segunda-feira, 23 de junho de 2014

Aos 15 anos, garota 'invade' o mundo do rap em Piracicaba e almeja carreira

Jovem foi a primeira mulher a cantar em batalhas de rima na cidade. Em um ano, ela já teve música gravada e o clipe está em produção.

Gáb, primeira mulher a cantar em batalhas de rap em Piracicaba (Foto: Thomaz Fernandes/G1)

Quando pediu o microfone em uma sessão de freestyle de rap na Praça José Bonifácio, no Centro de Piracicaba (SP), a adolescente Gabriela Fernanda Rodrigues de Oliveira, então com 14 anos, não teve sequer a atenção dos rappers presentes, que já lhe davam as costas. Mas bastou disparar as primeiras rimas para que chamasse a atenção não só dos que estavam no local, mas de todos os que acompanham o hip hop no município. Em um período de apenas um ano, a jovem -- agora com 15 anos -- foi a primeira mulher a participar da principal batalha de rimas da cidade, gravou a primeira música e se prepara para lançar um clipe.
Gáb, como pretende ser conhecida no meio musical, ainda é uma exceção no mundo do hip hop, formado em sua maioria por homens, mas já participa ativamente de eventos ligados ao estilo. A música de sua autoria, "V.I.D.A", se aproxima de 2.000 execuções na rede social Sound Cloud e, com ela, fez a apresentação de abertura no aniversário de cinco anos de um dos principais eventos de rap de Piracicaba, a Batalha Central.
"Quando ela apareceu me disseram para prestar a atenção, pois tinha algo de 'diferente'. E tem mesmo. Apesar da pouca idade, ela tem uma cabeça muito boa e tem tudo para crescer, basta ter disciplina e foco", afirmou Igor Serra, de 34 anos, um dos fundadores da Casa do Hip Hop.
Serra, a quem Gáb chama de "tio", é um dos maiores entusiastas da jovem artista e tem sido um dos conselheiros da garota. "Tem muita gente me ajudando de verdade desde que comecei a fazer rima. Seja ouvindo minhas frases novas ou me dando dicas", disse Gáb. A garota tem uma música gravada, mas diversas frases e pensamentos são escritas diariamente em cadernos, agendas e até mesmo no celular. Ela não revela o que vem produzindo e apenas intitula de "projetos inacabados".
"É muito difícil escrever um rap. Aprendi que primeiro tenho que saber porque aquela música tem de existir, pra que vai servir e o que vai dizer. Depois tem o processo para encontrar uma melodia, o meu outro parceiro faz o sample (melodia baseada no cruzamento de ritmos com uma música) e eu tento achar um sentimento em comum com a letra até que a música fique pronta."
Aos 15 anos, Gabriela de Oliveira sonha em ser
profissional no rap (Foto: Thomaz Fernandes/G1)
Início
Gáb disse que o gosto pela rima nasceu da poesia (o seu autor preferido é Fernando Pessoa) e que se aproximou do rap por meio de amigos. Praticante de skate, a garota contou que sempre escreveu e começou a improvisar rimas com um amigo. "Eu não fazia na frente de ninguém, só pra ele. Como fui melhorando, ele começou a me ajudar e me motivar para participar das batalhas."

A música V.I.D.A começou a ser escrita em um ponto de ônibus pelo celular, mas segundo Gáb os versos também passaram pela morte do namorado Daniel Campos, o Baia. "Até agora ninguém sabe a causa, ele me disse que estava com dengue, mas dias depois morreu e ainda tem a suspeita de leptospirose. Ele foi um dos caras que me estimulou a escrever, foi muito triste perdê-lo." A qualidade da música produzida pelo artista Sampa Beats, da Barraco Records, motivou a gravação de um clipe, que ainda está sendo produzido (veja no vídeo acima).
Desde as primeiras rimas na Praça José Bonifácio, a garota contou que passou a compreender e assimilar os conceitos de ritmo e música. "Eu fiz aula de canto e sou louca por música, sobretudo brasileira. Além do rap do Criolo, Marechal e Racionais, também escrevo ouvindo Djavan, Tom Jobim. Mas eu sou rap, adoro skate, rima, batida."
O fato de ser mulher não é empecilho para a adolescente, mas ela admite que a presença feminina em batalhas de rap ainda é rara. "Eu acho que as outras meninas ficam envergonhadas. A maioria das minhas referências no rap também são masculinas, mas tem a Lauryn Hill, a Dina Dee e outras mulheres que são muito boas", contou.
'Ela mesma'
O rapper piracicabano Daniel Bidia Olmedo Tejera, o Garnet da dupla "Daniel Garnet & Peqnoh" e um dos organizadores da batalha central, é um dos conselheiros de Gáb. Ele se diz um dos admiradores da evolução da garota e crê que nem mesmo ela consegue calcular a dimensão do potencial. "Além de ser mulher, a primeira a participar da batalha, ela ainda é muito novinha e ao mesmo tempo desinibida, esforçada. Fiquei muito feliz."

"Quando a gente é novo não percebe o tamanho das coisas que faz. Ela evoluiu muito rápido desde as primeiras batalhas até agora. Geralmente, quando a pessoa começa a cantar, ela tenta se parecer com alguém que já seja famoso e cada vez mais percebo que ela tenta se parecer com ela mesma. Isso é muito bom", disse Garnet.
O rapper, segundo Gáb, é um "termômetro" para o que ela produz. "No começo eu mostrava uma frase e ele dizia: 'Isso aí, vai em frente'. Hoje ele já fala: 'Pô, ficou legal'. Aí notei que venho melhorando", disse ela. Ainda estudando, a garota sonha em se profissionalizar e se dedicar ao rap no futuro. Por enquanto, recebe puxões de orelha do "tio" Igor Serra para que se dedique aos estudos, pratica skate e atravessa a madrugada escrevendo letras.
FONTE:http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/06/aos-15-anos-garota-invade-o-mundo-do-rap-em-piracicaba-e-almeja-carreira.html

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