segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O DISCURSO POPULISTA QUE NUNCA MUDA

MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF CAMPOS/RJ

Dai ao povo pão e circo. Uma das mais arcaicas das falácias desde o surgimento da humanidade vai atravessando o milênio e absolutamente em nada se renova. O acalento caloroso do abraço confraterno e saudoso salienta com convicção os artistas que fazem parte desse picadeiro armado no centro das atenções da nossa sociedade. O povo se iludi, se emociona e aplaude. Acolhem os abraços, beijos, apertos de mãos de companheiros e companheiras de lutas da labuta diária, como se fossem compartilhadores dos mesmos suores, calos nas mãos e pés rachados.

Passivos e pacíficos é assim o povo e como o povo deve ser. Amável, receptivo, obediente, festeiro, religioso sem se intrometer em assuntos políticos de interesses coletivos, o povo tem que ser individualista, em busca da felicidade pra si e para os seus, somente os seus. Diante do temor de uma revolta do povo através das manifestações de “vândalos”, “bárbaros” viu-se apenas tremer um epicentro de escala de menos 1,0, um abalo sísmico tímido que, apesar de ter feito tremer muitas esferas, acabou-se apenas numa mini-guerra urbana classista-mediana. Nada da cara do povo no que pude observar.

Nada da cara do seu Zé, da Dnª Maria, do seu João, da dona Josefa entre outros que são o braço do povo, aqueles que vivem espremidos nas sardinhas enlatadas nos grandes centros urbanos das capitais e interior, os das lidas das roças, dos interiores dos sertões e rincões, sim são milhares nesse mundão de meu Brasil brasileiro. Está chegando a época desses cidadãos serem descobertos, saírem do anonimato para estarem em evidência, serem os artistas e atrações principais do grande espetáculo animalesco que se chama eleição.

Os assédios já iniciaram as figuras ilustres que gabam nessa época de dizerem que são humildes, honestos e tem compromissos com o povo sofredor, trabalhador e batalhador. Que com graças e guapos ganham o pão com suor da labuta e da lida cotidiana. Eméritos destilam sutilmente os seus venenos ardilosos românticos e suavemente convincentes que fazem Joãos e Marias de todo esse meu Brasil os glorificarem, os santificarem.

Os populistas estão aí, prontos para agraciar e agradar com migalhas aqueles humildes dos quais esses lobos na pele de cordeiro não têm pena alguma de seus sofrimentos e demandas. Populistas que não têm respeito algum pela vida pobre alheia seguem a risca a doutrina maquiavélica para se darem bem com o julgo do poder.  Mas um dia hão de cair, escorregar na própria lama que espalharam e hão de implorar de joelhos pelo povo e nesse dia o povo sim fará sismólogos políticos se aterrorizarem. E sim, nesse dia o gigante irá acordar de verdade e como um juiz condenará a perpetuidade toda a leviandade, separará o joio do trigo alavancará a verdade e subjugará a injustiça. E sim nesse dia o real povo estará nas ruas.


Evangélicos querem Acarajé e Capoeira de Cristo!


Já repararam que os mesmos evangélicos que nos atacam que chamam nossas tradições e culturas de satanismo, hoje estão tentando a todo custo usa-las?
Veja que hoje eles usam rosas, águas sagradas, velas e muito mais além de querer descaracterizar os Afoxés, Samba, o Acarajé e a Capoeira nesta onda gospel que chega para precarizar nossas tradições.
Os Cristãos sempre foram às espadas que cortaram nossas cabeças e hoje não é diferente e agora nosso maior problema está na bancada evangélica que é a maior de todas e a mais poderosa até mesmo que a presidenta, portanto precisamos acordar e termos olhos políticos para nossas questões.
E para isso precisamos entender o básico, o que é política de esquerda e política de direita, para que não sejamos enganados cada vez mais e para salientar a bancada evangélica conversa com a política de direita e precisamos mudar nossos atos e transformar nosso futuro, porque devemos ter representantes e ocupar espaços importantes para nossa religião, mas não para fazer que nem os evangélicos, mas para pensar- mos em fazer algo que ajude o país e que garanta nossos direitos. E ano que vem quando chegar às eleições analisaremos os políticos e escolheremos partidos que estejam junto com o povo.
Segue o vídeo assista e comente na página o que você prefere se é política de Direita ou de Esquerda.
Por: Oluandeji



Leonardo Boff - Ubuntu: O significado de Mandela para o futuro ameaçado da humanidade


Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca mais sair de lá porque se transformou num arquétipo universal, do injustiçado que não guardou rancor, que soube perdoar, reconciliar pólos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da Africa do Sul em 1994, se propos e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça do apartheid que desumanizava as grandes maiorias negras do pais condenando-as a não-pessoas, numa sociedade única, unida, sem discriminações, democrática e livre.


E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é esquecer. As chagas estão ai, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das amarras do passado, é virar a página e começar  a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. A reconciliação só é possível e real quando há a admissão completa dos crimes  por parte de seus autores e o pleno conhecimento dos atos por parte das vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral diante de toda a sociedade.



Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceio alheio à nossa cultura individualista: o ubuntu que quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de dilaceração e de conflitos sem fim.



Deverá figurar nos manuais escolares de todo mundo esta afirmação humaníssima de Mandela:”Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança do ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm oportunidadades iguais. É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer”.



Por que a vida e a saga de Mandela funda uma esperança no futuro da humanidade e de nossa civilização? Porque chegamos ao núcleo central de uma conjunção de crises que pode ameaçar o nosso futuro como espécie humana. Estamos em plena sexta grande extinção em massa. Cosmólogos (Brian Swimm) e biólogos (Edward Wilson) nos advertem que, a correrem as coisas como estão, chegaremos por volta do ano 2030 à culminância desse processo  devastador. Isso quer dizer que a crença persistente no mundo inteiro, também no Brasil, de que o crescimento econômico material nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e espiritual é uma ilusão. Estamos vivendo tempos de barbárie e  sem esperança.



Cito o o insuspeito Samuel P. Huntington, antigo assessor do Pentágono e um analista perspicaz do processo de globalização no término de seu O choque de civilizações: “A lei e a ordem são o primeiro pré-requisito da civilização; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilização parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbárie, gerando a imagem de um fenômeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade”(1997:409-410).



Acrescento a opinião do conhecido filósofo e cientista político Norberto Bobbio que como Mandela acreditava nos direitos humanos e na democracia como valores para equacionar o problema da violência entre  os Estados e para uma convivência pacífica. Em sua última entrevista declarou:”não saberia dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas certezas caem e somente um enorme ponto de interrogação agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou o da concórdia entre os seres humanos? Não tenho condições de responder a esta indagação”.



Face a estes cenários sombrios Mandela responderia seguramente, fundado em sua experiência política: sim, é possível que o ser humano se reconcilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimesão de sapiens  à aquela de demens e inaugure uma nova forma de estar  juntos na mesma Casa.



Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu que coordenou o processo de Verdade e Reconciliação:“Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e recebido perdão e tendo feito  correções, viremos agora a página — não para esquecer esse passado, mas para não deixar que nos aprisione para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos atributos, mas porque são pessoas de valor infinito, criadas à imagem de Deus”.



Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos se sem discriminações pusermos em prática de fato o Ubuntu.

Leonardo Boff escreveu Cuidar da Terra, proteger a vida: como evitar o fim do mundo, Record, Rio 2010.