sexta-feira, 26 de agosto de 2016
Garcia Gam. (Liberdade)
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Como a Igreja arruinou a vida sexual das Américas com pecado, culpa e preconceito
“Não existe pecado do lado de baixo do Equador”, escreveu o holandês Gaspar Barleu ao se deparar com a libidinagem no Recife do século 17.
Por Cynara Menezes, do SOCIALISTA MORENA
Não EXISTIA. A liberdade sexual dos primeiros moradores do Brasil seria logo substituída pela noção de transgressão, pelo pudor excessivo, pelas proibições e pelo preconceito –a homofobia, por exemplo, nascia ali. Em que contribuíram os europeus para a sexualidade das Américas além de nos apresentar à culpa?
Tudo o que era possível trazer para cá, em termos sexuais, já era conhecido entre os nativos: homossexualidade, bissexualidade, transexualidade, bigamia, poligamia. As posições também iam muito além do “papai-e-mamãe” no escuro e sob lençóis dos colonizadores: masturbação mútua, sexo anal, oral, grupal. Sexualmente falando, eram os indígenas os avançados e os homens brancos, os primitivos. Mas foi só chegar a igreja e pronto: a pretexto de civilizar-nos, destruíram milênios de conhecimento autóctone sobre a sexualidade.
As próprias narrativas dos primeiros cronistas são contaminadas pelo puritanismo da época. No México, Hernán Cortés escreveu: “fomos informados de que são todos sodomitas e usam aquele abominável pecado”. O tema da sexualidade, é claro, sofreu censura por parte dos colonizadores, e só recentemente historiadores e arqueólogos têm apresentado descobertas neste campo. Cortés estava bem informado: entre os maias, a homossexualidade era frequente, e uma espécie de rito de passagem da infância para a adolescência (como ocorre, aliás, com tantos homens e mulheres, de forma velada, em todos os tempos).
“Viam no prazer sexual um dom divino, equiparável ao alimento, à alegria, ao vigor vital e ao repouso cotidiano. Era questão de moderar o desfrute daquele presente, como se fazia com qualquer outro bem concedido pelos deuses”, escreveu o antropólogo Alfredo López Austin em um dos artigos da edição especial da revistaArqueologia Mexicana sobre sexualidade entre os maias, em 2010.
A masturbação ritual era praticada por muitos indígenas da América Central como uma maneira de fecundar a terra, considerada “feminina”. As carícias mútuas faziam parte do coito: o homem tocava as partes íntimas da mulher e a mulher tocava o homem. Moderno, não? Tem gente que não faz isso até hoje…
Tudo isso foi documentado em esculturas em pedra e cerâmica que ficaram escondidas, trancafiadas em salas de museu até a metade do século 20. Uma mostra de arte erótica pré-colombiana organizada no México em 1926 foi relegada a um salão secreto durante décadas. Em Uxmal e Chichen Itzá há esculturas dedicadas ao órgão sexual masculino, cujo significado ainda permanece um mistério. Supõe-se que os falos gigantescos simbolizavam a fertilidade e eram objeto de culto.
No Peru, só em 1957 foi aberta a sala onde ficavam escondidas as cerâmicas eróticas pré-colombianas do Museu Nacional de Antropologia. Veio a público então uma impressionante série de cerâmicas da cultura mochica, anterior aos incas, representando atos sexuais de forma explícita, em posições que fariam corar ainda hoje em dia algumas senhoras de Santana da renascida direita tupiniquim. Algumas delas podem ser apreciadas no Museu Larco, em Lima.
(Cerâmicas do museu Larco, em Lima: sexo oral…) |
(…69…) |
(…masturbação mútua – reparem na carinha deles -…)
(…e sexo anal)
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Na América protestante a repressão não foi diferente. Muito igualitária, a sociedade Cherokee dava às mulheres postos semelhantes aos dos homens; elas podiam integrar o conselho da tribo e ser guerreiras. O adultério era permitido a ambos os sexos, sem punição, assim como o divórcio: bastava a mulher colocar os pertences do homem para fora da casa.
Havia ainda os transgêneros, encontrados em mais de 150 tribos norte-americanas. Chamados de Two-Spirit (“dois espíritos”) ou “berdaches”, eram homens que gostavam de estar entre as mulheres, fazer as coisas que elas faziam e vestir-se como elas. Ou o contrário: mulheres que gostavam de se vestir como homens. Os primeiros relatos de colonizadores sobre os Two-Spirit aparecem já no século 16. O preconceito contra eles só vai surgir mais tarde, por influência do homem branco. A partir daí, eles passam a ser rejeitados por suas tribos e são marginalizados.
(We-Wa, uma “dois espíritos” do povo Zuni, do Novo México, EUA, em 1907. Foto: John K. Hillers)
Na América católica, a “Santa” Inquisição foi convocada para reprimir sexualmente os nativos, coibindo “delitos” como a bigamia ou a sodomia, embora fossem práticas permitidas em algumas culturas indígenas. No México, conta-se do índio Ángel Porecu, de Michoacán, punido por bigamia com cem chibatadas. No Brasil, um projeto da Universidade Federal do Pará rastreou os casos de naturais da Amazônia, entre eles indígenas, enviados aos tribunais do “Santo” Ofício em Lisboa por “crimes” similares.
Foi o caso da índia Florência Perpétua, de 28 anos, acusada de bigamia em 1766, levada a Portugal e condenada à prisão, após a qual foi solta e admoestada a viver com o primeiro marido. A sodomia (prática de sexo anal) também era razão para julgamento e punição pela Inquisição, mas apenas a masculina. “A sodomia feminina não era alvo da Inquisição porque não havia o derramamento de sêmen, considerado pecado. A masculina era considerada bestialismo”, explica o historiador Antonio Otaviano Vieira Jr., coordenador do trabalho.
(Tribunal da Inquisição no México)
(Tribunal da Inquisição no México)
A ordem era vestir as índias, cobrir o que foi olhado com tanto espanto e deleite pelos primeiros exploradores. “Desde o início da colonização lutou-se contra a nudez e aquilo que ela simbolizava. Os padres jesuítas, por exemplo, mandavam buscar tecidos de algodão, em Portugal, para vestir as crianças indígenas que frequentavam suas escolas. ‘Mandem pano para que se vistam’, pedia padre Manuel da Nóbrega em carta a seus superiores”, escreve Mary del Priore no livroHistórias Íntimas. “Aos olhos dos colonizadores, a nudez do índio era semelhante à dos animais; afinal, como as bestas, ele não tinha vergonha ou pudor natural. Vesti-lo era afastá-lo do mal e do pecado. O corpo nu era concebido como foco de problemas duramente combatidos pela Igreja nesses tempos: a luxúria, a lascívia, os pecados da carne. Afinal, como se queixava padre Anchieta, as indígenas não se negavam a ninguém.”
Enquanto fora de casa o homem se divertia, dentro do casamento era um pudor só. “Até para ter relações sexuais as pessoas não se despiam. As mulheres levantavam as saias ou as camisas e os homens abaixavam as calças e ceroulas. Mesmo nos processos de sedução e defloramento que guardam nossos arquivos, vê-se que os amantes não tiravam a roupa durante o ato”, lembra Mary.
A sexualidade dos índios no Brasil é ainda hoje pouco estudada. Há alguns relatos de cronistas, como o de Gabriel Soares de Sousa entre os tupinambás, na calienteBahia do século 16. “São os tupinambás tão luxuriosos que não há pecado de luxúria que não cometam”, escreve Gabriel no Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Segundo ele, os índios não só transavam muito como gostavam, homens e mulheres, de falar sobre sexo desavergonhadamente.
Havia homossexualidade e o adultério era permitido também às mulheres, que seduziam amigas para o leito conjugal. “As que querem bem aos maridos, pelos contentarem, buscam-lhes moças com que eles se desenfadem, as quais lhe levam à rede onde dormem, onde lhes pedem muito que se queira deitar com os maridos, e as peitam para isso; cousa que não faz nenhuma nação de gente, senão estes bárbaros”, constata, não sem uma pontinha de inveja, nosso cronista.
As mulheres mais velhas, por sua vez, “desestimadas dos homens”, tratavam de iniciar sexualmente os meninos: “ensinam-lhes a fazer o que eles não sabem”. E os insatisfeitos com o tamanho do membro –nada de novo sob o sol–“costumam pôr o pelo de um bicho tão peçonhento, que lho faz logo inchar, com o que têm grandes dores, mais de seis meses, que se lhe vão gastando por espaço de tempo; com o que se lhe faz o seu cano tão disforme de grosso que os não podem as mulheres esperar”.
“O esforço no sentido de fazer prosperar na colônia estrita monogamia teve que ser tremendo”, escreveu Gilberto Freyre em Casa Grande & Senzala. O pernambucano, que assumia com tranquilidade suas experiências homossexuais na juventude, prestou atenção nas práticas entre o mesmo sexo e na bissexualidade, que não eram incomuns entre os indígenas brasileiros e tampouco eram práticas condenadas. Pelo contrário, os homossexuais eram bem-vistos e tinham relevância na comunidade. Freyre supõe que a função de curandeiro das tribos, não só brasileiras como as demais do continente, fosse destinada aos gays. Também se afirma isso sobre os Two-Spirit, que seriam os xamãs da América do Norte.
“Quanto aos pajés, é provável que fossem daquele tipo de homens efeminados ou invertidos que a maior parte dos indígenas da América antes respeitavam e temiam do que desprezavam ou abominavam”, defende Freyre. “Uns, efeminados pela idade avançada, que tende a masculinizar certas mulheres e a efeminar certos homens; outros, talvez, por perversão congênita ou adquirida. A verdade é que para as mãos de indivíduos bissexuais ou bissexualizados pela idade resvalavam em geral os poderes e funções de místicos, de curandeiros, pajés, conselheiros, entre várias tribos americanas.”
Entrevistei o antropólogo Estevão Fernandes, professor da Universidade de Rondônia, que estuda a homossexualidade indígena.
Socialista Morena – Era frequente a homossexualidade entre os índios brasileiros? Ou depende da etnia?
Estevão Fernandes – Não apenas “era”, como é, algo normal. Um grande desafio no tocante aos indígenas homossexuais em várias terras indígenas do País é o de romperem com uma imagem que se tem, no Brasil, de que os povos indígenas sejam coletividades paradas no tempo. Isso faz com que indígenas cujas sexualidades não se enquadram no modelo hegemônico sejam vistos como “perdendo sua cultura” ou “gays por causa do contato com os brancos”, gerando preconceito, inclusive, em suas próprias aldeias –muitas vezes devido ao contato com os não-índios, com igrejas diversas, por meio da mídia. A perspectiva de que estas sexualidades eram abjetas chegou com a colonização, com a imposição de padrões ocidentais de sexo, gênero, família, pela necessidade do colonizador de se organizar o trabalho, o espaço e o tempo nas aldeias. Assim, os homens deveriam se vestir como homens, trabalhar onde os homens trabalham, ter nome de homem, e se comportar como os homens se comportam; idem com relação às mulheres. Os indígenas que não se enquadravam nesta perspectiva (r)estrita de dimorfismo sexual e heteronormatividade eram castigados –há relatos, por exemplo, de execuções, cortes de cabelo forçados, castigos físicos, etc., levados a cabo pelos colonizadores, não pelos indígenas. Neste sentido, a heteronormatividade e o preconceito são parte integrante da colonização, mas não das formas pelas quais os indígenas lidavam com essas práticas. Temos fontes que situam práticas queer entre povos indígenas no Brasil desde, pelo menos, meados do século XVI e em diversas etnias e povos indígenas do país, sem que houvesse qualquer tipo de preconceito ou exclusão destes indivíduos em suas aldeias.
– Só há relatos de homossexualidade masculina ou feminina também?
– Tanto uma quanto outra (ainda que as fontes sejam mais frequentes no tocante ao sexo entre homens, reflexo da perspectiva viricentrada e patriarcal quase sempre assumida pelos observadores).
– Gilberto Freyre propõe que muitos dos pajés eram homossexuais. Será verdade?
– No Brasil há poucos dados sobre isso, ainda que existam. Isto talvez explique a perseguição que os homo e bissexuais sofreram ao longo da colonização. Há vários relatos na literatura que nos permitem afirmar que havia (e talvez ainda haja), entre povos ameríndios, o ponto de vista que relaciona homo/bi/transexualidade ao potencial sagrado, como mostram os Two-Spirit nos Estados Unidos e Canadá. Também há o caso dxs Muxes, no México, que apontam não apenas para esse importante papel religioso, mas também político e social desempenhado por esses indivíduos.
– A sexualidade indígena é um assunto muito pouco estudado no Brasil. Por quê? Qual a principal dificuldade em pesquisar este campo?
– Ainda é, embora venham surgindo boas pesquisas a este respeito. Uma das hipóteses é, talvez, a própria resistência que algumas lideranças indígenas têm em tocar no assunto, por temerem o preconceito em relação às suas comunidades… Outra é a relativamente pouca penetração de ideias como as teorias queer na academia brasileira. Neste sentido, um grande desafio é trazer o queer para uma discussão mais próxima da etnologia indígena e da crítica às práticas coloniais, administrativas e políticas empregadas junto aos povos indígenas. Por outro lado, fico feliz em ver que alguns e algumas indígenas já se mobilizam em suas comunidades para pensar estas questões, inclusive trazendo estas reflexões para a própria academia –um exemplo é o texto Sexual Modernity in Amazonia, escrito em coautoria com uma indígena Tikuna, aluna da UFAM (Universidade Federal do Amazonas).
– Os relatos dos primeiros cronistas sobre sexualidade eram sempre permeados de julgamentos e preconceitos. Há alguma exceção? Algum cronista foi mais, digamos, permissivo?
– Até onde pude observar, não há exceções… Quase sempre o enquadramento a partir do qual a sexualidade indígena é vista reflete as perspectivas e preconceitos do observador… No tocante aos missionários e cronistas é ainda mais evidente como a sexualidade era vista, junto com a poligamia e a antropofagia, como prova da necessidade de se converter –quase sempre pelo uso do medo– os indígenas.
***
Talvez a própria imagem do indígena como “inocente” ou “assexuado” tenha sido útil à Igreja para disseminar suas teorias sobre céu e inferno. A analogia com Adão e Eva era perfeita: nus, no “Paraíso”, os “inocentes” foram tentados pela serpente do “pecado”. Era preciso fazê-los sentir-se mal em relação a algo natural e convertê-los à “fé”. E assim morria, no “descobrimento”, a genuína sexualidade das Américas. Mas o pecado, Barleu tinha razão, não está mesmo em nosso DNA.
FONTE:http://www.geledes.org.br/como-igreja-arruinou-vida-sexual-das-americas-com-pecado-culpa-e-preconceito/#ixzz4IIShAe00
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Na saúde e na doença
Uma mulher negra vestida de branco num hospital da Zonal Sul carioca só pode ser acompanhante de alguma madame em tratamento
A cena corriqueira aconteceu no fim de uma manhã ensolarada da temporada olímpica da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, aquela que leva no nome o santo de devoção da inesquecível Simone Biles, quatro ouros, um bronze em solo carioca. [Perdoe, leitor, a digressão, mas está difícil me desapegar dos Jogos 2016.] A paciente negra dá entrada no hospital de classe média alta (eufemismo midiático para rico) para uma cirurgia eletiva. É levada ao quarto. Sentada na cama, vestida de branco, espera o médico, quando entra uma enfermeira.
“Bom dia! Ué... Dona Flávia já foi para o centro cirúrgico?”
— Eu sou a dona Flávia.
— Nossa! Está tão bem que nem parece que será operada. Vamos tirar a pressão?
Como são camuflados os caminhos do racismo à brasileira. De tão enraizado, o preconceito produziu associações rudimentares de classificação de biótipos. Uma mulher negra vestida de branco num hospital da Zonal Sul carioca só pode ser acompanhante de alguma madame em tratamento. Nos arquivos das correlações cerebrais, a pasta que poderia apontá-la como paciente segue lacrada. Há quatro séculos.
Passou da hora de explicar para certa gente nem tão bronzeada que a Lei Áurea completou 128 anos e, apesar do esforço de tantos para evitar, uma parcela estatisticamente nada desprezível dos negros brasileiros subiu degraus na pirâmide social. Estudou em boas escolas, terminou a faculdade, tem bons empregos e salário, compra em lojas sofisticadas e faz cirurgia nos melhores hospitais. É como canta o craque Moacyr Luz: “Estranhou o quê? Preto pode ter o mesmo que você”.
A persistência na imagem estereotipada, que só vê nos negros brasileiros o marginal ou o trabalhador de baixa renda e pouca escolaridade, leva à multiplicação de cenas constrangedoras, como a da colunista no hospital de elite. Mas nem todas podem ser retocadas com frases descabidas. Há um conjunto de atos e omissões que explicam o hiato entre indicadores de saúde de brancos e negros — por conseguinte, a vida daqueles, a morte destes.
“Não faltam pesquisas que relacionam mortalidades materna e neonatal ao tratamento desigual oferecido a mulheres brancas e negras. Se você é negra, jovem e solteira terá mais dificuldade para se internar na primeira maternidade a que recorrer na hora de parir. Mulheres negras recebem menos anestesia, porque se convencionou acreditar que são mais resistentes a dor. Não são. As estatísticas de morte no parto provam isso”, dispara Jurema Werneck, médica e fundadora da ONG Criola, de combate ao racismo e atenção à saúde da mulher negra.
Diretora do Hospital da Mulher Eloneida Studart, em São João de Meriti, Baixada Fluminense, Ana Teresa Derraik Barbosa cita resultado do inquérito da Fiocruz sobre nascimentos (o maior já feito no país, em 2012) em relação a consultas pré-natal. Entre as gestantes brancas, 80% tiveram seis ou mais atendimentos; pretas, 68%; pardas, 70%. “Uma em cada grupo de 1.100 mulheres brancas morrerá por gravidez, parto ou puerpério. Entre as negras, a proporção é de uma em 360. A desigualdade existe”, afirma.
Na Pesquisa das Características Étnico-Raciais da População (2008), em que o IBGE consultou brasileiros de seis estados (Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Mato Grosso) sobre a influência da cor da pele no cotidiano, o atendimento à saúde está entre as sete áreas mencionadas. Lideraram o ranking do preconceito o mercado de trabalho (71% de citações) e as instituições jurídico-policiais (68,3%). Mas quatro em cada dez (44,1%) entrevistados afirmaram que a cor influencia na assistência médica. Nos que se autodeclaram negros, a proporção foi a 49%; entre as mulheres ficou em 46,6%, contra 41,4% dos homens.
Em 2011, causou espanto um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o perfil dos transplantados no país. De cada dez receptores de fígado, oito são brancos; pulmão, 77%; rim, 69%; coração, 56%. O acesso a remédios, exames e procedimentos pré-operatórios explica a assimetria no acesso aos transplantes de órgãos. “Quando funciona, quem se apropria do sistema são as pessoas mais bem posicionadas socialmente”, declarou à época o economista Alexandre Marinho, responsável pelo estudo.
A desigualdade racial no sistema médico-hospitalar é real, indisfarçável e precisa ser combatida. É capenga a democracia de um país que discrimina seus filhos no mais básico dos direitos fundamentais. O Artigo 5º da Constituição garante a todos os brasileiros o direito à vida. Saúde faz parte.
FONTE:http://oglobo.globo.com/cultura/na-saude-na-doenca-19989424
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