Somos marginais, a partir do momento que não aceitamos
mais as mentiras que sempre foram contadas sobre os nossos ancestrais, sobre os
negros, o povo preto brasileiro. Somos intolerantes, marginais, racistas a
partir do momento que galgamos algum cargo que sempre foi branco e que negro não
almejava, pois vivia antigamente em seu lugar. Somos marginais e praticamos o
racismo ao contrário, a partir do momento que exigimos as cotas e ações
afirmativas eficazes em reparação pelos anos e séculos de segregação e
exclusão. Somos marginais, somos racistas e nos vitimizamos a partir do momento
que não aceitamos teses brancas que analisam, cientificam, criam hipóteses
sobre a nossa raça, cor, condição social, nossas lutas, tristezas, amarguras,
alegrias, vitórias etc. Somos marginais, somos racistas a partir do momento que
não aceitamos teses brancas sobre as nossas músicas, cultura sobre a nossa
África, sobre os nossos heróis e heroínas. Somos marginais, somos racistas a
partir do momento que afirmamos que adoramos e amamos as mulheres negras e
pretas, homens negros e pretos. Somos marginais, somos racistas a partir do
momento que exaltamos a nossa Africanidade e Diáspora, que temos orgulho de
nossa pele preta, alma preta, vida preta, história preta, música preta e nossos
ritmos que vieram dos quilombos, favelas, periferia que representam a nossa luta
eterna e constante do preto na sua afirmação nessa sociedade brasileira
hipócrita, demagoga e racista. Somos marginais, somos racistas, somos funk,
somos rap, somos hip hop, somos samba, somos o batuque no terreiro, somos
criolo & criola, somos Candomblé e Umbanda, somos Zumbi, Somos Dandarah,
Somos Osvaldão, Somos Sabotage, somos todos os pretos e pretas guerreiros e
guerreiras… Sim sou marginal pois já nasci perseguido. E para os olhos dos
inconformados, privilegiados que já nasceram privilegiados que não aceitam a
auto-afirmação preta, então sou racista!
Att,
Marcelo Silles