domingo, 17 de novembro de 2013

Para que serve o 20 de novembro?


Para o movimento negro e ativistas é a data de celebração das lutas e conquistas realizadas ao longo da história.
Para os arrivistas é inócuo, acreditam que não há o que celebrar que a luta é sempre insuficiente e que o racismo não cede, vivem num "mundo à parte", o de sua própria indignação e falta de perspectivas.

Há também, sabemos, os festeiros, aqueles que celebram apenas a alegria de estarem vivos, alienam-se na festa e fazem a sua revolução no ato do corpo em movimento, na participação ritual no espaço da liturgia festeira.

Como um todo o povo negro pouco sabe do 20 de novembro, certamente, por sua posição subalterna diante da vida não há muito, o que comemorar.

Apesar de 10 anos da lei do ensino afro nas escolas comemorados este ano, as maioria da crianças e jovens negros não tem ideia de que seus heróis não são os heróis da sua subordinação social e psicológica, da sua falta de auto estima, da falta de heróis com a sua cara preta.

Junto a isso, no mundo atual, a onipresença da mídia na vida cotidiana reforça a invisibilidade, o estereótipo e a distorção histórica e social dos fatos, da cultura negra e do sentido da vida, transformando tudo num apêndice do espetáculo consumista.

Bestializada, a "outra" parte da sociedade não se vê representada nessa história como se a história do negro fosse um excesso ou que acredita que a cultura ou o corpo negro fossem o bastante para seu prazer.

Para que serve um dia de feriado da Consciência Negra"?

Vamos à praia?


FONTE:http://www.geledes.org.br/em-debate/jose-ricardo-d-almeida/21979-para-que-serve-o-20-de-novembro


"Racistas precisam morrer", diz Oprah em entrevista a BBC

 

Uma das mulheres mais influentes do mundo segundo a revista Forbes, a apresentadora Oprah Winfrey não mediu palavras ao falar sobre racismo em entrevista à emissora britânica BBC nesta sexta-feira.

Uma das mulheres mais influentes do mundo segundo a revista Forbes, a apresentadora Oprah Winfrey não mediu palavras ao falar sobre racismo em entrevista à emissora britânica BBC nesta sexta-feira (15). "Ainda há gerações de pessoas, pessoas mais velhas, que nasceram e foram criadas e marinadas nisso, nesse preconceito e racismo, e elas simplesmente precisam morrer [para que a sociedade mude]", disse.

Espantado com a franqueza da resposta, o entrevistador Will Gompertz questionou se Oprah achava se o presidente Barack Obama já tinha sido vítima de racismo.

"Isso provavemente passou pela minha cabeça mais do que pela sua", respondeu. "Acho que há um nível de desrespeito enorme que ocorre naquele gabinete. Já deve ocorrer naturalmente em alguns casos, e tavez muito mais por ele ser afro-americano. Não há questão a respeito disso, e é o tipo de coisa sobre a qual todo mundo pensa, mas ninguém fala", conclui.

A entrevista teve como assunto principal o filme O Mordomo, do diretor Lee Daniels, que tem Oprah no elenco. O longa-metragem trata da história de um mordomo afro-americano que trabalhou na Casa Branca, nos EUA, acompanhando os mandatos de diversos presidentes norte-americanos.

FONTE:http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-mundo/21975-racistas-precisam-morrer-diz-oprah-em-entrevista-a-bbc


Racismo e as lógicas do desenvolvimento capitalista, por José Saramago


Tornou-se um mantra no discurso governamental a busca pelo desenvolvimento. José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, em palestra proferida no Fórum Social Mundial de 2005, disse que se discute tudo mas não se discute “o que é democracia”. Poder-se-ia fazer o mesmo agora com o mantra do desenvolvimento: “O que é desenvolvimento? Apenas crescimento do PIB?”.

O processo das conferências de políticas de igualdade racial, que deverá ser concluído com a realização da Conferência Nacional em novembro, em Brasília, teve como tema central “Democracia e Desenvolvimento sem racismo”. Como espaço institucional, onde se encontram representações do movimento social e do governo para a elaboração, avaliação e monitoramento de políticas públicas, é o tema possível. Mas, para além dele, é necessário refletir sobre o significado de desenvolvimento e democracia.

Uma das características mais marcantes do sistema capitalista, já estudado pelo próprio Marx e seguidores, é o fato de que a formação social capitalista engloba modos de produção distintos, ainda que um deles seja o hegemônico. Com a globalização do capitalismo de forma mais intensa nos últimos anos, essa articulação torna-se mais evidente. Assim, a produção de celulares de alta tecnologia engloba desde pesados investimentos em desenvolvimento tecnológico em determinados centros até o emprego de mão de obra altamente especializada e intelectualizada como a exploração de trabalho escravo de crianças para extração do minério tântalo (matéria-prima necessária para a produção das telas de cristal líquido) em países africanos. Desde o cientista mais renomado empregado para o desenvolvimento das tecnologias mais sofisticadas em algum centro universitário de ponta na Europa até a criança escravizada e submetida a condições degradantes de vida em algum lugar da África estão inseridos na mesma máquina produtiva do capitalismo.

É claro que ao primeiro olhar não se verá nenhuma semelhança entre o intelectual empregado por uma transnacional e a criança africana submetida ao trabalho escravo. Enquanto o primeiro enxerga, na sua atividade, a sua razão de viver (e, por isso, investe na sua formação e pode ter até um prazer no trabalho que realiza), a criança escravizada vê no que faz uma opção de sobrevivência (e, por isso, sonha com outra vida). Jamais ambos se verão como produtores de mais-valia para a empresa transnacional para a qual trabalham direta ou indiretamente.

Isso porque existe uma divisão dos recursos auferidos pelo capital para os diferentes tipos de trabalho. A parte mais considerável dos investimentos é no desenvolvimento tecnológico, razão pela qual os trabalhadores deste segmento vivem em um ambiente de maior sofisticação e, portanto, em condições melhores de trabalho e de vivência. E à medida que o modo de produção capitalista exige mais e mais investimentos na inovação, aliado à tendência a concentração e monopolização do capital, há uma redução dos nichos de alta tecnologia e uma concentração de recursos nestes. Esse é o motivo pelo qual o capitalismo, na sua atual fase, demonstra uma brutal concentração de riquezas no mundo todo e internamente nos países. As periferias são mundiais e internas em cada país.

O racismo é um dos elementos legitimadores desta diferenciação. Constrói fronteiras. Aparece como um argumento de fácil assimilação, para que o trabalhador intelectual do setor de desenvolvimento tecnológico da empresa de celulares sofisticados se veja como distinto da criança escravizada que produz a matéria-prima. Aquela mesma cujo perfil o fará se assustar e se proteger caso cruze com uma na rua. E esse mesmo trabalhador intelectual admirará o empresário que explora ambos.

Voltando ao tema da conferência “desenvolvimento e democracia sem racismo”, vem a pergunta – Qual desenvolvimento? A professora Eda Tassara, colega minha do Instituto de Psicologia, disse em uma banca da qual participei que “a lógica da máquina que vivemos coloca para nós duas possibilidades – ou consideramos esta lógica incompleta e, portanto, é preciso completá-la; ou a consideramos perversa e atuamos para sair dela”.

Qual desenvolvimento? É possível pensarmos em uma sociabilidade livre de racismos dentro da lógica desta máquina, apenas “corrigindo os seus erros”, ou a sua lógica é justamente sustentada pelo racismo estrutural, que se manifesta em diversos campos? Evidente que não se espera que um debate como esse flua em um espaço institucional, limitado por sua própria natureza, mas que aconteça na ambiência dos movimentos sociais de combate ao racismo, para que se tenha uma perspectiva autônoma nas relações com o Estado.

FONTE:http://www.geledes.org.br/em-debate/21973-racismo-e-as-logicas-do-desenvolvimento-capitalista