quinta-feira, 6 de março de 2014

MV BILL TEM QUE SER MONSTRÃO.




O PRINCÍPIO DA ISONOMIA NÃO EXISTE NO BRASIL.

MARCELO SILLES
Assistente Social com Bacharel da Universidade Federal Fluminense-UFF/RJ & Rapper.

             O medo social acuminado a injustiça e a impunidade, são os combustíveis que inflamam o discurso de ódio que vai se sacralizando, legitimando por uma sociedade dita do “bem” que, se sentindo acuada, exerce o direito de executar ferozmente a justiça com as próprias mãos por não obter respostas satisfatórias do poder público em prover a sua segurança em vida garantida pelo Direito Constitucional.

                A culpabilização do indivíduo sem meio termos pelos sacro-santos do “bem”, segue regida pela ordem democrática sob as bênçãos do ordem e progresso, cumpra-se a execução sumária, sob a régide benção do conservadorismo tradicionalista, dos bandidos pobres e santifica-se sobre o altar da pátria os bandidos ricos, que roubam e matam utilizando somente uma caneta. Esse sentimento de revolta, retoricamente uma festa macabra, torna-se contraditória ao esbarrar-se numa única frase: bandido bom é bandido morto. Pois aí está à contradição que tipo de bandido? O bandido pobre noiado que rouba celulares, 50, 100, 200 reais, uma bolsa ou o bandido que rouba milhões, bilhões apenas com uma caneta?

                Para essa sociedade dita do “bem” mantida por esses bandidos ricos e corruptos, bandido bom é bandido morto se o bandido for pobre, as conseqüências são a evidência o ato cometido, a causa, que deveria ser questionada, é excluída desse julgamento bárbaro e macabro. A estirpe bandidagem aceita pela dita sociedade do “bem” é a corrupta responsável por todos os males ininterrupteis que saqueiam a humanidade. O bandido mal, o monstro que deve ser acoitado em praça pública no século XXI, de acordo com os cidadãos do “bem”, é o bandido pobre e preto. Esses asseclas desumanos, segundos as pessoas de “bem”, devem ser expurgados do convívio social.

                O individualismo se sobrepõe a particularidade do organismo social, do nascituro a revogação covarde da isonomia proposta pela Carta Magna. Mais uma vez o público alvo são as favelas e periferias, onde residem esmagadoramente os tais “bandidos” pobres e pretos. Desassistidos de seus princípios isonômicos, reféns dos aparelhos repressores do Estado racista, excludente e segregacionista esses cidadãos se encontram sem voz.


                A estúpida comparação de querer é poder, discurso meritocrata, é a base central para legitimar a barbárie proposta pelas pessoas de “bem”. Mas bem todos sabem que querer não é poder. E viva a barbárie que está sendo ressuscitada e proclamada pelas pessoas ditas do “bem”, viva o ódio sacralizado, legitimado pelas tais pessoas ditas do “bem”. E diga-mos não a uma sociedade justa sem consciência coletiva. Que viva o individualismo do eu quero eu posso.