quinta-feira, 16 de junho de 2016

O que fazer pela equidade racial no Brasil hoje? Artigo II

Ao longo do tempo, em quase 500 anos de Brasil, a população negra desenvolveu uma espécie de antídoto contra as tragédias do cotidiano. Foi assim ao longo dos 3 séculos e meio de escravismo e tem sido dessa forma nos 128 anos do pós-Abolição, que se completaram no 13 de Maio último.

Por Helio Santos, do Brasil de Carne e Osso

Bijuterias Finas

Nos últimos tempos, sentimo-nos meio estagnados como movimento social, apesar do intenso e massivo protagonismo de pequenos e mínimos empreendedores e empreendedoras. São protagonistas não apenas econômicos, mas, sobretudo, agentes sociorraciais. São coletivos que trabalham com a cultura hip hopsão modistas talentosas que exibem uma performance black fashion encantadora, são esteticistas revolucionárias, são ainda os inúmeros coletivos de estudantes negros, cada vez mais independentes da influência deletéria dos partidos, são meninas e meninos blogueiros que se viram em sua precariedade mas que desenvolvem criativa tecnologia virtual, são intelectuais jovens, sobretudo mulheres, que se destacam dentro e fora do habitat acadêmico, são artesãs da culinária que comercializam suas delícias, são ainda grupos de produção literária – alguns já bem estruturados, mas inúmeros funcionando como podem -, mas todos transpirando abundantemente o que há de melhor da nossa energia – essa lista não tem fim…

Esse protagonismo negro impressionante opera isoladamente, na maioria das vezes, nesse brasilsão continental e profundo. Essa resiliência grupal negra é ouro puro, mas sabe-se da preferência brasileira por bijuterias. Bijuterias finas.

Um protagonismo Esfuziante

É necessário perguntar: o que fazer com essa resiliência grupal esfuziante desperdiçada e solta nesse desigual país? A resposta dessa pergunta contempla e absorve a questão-título.

Requer-se uma corrente capaz de absorver essa resiliência construída ao longo de quase meio milênio. Contraditoriamente a essa movimentação intensa e luminosa de amplos setores da população negra, sente-se uma estagnação do Movimento Negro. Como transformar esse protagonismo real em um movimento com um sentido social é um desafio que vale a pena. Um movimento sócio-político com repercussões efetivas na cidadania negra-brasileira. Trata-se do enigma que temos de decifrar nesses tempos: a movimentação protagonista da população negra alimentando a um Movimento Social Negro proativo e não partidarizado, afiliado às legítimas e seculares demandas do Brasil profundo, que não é apenas negro, mas que tem uma inflexão aguda de gênero e também indígena. Refiro-me agora ao desenvolvimento de antídotos novos e mais eficazes contra o calidoscópio mutante do racismo no Brasil do século 21. Nos séculos 16 e 17 se construíam quilombos. E agora? Temos de refundar um movimento sócio-político a partir daquele protagonismo.

Essa movimentação precisa estar apta a operar com frentes, coletivos, associações e até mesmo com partidos sem, contudo, quebrar a identidade destes entes. Desenvolver um novo protagonismo que retroalimente na direção da Equidade Racial, cuja ausência vem a ser o vetor que torna o gigante Brasil um dos países mais desiguais do mundo.

Trata-se de uma usina capaz de gerar energia para uma política restauradora, onde o Ministério da Fazenda cuide de arrecadar os 500 bilhões de reais sonegados por ano (dados de 2014) e não de propor arrochos sociais. Meio trilhão de reais cobre com sobra todos os déficits anunciados com pompa pela mídia. Não se sabe de um partido sequer capaz de propor e efetivar essa “façanha”.

A quem caberá, então, “façanha” semelhante?

Continuamos no Texto 3; o último dessa série.


CRIANÇAS ENFORCAM MENINA COM CORDA NA ESCOLA POR ELA SER NEGRA

Família processará a escola depois que a filha passou por momentos difíceis.

Crianças estão em fase de crescimento e de educação. Para muitas pessoas, elas sequer entendem o que fazem. No entanto, uma agressão à uma menina negra no estado americano do Texasestá gerando um grande debate nosEstados Unidos. Isso porque a menina foi enforcada com uma corda pelos próprios amigos da classe. Em seguida, ela foi empurrada no chão. A atitude de desrespeito teria ocorrido porque a garota é negra. Agora a família, de acordo com informações do jornal 'O Globo' em matéria publicada nesta quarta-feira, 15, quer entrar com um processo contra a escola. Os pais da vítima acusam a instituição de ensino a agir com negligência. O valor da indenização é milionário, podendo chegar a incríveis R$ 10 milhões. 
A menina não teve o nome revelado. A garota está sendo chamada pela imprensa americana como KP. A mãe da vítima diz que a filha sofria constantemente ameaças dos coleguinhas, mas até então o caso era tratado como um bullying, palavra que ganhou repercussão recentemente, quando os abusos realizados contra crianças voltaram a abrir o debate em todo o mundo.
A mãe da menina foi além. De acordo com ela, a Live Oak Classical School sabia que a garota era humilhada pelos colegas, mas decidiu não fazer nada. A família então ficou completamente irritada após saber que sua herdeira havia sido praticamente degolada na escola. As escoriações podem ser vistas na foto que está na capa desta reportagem. A menina tem 12 anos de idade.
Advogados da família confirmam que a motivação para o ato selvagem seria mesmo racismo. O ato teria sido realizado contra a garota quando ela estava visitando um sítio. Três meninos teriam enrolado as cordas de um balanço no pescoço da menina, empurrando ela em seguida. 
No ano passado, a mãe da garota chegou a relatar à direção da escola as ameaças sofridas pela filha. Até um e-mail foi enviado. Este será usado como prova da negligência da instituição. Na ocasião, a menina foi empurrada e chutada quando ensaiava para um peça teatral. "Não vou deixar isso com impunidade", desabafou a mãe da vítima. 
FONTE:http://br.blastingnews.com/mundo/2016/06/criancas-enforcam-menina-com-corda-na-escola-por-ela-ser-negra-00969081.html

Racismo em Português, o lado esquecido do colonialismo


Mais do que fazer julgamentos sobre se o que as pessoas contaram estava certo ou errado, interessou ouvir o que os africanos sentem e como olham para a discriminação racial exercida pelos portugueses durante o colonialismo, que cicatrizes permanecem. Pré-publicação.
Por JOANA GORJÃO HENRIQUES, do Público 
Quando me perguntam por que razão me interesso pelas questões raciais, costumo responder com uma frase: «Cresci com alguns colegas negros na primária, um ou dois no liceu, e nenhum na universidade.»
Nessas carteiras de escola ouvi sempre a mesma versão da história do colonialismo, ensinada pelos portugueses. Mesmo quando havia crítica, apresentava-se Portugal como «bom colonizador»: um colonizador que se misturou com as populações, que nunca exerceu sobre os povos colonizados a violência que outros colonizadores exerceram. Raramente visto como um sistema racista, o colonialismo português não era questionado como tal. Prova disso é que os portugueses continuam a falar de si próprios enquanto descobridores e enquanto povo integrador.
Portugal tem uma população significativa negra desde que se iniciou o horror que foi o comércio de escravos no século xv, e mais tarde recebeu uma vaga de imigração africana, primeiro nos anos 1960 e depois no pós-25 de Abril. O facto de, ainda hoje, não existir qualquer correspondência entre o número de negros que vemos na rua e o número de negros em lugares de liderança na sociedade é, no mínimo, surpreendente. A ausência de representatividade de uma fatia expressivada sociedade portuguesa – fatia essa usada como bandeira de cosmopolitismo da população por algumas entidades oficiais – espelha um sistema que discrimina pela cor da pele. Porém, em Portugal reflecte-se pouco sobre o papel dos portugueses enquanto colonizadores e, especificamente, sobre a sua responsabilidade no desequilíbrio das relações raciais entre brancos e negros, bem como sobre a sua responsabilidade na criação e na persistência do racismo.
Entre 2009 e 2011, passei dois anos sabáticos a estudar as questões raciais nos Estados Unidos e em Inglaterra, e dei-me conta disto mesmo: que a produção crítica sobre o papel do Ocidente na discriminação racial era imensa em língua anglo-saxónica, mas muito rara em português.
Foi então que, como jornalista do Público, propus à direcção do jornal fazer um projecto de cinco reportagens nas cinco ex-colónias africanas para questionar a herança colonial, ao qual se associou a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Em 2015, 40 anos depois da descolonização, fui perguntar até que ponto persistem, ainda hoje, as ideias de raça espalhadas por Portugal nesses países, como é que as populações dos países colonizados olham para o papel de Portugal enquanto colonizador, e se a versão dos portugueses como bons colonizadores, que se misturaram com as populações colonizadas, ainda vinga até hoje. Como era aplicada a segregação baseada na raça, e que tipo de violência Portugal, enquanto sistema colonial, exerceu? O colonialismo português foi um regime racista?, perguntei aos meus mais de cem entrevistados, a maioria aqui citados. Não querendo substituir o papel dos académicos, que naturalmente abordariam estas questões de forma diferente e com outra profundidade, a ideia era problematizá-las dando voz a quem não tem sido ouvido – uma das missões do jornalismo.
O trabalho foi feito em cinco viagens, cada uma a um país diferente: Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, e Moçambique. Em cada país escolhi uma amostra de entrevistados proporcional ao respectivo número de habitantes. O objectivo era reunir vozes que representassem as diferenças existentes: de classe social, de género, de situação profissional, de origem geográfica, de experiência pessoal, de interpretação. Quis registar o discurso de alguém que olha para a sociedade e para a história com uma visão global, e ter o testemunho de quem sofreu na pele a dureza do regime. Interessou-me ouvir o passado e saber que marcas persistem desse passado ainda hoje.
Consciente do meu lugar de privilégio – o de jornalista branca de um país que tem dominado a versão do que foi a história colonial – procurei na escrita das reportagens dar primazia aos testemunhos pessoais. Mais do que tecer julgamentos sobre se o que as pessoas contaram estava certo ou errado, quis sobretudo ouvir o que sentem e como olham para a discriminação racial exercida pelos portugueses durante o colonialismo, que narrativas perduram em cada país, que cicatrizes permanecem. Quis ouvir a sua versão da história.
Houve temas recorrentes nos cinco países e testemunhos de experiências de racismo muito parecidas — em alguns casos mantive essa repetição para sublinhar aspectos globais, noutros decidi não os incluir para evitar a sensação de duplicação.
Tive a preocupação de mostrar que o colonialismo foi diferente em cada país, não só porque o sistema, também ele diferente consoante as épocas, adoptou políticas diferentes, mas também porque cada um desses países tem, naturalmente, as suas especificidades.
Entretanto, surgiu a ideia de fazer uma Rota da Escravatura, tema indissociavelmente ligado ao colonialismo. Porque Portugal viria a ser, afinal, o primeiro país a transportar pessoas escravizadas de África para as Américas, ou seja, o grande iniciador daquela que ficou conhecida como uma das maiores atrocidades da história mundial. Deu início à prática de tráfico de seres humanos no século xv, prática que só seria abolida quatro séculos depois.
É difícil estabelecer com rigor o número de homens e de mulheres que foram escravizados ao longo deste período, mas os dados mais citados são os que indicam que, entre 1501 e 1866, cerca de 12 milhões embarcaram de África para as Américas, e dois milhões não chegaram ao destino.
Condenado no Congresso de Viena, em 1815, o comércio de escravos foi abolido em 1836, mas o tráfico continuou a ser praticado clandestinamente. Inglaterra decretou a abolição da escravatura em 1833, por meio de uma lei que atribuía compensações financeiras aos donos de pessoas escravizadas. Na década de 1850, o marquês de Sá da Bandeira decretou a abolição da escravatura em Portugal e estabeleceu um prazo de 20 anos para os libertados serem efectivamente livres — mas o fim oficial da escravatura só aconteceu em 1878.
Usando as populações dos países ocupados, Portugal tornou-se um dos principais actores deste comércio, seguido de Inglaterra, França, Espanha e Holanda. Os homens e mulheres eram levados para trabalhar nas plantações de algodão, de açúcar e de café nas Américas, transformando-se na principal fonte de mão-de-obra destas novas economias.
Embora alguns tenham tido mais destaque do que outros, a verdade é que os cinco países africanos colonizados por Portugal se tornaram uma fonte de produção de homens transformados em objectos e em mercadoria humana. Só Angola, aliada ao Congo, representou quase 40 % do mercado de escravos a nível mundial.
Acompanhada pela mão de um historiador especialista na matéria em cada país, fiz uma visita guiada a lugares históricos em busca de uma possível Rota da Escravatura, salvo óbvias limitações geográficas. Para complementar cada reportagem do Racismo em Português, publica-se uma Rota da Escravatura no país correspondente. Funciona como uma espécie de banda histórica, acrescentando contexto para quem quiser saber mais.
Acabo esta jornada que me ocupou mais de um ano com a visão de que o racismo colonial foi um apagão e um arrastão: apagão da cultura africana, obrigando as populações a despirem-se de toda a sua identidade; e um arrastão ideológico, porque contaminou mentalidades de todos os quadrantes e durante séculos, de tal forma que até hoje se verificam os seus efeitos.
Termino esta introdução com uma nota de perplexidade: como é possível que, até hoje, nunca tenha existido um Museu da Escravatura em Portugal? E coloco ainda mais umas perguntas: porque não nos é ensinado na escola que existiu um apartheid em Angola e em Moçambique, alimentado por Portugal? Porque insistimos num olhar benevolente sobre um Portugal que não hesitou em promover o trabalho escravo até 1974? Vamos perpetuar a narrativa de um colonizador que não discriminava porque se miscigenou com as populações locais, quando sabemos que obrigava essas pessoas a despirem-se da sua identidade africana, a mudar de nome, a alisar o cabelo ou a esconder a sua língua? Até quando iremos contribuir para uma mentalidade acrítica sobre um dos fenómenos mais violentos da nossa história? Finalmente: o que diz esta perspectiva de brandura de olhar sobre nós próprios, portugueses?
FONTE:http://www.geledes.org.br/racismo-em-portugues-o-lado-esquecido-do-colonialismo/

Ollie Johnson, cientista político: ‘O racismo segue vivo e perigoso no Brasil e nos EUA’



Professor de Estudos Afroamericanos na Wayne University (Detroit) esteve no Rio para pesquisa e para falar sobre o Partido dos Panteras Negras, em seminário na UFRJ

 “Nasci e cresci em Atlantic City, Nova Jersey. Eu me graduei em Estudos Afroamericanos e Relações Internacionais na Brown University, onde estudei português. Vim para cá e me apaixonei pelo país. Fiz mestrado em estudos brasileiros e fui à Berkley, para mestrado e doutorado em Políticas Sociais.”


Conte algo que não sei
Os EUA, infelizmente, são um dos principais patrocinadores do terrorismo no mundo. Fizeram intervenções em muitos países em sua história. E isso continua acontecendo. Centenas de milhares de pessoas foram mortas no Iraque, no Afeganistão, no Oriente Médio. E a maioria eram inocentes. É um crime terrível, pelo qual os EUA não se desculparam ou se responsabilizaram. Houve muitas violações dos direitos humanos. E isso é exatamente sobre o que os Panteras Negras falavam há 50 anos, durante a Guerra do Vietnã, quando milhões de vietnamitas perderam suas vidas. Eles nunca representaram ameaça alguma ao governo ou à população americana. Há 50 anos era a Guerra Fria. Agora é a Guerra ao Terrorismo.
Qual o legado dos Panteras Negras?
Os Panteras Negras formavam a liderança do movimento Black Power, entre os anos 1960 e 1970. O movimento dos direitos civis foi um pouco anterior, entre as décadas de 1950 e 1960. Ambos foram importantes na luta de libertação dos negros americanos. Os afroamericanos merecem ser livres politicamente, economicamente e socialmente. E muito veio graças à política de não violência ligada ao reverendo Martin Luther King Jr. O principal legado é de coragem, força e crítica à legitimidade do sistema político americano, que não era justo ou correto. Mostraram que a brutalidade policial e a pobreza não podiam ser realidades para as comunidades afroamericanas. É um legado muito poderoso.
O que mudou na questão do racismo desde os anos 1960?
Infelizmente, o racismo segue bem vivo e perigoso no Brasil e nos EUA. Mesmo que tenha acontecido uma melhora social, a supremacia branca ainda está presente em todas as instituições. Você vê isso na reação policial. Mesmo que estejam integradas racialmente, as forças policiais seguem com a mentalidade enraizada de que jovens afroamericanos representam um perigo maior. E isso ocorre mesmo durante o governo de um presidente negro, com uma família afroamericana residindo na Casa Branca. Os índices sociais e econômicos apontam e confirmam que a desigualdade racial ainda é forte nos EUA. Infelizmente, o presidente Obama foi muito silencioso sobre esse tema. No sul dos EUA, há um órgão chamado Southern Poverty Law Center, uma organização de direitos civis do Alabama que identifica e mapeia grupos racistas e de ódio. Estão espalhados por todo o país. É muito triste que em 2016 a gente tenha grupos de supremacia racial, com nomes neonazistas, a Ku Klux Klan… E um problema ainda maior são as pessoas poderosas que simpatizam com essas ideias, como Donald Trump.
Acha que ele tem chances?
Há muita gente simpática a seu ponto de vista. E outras tantas se submetem a seu discurso do medo. E o medo funciona. São tempos muito perigosos nos EUA. Como alguém pode dizer o que ele diz sobre mexicanos, muçulmanos? É frustrante que a gente tenha que seguir lutando essas batalhas. Mas acho que Hillary será eleita. Contudo, se ela não o levar a sério, ele pode vencer.
E o que achou da candidatura do Bernie Sanders?
Foi um sopro de ar fresco em nossa política. Ele tem um vigor juvenil, apesar da idade. Sua plataforma era uma revolução, com ênfase no sistema de saúde e na educação, para tentar tirar o poder do 1% que controla a riqueza do país. Muita gente apoiou essa mensagem. Mas ele deu de cara com a máquina política dos Clinton. No entanto, motivou milhões de pessoas de uma forma que os outros não conseguiram.
FONTE:http://www.geledes.org.br/ollie-johnson-cientista-politico-o-racismo-segue-vivo-e-perigoso-no-brasil-e-nos-eua/

Valdisio Fernandes: A luta pela hegemonia uma perspectiva negra


A discussão presente hoje no movimento negro acerca da definição de um Projeto Político do Povo Negro para o Brasil tem como ponto de partida a longa experiência acumulada nas lutas de resistência desde os primeiros quilombos formados na segunda metade do século XVI, somada à produção teórica dos intelectuais e daqueles que se dedicaram a compreender e desvelar a história da participação do elemento negro na formação histórica e econômica do Brasil. A elaboração desse projeto assenta-se em novos paradigmas, rompendo com a visão eurocêntrica de transplantar modos de produção e modelos de sociedade para o Brasil, ainda presente em muitas leituras de nossa história.
Como contraponto à predominância de teorias eurocêntricas na elaboração de estratégias para o desenvolvimento da sociedade brasileira, alguns intelectuais e dirigentes negros têm proposto o afrocentrismo como linha de formulação de uma “nova teoria negra”. Creio que tal processo de gestação teórica, recusando-se a aceitar o desenvolvimento dialético e universal das ciências e do conhecimento, traz em seu âmago a autolimitação no curso da elaboração proposta.
A concepção da via estratégica para a emancipação do povo negro que apresento aqui, tem como principais referências as identidades ou aproximações que tenho com o pensamento político, entre outros autores, de Antonio Gramsci, Jacob Gorender e Florestan Fernandes no que concerne ao entendimento sobre os temas mencionados.
Compreendendo como base da interpretação da realidade brasileira o estudo das forças sociais produtivas na formação do país e do papel central entre estas, desempenhado pela “raça negra”, entendo que a teoria gramsciana corresponde às necessidades da luta do povo negro pela hegemonia cultural e política que possibilite a construção de uma sociedade multiétnica e igualitária.
Faço também uma avaliação sobre o movimento negro brasileiro, os avanços significativos na obtenção de direitos, de espaços políticos, institucionais. Constatando o crescente desenvolvimento da “consciência racial” e da mobilização dos negros e mestiços pela cidadania plena, enfatizo que esse processo tem acentuado a necessidade de maior definição ideológica dos diversos segmentos que compõem o movimento, como decorrência do seu próprio amadurecimento. A formulação de respostas sobre a relação que devemos estabelecer com o Estado, os governos e os partidos políticos também é aqui discutida.

Leia o PDF completo:



FONTE:http://www.geledes.org.br/valdisio-fernandes-luta-pela-hegemonia-uma-perspectiva-negra/

Hoje na História, há 40 anos, no dia 16 de junho de 1976 acontecia o “Levante de Soweto”


Há 40 anos, no dia 16 de junho de 1976, a África do Sul assistiu perplexa a um massacre: centenas de jovens – a maioria negra – foram mortos no episódio conhecido como “Levante de Soweto”, hoje símbolo da luta contra o racismo no mundo.
 Na época, vigorava no país o regime de apartheid: uma minora branca governava, segregando a população negra. Essa política racial durou mais de quatro décadas, de 1948 até 1994, quando Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul.
Mas voltemos a 1976. As escolas para os negros estavam superlotadas e os professores eram desqualificados. Além disso, era necessário pagar pelos estudos, o que contrastava com a educação destinada à população branca, gratuita e de qualidade.
Para piorar, o governo sul-africano proibiu os alunos do bairro de Soweto, localizado no subúrbio de Joanesburgo, de estudarem em sua língua “bantu”. Obrigatoriamente, deveria ser ensinado nas escolas o africâner – língua-símbolo do apartheid – e o inglês. Línguas nativas, portanto, estavam vetadas. Isso foi a gota d’água.
Cerca de 20 mil estudantes sul-africanos se reuniram para protestar contra a medida. A manifestação começou calma, porém as tropas de segurança entraram em choque com os manifestantes e um estudante de 13 anos, Hector Petersen, foi assassinado pela polícia.
Os estudantes responderam atirando pedras. A polícia abriu fogo e matou mais 22 estudantes. Nos dias seguintes, muitos sul-africanos ficaram indignados com a truculência do regime e saíram às ruas, protestando contra as mortes. Até o final de 1976, o saldo era catastrófico: 600 manifestantes mortos e milhares de feridos. Em 1991, o 16 de junho passou a ser celebrado como o Dia da Criança Africana.


FONTE:http://www.geledes.org.br/hoje-na-historia-ha-40-anos-no-dia-16-de-junho-de-1976-acontecia-o-levante-de-soweto/
 

Carolinas - Coletivo de Mulheres Negras


PurpleRose_p Como surgiu o Coletivo Carolinas
Num evento nacional da Faculdade de Educação realizado no início do ano de 2015 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, uma baiana, participante do evento, conversando com Shelida Dias, militante do coletivo, ficou impressionada com os argumentos da mesma numa oportunidade que puderam conversar; Shelida Dias, Juliana Carvalho e Pamela Machado (fundadoras do coletivo), sempre conversavam informalmente sobre feminismo e como muitas das pautas não contemplavam suas vivencia na vida, na universidade e nos espaços feminista. No decorrer da conversa, a baiana perguntou se ela era de algum coletivo feminista negro, chocada com a negação de sua indagação perguntou ainda se existia algum coletivo feminista negro na faculdade e ficou mais chocada ainda com a resposta de que Shelida sequer obteve o conhecimento ou ouvido falar de um dia ter havido um coletivo feminista nesse recoste na Faculdade de Educação, houve então o choque geral, e para isso necessitou de que alguém fora do cotidiano da universidade destacasse toda essa situação. Foi aí que a semente foi plantada e tudo começou.
As entidades universitárias estudantis que fizeram parte da criação desse coletivo foram a Pasta de Combate às Opressões do Diretório Central dos Estudantes (DCE) UERJ gestão 1 Por Todxs – O novo pede passagem e Centro Acadêmico Paulo Freire da Faculdade de Educação gestão Nada Será Como Antes!
Obs.: Não é um coletivo que representa todo o movimento feminista negro da UERJ, pois atualmente existem outros coletivos, mas intensificamos ser da UERJ para o entendimento de ser um coletivo atualmente universitário de estudantes da universidade citada.
butterfly Principais bandeiras de atuação do coletivo
Como dito anteriormente, em muitos espaços feministas, muitas das pautas próprias às questões raciais não são contemplavam e nem dadas a real e devida atenção. Nós, mulheres negras lutamos pelo reconhecimento da igualdade enquanto mulheres e da especificidade enquanto negras.
O coletivo se fundamenta com as bandeiras gerais do movimento negro e feminismo negro, como a implementação e formulação de políticas para o bem viver da mulher, contra a violência doméstica e enfrentamento ao feminicidio e ao genocídio da juventude negra, luta pela aplicação de leis e projetos que visão ampliar a produção de materiais próprios da cultura afro-brasileira, proporcionando às escolas e outras instituições educacionais a intensificar a aplicações de leis como a Lei 10.639 e a formação de profissionais qualificados na área da educação para execução desses direitos, mas, mais especificamente, as principais bandeiras do Coletivo Carolinas são a busca pela autoconsciência da identidade negra como filhas e filhos da diáspora, a valorização da beleza de seus fenótipos negroides e conquista e permanência de/nos espaços através do empoderamento.
misc_icon___003_rose_purple_by_bakashiyou-d83okc2 Empoderamento das mulheres negras
O Coletivo entende que o reconhecimento como afrodescendentes filhas da diáspora é o primeiro passo para o empoderamento. Muitas das nossas meninas nem negras se consideram, e isso não quer dizer ter o cabelo alisado ou não. Nos desprendendo de como a sociedade insiste em nos ver e entendendo de onde viemos, nos impulsionamos ao empoderamento. Empoderando e orgulhando-se do seu cabelo crespo, empoderando-se e empinando seu nariz largo, empoderando-se e ocupando espaços de decisões, empoderando-se e alcançando além do que o pré-determinismo branco pode sequer imaginar. Isso sim é empoderamento, e sempre vamos lutar por isso.
FONTE:https://somoscarolinas.wordpress.com/sobre/

The Game dá aula sobre a costa oeste em “Death Row Chain”


Como anunciado anteriormente, The Game está prestes a lançar o disco Streets of Compton,que sairá como uma espécie de trilha sonora para a sua série de documentários de mesmo título.
Na faixa que foi divulgada ontem, Death Row Chain, o rapper fala de inúmeros assuntos e dá uma aula sobre a costa oeste, citando inúmeros acontecimentos da época, principalmente os que envolveram a infame gravadora. Em uma das linhas, Game dá como certo o nome do homem que atirou em Tupac:
2Pac got smoked by Baby Lane
And both of them niggas dead over a fucking death row chain”
Streets of Compton sai nessa sexta-feia, dia 17 de Junho.
FONTE:https://raplogia.com/2016/06/15/the-game-da-aula-sobre-a-costa-oeste-em-death-row-chain/

Conheça o som do MC Sodré


Com novo clipe lançado no final de maio, A Prole do Caos tem produção de Caue The Munir Music. A faixa leva o mesmo nome da EP de estreia do rapper, que foi lançado no fim do ano passado. Nomes como Bruno Marcus, da Tomba Records, e Luiz Café, estão envolvidos no projeto.


Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, Sodré começou a ter um maior envolvimento com o rap em 2012, quando formou com amigos o grupo PJ5, gravando suas primeiras demos. Em 2014, lançou o single BRASIL, dando início à carreira solo. Na sequência, gravou a música O MOTIVO, com participação de Dj Machintal e produção de Felipe Castro.
Suas letras se destacam pela maturidade e pelo senso crítico apurado, trazendo mensagens contundentes que incitam a chama da ação. A estética do rapper é motivadora e marcada pelo despertar de consciência.
FONTE:https://raplogia.com/2016/06/13/conheca-o-som-do-mc-sodre/

Para Flying Lotus, os produtores sofrem nas mãos de rappers aproveitadores


Um dos produtores mais apreciados no cenário pela sua qualidade de trabalho e vasta musicalidade, Flying Lotus desabafou em seu Twitter sobre uma realidade vivenciada por muitos produtores do cenário.
O produtor californiano dono de grandes discos como CosmogrammaUntil the Quiet Comes eYou’re Dead! não está satisfeito com o tratamento dos rappers que usam os produtores para ganhar dinheiro. Leia a declaração:

“É muito importante saber o seu valor. Para os produtores: quando rappers os convidam para o estúdio e os pedem beats no local. Diga para eles pagar a ida até lá, foda-se. Os rappers acham que estão nos fazendo favores ao fechar com a gente. Muitos artistas de Rap são artistas aproveitadores. Tomam vantagem de habilidades achando que é bom para nós. Muito das pessoas atrás dos sons estão quebrados. Não tem razão para os manos não estarem ganhando bem no momento. Se você me perguntar, é Metro Boomin’ feat. Future. Ele faz aquela porra toda.”
E essa realidade? Também afeta os produtores do Brasil? Deixe a sua opinião nos comentários!
FONTE:https://raplogia.com/2016/06/15/para-flying-lotus-os-produtores-sofrem-nas-maos-de-rappers-aproveitadores/