quarta-feira, 19 de junho de 2013

Nós somos negros não importa o que haja!! - por Mariana Santos

Publicado em Terça, 18 Junho 2013
Por Mariana Santos de Assis

Há muito tempo venho pensando sobre as relações afetivas entre homens e mulheres negros. Não é um tema simples, o mais comum é que a gente caia na armadilha da busca constante de culpados. Ora a culpa é do homem negro que não compreende as dores da mulher negra, o fardo de estar totalmente fora do padrão estético, ao mesmo tempo que a estética rege praticamente todas as nossas relações sociais, o conflito entre ser bem sucedida, independente, emanciapda e ao mesmo tempo sonhar com o grande amor, a família padrão, as futilidades (im)postas ao gênero. Ora a culpa é da mulher que não compreende o homem negro, suas necessidades masculinas em uma sociedade em que ele não passa de mero objeto de reprodução, sua busca constante pela emancipação que as negras conquistaram bem mais rápido, a necessidade de impor sua posição de macho dominante provedor.
A atriz Cris Vianna e seu namorado. Imagem – Reprodução.

Não discordo que todos tenhamos nossa parcela de culpa no desastre que são as relações entre homens e mulheres negras. Porém não vejo muita utilidade ficarmos nos apunhalando e acusando, o fato é que estamos do mesmo lado da trincheira, queiramos ou não, portanto, precisamos mirar no inimigo certo. Para isso é fundamental entender que os motivos são mais complexos que mágoas, rancores, misoginias e autoritarismos, devemos pensar em como essas relações se constroem historicamente. Primeiramente quero falar sobre o homem negro, qual a condição do homem negro em uma sociedade escravocrata? Espero que ninguém duvide de que ainda estamos sob a égide da escravidão…
Todos conhecem as condições de existência dos negros escravizados no ocidente, porém quando pensamos em termos de construção da masculinidade a coisa toma proporções ainda mais assustadoras e cruéis. O homem africano vivia, em sua maioria, em sociedades patriarcais eram líderes e chefes de família. Nas colônias, igualmente patriarcais, esses mesmos homens se tornaram escravos e eram inferiores a qualquer mulher branca. Não apenas sua humanidade foi tirada, mas também sua virilidade, masculinidade, sua condição de homem e todas as implicações que essa classificação traz, ainda mais em uma sociedade patriarcal, falocêntrica.
Por mais que as definições de masculinidade sejam altamente questionáveis hoje, sobretudo para as mulheres, não podemos negar sua importância nos modos de inserção dos homens na sociedade, no tornar-se homem adulto, responsável e provedor. Os homens negros foram completamente privados disso, ao contrário do provedor, líder e chefe de família ele passou a ser, na escravidão mais barato do que as mulheres negras e servo das mulheres brancas e na abolição sustentado por suas companheiras, pois não havia espaço para ele nesse novo mundo em que foi jogado. Tais são as dores do homem negro e é com esse tipo de sofrimento que suas companheiras precisam saber lidar.
Porém a luta do homem negro por retomar sua masculinidade, quando entendida nesses termos, desconsidera a luta das mulheres por sua própria liberdade, por seu espaço para além de meros úteros férteis e lavadeiras competentes. Buscar essa masculinidade é, dentre outras coisas, desconsiderar a principal vantagem que nós negrxs temos com relação aos brancos, ao menos no que se refere ao debate de gênero, homens e mulheres negras já foram iguais! Na escravidão nós vivíamos nas mesmas condições de subalternidade, animalidade e selvageria, éramos considerados a mesmo criatura sem alma, éramos iguais.
Prova disso, é justamente a relação com as mulheres brancas nesse contexto, elas nunca foram iguais aos homens brancos, mas os homens negros eram inferiores a elas, assim como as mulheres negras. O fato é que ao tentar reconquistar o espaço do masculino em uma sociedade machista e repressora das mulheres, os homens negros estão abrindo mão dessa vantagem histórica, de nossas lutas lado a lado pela liberdade de nossos descendentes, pela nossa dignidade, pela família negra. Em última instância o homem negro que luta por sua posição de chefe, líder, macho dominante está lutando para ser um homem branco, aquele mesmo homem branco contra o qual ele lutou ao lado de sua companheira negra.
Essa talvez seja uma forma de superarmos machismo e racismo, ao menos entre nós. Para compreendermos realmente a dor de nossos irmãos e irmãs é preciso que nossas dores dialoguem entre si, é preciso avançar para além dos muros impostos pela sociedade que nos escraviza e exclui diariamente de suas relações e conquistas, é preciso fazer o caminho mais difícil, seguir abrindo trilhas na mata fechada do preconceito para que nossos descendentes possam vislumbrar com mais nitidez a igualdade que tanto sonhamos.


Mariana Santos de Assis: formada em letras e mestranda em linguística aplicada na Unicamp, militante no Núcleo de Consciência Negra e na Frente Pró-Cotas da Unicamp.

ALIADOS DA É NÓS POR NÓS - PRETTU JUNIOR

Carta aos racistas

Ultimamente tenho visto que o discurso hegemônico ganhou uma nova e velha máxima, " Se vc não esta satisfeito com o Brasil volte pra áfrica" temos ouvido esta frase com alguma freqüência. Esse argumento é antigo e como tudo que vem de gente limitada, é mal preparado também. Pra inicio de conversa quem são os descendentes de europeu colonizadores, genocidas para impor algo a respeito deste país que só é o que é, graças imensa contribuição dos negros trazidos cativo da áfrica. O negro não veio para cá em busca de fortunas e riquezas ou por promessa de incentivo fiscal e terras. Foram violentamente seqüestrados do seu continente. Hoje depois de séculos de contribuição, na gastronomia, cultura, nas artes, na musica e no esporte alguém simplesmente se acha no direito de dizer tal frase. E diz por achar que a cultura negra não tem valor, tudo que remete a África é desprezível e de menor valor. Pra quem conhece e vive o racismo a brasileira na pele isso não é de se espantar, mas o que frustra é fato de que quando achamos que estamos dando um passo à frente vem uma pessoa como esta e nos faz repensar.
Nós não vamos voltar pra África porque infelizmente nunca estivemos lá. Nunca estivemos porque nos foi roubado o direito de sermos cidadãos africanos. Não só esse direito, mas nossa identidade, nossas raízes, nossas referencias juntamente com as riquezas, marfins, ouros, diamantes, petróleo, animais selvagens, peles, madeiras e milhares de almas tragadas pela ganância sem limite dessa gente que hoje se sentem no direito de nos mandar voltar à áfrica. Agora vocês querem que nós voltemos, mas quando desbravamos as matas virgens, trabalhávamos de sol a sol nos canaviais de cana de açúcar, nos cafezais, na lida com o gado, quando morríamos nos troncos, amamentávamos seus filhos, quando éramos acoitados, humilhados, massacrados calados nas mais variadas formas de tortura vocês não diziam isso, e até iam buscar mais negros para satisfazer suas ganâncias pessoais. Vocês querem que nós voltemos à áfrica, mas voltemos com uma mão na frente e outra a traz assim como foi na abolição feita moda a caralho. Querem que nós voltemos, mas que deixe aqui a capoeira, o samba, o maracatu, o jongo, o candomblé, o afoxé, a ginga, e as riquezas geradas com o sangue do nosso povo. A parte da cultura brasileira que é valorizada no mundo é exatamente a que tem maior influencia africana. Ninguém sai da Europa em busca de pizza brasileira, mas atrás de feijoada, acarajé etc.
Mesmo depois de séculos de escravidão hoje vocês ainda não estão satisfeitos e se sentem no direito de odiar o negro. Acham injustificada a revolta de alguns cidadãos negros que se sentem frustrados com as covardias e hipocrisias vigentes nesta sociedade. Se tem alguém que deveria ter ódio aqui não são vocês. Não somos e nem seremos hipócrita e muito menos politicamente correto, pois eu particularmente me sinto neste direito depois de ter passado tudo o que passamos neste pais. Vamos continuar falando o que acreditamos e expondo a nossa opinião da maneira que acharmos mais conveniente doa a quem doer. Somos negros, temos sangue indígena, somos filho dessa terra e nenhum pseudo europeu ideológico tem moral e legitimidade para nos mandar sair.

DORCAS DE PAULA MEMBRO DO ILAC. Tomou posso em julho de 2012


A poetisa e artista plástica Dorcas de Paula
 

O ILAC  (Instituto de Letras e Artes de Carabuçu), fundado no dia 09/12/1995, promoveu no dia 30 de junho passado, nas dependências da Escola Municipal Liberdade, no distrito de Carabuçu, a posse da poetisa e artista plástica Dorcas de Paula Vieira, que passou a ocupar a cadeira no. 18, patronímica de Maria Joaquina Sabino, conhecida como Maria Chebé.

A solenidade foi dirigida pelo presidente da entidade, Rubens Soares Oliveira, e secretariada pela dra. Nísia Campos que é também a presidenta do do ILA (Instituto de Letras e Artes Dr. José Ronaldo do Canto Cyrillo).


O presidente apresentou a nova confreira, que nasceu no dia 24/10/1928, filha de José Francisco de Paula e Sebastiana Maria de Paula. Jorgete de Paula Souza Monteiro é uma sobrinha da homenageada, querida como uma filha, que além de professora é presidenta da ONG OMDA(Organização Movimento das Águas). 
  

Dorcas estudou, na época de primário, com o desembargador Antônio Izaías da Costa Abreu e soube desenvolver suas qualidades de poetisa e de artista plástica, sobressaindo-se também na arte de ser uma "mãezona", a conselheira que tem para todos uma palavra de estímulo para a luta, para a perseverança na vida e para a fé, características que sempre nortearam a vida da nova membro do ILAC.

Coral Canto de Esperança dirigido pela professora Neyde de Souza

Apresentaram-se, durante a solenidade, o Coral Canto de Esperança, coordenado pela professora Neyde de Souza, com participação da professora Elaine, do Instituto de Menores Roberto Silveira, e as cantoras gospel Liliane e Delva, que emocionaram a homenageada.

Ao final, Dorcas agradeceu a todos pela homenagem, que contou com a presença de familiares e inúmeros amigos.

Um coquetel foi servido pelos familiares de Dorcas, a quem O Norte Fluminense rende também suas homenagens pela importante obra desenvolvida, assim como pelo exemplo de vida que é para todos e, em especial, para as novas gerações.
Obras de Dorcas de Paula