sexta-feira, 26 de junho de 2015

Aos 11 anos, MC Soffia discute racismo na Viradinha: "Canto para crianças"

Vestida de rosa, com um grande laço no cabelo no estilo black, MC Soffia, de 11 anos, subiu no palco da Viradinha, no centro de São Paulo, acompanhada de dançarinas mirins com tranças coloridas. Deu seu recado em rimas como: "MC Soffia na rima, representa o hip-hop e a questão feminina", "está proibido se drogar porque escola é para estudar" e "o que ensina uma MC vai além do ABC, até o Z de Zumbi".

As crianças em cima dos ombros dos pais, que lotaram a "pistinha" na rua Cesário Mota Junior, não desgrudavam os olhos. "E aí, família, boa tarde", saudou Soffia. Até os pais responderam. "Tá fraco". Tamanha desenvoltura não era percebido minutos antes da apresentação, enquanto Soffia brincava de bambolê entre as crianças, despreocupada e tímida.
"Estou feliz, vai ser a primeira vez que canto sozinha", disse ao UOL, inquieta. Soffia fazia parte de um coletivo chamado Hip-Hop Kids, um sonho que tinha desde quando entrou em uma oficina do gênero.
Em tempos de MC Pedrinho, funkeiro mirim que canta músicas de alto teor erótico, ela explica que faz música para criança. "Eu falo para elas como é bom ser negra e sobre racismo. Quero trazer cultura para crianças. Antes os adultos não queriam que a gente aparecesse", explicou. "Hip-hop é resistência".
A mãe, orgulhosa, incentivou a filha quando o hip-hop bateu na porta. "Ela cresceu em uma casa de militantes e foi muito natural para ela falar dessas questões", explica Camila Pimentel, 29. "Incentivei a pesquisa. Ela foi lá saber quem foi Carolina Maria de Jesus [escritora, compositora e militante, morta em 1977] e Dandara [guerreira negra, esposa de Zumbi]. Ela fala dessas questões com o olhar lúdico de uma criança".
FONTE: http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2015/06/21/aos-10-anos-mc-soffia-discute-racismo-na-viradinha-canto-para-criancas.htm

Heroínas negras na história do Brasil


Na história do Brasil, conta-se muito pouco a respeito das mulheres negras. Na escola, são pouquíssimas as aulas que citem as grandes guerreiras e líderes quilombolas, ou que simplesmente mencionem a existência das mulheres negras para além da escravidão. Em um país em que a escravidão não é retratada como uma vergonha para a nação -  pelo contrário, ainda se insiste que a população negra não lutou contra esse quadro -, isso não é nenhuma surpresa.
Cordel sobre Dandara dos Palmares, líder
quilombola e companheira de Zumbi.
Nós, brasileiros, passamos vários anos na escola aprendendo sobre todos os detalhes das vidas de Dom Pedro I e II, seus familiares, seus casos sexuais e viagens. Na televisão, os imperadores viram protagonistas de minisséries, enquanto os atores e atrizes negros são reduzidos a papéis de escravos sem profundidade. Grandes lutadores como Zumbi dos Palmares, Dragão do Mar e José Luiz Napoleão, são pouco mencionados. Aliás, eles são lembrados apenas no mês de novembro, em razão do Dia da Consciência Negra; mas as mulheres negras, que contribuíram de tantas formas na luta contra a escravidão e nas conquistas sociais do Brasil, nem sequer são mencionadas.
O esquecimento das mulheres negras na história é algo que contribui para a vilipendiação da população negra. Por conta disso, as garotas negras crescem achando que não há boas referências intelectuais e de resistência nas quais possam se espelhar. Para descobrir seus referenciais, é preciso que se mergulhe em uma pesquisa individual, muitas vezes solitária, juntando peças de um enorme quebra-cabeça para no fim descobrir que pouquíssimo foi registrado a respeito de mulheres como Dandara dos Palmaresou Tereza de Benguela – importantes líderes quilombolas.
Devido ao machismo, é muito difícil encontrar registros da história das mulheres, especialmente aqueles que sejam contados de forma aprofundada e responsável. Ainda hoje, poucas mulheres, mesmo entre as brancas ou europeias, são citadas e celebradas por suas conquistas. No entanto, quando essas mulheres são negras, a negligência é ainda maior. Em um país onde mais de 50% da população é negra, a situação desse quadro é absurda.
Mesmo com os esforços racistas para apagar a história das mulheres negras, racismo nenhum será capaz de enterrar a memória de ícones como Luísa Mahin e Tia Simoa. Mulheres negras inteligentes, com grande capacidade estratégica, imensa coragem e ímpeto de transformação, que jamais se conformaram ou se dobraram diante do racismo e da misoginia; pelo contrário, lutaram e deram suas vidas para que mulheres negras como eu pudessem viver em liberdade e escrever, ocupando espaços que, ainda hoje, nos são de difícil acesso.
Infelizmente, tive que descobrir essas guerreiras por conta própria, contando com a ajuda de outras mulheres negras, companheiras de luta, que me apresentaram textos e materiais onde suas vidas foram contadas, ainda que brevemente. Por isso, decidi utilizar minha produção literária, meus cordéis, para contar as histórias dessas mulheres e fazer com que mais pessoas tomassem conhecimento de suas batalhas e do quanto são importantes para a história do Brasil. Até o momento, tenho vários cordéis biográficos que contam as trajetórias de Aqualtune e Carolina Maria de Jesus, além de outras já citadas nesse texto.
Nosso papel é fazer com que essas mulheres negras sejam conhecidas e seus feitos sejam estudados. Seja por meio do cordel, das redes sociais ou de trabalhos acadêmicos, precisamos registrar e divulgar essas memórias. Com elas, provamos que a população negra sempre lutou por seus direitos, provamos que as mulheres negras sempre foram protagonistas dos movimentos negro e de mulheres e que nunca se omitiram ou saíram das trincheiras. Afinal, essas mulheres são espelhos e exemplos do que todas as meninas e jovens negras podem ser.
FONTE:http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2015/04/17/heroinas-negras-na-historia-brasil/

PENSAMENTO COLONIZADOR: O CAPITÃO-DO-MATO.

Marcelo Silles
Assistente Social



A caveira em certos rituais e crenças significa a morte. E é com essa conotação, que determinadas instituições de aparelhamento repressivo do Estado, se intitulam e orgulham-se de carregar e exibir esse símbolo. São seres humanos moldados artificialmente e cruelmente para representarem a morte, fazem questão de serem os titulares, os enviados e servos do mau para aterrorizar e matar, muita das vezes, cidadãos inocentes.
São heranças macabras e pontiagudas, as sobras e aberrações de um colonialismo genocida e exploratório europeu. Mediante as atrocidades mentais e físicas, esses indivíduos são transformados em máquinas, sem sentimentos, robustos cães de guarda dos senhores da guerra, seres vis perpetuadores da desgraça humana.
São capitães-do-mato contemporâneos com um ideal puro e simples de servirem a morte. Alguns são cristãos que firmam em sua fé que, praticam o bem aplicando o mau. São os restos de um ideal pensamento colonizador que lá em um pretérito atroz aplicou com fervor eficiência e eficácia a mesma tática e plano, para transformarem negros entre seus iguais em deformações monstruosas em seu ser, transformar caráter em aberração, bárbaros. O pensamento colonizador pegou aquele negro fraco de espírito e o transformou em capitão-do-mato, o fez acreditar que fazia parte do mundo branco e que, ter nascido negro, era uma maldição que o mesmo não precisaria carregar por toda a vida.
Esses capitães-do-mato, resultante de um modelo excludente de desenvolvimento, que carregam com orgulho a caveira símbolo da morte, são sujeitos bizarradamente alienados, retratos e resultados de uma mutação monstruosa do sistema, servos obedientes e subservientes dos verdadeiros representantes do mau, da cólera da sociedade: a elite brasileira opressora, branca, racista, corrupta e tudo que representa o mau.
Esses algozes caveiras subservientes, cães Cérberos, são máquinas sem sentimentos treinados simplesmente para matar, não importando se é bandido ou inocente, só pelo fato de ser pobre, periférico e favelado, merecem ser aterrorizados, massacrados. Esses insanos bárbaros são eternamente escravos da barbaridade em que a ordem do dia ordinária é simplesmente executar, impor o terror e promover a sede por sangue e morte. E sendo assim, viva a democracia e justiça brasileira.