segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

PARTIDOS, FRAÇÕES PARTIDÁRIAS: A DIVISÃO DO POVO EM PARTES E PEDAÇOS DE PROJETO, PROGRAMA, ORGANIZAÇÃO DE FRAÇÕES PARTIDÁRIAS E PARTIDOS. Por Reginaldo Bispo-MNU de Lutas, Autônomo e Independente.


Jean Bertrand Aristide, ex-presidente do Haiti, eleito pelo povo, e derrubado pelos EEUU, duas vezes-, em uma histórica e longa entrevista dada na Europa, conta que a articulação que o elegeu ambas as vezes, nada tinha dos partidos tradicionais do país, que se tratou de uma grande articulação dos movimentos sociais, das periferias, insatisfeitos com os rumos que as elites á décadas, davam ao pais. Entenderam haver chegado o momento de o povo Haitiano dar uma demonstração para o mundo que nenhuma crença ou pregação hipócrita, deteria o povo, rumo à sua autodeterminação e autogoverno. Duas vezes derrubado pelas armas do imperialismo, a CIA, não cessou a determinação do povo em resistir à adestrada e subalterna elite entreguista haitiana. Temporariamente foram derrotados pelas catástrofes naturais e a ocupação estrangeira que tenta quebrar o brio revolucionário do povo, mas o Haiti resiste.

                             PARTIDO É O POVO DIVIDIDO EM PEDAÇOS.

Quando me perguntam se faço parte de um partido, respondo:

- Saí de um partido para construir um inteiro!

Um partido politico, é parte do povo, parte do poder, parte da ideologia, parte programática, da tática, da estratégia, e parte da organização do povo em pedaços.

Os negros enquanto maioria desorganizada, sem vez ou voz, ao se vincularem a um desses pedaços, subordinam-se às suas bandeiras e direções. Impedidos de falar porque são minorias não dirigentes na parte, lhes é exigido fidelidade aos objetivos do pedaço e da bandeira a qual se ligara. Quando compõem as frações, correntes ou tendências dessas legendas, nem assim se falam, o que se pode constatar em quaisquer oprimidos, pois sem tradição na militância partidária, também devem subordinação e fidelidade aos seus dirigentes.

Isto não quer dizer que os partidos não se falam, pragmaticamente por conveniências. Suas direções se compõem o tempo todo, o que não é permitido ás bases, devido as formas de representação, se tornando minoria, desorganizados e subalternizados dentro de um tipo de organização que não entendem, porque não tem tradição ou força para intervir.

A estrutura partidária, em sua logica, unida na verticalidade de suas direções, e dividida na horizontalidade de suas bases, impede qualquer conscientização, aspiração, ou organização do dominado. Favorecem á concepção individualista, elitista e carreirista de seus personagens dominantes, concedendo a esses, o apoio através do voto popular, para ascenderem e se perpetuarem na burocracia partidária, nos cargos eletivos de poder, sem serem ameaçados por quem os elegeu.

Pra que servem essas denominações então?
Além das secretarias, foram criadas organizações-braço partidárias, que não se constituem espaços negros independentes, mas, organizações-apêndice, auxiliar e subordinadas aos partidos: Quilombo Raça e Classe do PSTU; Unegro do PCdoB; Conen, e ANLU-MNU do PT; o MN do PDT, MN do PSB, o Circulo Palmarino do PSol, o Tucanafro do PSDB e assim por diante.

É nesse panorama que descrevemos a capitulação da militância do MN ás estruturas organizativas e politicas dos atuais partidos e cargos em governos, negando-se a imaginar a existência de outra saída, que não a logica da cooptação, capitulação e alternância como projeto pessoal. As denominações servem para empoderar os chefes, e os donos das siglas.

OS PARTIDOS POLÍTICOS E AS ORGANIZAÇÕES POLITICAS NACIONAIS.

O quilombo de Palmares, enquanto uma nação que garantia a liberdade e o direito à vida a todos os quilombolas, em pleno século XVII, constituiu-se em uma força porque, além de um espaço de organização coletiva, compunha-se de propósitos que eram comuns a todos. Palmares em seu auge era habitado por mais de 20.000 defensores.

A Frente Negra brasileira, atuante entre 1930 e 1937, chegou a ter mais de 30.000 membros em suas fileiras, antes de transformar-se em partido, depois, virou apenas uma lembrança para nosso povo.  Isto em uma conjuntura onde os negros tinham se livrado do escravismo há pouco mais de 42 anos, onde as más condições de vida, a ausência total de direitos, os obrigaram a organizar-se construindo uma unidade para seguir o exemplo e a efervescência das reivindicações dos imigrantes europeus, operários na florescente indústria.
Note-se que foi entre 1930 e 1945 que surgem a maioria das organizações negras, de solidariedade e pecúlio (para ajuda em casos de doença, invalidez e falecimento), bem como os clubes negros, pois as associações e sindicatos de trabalhadores imigrantes não permitiam a participação de negros. Entretanto, é também neste momento que o negro pela primeira vez, adentra ao mercado de trabalho no serviço publico e privado, inclusive na Guarda Civil paulista, até então fechado aos negros. É quando também é criado o Teatro Experimental do Negro, com centenas de participantes, ganha postos nas décadas posteriores colocando dezenas de negros no Teatro, no radio, no cinema e depois na televisão.

O MNU desde seu lançamento em 07 de julho de 1978, constituiu-se em uma força de organização e referencia do povo negro até em 1991, quando com o ENEN, inicia-se a divisão de seus militantes em tendências dentro do PT, e depois disso, para a formação de inúmeras legendas, o PDT, o PSTU, o PSol, o PCdoB etc.
Podemos buscar os mesmos exemplos em organizações nacionais dos povos no mundo: O ANC, na África do Sul, e a OLP, na Palestina, que uniam, representavam e mobilizava todo o povo, ao se transformarem em partido, e deixam de cumprir esse papel. Como elas, poderíamos citar a Renamo; A Frelimo, e tantas outras.

                             ORGANIZAÇÃO NEGRA, AUTÔNOMA E INDEPENDENTE,
Desconhecendo outras iniciativas e formas de organização para fazer politica, apenas os partidos, a militância mal informada entra no jogo perigoso de que só existe uma única forma de disputar o poder, por equivoco e também por oportunismo, entregam as organizações populares para cumprir papel auxiliar dos mesmos.
Ao fazê-lo, apostam em manter tudo exatamente como se encontra, sem avanços significativos há mais de um século. A única hipótese alternativa que alguns vislumbram, pela mesma miopia, é a criação de um Partido Negro. O que seria apoiar a mesma logica, criando mais uma parte, mais um pedaço do povo, do programa, da ideologia, do poder...Pois os negros partidarios continuariam onde estão, sejam de esquerda, centro ou direita, com o agravante de que os partidos negros, na historia do Brasil, sempre foram legendas de aluguel de políticos poderosos, como Getúlio, Maluf, FHC, Lula, etc.

Há uma terceira via, na Venezuela as organizações populares podem lançar candidaturas avulsas. Depois, sempre existe a possibilidade de uma organização popular, de maneira soberana, em sua tática de disputa da politica institucional, mantendo a sua autonomia, lançar coletivamente uma candidatura sua, legitima, por uma legenda que lhes seja simpática e que se aproxime de suas ideias, programa e ideologia.
Organizações politicas não se servem prioritariamente ao proposito de disputar eleições, mas, de aproximar ideias, construir programas e dinâmicas, elaborar táticas de ação comum, unificar estratégias e organizar pessoas em torno de projetos nacionais de grande interesse, disputando propostas politicas para mudar a correlação de forças. Esta é a discussão e as proposições que lhes apresento:


CONSTRUIR UMA ORGANIZAÇÃO POLITICA NEGRA NACIONAL,                                                                   AUTÔNOMA E INDEPENDENTE DE GOVERNOS E PARTIDOS!

Que tenha como referencia:
  1. Um Projeto Politico de Nação plurirracial e multicultural;                                                                          
  2. Um Programa de Reparação Histórica e Humanitária;                                                                            
  3. Programa de metas de curto, médio e longos prazos;                                                                               
  4. Carta de princípios com o povo negro, indígena e trabalhadores, bem como, a defesa e preservação do planeta para as futuras gerações da humanidade;                                                                                
  5. Estatuto rigorosamente democrático na garantia do debate e deliberações das ideias e propostas, responsabilidade, compromisso e disciplina, na unidade dos encaminhamentos;                                   
  6. Que O Manifesto de Negras e Negros Organizados Lutando por Seus direitos, seja o documento conceitual e programático para inicio de construção.
  7. Que o texto: “Racismo como Ideologia de Dominação Politica”, seja subsidio para debate das questões econômicas, politicas e ambientais, sem o prejuízo de outros que vierem a ser propostos pelos participantes, ao longo dessa construção. 
Reginaldo Bispo-MNU de Lutas, Autônomo e Independente.