segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

REFLEXÃO PRETA EM BOM JESUS: O POLÍTICO BRANCO E O POLÍTICO NEGRO. Um mini-texto.

REFLEXÃO PRETA
MARCELO SILLES
RAPPER




            Bem sabemos desde quando os brancos portugueses invadiram essas terras, junto com outros brancos europeus, que a política nas terras brasílis sempre foi composta majoritariamente por brancos. Ora bem sabemos que o porquê desta discrepância numa terra plural, miscigenada (assim dizem por aí) e multicultural que o branco sempre representou (crenças da raça branca), a pureza, o bem, tudo de bom. Assim o branco/a sempre esteve fora de qualquer suspeita, sendo branco/a é muito mais fácil desviar dinheiro público, roubar dinheiro público, fraudar, etc.
            Sem contar que é um marketing perfeito para se vender a imagem de lobo na pele de cordeiro. Na última eleição passada para a Alerj, um tal deputado lançou os dois filhos que saíram vitoriosos, o pai perdeu. A vitória simplesmente se deu pelos seguintes fatores: cor-fenótipo-cútis branca, jovens de excelente aparência (aos olhos da sociedade racista), boa família (branca de classe alta) livres de qualquer suspeita, infiltrando na corrupção nunca serão presos, julgados, condenados serão sempre inocentes. Se fossem negros, primeiro não seriam eleitos, segundo sempre estariam na mira de qualquer suspeita. O mesmo vale para as mulheres brancas candidatas.
            Bom a política em Bom Jesus não é diferente. Como diz MV Bill “um negro não quer ver o outro negro bem”. Um negro político bonjesuense na década de 80, filiado em um partido político, engajado nas lutas sociais, movimento negro com uma participação bem expressiva na militância, na política, católico praticante, exemplo de família, candidata-se a vereador num determinado período da década de 90. Infelizmente tem uns míseros votos. Por outro lado, um branco político bonjesuense, filiado no mesmo partido, bem mais jovem, não tem engajamento nenhum em lutas sociais, fez faculdade durante a mocidade, teve muita sorte na vida, bem apanhado, pai de família, candidata-se a dep. Estadual e vence. Sabe qual o fator primordial de sua vitória? A imagem, o marketing, a brancura. Jovem branco, pai de família branca aparência bem sucedida, traços eurocêntricos, bonito para as mulheres pobres, ideal para o partido político e para a política brasileira. Qual o fator primordial para a derrota do negro? O fato de ser negro.
            Ele poderia ser um pai de família exemplar, honesto, religioso, militante ativo todas as qualidades que o outro não tem, mas é negro. O branco somente o fato de representar uma minoria majoritariamente no poder, garantiu a sua vitória.
            Isso é costume nos partidos políticos brasileiros, em qualquer canto seja de direita, esquerda, centro todos são racistas, não há democracia racial nos partidos políticos. À direita e centro são declaradamente racistas. À esquerda além de racista, prega a distribuição de renda dos outros não as dela. Episódios como esse acontecem ainda em Bom Jesus, onde quem levanta a voz em defesa da maioria é prontamente acusado de excitar o radicalismo, a barbárie, o racismo etc. nunca pensa no bem comum, no bem coletivo no qual inclui a todos de uma forma geral. O discurso reto e direto incomoda.
            Até quando vamos ficar enojados com a política, até quando vamos ficar sendo hipócritas distanciando das atividades políticas de nossos interesses e quando chega à época da eleição elegemos racistas, oportunistas, interesseiros, paneleiros tudo isso em troca de farra, orgia, sacos de cimento, remédio, mudança, vasos sanitários, uma conta pra pagar etc. Depois do orgasmo obtido vem a frustração de uma transa mal feita e o arrependimento.
            Ficar metendo a língua por trás em conversinhas de que na política só tem corruptos, não adiantou, não adianta e não adiantará nada se não arregaçarmos as mangas e pegarmos as rédeas da situação. Levantar a bunda da cadeira, sair do comodismo e exigir da sua própria comunidade representantes fiéis que façam valer seus direitos ou representantes do nosso grupo, é a única saída. Não deixemos o fato ocorrido com o nosso irmão negro político bonjesuense, seja algo comum, oportunidades, chances temos que dar aos nossos, que sabemos bem estão na luta cotidiana contra o racista opressor, informando, conscientizando, sendo exemplo de negritude.
            Sejamos, portanto, É NÓS POR NÓS.

PS: COM CERTEZA, IRÁ APARECER UM PSEUDO-INTELIGENTE E FARÁ O SEGUINTE COMENTÁRIO: VOCÊ ESTÁ SENDO RIDÍCULO, TEMOS POLÍTICOS NEGROS NO BRASIL OCUPANDO CARGOS. E EU IREI RESPONDER AO PSEUDO-INTELECTUAL: MEU FILHO, É UMA SITUAÇÃO QUE CONTA-SE NOS DEDOS, NÃO SE PODE LEVAR EM CONTAR NÚMEROS DE NEGROS EM CARGOS NO LEGISLATIVO COMO UM FATOR REPRESENTATIVO EXPRESSIVO PARA SE APAZIGUAR UMA LUTA, MÁSCARAR UMA REALIDADE PERVERSA. IMPORTÂNCIA TEM SIM, MAS FALTA MUITO. NÃO QUEREMOS ALGUNS NÚMEROS, QUEREMOS MUITOS NÚMEROS.