quinta-feira, 2 de maio de 2013

IGUALDADE SOCIAL UM MITO NO VALE DO ITABAPOANA



O atual contexto a qual vivemos, vivenciamos um aspecto aparentemente conciliador e harmônico, como previu e acentuou Gilberto Freire em “Casa grande e senzala”, a tal “democracia racial” mitológica perdurou baseada numa construção histórica e cultural de subserviência, docilidade, obediência, caridade e troca de favores. Diante desses elementos que compõe os mecanismos sutis de segregação, temos uma relação de raças concorrendo à conformidade e a aceitação, configurando uma atenuante pacificidade diante de uma sociedade conflituosa a qual vive a base do medo, medo do outro. O relacionamento racial, pregado diante a argumentação de Gilberto Freire sobre uma nação mestiça, se torna impactante nos territórios periféricos, muitas das vezes admitidos racionalmente por concordância a uma sociedade excludente e exigente com perfis padronais impostos e pré-definidos.  O fator racismo e desigualdade, então são camuflados.
            Mas esse projeto de manipulação, não apaga as cicatrizes a qual os negros sempre trouxeram: marginalizados, excluídos, segregados. Esse processo de branqueamento aplicado no final do século XIX e início do século XX, através de políticas de cunho segregacionistas apesar de terem sido veladas, e ainda continuam sendo veladas, através da demonização de suas culturas, religiosidades, identidades causou um efeito fulminante indo de encontro a ideologia de desunir para conquistar e dominar. FILHO em (A trajetória do negro na literatura brasileira. P. 1; 2004; editora Scielo) reforça esse argumento onde o mesmo cita, “envolvem... procedimentos que... indiciam ideologias, atitudes e estereótipos da estética branca dominante”. Não cabe aqui justificar e nem vitimizar, num país onde a miscigenação é o fator fundamental para a manutenção de uma minoria no poder. Cabe sim relacionar uma condição social onde uma maioria de pele escura está submetida a todo desprovimento de sorte, faz-se assim fomentar uma discussão num âmbito mais amplo que foge os padrões meritocráticos a qual o sistema neoliberal justifica e condiciona a ações que impelem há um tratamento diferencial ao grupo classificado teoricamente mais abastardo.

            Após a abolição da escravatura, todo tipo de sorte é lançado ao povo negro, gerando assim, uma massa de esfarrapados sem noção para onde ir, o que fazer. Muitos negros acabam ficando nas senzalas, pois os mesmos só sabiam exercer ofícios na lavoura, no plantio e serviços do lar. Os que se arriscam a irem para as cidades encontram um ambiente hostil, de repressão, racismo, exclusão a qual os empurram para os cortiços, as encostas e morros surgindo assim as primeiras favelas. Afirmo aqui, que a desigualdade social no Brasil tem cor, foi se construindo historicamente, onde negros foram obrigados a aceitar qualquer limitação de possibilidade, numa sociedade hostil e carente de todo afeto humano. Afirmo também, que uma discussão onde muitos autores como CHADAREVIAN (Critica marxista. Ed. Revan. P.74.2007) em seu artigo defende que deva se separar raça de nação, ser vago tal argumento visto que, os negros oriundos da África, vindos para essa terra a força, diretamente fincaram raízes nessa terra, para tal efeito são nacionalistas como qualquer outro. Portanto, no Brasil separar raça de nação, nos leva ao discurso reacionário que reforça a miscigenação enfraquecendo assim o atual momento, onde se debate a questão cor e raça como um fator determinante da exclusão e desigualdade social.
            ALMEIDA (Critica marxista. Ed. Revan. P.98.2007), em seu artigo define essa desigualdade e diferença em duas maneiras: “primeiro porque os negros têm educação sistematicamente inferior, o que os coloca em posição desvantajosa no mercado de trabalho, e segundo, porque mesmo quando se comparam trabalhadores negros e brancos que compartilham o mesmo nível educacional, os negros recebem menor remuneração (discriminação salarial pura)”.  Na atual conjuntura contemporânea é fácil identificar essa realidade, apesar de não admitida, mas é sim compelida e notadamente aplicada com eficácia. Outrora diante de argumentos combativos, faz-se necessário expandir holisticamente o embate acadêmico para além dos muros do doutorado e da ciência ortodoxa.
            SANTOS apud SILVA “cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor, consumidor, depende de sua localização no território”. Tanto em Bom Jesus do Norte-ES como em Bom Jesus do Itabapoana-ES, temos uma relação racial baseada na harmoniosidade e conformidade. Conformidade por parte dos negros em não aceitar a estética histórica de sua condição enquanto negro na construção da sociedade brasileira. Observa-se uma exploração velada em conluio há uma segregação social, econômica e territorial legitimada por uma cultura enraizada de caridade, troca de favores e subserviência que é claramente visível nas duas sociedades bom-jesuenses. A desigualdade social a qual a maioria dos negros é submetida é gritante nos dois municípios. Em Bom Jesus do Norte-ES, pode se perceber essa realidade nos bairro Silvana e arredores. Em Bom Jesus do Itabapoana-RJ é perceptível nos bairros Santa Teresinha, Barro Branco, Santa Rosa, Morro do Querosene, Asa Branca, Nova Bom Jesus, Usina Santa Isabel e Pimentel Marques, onde a maioria dos seus habitantes em condições de desigualdade são negros. Uma abordagem maleável vem a tona quando se considera a questão da regionalidade, onde os dois municípios por questões geográficas e culturais não se enquadram numa discussão que se envolva um padrão mais amplo a nível nacional. Por mais que adentremos e abordemos as questões de particularidades, não nos foge teorizar a questão racial como ponto de referência nacional, pois os negros da região também estão fadados e são submetidos ao mesmo processo de exclusão social aplicável de uma forma polarizada. Por serem municípios pequenos, onde a pecuária, o laticínio são as principais fontes de economia, a desigualdade social é vista muita das vezes como um tabu, pela construção histórico-cultural comentada acima nesse texto.
            Por fim, a desigualdade social em nossa região não é algo empírico e nem fantasioso, é real e tem cor. Tratar os desiguais como iguais perpetua a desigualdade isso é fato e em concordância com ARCARY (Critica marxista. Ed. Revan. P.106.2007), numa sociedade subjetiva igualdade sem democracia total, sem cidadania e sem total garantia de direitos, é utopia.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ARCARY, Valério. Por quê as cotas são uma proposta mais igualitarista que a equidade meritocrática?. Crítica marxista. Ed. Revan.p. 106;2007.
ALMEIDA, Mauro William Barbosa de. Lutas sociais, desigualdade social e discriminação racial. Crítica marxista. Ed. Revan. p. 98; 2007.
CHADAREVIAN, Pedro Caldas. Os precursores da interpretação marxista do problema racial. Crítica marxista. Ed. Revan. p. 74; 2007.
FILHO, Domício Proença. A trajetória do negro na literatura brasileira. P. 1; 2004; editora Scielo
SILVA, Tarcia Regina da. A construção da identidade negra em territórios de maioria afrodescendente. Revista África e Africanidade – ano 3, n.11. p.7; 2010. WWW.africaeafricanidades.com

POR
Marcelo Silles (Rapper Silles)

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