sábado, 28 de julho de 2012

A MULHER NEGRA NA SOCIEDADE BONJESUENSE: UMA VISÃO HISTÓRICA NACIONAL NUM CONTRASTE ATUAL. PARTE 1




           Nesse texto procuro abordar, a condição da mulher negra bonjesuense na qual não está distante o racismo praticado em território nacional, e que a territorialidade não pode se fundar e ser usada como fator decisivo de divisão federada, numa falsa afirmação de culturas de modos de vida diferentes. Nesse primeiro momento, busco relativizar a cultura local colaboradora do aspecto condicionante de subserviência da mulher negra no que diz respeito a sua radicalidade e a não busca de sua ancestralidade. Visto que o Brasil fora forjado num sistema paternalista, clientelista, coronelista de viés rural,  essa abordagem não pode ser considerada desnecessária e nem inquietante.


            O que dizer dessa obra racista que inicia o período de vigência do racismo velado brasileiro, com o mito da “democracia racial”? em momento algum, Gilberto Freire se furta em fazer referência a mulher negra como simples objeto de desejo sexual, que alimenta sonhos dos senhores civilizados ditos de bem, que casaram-se com suas senhoras puras, castas, brancas de família, e como machos vis e bárbaros da civilização branca européia, necessitavam descarregar as suas frustrações sexuais que tinham com suas madames suas junções carnais, nas negras ou mulatas que “trepavam”, segundo Gilberto Freire, elogios por ele a parte, como éguas enfurecidas e cheia de gozo.

“Da mulata que nos tirou o primeiro bicho-de-pé de uma coceira tão boa. Da que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama-de-vento, a primeira sensação completa de homem. Já houve quem insinuasse a possibilidade de se desenvolver das relações intimas da criança branca com a ama-de-leite negra muito do pendor sexual que se nota pelas mulheres de cor no filho-família dos países escravocratas. A importância psíquica do ato de mamar, dos seus efeitos sobre a criança, é na verdade considerada enorme pelos psicólogos modernos, e talvez tenha alguma razão Calhoum para supor esses efeitos de grande significação no caso de brancos criados por amas negras p. 368. “

            Por causa dessa desnecessária e podre obra de conhecimento de toda a cultura africana, criou-se o imaginário que a mulher negra é quente, a mulata da roda de samba, do pagode, a passista do carnaval, surge aí o tipo mulata exportação.  A figura sexista da mulher negra passa a vigorar, e perdura até hoje, onde não se é raro os assuntos machistas, clareados claros, que dizem “eu nunca transei com uma negra, dizem que elas são quentes”, “não tem coisa melhor do que as negras,são calientes”. Coisa? Como dizia Marx, até as mulheres negras se tornaram “coisa”, foram “coisificadas”. É de se destacar que, a maioria desses comentários, surgem de homens que possuem um relacionamento estável, o ideal e puro para a sociedade com mulheres “claras”. Fica provado, o quanto a mulher negra é restringida somente a satisfação de seus senhores para a conjunção carnal, e para as suas senhoras como serviçais a moda das senzalas.
            Essa relação cordial, criada por Gilberto Freire, fez nascer um sistema de segregação forçado sem opção de escolha. A mulher negra em seu subconsciente absorve essa condição de objeto sexual e o enxerga como uma forma de fugir de seu carma, sua maldição, que é de ser negra. Passa a renegar, a esquecer as suas origens, a sua ancestralidade passa a almejar a vida “branca”, que ser negra é um pecado gravíssimo, como está escrito em um livro de batismo da paróquia do Senhor Bom Jesus na cidade de Bom Jesus do Itabapoana – RJ: “Solenemente batizei a inocente fulana, filha da escrava cicrana, pertencente ao senhor João....”. 
            A mulher negra, nessa relação condicional de submissão imposta pela cultura branca, conferiu-se a ela a princípio, uma baixa auto-estima frutos de séculos e décadas de repressão e marginalização. Assistiu durante essas décadas e ainda continua assistindo, de seus afazeres domésticos os homens negros sendo cúmplices de seu opressor nessa política sistemática de clareamento, onde o homem negro se rebaixa a condição servil de objeto e faz de sua esposa e mãe de seus filhos a mulher branca, mais clara, morena. Não é raro em Bom Jesus – RJ, escutarem homens negros chamando as mulheres negras de imundas, porcas, “casar com mulher preta cruz credo de preto já basta eu”.  Não se precisa ir longe, na mídia exemplos perfeitos e que confirmam o que falo: OS PAGODEIROS, SAMBISTAS, JOGADORES DE FUTEBOL. Quando estão no início de carreira passando perrengues, estão lá com suas neguinhas, suas fiéis, que até carregam caixas de som e torcem para suas realizações e sucessos. Mais quando atingem o estrelato, a primeira coisa que fazem é esquecer a fiel neguinha e partem para as loiras, morenas, brancas, modelos, atrizes etc. o homem negro brasileiro em sua grande maioria, não valoriza e menospreza a mulher negra.
            Como diz Maria Consuelo da Cunha Campos – UERJ/PEN CLUBE BRASIL:

“A representação hegemônica da mulher negra na literatura brasileira, ao longo da história,  resultou, como sabemos,  de construções de escritores brancos: integrou uma tripartição de funções socialmente atribuídas a mulheres brancas, mulatas e negras, elaborada pelo imaginário masculino eurodescendente. Centrada nos interesses do projeto de hegemonia deste segmento, via patriarcalismo, não apenas nas relações entre os gêneros, mas também nas econômicas, de dependência da mulher ao homem, e políticas, de marginalização dela da esfera pública e, sobretudo, do poder. Pág 1”

“Em contrapartida, estereótipos literários como os da donzela casadoura branca, da mulata sensual e fogosa, da negra abnegada, submissa, máquina de trabalhar, corresponderam, respectivamente, à procriação, à questão patrimonial, familiar e sucessória e à exploração da mão-de-obra, numa sociedade patriarcal, sexista e racista e na qual a literatura freqüentemente reforçou os lugares sociais assinalados ao gênero feminino e às chamadas raças. Pág. 2”

            Bem para os bonjesuenses ausentes e presentes que me auto-intitulam de radical, fico muito lisonjeado pois radical significa raiz e eu tenho, fica a dica de que não invento nada, não tiro absolutamente nada de fantasioso da minha cabeça, tudo é uma construção histórica.
            Bem o que os ditos civilizados não sabem e não valorizam, é que existem mulheres pretas, Candances, que são supremas e são verdadeiro orgulho para todo o povo preto brasileiro. Estão nos tribunais, comandando empresas, empresárias etc. que diferentemente, fazem a diferença e honram a sua ancestralidade, pois elas também são RADICAIS.

REFERÊNCIAS:
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. 51ª edição revista. 2009. Global Editora.

CAMPOS, Maria Consuelo Cunha. A Representação da Mulher Negra na Literatura Brasileira. UERJ/PEN CLUBE BRASIL: