sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A DINÂMICA PERSPECTIVA DA CULTURA NEGRA EM BOM JESUS DO ITABAPOANA-RJ

MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL NA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE & RAPPER.

A manifestação da Cultura Negra em Bom Jesus – RJ se desenvolve ritualisticamente em celebrações de beleza, festa e o que podemos dizer de certo encobrimento da verdadeira história da negritude bom-jesuense. O negro é lindo, o reconhecimento do valor do negro, que o negro tem importância histórica e os mesmos blá, blá, blá de sempre.

Perpassa aos intelectuais bom-jesuenses em que muitos não entendem o devir negro em sua diáspora. Muitos, ou melhor, dizendo em sua máxima maioria, não sabem interpretar a sua importância ancestral, histórica, política e cultural para as gerações pretas vigentes e vindouras. Reina um ambiente tipo deixa disso, o negro é lindo e tem sua importância na sociedade, um discurso romântico-meloso para não deixar passar em branco o dia da Consciência Negra no dia 20 de novembro. E o Novembro Negro e sua máxima importância simbólica e representativa onde fica? E o cotidiano preto como fica? E que importância é essa do preto na sociedade?

Perguntas que sempre ficaram e ficarão sem respostas em Bom Jesus se nós pretos deixarmos sempre aqueles que acreditam que tem o direito de discursarem por nós, continuarem injetando os seus engodos execrados de bons samaritanos e cordialidades. Continuará sempre assim, se continuarmos a deixar aqueles que se quer conhecem Ganga Zumba, Grande Zumbi dos Palmares e Dandara contarem nossas histórias de acordo com a versão deles.  

O que se pretende hoje a reparação da escravização e a exploração do negro vincula-se apenas a praticidade, objetividade do que convém, rompendo totalmente com os vínculos ancestrais e afetivos. Certo afirmar também de que alguma forma a pomposidade midiática entorno do negro deturpa e desmitifica a formação na diáspora calhando num túnel do tempo brutalmente plausível a realidade na qual se encontra, transformando mercenariamente a data e o mês do negro em campanhas político-partidárias e de interesses escusos.

Como seria lindo e belo um documentário sobre a história de formação do Tupi Dancing Clube do Senhor Toninho do Tupi, mestre dos Bonecos do Tupi onde presidiu com fervor a Escola de Samba Tupi que por muitos anos abrilhantou os carnavais bom-jesuenses. Relatam-se histórias de segregação e perseguição na época de funcionamento do Tupi Dancing Clube. Alguns munícipes já comentaram comigo que o Tupi era o local dos pobres e pretos e que o Aero Club era o local da elite e dos brancos bom-jesuenses. Um grande homem para ser homenageado na data máxima do povo preto brasileiro, mas se quer é lembrado por aqueles que se dizem doutores da cultura negra bonjesuense. A verdade é que não passam de oportunistas e aproveitadores.

As caricaturas condensadas e prontas deixam visivelmente a estética corporativista dos festejos, nos discursos e atrações alegóricas. São produtos do famoso toma lá da cá e do cala a boca em contrastes que remetem a aparência enganosa temperada de sofismo e maqueavelidade. Como disse a escritora moçambicana Paulina Chiziane “nós temos medo do Brasil”. Fica objetivado o intento de vender, ainda, uma branquitude brasileira um antigo sonho de exterminar todos os não-brancos brasileiros. O marketing branco brasileiro confunde a cabeça de nossos irmãos na diáspora que quando pisam em solo brasileiro, vêem um outro Brasil que não é transmitido lá fora em suas terras. Essa confusão cultural e racial é proposital.

Capitaneada pela elite e a classe média, a cultura e historicidade negra brasileira afastou-se de sua diáspora, cabe as futuras gerações e as de hoje uma reflexão profunda do Devir Negro no que tange ao mês máximo de nossa celebração no que ele representa hoje para nós enquanto descendentes afros e pretos. Necessitamos urgente refletirmos do debate situacionista entorno de nossas causas e interesses. A revolução também é tida enquanto nos reconhecemos descendentes na ancestralidade, defensores e multiplicadores de nossa diáspora, para reproduzirmos gerações pretas bom-jesuenses cidadãos conscientes com sede do saber de sua genealogia histórica e ancestral. O resgate do verdadeiro sentido do Novembro Negro e do dia 20 de novembro Dia da Consciência Negra, faz-se oportuno e necessariamente urgente em Bom Jesus do Itabapoana-RJ.


Viva Zumbi! Viva Dandara! 4P.

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