ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ & RAPPER.
As particularidades minuciosas
encontradas em nosso cotidiano nos fazem crer que o sentimento saudosista de
uma época em que os descendentes dos colonos que gozavam de totais privilégios,
apesar de ainda estarem gozando, reforçam ainda mais o clamor de um retorno ao
passado do tipo “onde todos sabiam o seu lugar”. Escutei de um senhor que viveu
segundo ele, na melhor época de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, quando se começou a
limpar a beira-rio na gestão do tal ilustre prefeito da época Carlos Garcia.
Detalhem bem o que foi dito por esse nobre senhor da classe do “bem”: começou a limpar a beira-rio. Indaguei-o
sobre o que significava essa limpeza e o mesmo havia dito que: “tirou a zona,
toda a sem-vergonhice e imundice da beira-rio e de Bom Jesus”.
De forma autoritária ele foi
despejando todo o seu preconceito, discriminação e racismo. Disse que havia
conhecido uma empregada negra, mas tinha uma alma branca. Questionei-o sobre o
que significava negra de alma branca, apesar de que bem sabia o que era, e ele
disse: uma pessoa boa, de boa moral. E
eu respondi: o senhor acaba de praticar
um racismo. E ele nervoso disse: não,
nunca fui e não sou racista sempre fui uma pessoa de bem. Essas tais
pessoas de bem sempre me incomodam. A discussão prolongou com o trágico final
do dito senhor de “bem” virando as costas e saindo com seus argumentos fracos
carregados de preconceitos, discriminações e racismos.
E o tal neguim, aaahhhhhh os neguim, as pessoas de “bem” adoram os neguim, “oh feche isso se não neguim invade”, “a
festa rolava tranquila ate neguim começar com a baderna”, “não vou não, porque
neguim vai começar encher a cara e arrumar confusão”. E o tal negão
qualquer preto é negão, mas experimenta chamar todos os brancos de brancão ou
de branquelo pra você ver a confusão que irá criar rapidinho.
São essas particularidades
cotidianas que ao observarmos detectamos claramente o racismo e suas
verbalizações em que os indivíduos ofendidos por não terem essa sensibilidade
acabam reproduzindo. A mistura sanguínea sempre foi e ainda continua sendo umas
das desculpas mais esfarrapadas dadas por aqueles que praticam o racismo de
forma velada e intencional. O branco por mais que se doutore na cultura e
história das Raízes africanas, nunca será um preto, nunca ira sentir na pele as
nossas aflições, conflitos, nunca saberá o que é negar suas identidades,
ancestralidades, o devir negro e sentir a alma africana. O preto sabe tudo do
branco anseia por ser um branco, pois quando nasce já é batizado com um nome
branco, sendo criado numa cultura totalmente branca e marginaliza seus próprios
irmãos por culpar-se de ter nascido negro.