terça-feira, 25 de outubro de 2016

Alma Preta lança campanha de assinaturas e loja virtual


Projeto desenvolve jornalismo sob a perspectiva racial de maneira autônoma e independente
Em 2015, três estudantes de jornalismo e um do curso de design, todos alunos negros da UNESP, campus Bauru, começaram uma iniciativa audaciosa: a criação de um portal de mídia negra, o Alma Preta.
Desde então, Pedro Borges, Vinicius de Almeida, Vinícius de Araújo e Solon Neto têm feito a cobertura de eventos, como o Encontro de Estudantes e Coletivos Universitários Negros, EECUN, e produzido inúmeras reportagens especializadas sobre a questão racial.
Os temas abordados são muitos. Variam desde o genocídio de negras e negros, representação midiática, cotas raciais, afroempreendedorismo, até pautas estruturantes da sociedade brasileira, como a carga tributária e a democratização da mídia. O ponto em comum de todo material é o alarde e a oposição ao racismo existente no país, fruto da construção do Estado brasileiro e do período escravocrata.
As plataformas de criação e divulgação são diversas. Há uma utilização plural de redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter e Youtube, bem como existe uma produção de conteúdo múltipla, se utilizando de ilustrações, textos escritos ou vídeos. Assim o Alma Preta consegue comunicar e tornar o conteúdo atraente ao leitor.
Para dar continuidade ao projeto, os jovens decidiram dar outro passo, igualmente audacioso: pensar um modelo de negócios capaz de sustentar o portal. “A ideia de fazer uma campanha de assinaturas e uma loja virtual surgiu da necessidade de manutenção do projeto com qualidade. Produzir e mediar informações com credibilidade requer uma estrutura física mínima e garantia de financiamento para os recursos humanos envolvidos nesse processo. A campanha de assinaturas e a loja virtual se colocam como boas possibilidades para estreitar relações com o público que acompanha e valoriza o trabalho feito no Alma Preta, permitindo inclusive maior participação dessas pessoas na direção do projeto, sem que ele dependa de influências externas que alterem a essência da linha editorial adotada”, explica Vinicius de Almeida, jornalista e co-fundador do projeto.
banner textos assinaturas
O jornalismo contemporâneo segue uma regra: diminuição das redações, maior presença de textos de assessoria de imprensa e a raridade das reportagens. A publicidade e o aporte governamental têm se mostrado insuficientes para a manutenção de um jornalismo de qualidade. Vinicius de Almeida explica que a fase atual da comunicação permite outras possibilidades de financiamento mais coerentes com a linha editorial dos grupos. “Hoje para fazer jornalismo qualificado é possível recorrer a outras fontes de financiamento, sendo o diálogo direto com o público uma das possibilidades mais interessantes, pois protege o compromisso ético desses veículos. Grupos independentes possuem um olhar diferente do viés hegemônico da mídia comercial, e trazem pluralidade aos debates na sociedade, coisa que não acontece nos meios convencionais, que monopolizam as narrativas”.
Merece destaque, entre os mais de 200 textos autorais publicados desde o início do projeto, a quantidade de eventos da comunidade e/ou movimento negro noticiados, assim como o volume de casos de racismo que se tornaram públicos no portal. Mais do que isso, o Alma Preta disponibiliza em seu canal no Youtube entrevistas com referências da luta anti-racista como Jurema Werneck, KL Jay, Tássia Reis e Yzalú.
Há também nas páginas do portal uma quantidade expressiva de textos de nomes do movimento negro brasileiro das mais diversas faixas etárias e linhas políticas, como Juarez Xavier, Djamila Ribeiro, Dennis de Oliveira, Caroline Amanda Lopes Borges, Mirts Sants e Danilo Lima.
Incentive!
Quem tiver o interesse em colaborar com o Alma Preta e incentivar o jornalismo preto e independente, pode tornar-se assinante ou ainda adquirir um produto na loja virtual. Todo o sistema foi criado para facilitar o acesso e a navegação em nossas redes para que o usuário aprecie o conteúdo do Alma Preta e contribua de modo financeiro para que se dê continuidade à mídia negra e livre.
Os planos podem ser adquiridos em três categorias diferentes, bronze, prata, ouro, e em três periodicidades distintas, mensal, semestral e anual. A equipe do Alma Preta recomenda os planos mais extensos para que o usuário colabore com o planejamento a longo prazo do projeto. Na loja virtual, os interessados podem adquirir camisetas do mais diversos tamanhos, nas cores branca e cinza, que fazem alusão à Carolina Maria de Jesus, Zumbi dos Palmares, e ao logo do Alma Preta, símbolo da negritude.
FONTE:http://www.almapreta.com/realidade/alma-preta-assinatura-loja-virtual

ALMA PRETA


O Alma Preta, portal de mídia negra, inaugurou um sistema de assinaturas para, com a colaboração de leitoras e 
leitores, desenvolver o seu trabalho jornalístico.

A partir de R$6,00, além do conteúdo aberto, a assinante e o assinante podem acessar produções exclusivas e sugerir pautas. Dessa forma, 
colaboram não só financeiramente, mas também com ideias para a continuidade do portal.
Financie a mídia negra e livre.

Coletivo negro de medicina emite nota contra o Fantástico


O Coletivo Negrex emitiu nota de repúdio ao programa Fantástico, pela reportagem sobre cotas que foi ao ar no dia 16 de Outubro, domingo. Veja abaixo a nota na íntegra:


É com grande indignação que o coletivo NegreX de estudantes negras e negros da Medicina repudia, por meio desta, a reportagem acerca de fraudes no sistema de cotas em instituições públicas de ensino superior, exibida no dia 16 de outubro de 2016 pelo programa Fantástico da emissora Rede Globo. Extremamente tendenciosa, a reportagem se utilizou do mito da democracia racial para tratar o problema das fraudes nas cotas raciais como irremediável, respaldando a afroconveniência de estudantes fraudadores, bem como, questionando a validade das denúncias realizadas.
A reportagem foi um grande desserviço a toda mobilização e luta do povo negro para ocupar um espaço que lhe é de DIREITO nas universidades. Os responsáveis pela lamentável matéria jornalística parecem ignorar o cerne da existência das cotas raciais, o qual reside na reparação histórica por séculos de um regime escravocrata que, ainda hoje, se reflete no estado de fragilidade socioeconômica no qual a maior parte da população negra se encontra. 
A reportagem expõe e culpabiliza, de maneira altamente irresponsável e desleal, uma mulher negra, líder quilombola, por assinar documentos sobre a habitação dos estudantes fraudadores. Tal exposição, além de tirar o foco dos verdadeiros infratores (isto é, quem frauda as cotas se fazendo passar por quilombola), coloca a líder e todo o seu quilombo em uma situação de maior vulnerabilidade e insegurança.
Além disso, para compor a reportagem, jornalistas da referida emissora requisitaram entrevistas com integrantes deste coletivo, que tiveram a oportunidade de colocar seu posicionamento. A despeito desse encontro, houve ocultação de boa parte das falas dos estudantes negros entrevistados e o seu tempo de exibição foi irrisório. Essa edição de conteúdo se configura em silenciamento, retirando a voz dos que se pronunciaram, sobretudo quando associada ao destaque dado para pessoas brancas e juristas que se mostram contra a existência de comissões avaliadoras e que não questionam as brechas da autodeclaração.
Não restam dúvidas de que estamos diante de uma mídia racista, golpista e parcial. A dificuldade de se identificar quem é negro por conta da miscigenação do país deixa de existir no momento em que a polícia decide quem vai levar o tiro. A dificuldade deixa de existir no momento em que se escolhe quem vai ser contratado para o emprego. A dificuldade deixa de existir no momento em que nós, universitários negros e negras, olhamos a nossa volta e não vemos com a frequência que deveríamos nossos iguais, porque tiveram seus espaços de direito ocupados por pessoas brancas incapazes de reconhecer seus próprios privilégios.
Quando falam 'abaixo a corrupção', sejam coerentes. Comecem denunciando quem frauda um direito. Quando dizem 'não sou racista', sejam coerentes. Comecem sendo aliados da luta do povo negro por reparação histórica.
Quantos negros tem na sua sala? Quantos deveriam ter?
É preciso defender a permanência da política de cotas raciais sempre e sua execução de maneira justa. O problema das fraudes nas cotas raciais EXISTE e nós não nos calaremos!
FONTE:http://www.almapreta.com/realidade/coletivo-negro-medicina-fantastico