo o mundo, que não tivemos o talento (ou sorte?) para o  estrelato, comer a banana de dinamite, ou chupar as balas dos fuzis, ou descascar a bainha das facas. Cabe a nós parafrasear Daniel, na invertida: “Não tem que ser assim! Nós precisamos mudar! Convivemos há 500 anos com a mesma coisa no Brasil. Temos que acabar com esses racistas retardados, especialmente os de farda e gravata”.
Quanto a Neymar, ele é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, superacumula inteligência na ponta dos pés. Pousa com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de macaco. A ofensa, nesse caso, não fará sentido. Mas pensemos: sua maneira de rechaçar o racismo foi uma jogada de marketing ou apenas boa vontade? Seja o que for, não nos serve.
Sou negro, nascido em um país onde a violência e a pobreza são pressupostos para a vida da maior parte da população, que é negra. Querido Neymar – mas não: Luciano Hulk, Angélica, Reinaldo Azevedo, Aécio Neves, Dilma Rousseff, artistas e a imprensa que, de maneira geral, exaltou o “devorar da banana” e agora compartilham fotos empunhando a saborosa fruta, neste país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco é algo culturalmente ofensivo.
Eu como negro, não admito. Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo.
O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo.
Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens, por que não dizer que #SomosTodosNegros ? Porque não dizer #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos, todos e de todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana? E, se somos, por que nos tratamos assim?
Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é não, não é o zoológico”.
Portanto, nada de bananas, nada de macacos, por favor!
FONTE:http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2014/04/28/contra-o-racismo-nada-de-bananas-por-favor/

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Luislinda, a Iansã de toga - Por: Fernanda Pompeu

 A cena poderia ter saído da cabeça de um roteirista escrevendo um filme sobre discriminação racial. Mas ela aconteceu de verdade em uma escola de Salvador, Bahia. Uma garota negra de nove anos apresenta o material de desenho requisitado pelo professor:

- Mas não foi isso que eu pedi!

- Bom, isso foi o que meus pais puderam comprar.

- Menina, se seus pais são tão miseráveis assim, vou lhe dar um conselho: pare de estudar e vá aprender a fazer feijoada na casa da branca. Você será mais feliz.

A garota corre para o pátio, chora, enxuga as lágrimas, retorna para a sala de aula e diz ao professor:

- Eu não vou aprender a fazer feijoada na casa da branca. Vou ser juíza e voltar aqui para o prender.

Mais tarde, ao contar o acontecido para o pai, Luislinda Valois levou uma surra. Pois o seu Luiz, motorneiro de bonde e a mãe, dona Lindaura, passadeira e lavadeira tinham a educação como um bem supremo. "Filhos meus não respondem e nem desrespeitam professor". Até hoje a desembargadora se emociona ao lembrar dessa passagem de infância. Ela afirma não ter raiva do professor: "Ele acabou servindo como estímulo. Fui à luta e me tornei o que quis".

Longa batalha dias e noites adentro


Trabalhar, estudar e acreditar são os três verbos mais conjugados pela menina: "Perdi minha mãe com quatorze anos, ajudei meu pai a criar os três irmãos, sendo que a caçula tinha dois anos. Foi uma educação com rédea curta e funcionou". Luislinda deu duro nos empregos e nos estudos, passou no vestibular de Direito da Universidade Católica de Salvador - UCSAL. "Eu sabia que conseguiria, pois só me meto em alguma coisa se acreditar que terei êxito. Passados todos esses anos ainda sou assim. Se tenho competência, avanço. Caso contrário, nem tento", ela explica. Os filhos do seu Luiz foram melhorando de vida e um dia um deles passou em um concurso na Petrobras. No mês seguinte, fez um supermercado com o do bom e o do melhor. "Ao ver as compras, meu pai nos chamou e disse: "Meus filhos acabou a miséria nesta casa! Nunca irei esquecer esta frase, como nunca esqueço do meu pai, um homem de uma honestidade imaculada. Ele morreu com 110 anos", ela conta. No mesmo ano em que se formou em Direito, Luislinda prestou concurso para a Procuradoria Federal. Eram apenas quatro vagas. Quando soube do concurso, ela disse: "São apenas três vagas, porque uma já é minha". Não deu outra. A filha do motorneiro e da lavadeira passou em primeiro lugar.

Vida de negra é difícil


Luislinda Valois levou o primeiro lugar, mas não a vaga na Procuradoria da Bahia. Havia um apadrinhado. Ela protestou: "É uma questão de justiça, eu fui a melhor". Não teve jeito, ofereceram a procuradoria em Sergipe ou Paraná. Que ela escolhesse. Um mês depois, Luislinda desembarcou em Curitiba com gato, cachorro, marido e o filho querido, Luís Fausto - hoje promotor de Justiça. "No Paraná, ao contrário da Bahia, me senti uma rainha.

Fiz grandes amigos e aprendi bastante. Foi lá que tive a certeza de que a gente trabalhando consegue muita coisa", ela reflete. Passados seis anos, preocupada com o pai velhinho em Salvador, Luislinda enfrenta mais um desafio: prestar concurso para Magistratura na Bahia. "Quando meu pai leu no Diário Oficial que eu havia passado, quase enlouqueceu de alegria. Ele me recepcionou em sua casa com duas garrafas de cerveja na janela", ela rememora. Uma vez juíza, ela decide revisitar aquele professor que a aconselhou a trabalhar na casa da branca. Procura-o na escola, mas ele havia falecido. Luislinda lutará intensamente para levar a justiça aos moradores de comarcas do interior baiano. "Eu não estou nesta vida para passear. Respeito todo o mundo e dou atenção especial aos PPPs - pretos, pobres e periféricos", ela declara.

Enfim desembargadora

A primeira juíza negra, com cabelos vermelhos e guias de orixás, conquistou, depois de muita batalha - pois como ela diz "negro não tem padrinho" - o título mais alto da Justiça Estadual, o de desembargadora. Tomou posse no Tribunal de Justiça da Bahia, em dezembro de 2011. "Senti felicidade não apenas por mim. Acho que passei o recado para mulheres e homens negros. A mensagem de que eles podem sim assumir cargos de poder. Abri estradas, agora cabe aos mais jovens trilhá-las", afirma com ênfase a filha de Iansã, por sua vez, rainha das ventanias, raios e trovões. Luislinda Valois defende uma justiça honesta e plena, aquela que vai além da mera aplicação da lei. Palavras dela: "Justiça tem que existir na mesma medida para brancos e negros, pobres e ricos. Sem preconceitos e discriminações. Apenas quando o branco e o negro repartirem os mesmos espaços e oportunidades é que o Brasil será feliz".

Fonte:http://www.geledes.org.br/em-debate/colunistas/24425-luislinda-a-iansa-de-toga-por-fernanda-pompeu

Excesso do mesmo, Não aceitação do outro. Texto de Marcelo Silles

MARCELO SILLES
Assistente Social com Bacharel da Universidade Federal Fluminense-Campos/RJ

            Os tambores desbravados rompem com fervor o corredor dos escárnios monopolistas, medíocres conformistas. Todo silêncio é cúmplice. Os conformistas adeptos do seu eu, silenciam-se diante do retrato cru e brutal. Todos os dias deparam-se com figuras que incorporam o espaço físico da comunidade, para eles sem simbologismo ou mera atração representativa. A conivência com o insensível é intrínseca a natureza humana.
            O ser humano foi convertido em um objeto qualquer alheio a toda e qualquer sensibilidade social e racial. Tornou-se algo a repudiar olhares e valores distintos que não assinem a mesma rubrica. Esses bárbaros defensores da insanidade da massa imperativos do “bem” julgam-se arautos da sociedade modelo, meritocrática, casta social e ideal conservador.
            Não conseguem catalisar a lógica da diferença e seus prodígios. São insensatos em retroalimentar ódios sociais e raciais que antes viviam encubados, escondidos raivosos são esses seres que absorvem a cátedra em não aceitar a libertação e conquista do outro, do diferente. Esses seres raivosos, hoje os identificamos a olho nu, na sociedade do “bem”, esbarramos neles todos os dias.
            Os indicadores da realidade nua e crua são claros e objetivos. Apontam para uma sociedade sombria, nefasta que jura piamente não ser racista, excludente, discriminatória. Mas as evidências são perceptíveis e irrefutáveis.
            Carrego o feeling da negritude. Não vivo em África, mas África vive em mim. E com essa paixão pujante, desvencilho e incomodo até mesmo os jabuticabas seres conformistas, servis, subservientes aos ideais pseudo-brancos, são incapazes de identificar uma ação sutil racista e excludente. Não querem enxergar, mas querem se beneficiar dos louros conquistados por guerreiros e guerreiras afrocentrados (as) brasileiros (as). E esses conformistas tentam de todos os setores a fórceps, contornando a realidade, suavizar com uma docilidade tramada adestrar os demais inimigos públicos de seus padrinhos e madrinhas.
            Essa perspectiva fatalista traz um recorte motu próprio com seus axiomas e hábitos discrepantes à catarse nódoa da barbárie. Teoria e prática comungam-se no quotidiano periférico em caminhos tortuosos. Sendo assim, nesse contexto nenhuma luta periférica deve ser desmerecida mesmo quando apropriada pelos meios de comunicação da massa conformista.
            A figura do outro, pelos normais, porta características bestiais. A história brasileira é farta em dubialidades e neo-abstrações que incorporam a cultura popular de massa mantendo a elite dominante no controle dos mecanismos e marginalizando o outro, o diferente..
            A epístola do dia traz a sujeição, generosa, passiva maquiada num discurso filosófico neotomista com paixões insaciáveis hipotéticas, brecando o fortalecimento de uma cultura local e consciente. O senso comum aplaudi a aporia, a banana idílica surge como símbolo do recalque anti-racismo dos sujeitados ao sistema conformista.
            Portanto, quem não segue a regra ditada pela cultura de massa corre o risco de ser banido, apedrejado socialmente. Sofreu uma ofensa recolha-a pra si e a sofra calado, se autofragele.
Hipocrisias a parte, imbecilidade e senso do ridículo é querer que toda uma nação preta aceite esse ato insano e boçal de protesto bananesco, não compactuo com tal atitude de sujeição e conformidade. Se um grupo quer seguir por esses caminhos tortuosos de rejeição identitária tudo bem, mas que os mesmos não venham querer diminuir e desmerecer uma luta preta de séculos contra a opressão que ainda persisti. 4P, a luta continua.     

 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

MAS OS PRÓPRIOS AFRICANOS ESCRAVIZAVAM OS SEUS? - Texto de Sidnei Barreto Nogueira


Algumas pessoas, que pouco ou nada sabem sobre História da África e dos Africanos, alegam que não havia problemas em escravizar os negros, que não devem nada aos negros, que não há racismo, que não há o que reparar, que somos todos iguais e, principalmente, que a escravidão dos negros africanos não começou no Brasil e, por isso, não há que se ter compaixão dos negros e deste período monstruoso na História do Brasil.
1º - é verdade, havia “escravidão” no continente africano, mas era uma escravidão entre aspas, ou seja, havia a escravidão doméstica por meio da qual os escravos, em algum momento, tornar-se-iam parte da família; havia a escravidão real, por meio da qual os escravos, também entre aspas, serviam o rei e a família real como se servissem seu próprio Deus; havia a escravidão como punição a roubo, assassinato e, às vezes, até por adultério; havia a escravidão por conquista, por meio da luta, os perdedores deveriam servir àqueles que os conquistaram.
2º - agora, quando a ESCRAVIDÃO, sem aspas e COM letras maiúsculas se dá por meio da retirada de um povo de seu país, de suas crenças, de sua cultura, de sua língua, sem luta, sem conquista, sem configurar punição ou por configurá-la em virtude do simples fato de nascer negro no continente africano, parece-me que se trata de um tipo de escravidão diferente da primeira, não é? A primeira escravidão é social, é cultura, está no cerne da organização de uma sociedade; a segunda se configura como criminosa e desonesta porque tira do ser humano a sua humanidade e o transforma em COISA. A primeira podemos chamar de escravidão; a segunda, COISIFICAÇÃO.
Ambas podem ser classificadas como levianas e vis, mas a segunda, certamente, não pode ser justificada com base na primeira e quem o faz, certamente conhece muito pouco de África, de africanos e, sobretudo, de socialização e humanidade. Portanto, não me venham com falácias; antes de falar algo sem saber ou, simplesmente, seguir o senso comum, estudem um pouco mais de História.

É belo ser irmã, é belo ser negra - por Kelly Matias


Eu me lembro como se fosse ontem o dia em que minha irmã nasceu. Minha mãe estava a trançar meus cabelos em uma tarde fria de Fevereiro quando teve que ir as pressas para o hospital. 5 anos depois uma outra surpresa, mais uma menina na minha vida, e aí começava a minha viagem de descoberta e força.

Até os meus 13 anos eu vivia letárgica: a ideia de ser 'negra' não era parte da minha identidade, afinal eu não era negra, era morena como ouvira tantas vezes. Melhor do que isso, era uma morena linda com traços de branca, morena jambo. Certamente o racismo me incomodava mas via aquilo como algo que acontecia com terceiros, não em gente como eu. Era confortável viver ali, não me identificando com a luta e as dores que o nosso povo tem. Como toda garota negra sofri o preconceito por ter o cabelo 'pixaim', 'duro' e 'ruim'. Era sempre a amiga da menina descolada, nunca o alvo das paixonites dos colegas, mas isso acontece com todo mundo certo? Eu simplesmente não sou bonita o suficiente, me dizia. Mas o que é ser bonita em nossa sociedade?

Tudo isso foi superado com a realização de ser parte de uma sociedade que julga, destrói e mata em prol do lucro e da criação de padrões impossíveis de serem alcançados. Percebi em algum ponto de toda essa dor que era necessário que muitos se levantassem para que os padrões racistas que nos dominam hoje sejam derrubados, para que todos nós tenhamos a oportunidade de descobrir a beleza de ser único e simplesmente sermos nós. Descobri a riqueza da história e da força do meu povo, a perseverança das mulheres negras que como eu acreditavam e acreditam em um mundo melhor para os seus apesar de toda a opressão a sua volta.

Ser a irmã mais velha me despertou algo. Assim como uma mãe, saber que minhas irmãs passariam por uma trajetória parecida ou tão dolorosa quanto a minha mãe me deu forças para mudar a minha percepção de mim mesma e da minha história: a descoberta da minha ancestralidade. Os meus ídolos eram aqueles na televisão: nenhum deles se parecia nem um pouco comigo, e nada mudou de lá para cá. O modo que fui criada foi muito parecido com o modo que a minha mãe foi criada: acreditando que o meu cabelo e qualquer cabelo crespo não é bom, e assim também teria sido para as minhas pequenas se eu não tivesse mudado minha atitude.Ouvir os seus dizerem que você não é bom o suficiente, ouvir que 'nunca poderá ser aceita do jeito que é' dói. Faz feridas que ficam e que em muitos nunca se fecham. Só o amor o faz. E assim aconteceu comigo.

Ser a minha irmã mais velha criou uma contadora de história em mim. Uma contadora especialista em histórias de princesas negras e fortes que são amadas do jeito que são, que são muito felizes. Uma contadora que entende a complexidade de ver a sociedade de tratar de uma forma mas de definir como outra. Troco histórias com as minhas irmãs por que acredito que assim nos fortalecemos, aprendemos que compartilhamos as mesmas dores e por isso devemos continuar lutando. Entre essas trocas de história ouvi: 'Hoje na escola minha amiga me disse que meu cabelo é feio, mas eu disse a ela que as minhas irmãs também tem o cabelo assim e ela me disse que somos todas feias. Mas sabe o que eu respondi? Que somos princesas negras lindas!"

No fim toda mulher negra é uma irmã mais velha. Sei que quando saio na rua com orgulho do meu afro, da minha cor e ancestralidade estou sendo a irmã de alguém. Alguém que verá em mim pela primeira vez essa aceitação não como 'falta de dinheiro para alisar o cabelo', 'preguiça de pentear o cabelo', mas amor! Puro amor pelo o que eu sou, pelas minhas cicatrizes, pela minha luta. As nossas crianças estão sendo massacradas em todas as esferas sociais e cabe a cada um de nós ensiná-las não se envergonhar de suas histórias, mas enxergar a sua história e sua beleza. Sei que toda vez que conto uma história sobre a beleza negra, a felicidade de ser único e a importância de ser aquilo que somos, estou mudando um pouquinho de alguém. Então eu digo, é belo, é belo ser irmã, é belo ser negra. É belo ver as minhas irmãs se orgulhando de si mesmas, se empoderando. É belo criá-las para saber que há muito mais no mundo do que o papel de empregada ou mulata: elas podem ter tudo aquilo que desejarem se trabalharem para isso. As blogueiras negras foram minhas irmãs nesse caminho de tantas descobertas, me dão forças nas horas de fraquejo e dor. E assim temos que seguir, de mãos dadas, porque é belo, porque é belo ser negra.


Kelly Matias
Professora de Inglês e vive no litoral de São Paulo. Prestes a começar Bacharelado de Ciências e Humanidades na UFABC ela acredita no empreendedorismo social, feminismo e a escrita como chave para mudar o mundo.


FONTE: http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questoes-de-genero/180-artigos-de-genero/24394-e-belo-ser-irma-e-belo-ser-negra-por-kelly-matias

segunda-feira, 21 de abril de 2014

RAP CAPIXABA. BANCA BICHO SOLTO.





S AGIZO Kichwa: SERVINDO e APRENDENDO A SER LIDERANCA.



S Agizo Kichwa: SERVINDO e APRENDENDO A SER LIDERANCA.
Por Bro Baye Kes-Ba- Me-Ra, ex-presidente ( Kichwa ) das Associações Pan - africanas da América e reproduzido a partir do boletim PAAA junho de 1999, o Djeli
-Tradução Ivan de Oliveira. 
Philadelphia, April 18, 2014.

O futuro que os jovens ativistas herdará será determinado pela garra que eles têm sobre a história da sua realidade e não das sua fantasias. Os próximos vinte anos de desenvolvimento Pan-Africano pertencerá àqueles que agora nos seus vinte e seus trinta anos deidirão se querem assumir a responsabilidade ou não. O que eles aprenderem agora estará sendo transmitida para os seus filhos, e os que seus filhos terão no futuro: O que eles aprenderam espiritualmente, psicologicamente, emocionalmente, intelectualmente e fisicamente serão refletidas nas crianças que crescerão. Por isso, é crucial para a atual geração de conscientes, ativistas, os jovens adultos Pan - africanistas de compreender que o que eles estão empenhados não é um grupo de estudo, um exercício de pensamento intelectual , expressão artística revolucionária ou testemunho para a antiga glória dos povos africanos . “Eles estão envolvidos em aprender a ser líderes e não a ser atores que fingem ser líderes”. Embora seja uma coisa de olhar para como os outros povos africanos lidou com situações complicadas e difíceis, é mais um a ser enfrentado com a mesma responsabilidade histórica de determinar como você teve êxito ou falha . No entanto, não é apenas a história que determina os resultados, mas as condições das crianças que seguem o caminho que os adultos tem feito. Como o presente é vivido determina o resultado do futuro. Então, esperando até que saiam da escola para envolverem-se em organização, liderança de comunidades Afros, viagens pelo mundo e as questões sociais afros globais. 

Adultos jovens afriodescendentes devem aprender a pensar criticamente. Pensar criticamente não é uma questão de ser capaz de denunciar um livro, constranger um instrutor ou questionar uma idéia. É também de ser capaz de estabelecer a estrutura organizacional de tal maneira que seja eficaz, eficiente e adaptável a todos os tipos de modificações. Liderança tem uma grande responsabilidade que requer a capacidade de trazer equilíbrio e o ambiente de organizar as pessoas. Liderança é aprendida através de experiência ou por meio de orientação. Embora a experiência é uma ótima maneira de aprender sobre problema com isso será capaz de sobreviver à experiência o suficiente para passá-lo para os outros. Liderança aprendida através de orientação e tutoria permite compreender a ser humilde o suficiente para admitir que não se sabe tudo. O problema para muitos jovens afrodescendentes, criado em ambientes intelectuais onde ser inteligente é mais importante do que ser sábio, eles são propensos a falar mais do que ouvir . Seduzido por noções eurocêntricas de intelecto ser o elemento mais importante do desenvolvimento humano, eles não podem ver aqueles que são sábios , porque aqueles que são sábios não têm necessidade de ser visto, colocar em shows ou ser cercado de comitivas .

Aqueles que planeja ser líderes afro globais do futuro tem que aprender a servir hoje. Servir um jantar, fixar brinquedos quebrado uma criança, cavar um poço em uma comunidade Afro, ajudar um irmão a aprender ler, “encontrar proteção para uma irmã vítima de violência doméstica”, enfermagem para uma criança Afrodescendente traumatizada e mutilada por causa da guerra civil, ajudar uma família Caribenha reconstruir sua vivenda depois de um furacão, ajudar a comunidade a construir uma biblioteca ou ajudar um Afridescendente em qualquer lugar que esteja morrendo de AIDS a não ficar sozinho ele /. É aqui que a liderança é aprendida. Se os jovens afro de hoje aspiram a liderança de amanhã, no mundo do Pan -africanista eles devem entender que o conhecimento sobre Kemet antigo deve ser equilibrado com o conhecimento de como executar a mediação da comunidade. Debatendo os méritos de Marcus Garvey deve ser acompanhado por ajudar uma irmã ou irmão na luta contra a dependência do toxico. Desafiando a credibilidade dos líderes atuais deve-se dar todo apoio aos órfãos do Haiti. Na raiz de liderança Afro-centrado, genuíno e autêntico são compaixoes, comprometimento e consistência. E quando essas características são nutridas o resultado final é a espiritualidade Africana, a verdadeira emancipação dos povos africanos no mundo.

(Documento: Relesee por Duane Bradford
17 de abril, Gilroy Califórnia) • 

(Foto ilustração em Homenagem a grande lider Abdias do Nascimento)


FONTE:https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10203676025085465&set=a.2525040529643.140931.1362278094&type=1&ref=notif&notif_t=like_tagged

terça-feira, 15 de abril de 2014

ATÉ QUANDO?

MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-CAMPOS/RJ & RAPPER.


Até quando teremos que ser e viver para os outros uma maioria em sua insignificância razão uníssona em que todos temos que ser um único ser alienado e condizentes com uma realidade im-plural?

 Até quando serei obrigado a ouvir deboches e desaforos em relação as minhas vestimentas, cultura e modo de vida?

O sistema na aplicabilidade da alienação é muito eficaz e com isso vai mantendo a sua política de controle de massa permitindo dessa forma o avanço voraz do capital que vem devorando todos os recursos com um apetite imenso e tempestuoso.

Ceder de um lado manter e controlar o outro, festas no espírito branco de Baco, futebol, bundas e mais abundâncias e músicas que pregam a alegria, felicidade que tristeza não existe, músicas com toque cultural de plasticidade enfeitam as ruas, invadem as casas pregando a alienação e devoção irrestrita e total ao capital neoliberal.

Quem não gosta de Money? Eu gosto e muito claro. Mas existe uma diferença enorme entre a espécie e o sistema.

A criatura em seus sentidos sensoriais peculiares e assistemáticos vislumbra sempre o que é mais fácil de ser digerido, mesmo que o alimento o torne escravo de seus próprios medos e incertezas. Surgem dessa forma abarrotada milhares de famigerados sem limites, animadores de platéia em meio ao cerne da perplexidade humana perante a existência da barbárie social.

Nada contra o lepo, lepo e demais indagações basais corporificadas que vem pincelando a arte cotidiana com seus repetitivos instrumentos pró-felicidade salutar acima de tudo. O underground, o alternativo tem total ciência que são elementos praticamente não tão atrativos para a gigante massa de manobra. O que os sujeitos atuantes dessa cultura e modo de vida esperam da gigante maioria fantoche é um mínimo de respeito. Ainda nos vemos reféns das velhas inquietações humanas e suas competências cognitivas onde não se tem mais tempo para analises profícuas em relação à convivência.

A conotação do apelo sensacionalista da mídia incorpora o real e simplório desejo do cidadão Kane, suborna-me e eu entrego meu brother, meu friend. Em última instância só nos resta refugiarmos em nossos ambientes considerados inglórios de convivermos com a bastarda prole do bem que subjaz o roteiro repetitivo de paz, amor e felicidade, mas sem um real no bolso e apanhando diariamente desse sistema bárbaro.


Enfim, encerrando com um ponto fugaz a trama sempre é a mesma, apropriam-se da cultura preta que não conseguem destruí-la e a transformam em mera mercadoria, bastante rentável para uma minoria. A parte que não os condiz, é jogada fora, segregada dos meios de convivência trilhando dessa forma uma sociedade dividida e refém de si mesma. Para os amantes do Black underground e alternativo, só nos resta rezar.


sexta-feira, 11 de abril de 2014

RAP CAPIXABA



Unção Verbal - Detona - Part.Melão HumildeRima
Ano: 2013
Voz e Letra: Ricardo(Unção Verbal)Paulo Profeta (Unção Verbal) Melão HumildeRima(Wanderson Freitas)
Gravação/Mixagem/Master: Dj Jack Macrophono Audiolab (Eric Silvestre)


Jovem negro é espancado e morto por populares no Espírito Santo - Por Douglas Belchior


O corpo negro ensanguentado e o olhar assustado que você na foto é do menino Alailton Ferreira, de 17 anos, cercado por um grupo armado com pedras, barras de ferro e pedaços de madeira. Momentos depois, ele seria foi alvo de um espancamento coletivo. Desacordado, foi levado ao hospital, mas não resistiu e morreu na noite de terça-feira (8).

Aos gritos de “mata logo” e de vários xingamentos, o espancamento aconteceu às margens da BR 101, na tarde do último domingo (6), no bairro de Vista da Serra II, cidade de Serra, há cerca de 30km da capital Vitória, no Espírito Santo. Só depois de duas horas de muita violência, a Polícia Militar chegou ao local, colocou o jovem na viatura e o levou até a Unidade de Pronto Atendimento. “Os policiais militares descreveram no boletim de ocorrência que foi necessário utilizar spray de pimenta para conter os populares” disse o delegado-chefe do DPJ, Ludogério Ralff.

Acusação de Estupro

O motivo do linchamento foi causado por acusações controversas. Alguns disseram que o jovem teria tentado estuprar uma mulher. Outros que ele seria suspeito de tentar roubar uma moto e abusar de uma criança de 10 anos. Tudo ocorreu no domingo (6), mas até esta quarta-feira, dia em que Alailton foi enterrado, não havia qualquer denúncia ou relato de testemunhas, segundo a Polícia Civil.

O irmão contesta as acusações e diz que o adolescente sofria de problemas mentais: “Ele chamou a menina, ela se assustou e correu para chamar a família. Os familiares e vizinhos correram atrás dele. Por isso as pessoas falaram que ele era estuprador. Se ele quisesse roubar uma moto, teria feito no próprio bairro, mas ele nem sabe pilotar”. Segundo o tio do jovem, foi um ato de covardia. “Ele estava com uns problemas de saúde e ficava assustado com frequência”.

O morador Uelder Santos, 29, em entrevista para um jornal também colocou as acusações sob suspeita: “Ninguém viu esse tal estupro ou mesmo noticias da suposta vítima”.

“Peçam perdão a Deus pelo que fizeram”, diz a Mãe


Em entrevista a um jornal, a mãe de Alailton,  a doméstica Diva Suterio Ferreira, 46, disse que  o filho teria sido vítima de uma injustiça: “Ele já foi preso por furto, usava droga, mas não estuprou ninguém, jamais faria isso”. Cristã, disse que se apega a Deus para socorrê-la nesse momento difícil:     Meu filho era amado, sonhava em me dar uma casa. Dizia que queria um quarto para ele, um para mim e um para irmã.    Minha filha, de 11 anos, só chora, tem medo de sair à rua depois do que aconteceu.     Acredito na justiça divina. Peço que essas pessoas peçam perdão a Deus pelo que fizeram ao meu filho”.

 

Violência endêmica e elemento racial (nada) subjetivo


O escritório das Nações Unidas apresentou nesta quinta-feira (10) um levantamento sobre as taxas de homicídio em que conclui que as Américas são as regiões mais violentas do planeta. O Brasil está entre países mais violentos. Das 30 cidades mais violentas do planeta, 11 são brasileiras. Segundo a publicação, Maceió é a quinta cidade do mundo com mais homicídios por cada 100 mil habitantes. A cidade de Vitória do Espírito Santo, vizinha ao local onde Alailton foi assassinado por populares, é a 14ª da lista mundial.

Não gosto de suposições, por isso fico nas perguntas: qual seria o resultado de uma amostragem com o recorte racial das vítimas desses homicídios em toda América? Teríamos uma proporção parecida com a média brasileira, que aponta 70% de vítimas negras?

Não sei se Alailton estuprou alguém. Era mulher feita ou uma criança de 10 anos? Ambos os crimes são gravíssimos. Mesmo que tenha sido uma “apenas” uma tentativa ou ainda que o jovem tivesse problemas mentais, sem dúvida caberia alguma punição. E a Lei prevê. Mas jamais um linchamento. Jamais!
E pior: nada leva a crer que houve de fato o crime. Aliás, ao que parece (não sou investigador, nem gostaria), ele teria sim sido “vítima de uma injustiça”, como disse a mãe doméstica.

O fato de ser um menino negro teria sido um elemento potencializador do ódio coletivo e da precipitação de um julgamento instantâneo – acusação, julgamento, condenação e execução: Foi ele! Pega ele! Só pode ter sido ele!?

E se fosse um menino branco, a história teria tais requintes de crueldade e terminaria no cemitério?

A bala não é de festim, aqui não tem dublê!


O assassinato covarde do menino negro Alailton Ferreira me fez lembrar dois filmes norte-americanos muito famosos. O primeiro é o clássico “O sol é para todos”, de 1962, que conta a história de Tom Robinson (Brock Peters), um jovem negro que fora acusado de estuprar Mayella Violet Ewell (Collin Wilcox Paxton), uma jovem branca. Atticus Finch, um advogado extremamente íntegro, interpretado por Gregory Peck – que viria ganhar o Oscar de melhor ator com esse trabalho, concordou em defendê-lo e, apesar de boa parte da cidade ser contra sua posição, ele decidiu ir adiante e fazer de tudo para absolver o réu. Nos Estados Unidos como aqui, sempre fora comum acusações de estupros e outros crimes recaírem sobre negros, sem que haja grandes contestações.

O outro filme, esse mais recente (1996), faz ainda mais sentido com o momento que vivemos, inclusive no nome:“Tempo de Matar”, que se passa em Canton no Mississipi, onde Carl Lee (Samuel L. Jackson), um negro que, ao matar dois brancos que espancaram e estupraram sua filha de 10 anos é preso, e um advogado branco Jake Brigance (Matthew McConaughey ) e Ellen (Sandra Bullock) uma obstinada estudante de Direito, ambos se voltam contra o preconceito e o racismo existente na comunidade daquela cidade para defender o acusado.

Já no fim da trama, quando tudo parecia perdido, afinal a cidade queria a condenação do acusado, no Tribunal Jake solicita a todos os presentes que fechem os olhos e ouçam a ele e a si mesmos, então ele começa a contar a história de uma garotinha que volta do armazém, e de repente surge uma “pick-up” de onde saltam dois homens e a agarram, eles a arrastam para uma clareira e, depois de amarrá-la, arrancam-lhe as roupas do corpo e montam nela, primeiro um, depois o outro, eles a estupram tirando toda a sua inocência com brutais arremetidas. Depois de acabarem, e de ter matado qualquer chance daquele pequeno útero ter filhos, os dois rapazes começaram então a usar a garotinha como alvo, acertando-a com latas cheias de cerveja, cortando sua carne até o osso. Não satisfeitos, eles ainda urinaram sobre ela, e com uma corda fazem um laço e a enrolamo no seu pescoço e num puxão repentino a suspende no ar, esperneando e sem encontrar o chão até o galho quebrar e, milagrosamente cair no chão. Nesse momento, eles a colocaram na “pick-up” e, ao chegar em uma ponte, jogam-na de cima da mureta, de onde ela cai de uma altura de 10 metros até o fundo de um córrego. 

Jake então pára a história e pergunta aos presentes se conseguem vê-la, se conseguem imaginar o corpo daquela garotinha estuprado, espancado, massacrado, molhado da urina, do sêmen deles e do próprio sangue, e depois abandonado para morrer…

E novamente repete para que todos façam uma imagem dessa garotinha, aguarda um instante e pergunta: “Agora imaginem que essa garotinha é branca”!

Carl Lee é inocentado pelo júri.

Ora, “impoluto escrevente”, me perguntaria um dos meus algozes sempre presentes nos comentários deste Blog: “Mas não está a criticar a ideia da justiça pelas próprias mãos? Contraditório o exemplo deste filme, não?”.

E eu responderia:

Sim e não.

Sim. E essa é a parte que não gosto no filme. Ele justifica a ideia de que, em alguns casos, pode-se aceitar a justiça feita pelas próprias mãos. E não podemos tolerá-la em hipótese alguma. Menos ainda quando o pressuposto é inexistente – como parece ser neste caso do Espírito Santo.

E não.

Não por que faz todo o sentido imaginar que, diante da violência sistemática, continuada e explícita contra a população negra, não seria absurdo imaginar que em algum momento pode haver reações, bastando para isso que aflore a percepção – por parte da população negra, de que vivemos sim um estado de desigualdades e de violência racial.

Mas se dirá: Loucura! Radicalismo deste blogueiro afro-lunático racialista! E diante da fúria democrata-gilberto-freyreana presente inclusive na parte bolchevique do mapa, diria por fim:

Sempre caberá o terrível e necessário pedido de reflexão feito pelo advogado branco, Jake Brigance (Matthew McConaughey ), em Tempo de Matar:

“Agora imaginem que essa garotinha é branca”!
Imagine que Alailton é branco!
Imagine que Cláudia é branca!
Imagine que Amarildo é branco!
Imagine que Douglas é branco!
Imagine que José Carlos, é branco.
Imagine que o menino torturado e amarrado nú em um poste na zona sul do Rio de Jaineiro é branco.
Imagine que, quem a polícia mata 3 vezes mais que negros, são os brancos.
Imagine um mundo onde as pessoas pudessem viver em paz.
Consegue?


FONTE:http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questao-racial/violencia-racial/24318-jovem-negro-e-espancado-e-morto-por-populares-no-espirito-santo-por-douglas-belchior