Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense-UFF/Campos-RJ |
Em tese patrimônio está relacionado num bem, que pode ser
material bem como imaterial, que reflete a alma de um coletivo alem do tempo e
espaço. Ele deve trazer o orgulho, a
essência, a voz, os sonhos de uma localidade, região ou nação. Nele deve haver
todo o esplendor e glorificação de um povo representado de uma maneira uniforme
e uníssona.
Mas será que todo o patrimônio realmente representa a
união de um povo? Vejamos como exemplos o nosso pavilhão e o nosso hino
nacional, claro que são bem mais que um patrimônio. O pavilhão nacional remete em suas cores o
Brasil que devemos ter tanto orgulho? O hino nacional com sua composição
hibrida e positivista nos remete a união plena de um povo sabendo-se que, a independência
foi proclamada por uma elite e não pelos pobres?
Para quem se detalhar ao pavilhão nacional, o mesmo remonta
uma ligeira coincidência com o pavilhão da monarquia colonial portuguesa, onde
se expressam bem o azul e branco que são cores da nação colonizadora que faz
par com os dizeres positivistas ordem e progresso cravados no tecido nos
primeiros dias do nascimento da república. Analisemos a seguinte questão: se os
republicanos queriam implantar a república para romper com o estado colonial,
porque o pavilhão continuou e continua sendo uma representação, uma menção de
honra ao passado colonial português?
Muitos patrimônios, no entanto são representações magnânimas,
mas que expressam o orgulho somente de um povo étnico ou de uma família. Em Bom
Jesus do Itabapoana-RJ, por exemplo, existem construções memoriais que no dizer
patrimonial representam apenas histórias de algumas famílias conservadoras-pioneiras
e a um determinado grupo social. Basta observar os perfis para se ter uma clara
noção de que tipo de indivíduos resgatam as histórias patrimoniais bom-jesuenses
e a que grupo social pertencem.
O valor cultural fica apenas restrito a um determinado
grupo seleto, por mais que esse grupo diga que representa o povo bom-jesuense,
o povo bom-jesuense não se sente incluso nessas homenagens e gratificações. O patrimônio,
portanto passa a ser um privilégio de poucos em muitas ocasiões, pois quem se destaca
em reerguer e reaver essas histórias aborda de uma forma que somente uma
representação seja o símbolo e a referência de toda uma cidade.
Nesse sentido o patrimônio local acaba sendo um privilégio
de poucos em detrimento de muitos, uma triste constatação de um povo, uma
cidade que fica obrigada a conhecer apenas uma história.