quarta-feira, 29 de maio de 2013
terça-feira, 28 de maio de 2013
domingo, 26 de maio de 2013
PROJETO HIP HOP NAS ESCOLAS
Essas são as fotos do álbum coletânea HIP HOP NAS ESCOLAS CAPIXABA, a qual participei junto com o meu parceiro e irmão B.G. e minha parceira e irmã NANDA SILVA com o single SOMOS CARIACICA. Segue o link do rap abaixo confiram e façam seu download.
sábado, 25 de maio de 2013
ALIADOS DA É NÓS POR NÓS - NEGRITUDE ATIVA
PRETOS, POBRES E REVOLUCIONÁRIOS
VERDADEIROS MARGINAIS
IDEOLOGIA DO GUETO
sexta-feira, 24 de maio de 2013
TEXTO: ESTADO, CLASSE E MOVIMENTO SOCIAL
Por: CARLOS MONTAÑO E MARIA LÚCIA DURIGUETTO
Os indivíduos são voltados para si, numa
competição desenfreada na conquista do mercado. Uma livre iniciativa particular
do individuo, em seu território, no que se diz respeito a sua liberdade de
comércio e de mercado. Exercem o poder sem política, fazem da política um jogo
para seus interesses mútuos, agindo assim de forma que a máquina do Estado
fique a seu favor e a sua ambição expansionista de controle, e de destruição
das massas. Colocam-se acima dos controles públicos e das responsabilidades
sociais.
Mas surgem reações de todos os cantos, de
todas as partes. O desejo por uma democracia popular, justa, de um governo do
povo para todos se emana em resposta ao egoísmo exorbitante do individualismo
implantado pelo (neo)liberalismo. Contra a opressão do sistema do capitalista e
suas conquistas expansionistas, movimentos surgem e se unem para mudar e criar
um mundo novo. Contra a privatização e a privação de uma vida digna e justa, os
movimentos sociais e suas aglomerações lutam por políticas públicas mais justas,
que não asseiem o desejo do capital e sim de toda a massa, por igualdade e
cidadania.
Assim é o homem moderno. Por ser filho de
uma sociedade que se diz democrática, que valoriza o homem pelo o que ele
possui e não pelo que ele é, passa a aceitar como óbvio o que pensa, a cumprir
uma função produtiva, a deixar de lado a sua característica de querer ver a si
mesmo com uma visão exterior, a deixar de buscar a verdade, a pensar de modo
prático, a renunciar a si mesmo, gerando dentro dele um sentimento de vazio,
solidão e ansiedade que pode levá-lo ao consumo de substâncias químicas,
suicídio, ou diversão apenas para fugir. Por outro lado, romper com tudo isso
pode trazer conseqüências tão ou mais penosas que essas.
Surgem
as visões de mundo capitalista e socialista, num modo de produção industrial
através da técnica de trabalho e a divisão social do trabalho. É nesse momento
de expansão do capitalismo que vimos que a comunidade se dividiu, o coletivo
separou-se do privado, surge a sociedade civil e o mundo do estado. Hoje vemos
claramente os efeitos dessa separação, um mundo egoísta e particular, disputas
e individualismo. A moral passou a ser vista como uma conduta do individuo que
passa a ser julgado pelos seus atos e ações particulares, não há, mas o compromisso
com o coletivo.
A
moral adquiri uma relevância social porque torna-se a referência de conduta dos
indivíduos. Ela determina total equilíbrio do conjunto e por isso necessária a
sua privatização e pacificação. No entanto, segundo o autor, a moral acaba
sendo uma moral do particular em conflito com os padrões ou eixos coletivos,
mesmo assim permeia a sociedade e se define como uma moral coletiva, uma moral
de grupo e de classe. No processo de trabalho capitalista, onde se predomina o
sistema de produção e acumulação de lucro, o trabalhador tende a se fundir
totalmente nesse novo modo de vida e confundir moral social com moral
individual. Caso que no ambiente de trabalho, quando um individuo tem uma certa
dificuldade em realizar suas funções, o outro passa a cobrá-lo pois o mesmo
está atrapalhando todo o processo de realização do trabalho em grupo. O trabalho que se
sente prejudicado pela má atuação de seu companheiro, impõe de certa forma a
moral de trabalho, moral capitalista que passa a fazer parte de seu modo de
vida assim sendo ele avalia como sendo uma moral certa, uma moral verdadeira
onde sempre fez parte de seus costumes e tradições, não enxerga essa moral como
sendo uma moral construída para que ele realize ações a favor do capital.
O trabalhador que impede o processo de
produção, se sente cobrado, e intimado pelo seus companheiros para que preste
mais atenção em suas tarefas, de certo modo ele está inserido num processo de
produção em série, no qual uma falha por mínima que seja pode prejudicar o
processo de produção em sua escala. A moral passou por transformações a atua no
sistema capitalista, como uma forma de controle sobre o individuo, passou a
formular a moral dos trabalhadores. O trabalhador passa a crer que tem que
atuar num coletivo, mas um coletivo que favoreça ao empregador. A moral passou a ser privatizada, os valores
coletivos e sociais foram postos de lado. Com a moral sendo privatizada surge a
ética como forma de regulação da profissão, do profissional e sua postura em
seu ambiente de trabalho de acordo com a sua profissão exercida. Nada de
coletivo, e sim executar a função de acordo com os interesses mútuos, do
capital.
Mas essa mesma sociedade está atualmente
dando ênfase ao Pensar do homem, não para melhorar a si mesmo e ao mundo, mas
Pensar para criar um produto que assim o faça e para vender esse produto.
A
racionalidade prática e a necessidade da busca dentro de um equilíbrio são
fundamentais para a existência da humanidade, já que ambas completam o homem.
Se o
homem não se atentar que é necessário Pensar para sua melhoria pessoal e
transmitir essa característica às futuras gerações, o futuro será provavelmente
incerto, instável, e talvez não muito melhor do que o presente, já que a
conduta humana em sua jornada existencial tem sido a de buscar cada vez mais
meios de obter lucros sem Pensar que as conseqüências poderão ser inúmeros
problemas capazes de destruí-lo.
TEXTO:
ESTADO, CLASSE E MOVIMENTO SOCIAL.
CARLOS MONTAÑO E MARIA LÚCIA DURIGUETTO
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Bonde das Maravilhas, a sexualidade da mulher negra e a hipocrisia nossa de cada dia
Por Paula Libence
Há algum tempo, tenho visto algumas repercussões nas redes sociais
extremamente ofensivas e incômodas em relação a um grupo de jovens dançarinas
do Rio de Janeiro, o chamado Bonde das Maravilhas. As meninas, adolescentes na
faixa dos 13 aos 20 anos de idade, vieram a público mostrar o inacreditável.
Danças tão cheias de contorcionismos que confesso que a primeira vez que
assisti ao vídeo, julguei ser humanamente impossível se equilibrar na nuca para
dançar. Tanto que vi outras vezes e, boquiaberta, não conseguia crer, enfim.
Mas o que tem causado tanta polêmica, se assim posso dizer, na
mídia, não são os contorcionismos dançantes que as meninas do Bonde das Maravilhas apresentam ao
seu público, e sim a estranheza social de ver garotas jovens, bonitas, negras e
periféricas dançando e cantando de modo tão singular.
Fiquei a me perguntar por que o ataque ao grupo tem sido tão
severo. Por que essa antipatia mordaz às garotas?
Revirei e retirei do fundo do baú alguns grupos que fizeram
sucesso com danças sinônimas ao do Bonde,
o que não foi tão necessário, pois temos mulheres que dançam funk e põe seus bumbuns pra cima sem
causar maiores estranhamentos por parte do público hoje. Mas creio que vale a
pena relembrar de alguns.
Suponho que muitos ainda se lembrem do grupo É o Tchan!. O grupo ganhou fama e
notoriedade em meados da década de 1990 com danças tão “insinuantes” e
“pornográficas” executadas pelas dançarinas Carla Perez e Scheila Carvalho
quanto as do Bonde das Maravilhas.
As dançarinas do É o
Tchan! seguravam e amarravam o tchan ao seu bel prazer, e nem por
isso ninguém as levou ao ministério público. Lembro que Gugu Liberato, no
seu antigo programa Domingo Legal,
explorou bastante a imagem do grupo e ainda criou um quadro chamado “Banheira
do Gugu”, em que mulheres ficavam praticamente nuas em rede nacional e num
horário em que as crianças ainda estavam na sala.
Até aqui, ninguém disse nada. Por que será? Perceberam a
diferença?
Há também um grupo mais recente de funk, também do Rio de Janeiro,
chamado Gaiola das Popozudas,
formado só por mulheres e liderado pela funkeira Valesca Popozuda, que trazem a
público ritmos dançantes e eivados de insinuações – do tipo “balança o rabo” e
“late que eu tô passando” – e nem por isso caiu no desgosto popular. As garotas
do referido grupo são mulheres brancas. Elas trazem consigo o patrimônio
da cor, o que por si só é um fator extremamente favorável na busca pelos quinze
minutos de fama na mídia.
Ah, tem mais uma figurinha cativa. Lembram-se da
Gretchen? Lembram o sucesso que ela fez na década de 1980 com o Conga Conga, que inclusive a atual novela
das nove remasterizou para a personagem de sua filha, Thammy Miranda? Pois bem,
Gretchen ganhou fama e notoriedade com danças insinuantes para a época (afinal,
estávamos falando de década de 1980, período em que o Brasil vivia os momentos
finais da ditadura). E como os purismos do século XXI condenam
o Bonde das Maravilhas,
esse é um aspecto que vale lembrar. Não só fama e notoriedade na mídia
alavancaram a carreira da cantora e dançarina Gretchen, assim como ela ganhou
prêmios e mais prêmios com essa dancinha insinuante e com sonoplastia
puramente sexy hot, porque
era assim que Gretchen cantava. Parecia que estava gozando!
Não condeno nenhuma dessas cantoras e/ou dançarinas. Só parto do
princípio que minha mãe desde cedo me ensinou: “o pau que dá em Chico tem de
ser o mesmo que dá em Francisco”. Se for pra escrachar tem de ser geral, e não
fazer o que essa mídia podre e asquerosa está fazendo, dando de cacetada no
grupo do Bonde das Maravilhas. E o pior de tudo, é a participação popular de
uma gentinha hipócrita nas redes sociais.
E pra não dizer que sou insuportável (porque sou mesmo), a mídia
tem jogado pra debaixo do tapete as Panicats,
assistentes de palco do Programa Pânico na TV.
Isso sem contar a Anitta, outra jovem cantora de funk que largou a faculdade de
administração e um estágio numa transnacional pra seguir seu sonho de virar
artista e ficar famosa. Aos vinte anos, ela é sucesso nacional. Sua trajetória
artística e história de vida ganharam os louros da Rede Globo, exibido naquela
medíocre revista eletrônica semanal.
Ah! E ela sabe dançar o quadradinho, só não o faz, pois tem
de parecer fina. Quer dizer que Anitta largou a faculdade pra seguir um sonho
de menina, ao tempo que as que são malhadas atualmente são
piriguetes, burras e futuras prenhas solteiras? Muito bom. Adoro o
contexto em que Anitta se insere, frente à análise que a mídia perfaz.
Difícil levantar esse debate sem trazer à tona os aspectos sociais
e raciais imbricados nesse bojo teórico reflexivo que envolve o Bonde das Maravilhas.
Não há como não falar da sexualidade da mulher negra sem
atentar aos detalhes sutis que emanam dos ataques ao grupo nas redes sociais.
Pois, falar que fazer o quadradinho de oito traz como consequência direta uma
barriguinha de nove é o extremo do julgamento que se possa deliberar sobre
mulheres jovens negras e moradoras de periferia.
Afinal, só mulher preta e pobre transa casualmente e engravida
nesse país, e ainda por cima tem o sacrilégio de tornar-se mãe solteira? As
brancas de classe média e de boas famílias também fazem isso, oras!! Maria
Rita, a filha da saudosa musa Elis Regina, transou casualmente sem o menor
compromisso que uma mulher branca do nível social que ela representa possa
“merecer”, e engravidou duas vezes, diga-se de passagem, de homens diferentes.
Volto à pergunta. Por que ninguém malha Maria Rita? Porque ela é branca,
rica, canta MPB e não mora na favela? Ah, e mais, porque fora alfabetizada?
Sim, porque fazer quadradinho de oito é impossível já que se fosse quadradinho
de oito não seria quadradinho e sim octógono. Total coisa de quem não
concluiu sequer o ensino primário. Não é o que proferem por aí? Ou só eu que
estou vendo?
Ou melhor, as meninas do Bonde “emprenham”
cedo porque o único destino de meninas pretas, pobres e faveladas é “abrir o
rabo pra parir”, ao tempo que branquinhas de classe média alta, ricas e famosas
enfileiram um filho atrás do outro e muitas vezes são mães solteiras porque
curtem uma “produção independente”, ou até mesmo porque “são férteis”. Faça-me
o favor!
Mulheres brancas de classe média têm filhos “do primeiro e do
segundo relacionamentos”. Mulheres pretas e faveladas têm filhos “com um e com
outro”. Já perceberam isso?
Se for pra jogar na masmorra o Bonde
das Maravilhas, tratemos de assegurar o mesmo valhacouto para todas
as outras que as antecederam nesse processo provocativo e pornográfico.
Não estou deste modo a defender as representações pejorativas que
possam surgir desse movimento musical e a representação que a mulher
negra, por sua vez, está cerceada. Só defendo o direito dessa mesma mulher
negra não ser condenada por suscitar ações que outras mulheres brancas, ricas e
com formação escolar reproduzem sem passar pelo mesmo crivo midiático ao qual
se expõe.
No mais, creio que muito ainda se tem para discutir. Isso aqui é
só uma provocação.
Fonte: Escrevivência
FUNK-CARIOCA EM BOM JESUS DO ITABAPOANA-RJ. PARTE 1
MEU DIÁRIO PRETO.
NOS DEEM LICENÇA É A SOCIEDADE NÓS POR NÓS
BOM JESUS E PÁDUA ESSA É A VOZ
CHEGAMOS PRA INCOMODAR E DERRUBAR O IBOPE
NOSSO CARTÃO DE VISITA É O RAP O SOM É FORTE.
SEM NEUROSE SEM THE VOICE
É A REALIDADE NUA E CRUA, SEM CLOSE E SEM BUNFUNFA
É A RUA EM BOM JESUS OS EMERGENTES
NEM PIOR, NEM MELHOR APENAS DIFERENTE
CLICK CLECKE BANG OUÇA O ESTALO
NÃO SE APAVORE SINTA O BEAT ESTILO LOCK
E AGORA AS CAIXAS VÃO BOMBAR NO ESTÉREO, GRAVE, AGUDO
ENQUANTO ISSO EU NOS BASTIDORES OUVINDO OS BALANÇOS
DE RAY CHARLES, TUPAC E OS DIAS DE HOJE.
FEITA A APRESENTAÇÃO ME DESPEÇO DE FININHO
DEIXANDO VC´S NA COMPANHIA DO GRANDE MESTRE DA BLACK
BONJESUENSE DJ BETINHO.
Pretérito perfeito ou imperfeito, não importa a
época, só sei que são lembranças maravilhosas. Épocas em que a Voltaça nos
pegou numa corrida da praça indo pela beira-rio até a minha casa na Figueiredo.
Época que me iniciou nas rimas.
Tudo começou com um grupo de funk carioca chamado
Nova Geração, se não me engano havia um grupo num programa da Xuxa que também
levava esse nome não me vem a memória nesse momento quem fazia parte. O grupo
de funk carioca Nova Geração de Bom Jesus do Itabapoana-RJ era formado por mim
Marcelo Silles, Almeida, Betinho, Ostim, JB, Léocadio e mais uma pá de gente,
na verdade era quase uma banca indo para formação de um coletivo. Os mc´s eram
eu Marcelo Silles, Betinho, Almeida, Ostim. MC Almeida (Vitor Almeida) é filho
de uma das famílias tradicionais de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, a família
Almeida. Lembro bem da primeira vez que rimamos no Aero Club de Bom Jesus, o
seu pai e mais um amigo foram lá conferir o evento, de certo festa de preto e
os brancos burgueses tinham medo, pois na época o funk carioca ainda era uma
novidade e classificado como festa de marginais. Recentemente um dito blogueiro
bonjesuense redigiu um texto criticando o carnaval de 2013 de Bom Jesus onde
somente estava tocando músicas para marginais, estava tocando somente funk. O
funk carioca é representante da classe pobre periférica é normal que pessoas
tenham essa visão distorcida, racista e preconceituosa.
Bem a primeira apresentação do grupo, que além de ter
o rap (no estilo funk carioca) como elemento, também tinha a dança, e a
primeira apresentação do grupo foi na Igreja Capela São Sebastião onde a
maioria fazia parte do grupo Jovem na época. E foi uma performance de dança. Eu
não dançava, não sei dançar, rs. O grupo durou muito pouco tempo, um episódio
muito triste marcou o seu fim, a morte do pai do nosso grande irmão e líder do
grupo, Betinho, José Roberto na qual abalou a todos. Betinho logo em seguida,
mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro onde reside até hoje. Quem realmente
continuou por um tempo fomos eu e meu parceiro MC Almeida, o tal da família
tradicional de Bom Jesus. Rimamos num evento de festival de funk carioca que
ocorreu em 1995, no Aero Club de Bom Jesus onde quem venceu foi um MC de
Niterói. Tudo indica que já estava firmada a sua vitória, sabe como é né os
cidadãos de Bom Jesus só dão valor o que é de fora.
No mesmo ano rimamos no Olympico Futebol Clube, onde
também ocorreu um festival de MC´s, 99% do público era da Voltaça. Lembro-me
bem que eu e MC Almeida cantamos um funk exaltando a Figueiredo. O clima para o
nosso lado não estava bom, estávamos representando um bairro rival, a
Figueiredo. Lembro-me bem de geral nos zuando por causa das nossas roupas (não
fazíamos questão de roupas de marca, andar na modinha) e também não tínhamos
fama de comedor e nem de pegador. Nesses estilos quem é comedor demais, pegador
demais ou se puxou um tempo encarcerado tem certa moral com as minas, elas se
amarram.
Essa foi a última apresentação de nossa parceria.
Logo continuei solo. A primeira vez que rimei sozinho, foi no mesmo ano no Aero
Club de Bom Jesus onde muitos gritavam “o Marcelo é rei, uhuuhu o Marcelo é rei”,
confesso que fiquei muito envaidecido com essas palavras hehehehehe. Depois
dessa veio a minha última na quadra do bairro Pimentel Marques no mesmo anos,
onde não fui bem e, portanto perdi a minha coroa, a minha majestade. Mas esse
último evento foi importante pra mim, pois eu descobri que na verdade não
rimava funk-carioca e sim rap/hip hop. Na verdade eu fazia parte da Cultura de
Rua, da Cultura Black Music. Percebi pela forma e formato das minhas rimas, meu
flow e ginga, no emprego das palavras, pela forma crítica e bem elaborada das
minhas letras com conteúdos totalmente diferente dos mc´s daqui. E também pela
forma rasteira. Mas esse processo contribuiu muito para o meu aprendizado e
descobrimento.
Retornei com tudo em 2005 agora na cidade de Cariacica-ES.
De 2005 a 2008, fiz muitas coisas, muito mais de quando eu morava em Bom Jesus
do Itabapoana-RJ. Gravei o meu primeiro single com os meus irmãos B.G. e Nanda
Silva onde fomos convidados a participar da coletânea Hip Hop nas Escolas.
Gravei com o grupo de rap Negritude Ativa, Vila Velha-ES, e com o meu parceiro
MC Agulha, Vitória-ES, e também com o meu grande parceiro de Guiné
Bissau/África Fabian Ifrikan. Atuei em projetos sociais ligados a Cultura de
Rua, e vários outros.
Como a Black Music e A Rua estão na alma, à atividade
não para e junto com o meu parceiro da antiga daquela época de Bom Jesus, DJ
Betinho prossigo na caminhada preparando novos trampos.
Um breve relato de minha parte de como surgiu o
funk-carioca em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, aconteceram muitas e outras coisas
mas o espaço é curto. De volta a Bom Jesus do Itabapoana-RJ e resgatando a
Cultura de Rua. É Nós Por Nós.
Texto:
Rapper Marcelo Silles
quarta-feira, 22 de maio de 2013
segunda-feira, 20 de maio de 2013
ALIADOS DA É NÓS POR NÓS - JOMENIX
Diretamente da cidade de Luanda capital de Angola, o rapper JOMENIX. É Nós Por Nós.
TWISTER DANCE
domingo, 19 de maio de 2013
MARCIO DISKINA
Grande parceiro nosso e aliado fortíssimo da É NÓS POR NÓS, rapper MARCIO DISKINA, diretamente de Cariacica-ES divulgando seus novos trampos beat´s que são puro luxo. Confira e se estiver afim é só entrar em contato com esse grande Rapper.
Entrevista com Eduardo Facção central falando do seu livro e periferia
O Eduardo fala claramente à situação
que vivemos no Brasil e infelizmente não tem o apoio que merece, tem que ter
coragem pra falar como ele fala, a verdade é que sem união nada vai mudar, os
políticos usam do nosso dinheiro para entreter o gado com virada cultural...
Espero estar vivo para ver mais de Um
milhão de pessoas protestando nas ruas e lutando pelo o que é nosso de direito. (Comentário na page-youtube)
sábado, 18 de maio de 2013
NÃO QUIS ENXERGAR - ÚLTIMO SUSPIRO
Apresentação do grupo de rap de Cariacica-Es, ÚLTIMO SUSPIRO. Cliquem e confiram o single NÃO QUIS ENXERGAR. Puro Luxo
O QUADRO DA ESCRAVIDÃO
‘Eu sou da época em que se comemorava o 13 de maio’,
ouvi de uma professora de Antropologia da PUC - Rio esta semana. Achei isso
triste e interessante. Nunca tive isso no colégio. Hoje em dia, se comemora
mais o Dia da Consciência em todo 20 de novembro do que a data em que a
escravidão negra supostamente terminou. Afinal, essa liberdade é, e deve ser
muito questionada até hoje. Mesmo assim, é raro ver quem fale sobre isso fora
do mundo acadêmico. Brasileiro nunca soube lidar muito bem com traumas do
passado. O racismo é um e o assunto é muito feio.
Sim, racismo é feio, mas parece que, por aqui,
apontá-lo é mais feio ainda. Se você cisma de falar sobre isso, corre o risco
de te pedirem para bater na boca e tudo. No Brasil, é um assunto tão incômodo que
nem deve ser mencionado, finge-se que não existiu da forma que existiu ou pedem
para “deixar para lá”. Essa última é a preferível.
Há uns quatro meses, eu estava com minha namorada em
um restaurante de temática colonial em Botafogo e, mais uma vez, pude constatar
isso. O lugar, muito bom, é um dos únicos pela Zona Sul que não chegou ainda a
preços surrealmente absurdos, mas já havíamos sido alertados por uma amiga dela
sobre a decoração tida como “duvidosa” do local.
Mesmo tendo ido ao restaurante algumas vezes, nunca
havíamos nos deparado com nada de mau gosto por lá (se todo estabelecimento de
temática colonial fosse abordado assim, teriam que fechar inúmeros lugares).
Porém, nessa última vez, notamos que um quadro ilustrava explicitamente um
leilão de escravos, com um homem branco de postura senhoril segurando um
péssimo “menu” com o preço dos negros melancólicos e acorrentados aos seus pés.
O restaurante, devidamente informado via Serviço de
Atendimento ao Consumidor sobre o péssimo gosto do quadro e o nosso incômodo
por aquela atrocidade estar sendo usada como decoração, nem ao menos enviou um
pedido de desculpas ou deu qualquer outra forma de retratação. Assim, o quadro
permanece lá para quem quiser ver e naturalizar o holocausto negro que foi
oficialmente extinto há 125 anos.
O racismo no Brasil é exatamente isso: um quadro na
parede de nossa história que, apesar de tão feio, faz parte do cenário há tanto
tempo que não querem sequer tocar nele. Assim, falar sobre ele e pedir pela sua
retirada é muito problemático, já que todos se acostumaram com ele ali compondo
o ambiente.
Afinal, quem ele incomoda?
Fonte: Jornal O Dia de 16/05/2013, colunista Gilberto
Porcidonio, jornalista e mantém o site otitere.com.br
sexta-feira, 17 de maio de 2013
TÁ VALENDO - SILLES
Gravação caseira. Divulgando esse single que será gravado em outro beat. O que acharam?
1001 UTILIDADES.
É pixain, é bom. Natural, fenomenal,
sem igual. É o meu cabelo crespo que quando cresce, se amontoa nasce uma coroa
vira Black, Black Power, 4P. Sem desmerecer o seu liso, até que é bunitinho, engraçadinho
bem sedoso, mas não chega ao ponto de ser maravilhoso igual ao meu Black Power,
ao meu pixain. Orgulho? De monte tenho sim, por mais que os plin, plin tentem
transformá-lo em objeto comercializável, a sua história remonta a pré-história
da África. Portanto está nos livros, nos contos, na cultura nunca um cabelo foi
tão exaltado como o meu, dos meus irmãos pixain, natural, fenomenal, sem igual
e 4P.
Preto seja louvado, sinto-me agraciado
pela natureza que me presenteou com rara tamanha beleza, e ao meu Deus todo
poderoso que fez nascer em África o início de tudo, o mundo. Em África as
mulheres pretas as mais belas, belas não, verdadeiras Deusas, Deusas de Ébano, indiscreto
sou elogios as pretas sempre faço não meço palavras, nem letras, nem parágrafos
são rainhas, autênticas Candaces. A humanidade em África surgiu e pelo mundo se
multiplicou, transformaram-se de onde derivaram-se.
E o crespo, como é rei, é rainha mesmo
longe de seu habitat, onde habitou adequou-se para melhor viver e sobreviver. Volumoso,
charmoso, sexy, belo mais belo mesmo não é “o belo” sinônimo de feio não, é
BELO como sempre há de ser. Gerações e mais gerações hão de exaltá-lo, pois
muitos sempre criticarão e perguntarão “porque você não alisa esse cabelo?”, os
incomodados há os incomodados que nunca hão de entender o esplendor de tamanha
beleza e representatividade cultural e identidade. E meu crespo pixain,
natural, fenomenal, sem igual, Black Power, 4P está aí mesmo para incomodar,
pois tudo que incomoda é lindo, maravilhoso. Portanto, dêem licença para o meu
rei Crespo, curvem-se diante de tamanha beleza e realeza. Curvem-se para o
crespo, pixain, natural, fenomenal, sem igual, Black Power, 4P.
Texto:
Rapper Marcelo Silles
quarta-feira, 15 de maio de 2013
O QUE VEM POR AÍ...............
Um prévia dos beat´s dos novos lançamentos do Rapper Marcelo
Silles, os singles NINA SILVA, QUEM VAI PRA NOITE, DUVIDA? e É DESSE JEITO.
Aguardem....
Rapper Marcelo Silles
terça-feira, 14 de maio de 2013
ALMA AFRICANA, NÃO VIVO EM ÁFRICA, MAS A ÁFRICA VIVE EM MIM.
Boa tarde cidadão de cor pode me dá uma informação?
Essa pergunta foi me dirigida no domingo 12 de maio de 2013 na Praça Governador
Portela em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, por um senhor aparentemente de avançada
idade e com um perfil cultural bem coloquial ruralista para o nosso tempo.
Inocentemente talvez ingênuo não soube formular sua pergunta em busca de uma
informação de forma correta. Educadamente o informei, não o questionei
sobre a sua conduta mediante a mim, já que o senhor havia sido educado e
notadamente reparei a sua postura tanto corporal quanto em seus gestos, simples
e de modo humilde destituído de certo saber acadêmico que a sua face mostrava o
quão à vida lhe havia sido dura.
O que sempre me chama a atenção é simplesmente a
dificuldade tamanha de pessoas se dirigirem aos negros e os chamá-los de
negros. Ou simplesmente não diga nada, simplesmente diga senhor, senhora esse
lance de cidadão de cor chega uma hora que é um saco. Bom somos a nação que aboliu a escravidão
tardiamente, brasileiro sempre é o último em tudo veja a industrialização, a
abolição aconteceu à apenas 125 anos então os pretos escravizados foram
libertos há apenas uns anos atrás, portanto resquícios da escravidão ainda são
recentes. Bem sabemos que na verdade o final exato da escravização se deu por
volta de 1930, segundo alguns historiadores.
Muitos negros pode se afirmar a maioria, sucumbiram a
subserviência e aos modos de vida branco, foi o germinar para um ambiente
fértil para a implantação do projeto de miscigenação e destruição da raça
negra. Certo nada de novo. Bom o que sempre é novo é essa classificação de “cidadão
de cor”, sendo que cor tem a sua denominação preta, amarela, azul, vermelha
etc. fica muito vaga e ambígua essa classificação a indivíduos negros de
cidadão de “cor”.
Analiso da seguinte forma, muitos negros não
atingiram o seu ápice do devir negro, ou seja, negaram e continuam negando as
suas origens, suas historicidades. Só vem ao caso por conivência, resumindo
para aparecer, o famoso negro é lindo! Ah como eu me sinto como Olinto, um
afro-brasileiro com total alma Africana um vício africano que pulsa em mim os
ancestrais, a pretitude, a negritude
“Zora e eu estávamos fisgados, e não o
sabíamos...
Estávamos arpoados, presos, marcados para
o
resto da vida. Corria o nosso sangue o
vício da
África de que ninguém se livra mais.”
OLINTO, Antonio. In: Brasileiros na
África. São Paulo: Ed. GRD/ Inst. Nac. do Livro, 1980, pg. 229.
Esse rompimento de muitos negros com a diáspora
africana, exercido através de fatores ligados a colonização que forçaram a
negação da história africana como também o clareamento, distorce completamente
a realidade cotidiana dos pretos pobres brasileiros, pois a cultura africana na
diáspora é absorvida e reinventada de forma que possa a ser comercializada com
conteúdos padronizados onde muita das vezes seus reinventores são brancos que
se dizem doutores na cultura africana.
Ontem, data de 13 de maio de 2013, assisti uma cena,
uma aberração transcorrida na novela das 19h da rede esgoto de televisão que se
chama Sangue Bom. Uma atriz que tem filhos adotados, como assisti por acidente,
portanto não assisto novelas e por isso não sei a quantidade de filhos
adotados, apresentou o seu filho branco-africano adotado. Até aí normal o
garoto podia ser da África de Sul e de origem inglesa. Mas pelo que pude notar
o garoto foi apresentado como sendo negro, e coincidentemente estava com uma
blusa escrita 100% negro. Bom nada contra é uma simples camiseta. Mas se fosse
ao contrário se eu saísse na rua com uma blusa escrita 100% branco, será que a
reação de aceitação seria a mesma?
Estou tentando dizer é que, se um branco pega algo
dos pretos como sendo seu tanto o branco quanto o negro acham normal. Mas
quando é ao contrário, até mesmo o negro critica a atitude do negro que está
usando uma camisa escrita 100% branco. Inversão e destruição de valores é o que
permiti chamar um negro de cidadão de “cor” porque simplesmente um branco está
usando uma blusa 100% negro de cor negra. Mas o branco não é cor, portanto o
negro não pode usar uma blusa 100% branco.
Mas acaba-se percebendo que o dizer 100% negro é
muito mais bonito soa muito mais lindo do que 100% branco. É como deixar um
afrobeijo o toque é mais doce do que whitekiss que uma garota branca enviou para
mim uma vez. Confesso que estranhei e achei bem esquisito. Tudo relacionado a
nossa Mãe África suas músicas, culturas, histórias é mágico e lindo. Um dia
irmãos e irmãs acordarão dessa hipnose clara eurocêntrica e enxergarão,
aceitarão suas origens e histórias. Não vivo em África, mas a África vive em
mim.
Rapper Marcelo Silles
segunda-feira, 13 de maio de 2013
O INIMIGO DEMASIADAMENTE INOFENSIVO.
Caim matou Abel, Abel matou Caim
e assim vai caminhando a infâmia cidadania. O nosso TAC – Termo de Ajustamento
de Caráter – das Ruas é muito mais eficaz do que o TAC dos conservadores,
liberais, elitizados, burgueses etc. Sabemos quem é quem, quem é aliado e quem
se vende. Como sempre digo satiricamente e maquiavelicamente não confie em
amigos demasiadamente poderosos.
A medida que o poder aumenta a
humildade diminui. A medida que se adquire um carro, uma moto, uma casa o mau-caráter
vai se revelando e a humildade vai diminuindo. Agora sou um homem da sociedade dita do “bem”, homem de “família” busco
meu respeito, não posso andar mais contigo. Comporta-se de tal forma
parecer-se que todos os seus pecados originais e carnais foram todos perdoados.
Ou seja, beatificou-se e santificou-se a si mesmo. Datavenia meu ex- grande
brother e amigo.
Foi na Rua através do É Nós Por
Nós que conheci e vivi sabores e dissabores e ainda continuo experimentado. E
foi através da Rua e do É Nós Por Nós com os nossos sofrimentos, ansiedades,
alegrias, tristezas, felicidades que somente Nós com nossas lutas diárias,
matando um leão por dia, com os meus, com os nossos inserindo no cenário de
luta societária que podemos transformar a sociedade justa para Nós. É Nós Por
Nós Maquiavelicamente falando “porque o tempo leva por diante todas as coisas,
e pode mudar o bem em mal e transformar o mal em bem”.
Na Rua o inimigo demasiadamente
poderoso pode ser um ser inofensivo, enquanto o amigo demasiadamente poderoso
pode se tornar um ser nocivo. De forma clara e objetiva, um irmão (ã) conhece
as fraquezas e riquezas um (a) do (a) outro (a), e conseguinte o (a) outro (a)
fica em significativa vulnerabilidade. O inimigo demasiadamente poderoso
pensará duas, três ou milhares de vezes antes de tentar dominar um território,
canalizará todas as suas forças na astúcia, malandreado, mas como o outro sabe
que se trata de um inimigo demasiadamente poderoso ficará de olho em todas as
suas movimentações. Permitindo-se assim a entrada do inimigo demasiadamente
poderoso no território da irmandade, o amigo demasiadamente poderoso se sentirá
ofendido. Está maculada a nocividade, Maquiavelicamente falando “pois os homens
ofendem ou por medo ou por ódio”.
Portanto, devemos colher frutos e
ensinamentos do inimigo demasiadamente poderoso, devemos sugar ao máximo tudo o
que pudermos de seu ser para que seja utilizado de forma a nosso favor. Sejamos
excelentes anfitriões, estude-o a fim de que ele se revele para nós. Mas
também, não deixemos nosso amigo demasiadamente poderoso afogar-se na traição
inflamando-se de ofensas a qual ele mesmo as plantou achando que as recebeu em
seus momentos de delírio. Por final, assim sendo É Nós Por Nós
Maquiavelicamente falando “as injúrias devem ser feitas todas de uma vez, a fim
de que, tomando-lhes menos o gosto, ofendam menos. E os benefícios devem ser
realizados pouco a pouco, para que sejam mais bem saboreados”.
Então, seja bem-vindo inimigo
demasiadamente poderoso.
Por Rapper Marcelo Silles
Referência bibliografia:
O Príncipe de Nicolau Maquiavel.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
SANTA TERESINHA: DESCOBERTA DE UM CONFLITO RACIAL, DE IDENTIDADE E CULTURAL
1. A SEGREGAÇÃO SOCIAL/RACIAL E A
CULTURA COMO \MECANISMO DE ENFRENTAMENTO.
1.1 A SEGREGAÇÃO RACIAL NO BRASIL
O
bairro Santa Teresinha, popularmente conhecido como Volta da Areia, é um bairro
do município de Bom Jesus do Itabapoana, município este situado na região
noroeste-fluminense do estado do Rio de Janeiro. É um bairro periférico da
cidade, que fica a 2 KM de distância do centro da cidade, dotado de uma infraestrutura
como posto de saúde, um mini-mercado, duas mercearias, uma igreja católica,
duas igrejas evangélicas, uma escola municipal e uma creche municipal. Apesar
desse aparato estrutural, apresenta dificuldades com relação à manutenção dos
aparelhos públicos (o posto de saúde, creche e escola). Faltam recursos
principalmente na área da saúde.
Tal
bairro, num primeiro olhar, aparenta se constituir de uma comunidade mista onde
convivem negros, brancos e os ainda, ditos no popular, morenos e mulatos. Mas
adentrando a comunidade, percebe-se uma clara separação espacial e racial.
Na
parte mais baixa, no pé do morro, onde foram construídas na década de 1970 as
casas populares pela COHAB[1],
a maioria dos moradores são brancos e de pele mais clara. Na parte alta, onde
as construções irregulares e demais aglomerações foram erguidas fora da faixa
de zoneamento e na parte baixa, mais ao lado leste[2],
a maioria dos moradores são negros e de pele mais escura.
Os
moradores são marginalizados e discriminados por morarem no local, pelo tocante
das questões de criminalização que permeiam a comunidade. A maioria das
mulheres, mesmo com alguma formação, são domésticas, faxineiras, estão
inseridas no mercado informal de trabalho. O mesmo ocorre com os homens, que em
sua maioria é pedreiro e servente.
A
aceleração do fenômeno do branqueamento e clareamento nas periferias e favelas
não descaracteriza a condição do negro enquanto maioria nesses espaços
segregados. Dada à condição de marginalizados e segregados socialmente,
referência essa herdada pelos séculos de escravização a qual foram submetidos,
os negros ainda perpetuam nos patamares mais baixos da classe societária.
Portanto, uma falsa convivência harmônica não diminui e nem desvaloriza a
condição de segregação fenotípica, no entanto só retroalimenta uma pré-condição
já existente e não anula a luta pela igualdade, mas cabe o teor valorativo da
diferença. Sendo assim,
A
luta contra todas essas formas de discriminação e de segregação deve ser uma
pré-condição para a verdadeira unidade da luta dos explorados, uma unidade que
parte do reconhecimento da igualdade como síntese das diferenças, e não da
igualdade que pretende anular com o método de Procusto. (Almeida. 2007, p. 98)
2. BOM
JESUS DO ITABAPOANA UMA HISTÓRIA DE PRECONCEITOS E DESVALORIZAÇÃO DO NEGRO.
2.1 – BOM
JESUS DO ITABAPOANA E O RACISMO, UMA ZONA DE DESCONFORTO.
Nesse
momento somos levados a problematizar sobre a questão racial. Como diagnosticar
um racismo? Diante dessa pergunta desconfortável, certamente iríamos colher
comentários dos mais variados desde àqueles que afirmam que o brasileiro é
racista até àqueles do contra simpatizantes de Ali Kamel[3],
não, não somos racistas.
Uma
vez, tecendo uma abordagem desafiadora, somos levados a tentar solucionar uma
questão pertinente, que soma a nossa discussão: bom se não somos racistas, de
que forma olhamos o outro? Será que realmente olhamos o outro, o diferente como
igual? A busca por responder questões
tão delicadas faz com que fujamos da realidade e vivamos numa realidade em que,
violências como o racismo, não existam, são meramente fantasias nas cabeças de
quem não tem nada para fazer.
A
descoberta do racismo em Bom Jesus do Itabapoana eclodiu numa verdadeira zona
de desconforto. O ranço do rancor branco manifesta-se de uma forma que tal debate
sobre o racismo, atrasa o avanço tanto do progresso quanto humano da cidade.
“Esse debate não cabe em discussão em nossa terra”, ressalva alguns indivíduos
simpatizantes da democracia racial, já até nos disseram que tal questão negra,
não vem ao caso num município do interior.
A
verdade a bem saber, é que tal racismo já existia desde quando os primeiros
habitantes chegaram e constituíram famílias nessas terras bonjesuenses.
Trouxeram seus escravos e com isso, o racismo introjetado da superioridade
branca sobre o negro, a cultura da caridade, do favor, da sucumbência servil a
que o negro estava fadado eternamente ao homem branco.
Bom
Jesus do Itabapoana é um município brasileiro que fica na região
nororeste-fluminense do Estado do Rio de Janeiro. A população é de 35, 411[4]
habitantes, e tem uma área de 598,824 km², subdividida nos distritos de Bom
Jesus do Itabapoana (sede), Calheiros, Carabuçu, Pirapetinga de Bom Jesus,
Rosal, Serrinha, Usina Santa Isabel, Usina Santa Maria, Barra do Pirapetinga.
Bom Jesus do Itabapoana é rodeado ao norte pelo Rio Itabapoana que delimita a
fronteira com o Estado do Espírito santo; a sudeste estão os municípios de
Campos dos Goytacazes e Italva; ao sul e sudeste o município de Itaperuna e ao
oeste-noroeste o município de Varre-Sai. A economia está voltada para a agropecuária e setores comerciais e de
serviços. Conta com um pequeno parque industrial. (Fonte: FIRJAN)
Bom Jesus do Itabapoana, como qualquer cidade do
interior na Brasil, convive com a idéia que seus habitantes vivem em perfeita
harmonia racial, portanto não existe segregação espacial e muito menos racial.
No entanto o que sempre esteve escondido acaba sendo descoberto. O racismo
enrustido do interior acaba por se revelar como sendo o mais cruel dos racismos
velado, leva em consideração o passado ruralista da região onde qualquer piada
com tons de insultos direcionados a cor da pele, não é caracterizado como
ofensa.
"Primeiro o ferro marca a violência nas costas. Depois o ferro alisa a
vergonha nos cabelos. Na verdade o que se precisa é jogar o ferro fora, É
quebrar todos os elos dessa corrente de desesperos.[5]”
É de fato perceptível essa colocação acerca da destruição da cultura do outro,
percebe-se na condução de seu cotidiano onde é aprisionado, acorrentado ao modo
de vida que se mantêm ainda em vigência, o branco. Podemos enquadrar essa ação
de destruição da cultura do outro, numa passagem de Carneiro (2005) onde a
relação do epistemicidio[6]
se encaixa perfeitamente. Nesse ambiente animalizado essa ação destruidora da
cultura do outro nada mais é “uma forma de seqüestro da razão em duplo sentido:
pela negação da racionalidade do outro ou pela assimilação cultural que em
outros casos lhe é imposta” (Carneiro. 2005, p. 97)
2.2 – A
DESCOBERTA DO “ELEMENTO” NEGRO NO BAIRRO SANTA TERESINHA.
O município de Bom Jesus do Itabapoana foi
elevado a condição de freguesia com o nome de Senhor Bom Jesus do Itabapoana em
14 de novembro de 1862. No brasão do município instituído, junto com a
bandeira, na data de 14 agosto de 1965 encontra-se a data de 1842 e 1938. De
acordo com TEIXEIRA[7] (2005) as datas representam “1842 – início da
povoação, com a primeira denominação de Campos Alegre. – 1938 – restauração do
município” (2005, p. 57)
A história do negro na sociedade bonjesuense,
remota ao século XIX precisamente, a partir de 1863
Os novos donos das terras introduziram o elemento
negro. O escravo, com o seu trabalho persistente e barato, representou papel
primordial na evolução da agricultura. “Em cartórios de Campos-RJ, encontram-se
escrituras várias, a partir de 1863, de compra, venda ou troca de escravos,
como simples mercadorias, embora se referindo a pessoas que trabalharam sempre
e exclusivamente, pelo engrandecimento local.” (Teixeira. 2005, p. 14)
Em Teixeira (2005), a história do negro como a
sua importância para o progresso e desenvolvimento de Bom Jesus é praticamente
nulo. Não há registros históricos escritos que descreva a colaboração,
participação do negro, muito menos alguma genealogia familiar dos negros
escravizados que trabalharam como escravos em Bom Jesus do Itabapoana que possa
ser compartilhada.
Os autores destacam somente a genealogia de
descendentes de brancos europeus e mais tarde de árabes. Destacamos aqui a
venda de um escravo de nome Domingos[8].
Colocamos os seguintes questionamentos: E o escravo Domingos, qual a sua
história? Sua genealogia? Sobre o escravo Domingos apenas encontramos uma cópia
de um documento[9]
de sua venda nos livros que narram à história branca de Bom Jesus do
Itabapoana.
Também em seu livro a autora relata a primeira
negra escravizada que foi alforriada, “em 15 de abril de 1866, há o registro da
primeira carta de liberdade, dada a Faustina Theodoro” (2005, p. 14). Novamente
colocamos os seguintes questionamentos: E Faustina Theodoro a primeira negra
alforriada de Bom Jesus do Itabapoana, qual a sua história, sua genealogia?
Praticamente não existe.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ALVES, Marcelo Siles. SANTA TERESINHA: DESCOBERTA DE UM
CONFLITO RACIAL, DE IDENTIDADE E CULTURAL. Trabalho de Conclusão
de Curso do Curso de Serviço Social, Universidade Federal Fluminense-UFF/Campos
dos Goytacazes-RJ. 2º semestre de 2012. Ano 2013, pág, Capítulo 1; 20-21:
Capítulo 2; 38-42.
[1] Companhia de Habitação Popular do Rio
de Janeiro.
[2] Essa parte mais a leste do bairro na
parte baixa, faz-se ao encontro de um córrego que corta o bairro, onde são
despejados os detritos de esgoto. Também onde ainda se encontram algumas casas
populares em seu formato original. Percebe-se, no entanto que, com o passar do
tempo, as moradias foram se deteriorando.
[3]
Diretor Executivo da emissora Rede Globo que em uma palestra, admitiu que o
brasileiro não é racista.
[4]
De acordo com o último censo do IBGE de 2010.
[5]
Luis Silva Cuti poema O Ferro.
[6]
SANTOS, Boaventura de Souza Santos classifica de epistemicídio “a morte de
conhecimentos alternativos”.
[7]
TEIXEIRA, Ana Maria. História de
Bom Jesus do Itabapoana. UFF/Eduff. 3ª edição ampliada. 2005.
[8]
A cópia do documento se encontra no livro Bom Jesus do Itabapoana de Francisco
Camargo Teixeira 3ª edição ampliada. Páginas 78-79.
[9]
Vinde anexo Xerox do documento da venda do escravo domingos
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