Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense-UFF/Campos-RJ |
O nicho de algumas antiguidades mesclada ao asco da
nostalgia faz-se repensar a intencionalidade e a apropriação do antigo como
forma de resgatar um abastado campo social, com um poder econômico altivo de
representatividade seletiva. A que ponto o imaterial popular ao associar-se aos
rompantes detentores do poder perde a sua essência e identidade?
A epígrafe apresentada nos convida a uma reflexão
acintosa acerca dos cárceres culturais-populares e os seus resgates por mãos muitas
vezes longe de seus habitat. A posteridade do conhecimento radica-se em seu
griot nas culturas afro-diásporas, por exemplo, e se essa posteridade sofre uma
metamorfose através de outros elementos que não a compunham racialmente, o
resultado desse resgate é permanecer inexpressivo mais folclórico a
manifestação do ser e o seu controle para que não se crie uma ruptura com o
passado afim de que seus verdadeiros donos não se atrevam a ascender como
cidadãos nessa sociedade.
O mote denuncia o propagandeamento da folclorização das
massas populares, em detrimento de resposta a contemporaneidade e globalização dos
sentimentos políticos e consciência dos mesmos. O que isso significa? Enquanto as
culturas populares em seu resgate e valorização não se alçarem em debandar para
outros campos sociais de conscientização, politização e movimento elas merecem
todo o apoio e aparelhamento aquartelado das classes abastadas que indicam um
norte para que as mesmas periodizem somente a cultura como diversão,
entretenimento de um grupo de classe e cor que representam uma classe
dominante.
Desvelar as
culturas populares, não podemos nos tergiversar na ignorância de acharmos que
estamos sendo beneficiados pelos rompantes nostálgicos representantes da classe
dominante, e trazê-la para um debate de inserção e contrapondo a cultura da classe
dominante que sempre quis e quer nos docilizar através de nossas próprias
culturas é o real propósito. Trata-se de uma catarse significativa em relação à
destruição dos membros imposta pelo opressor.
A contemporaneidade fez reacender antigas feridas
descentralizou idéias e mitos populares e apresentou a democracia como
realmente ela é democraticamente-ditatorial-excludente. A globalização expandiu
o espaço, diminuiu distância entre povos e conhecimentos e foi paradoxalmente a
válvula de escape para as conscientizações e surgimentos das democracias. Nesses meios de surgimentos de conscientização
e conhecimento, que surge o debate de, até que ponto as culturas populares
deixam de serem identitárias, promovedora da inserção e conscientização social
para se tornarem folclóricas e produtos de entretenimento de controle das
grandes massas?
A contemporaneidade junto à globalização trouxe novos
elementos que despertaram o senso critico e a criticidade automotora de grupos
oprimidos que antes apenas celebravam suas festas e costumes, mas que não
percebiam a sua real valorização no cerne da sociedade envolto de seus projetos
enquanto cidadãos detentores de direitos sociais e econômicos. Junto a tantos
elementos vem a responsabilidade de se manter sempre viva a cultura que celebra
a ancestralidade e identidade de um grupo, de um povo, fazer com que a mesma
seja o âmago de gerações vindouras e contribua para a formação de cidadãos de
bem e consciente de seu valor na sociedade e na detenção de seus direitos é uma
das grandes responsabilidades. O folclore é lindo, mas deixa de ser lindo
quando o mesmo passa a servir apenas de espetacularização e divertimento para
um controle de massas. Celebremos mas que não percamos a essência.