terça-feira, 14 de maio de 2013

DIZZY- POR AÍ (REMIX)




ALMA AFRICANA, NÃO VIVO EM ÁFRICA, MAS A ÁFRICA VIVE EM MIM.





Boa tarde cidadão de cor pode me dá uma informação? Essa pergunta foi me dirigida no domingo 12 de maio de 2013 na Praça Governador Portela em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, por um senhor aparentemente de avançada idade e com um perfil cultural bem coloquial ruralista para o nosso tempo. Inocentemente talvez ingênuo não soube formular sua pergunta em busca de uma informação de forma correta.  Educadamente o informei, não o questionei sobre a sua conduta mediante a mim, já que o senhor havia sido educado e notadamente reparei a sua postura tanto corporal quanto em seus gestos, simples e de modo humilde destituído de certo saber acadêmico que a sua face mostrava o quão à vida lhe havia sido dura.
O que sempre me chama a atenção é simplesmente a dificuldade tamanha de pessoas se dirigirem aos negros e os chamá-los de negros. Ou simplesmente não diga nada, simplesmente diga senhor, senhora esse lance de cidadão de cor chega uma hora que é um saco.  Bom somos a nação que aboliu a escravidão tardiamente, brasileiro sempre é o último em tudo veja a industrialização, a abolição aconteceu à apenas 125 anos então os pretos escravizados foram libertos há apenas uns anos atrás, portanto resquícios da escravidão ainda são recentes. Bem sabemos que na verdade o final exato da escravização se deu por volta de 1930, segundo alguns historiadores.
Muitos negros pode se afirmar a maioria, sucumbiram a subserviência e aos modos de vida branco, foi o germinar para um ambiente fértil para a implantação do projeto de miscigenação e destruição da raça negra. Certo nada de novo. Bom o que sempre é novo é essa classificação de “cidadão de cor”, sendo que cor tem a sua denominação preta, amarela, azul, vermelha etc. fica muito vaga e ambígua essa classificação a indivíduos negros de cidadão de “cor”.
Analiso da seguinte forma, muitos negros não atingiram o seu ápice do devir negro, ou seja, negaram e continuam negando as suas origens, suas historicidades. Só vem ao caso por conivência, resumindo para aparecer, o famoso negro é lindo! Ah como eu me sinto como Olinto, um afro-brasileiro com total alma Africana um vício africano que pulsa em mim os ancestrais, a pretitude, a negritude

“Zora e eu estávamos fisgados, e não o sabíamos...
Estávamos arpoados, presos, marcados para o
resto da vida. Corria o nosso sangue o vício da
África de que ninguém se livra mais.”
OLINTO, Antonio. In: Brasileiros na África. São Paulo: Ed. GRD/ Inst. Nac. do Livro, 1980, pg. 229.

Esse rompimento de muitos negros com a diáspora africana, exercido através de fatores ligados a colonização que forçaram a negação da história africana como também o clareamento, distorce completamente a realidade cotidiana dos pretos pobres brasileiros, pois a cultura africana na diáspora é absorvida e reinventada de forma que possa a ser comercializada com conteúdos padronizados onde muita das vezes seus reinventores são brancos que se dizem doutores na cultura africana.
Ontem, data de 13 de maio de 2013, assisti uma cena, uma aberração transcorrida na novela das 19h da rede esgoto de televisão que se chama Sangue Bom. Uma atriz que tem filhos adotados, como assisti por acidente, portanto não assisto novelas e por isso não sei a quantidade de filhos adotados, apresentou o seu filho branco-africano adotado. Até aí normal o garoto podia ser da África de Sul e de origem inglesa. Mas pelo que pude notar o garoto foi apresentado como sendo negro, e coincidentemente estava com uma blusa escrita 100% negro. Bom nada contra é uma simples camiseta. Mas se fosse ao contrário se eu saísse na rua com uma blusa escrita 100% branco, será que a reação de aceitação seria a mesma?
Estou tentando dizer é que, se um branco pega algo dos pretos como sendo seu tanto o branco quanto o negro acham normal. Mas quando é ao contrário, até mesmo o negro critica a atitude do negro que está usando uma camisa escrita 100% branco. Inversão e destruição de valores é o que permiti chamar um negro de cidadão de “cor” porque simplesmente um branco está usando uma blusa 100% negro de cor negra. Mas o branco não é cor, portanto o negro não pode usar uma blusa 100% branco.
Mas acaba-se percebendo que o dizer 100% negro é muito mais bonito soa muito mais lindo do que 100% branco. É como deixar um afrobeijo o toque é mais doce do que whitekiss que uma garota branca enviou para mim uma vez. Confesso que estranhei e achei bem esquisito. Tudo relacionado a nossa Mãe África suas músicas, culturas, histórias é mágico e lindo. Um dia irmãos e irmãs acordarão dessa hipnose clara eurocêntrica e enxergarão, aceitarão suas origens e histórias. Não vivo em África, mas a África vive em mim.

Rapper Marcelo Silles