terça-feira, 22 de novembro de 2016

VibeZen - ObgRap (Clipe Oficial)



RAP POESIA INTERIOR. Santo Antônio de Pádua-RJ




AS MINA QUE RIMA: REPRESENTATIVIDADE FEMININA NO RAP NACIONAL

A busca feminina por espaço igualitário dentro do gênero musical proveniente do movimento Hip Hop.

Oito mulheres em uma batalha com um só objetivo: eleger a melhor MC (mestre de cerimônias)através de rimas feitas com temas escolhidos pela plateia.
Este é o formato da Batalha da Dominação, uma competição de rimas na qual somente mulheres podem participar. O evento que teve a sua última edição realizada no V Fórum Nacional das Mulheres no Hip Hop, nos dias 16 e 17 de setembro, em São Paulo, surgiu através da necessidade de criar mais espaços de protagonismo para as mulheres que já participam ou se interessam em participar da cultura Hip Hop através do elemento do RAP. “Hoje as minas estão travando uma luta muito forte, que é uma luta de se empoderar, empoderar outras minas e bater de frente, falar eu posso, eu estou aqui e eu vou fazer”, explica Sara Donato, organizadora da Batalha da Dominação.
As batalhas de rima são comuns, principalmente as do formato conhecido pelos participantes como “sangrento”, no qual um MC rima contra o outro sobre temas livres, geralmente pautados em apontar os defeitos e ridicularizar o adversário.

Esse formato também é misto, ou seja, recebe participantes tanto do gênero feminino quanto do gênero masculino. Porém, as MCs e a organização do evento notaram que este modelo de batalha muitas vezes reprime a participação não apenas das mulheres, que muitas vezes recebem ofensas dos seus adversários relacionadas ao gênero, como também dos próprios homens que estão iniciando a sua trajetória dentro do RAP, como observa a Karine Machado, vencedora desta última edição da Batalha da Dominação“Eu sempre tive um ótimo desempenho nas batalhas de sangue, não me deixava abater e levava na esportiva, sabia me defender, mas fui notando que aquele tipo de batalha não tinha nada à somar, muito pelo contrário, presenciei até mesmo homens que batalharam comigo e se sentiram tão intimidados que falaram que não queriam batalhar nunca mais. Para mim não é interessante causar isso à ninguém, muito menos para as minhas irmãs”, reflete a MC.
Pensando em aumentar e estimular a participação de mulheres em batalhas, o evento opta
pelo formato conhecido como “batalha do conhecimento”, no qual temas como a legalização do aborto, a transfobia, entre outros, são sugeridos pela plateia e desafiam as competidoras a mostrar através das rimas o que pensam sobre cada um dos assuntos, e ao final de cada batalha de rima, a plateia escolhe qual MC passa para a próxima fase da competição.

As minas têm muita ideia pra dar: Mesmo grávida de gêmeos e em uma gravidez de risco, a Karine, embarcou em um voo de Florianópolis até São Paulo para participar da batalha e do fórum. O resultado? A conquista do primeiro lugar da batalha. A MC ressalta que a maternidade não precisa ser um obstáculo e que o importante é estar presente e dar voz aos ideais pelos quais ela luta, “a minha gestação passa uma mensagem forte tanto para as mulheres quanto para os homens pois, geralmente, o homem pensa que quando uma mulher se torna mãe, pronto, acabou para ela! Principalmente no RAP…Acabou, vai para casa cuidar do filho e já era. Mas a maternidade não veio para brecar nenhuma mulher, ela veio para somar, pois é uma oportunidade de evolução, e eu como gestante batalhando provo que uma mulher pode ser feminina, pode ser mãe, pode estar grávida e ainda assim ela tem espaço de representatividade, nós não precisamos mais abrir mão da nossa feminilidade para nos igualarmos aos homens em busca de espaço de fala”, conta Karine.

A MC enfrentou a possibilidade de não conseguir vir até São Paulo para participar do evento quando percebeu que não teria condições financeiras de arcar com os custos da viagem, mas, recebeu forte apoio das mulheres militantes do movimento e outras MC’s do sul do país que se uniram para juntar o dinheiro através de doações e ações culturais, conseguindo assim, financiar a grande parte dos gastos, “eu era a única representante do Sul na Liga de Mc’s, então graças às irmãs nós conseguimos fazer uma vaquinha online e hoje eu estou aqui, presente, podendo levar a minha ideia à todas e trocar com as minas de outras regiões que conseguiram colar”, relata.
A união faz a força: Outro exemplo de que a união feminina está movendo barreiras é o próprio V Fórum Nacional das Mulheres no Hip Hop, encontro que acontece há 5 anos e que reúne mulheres de todos os elementos do movimento, vindas de todas as regiões do país para criar cultura, aprender e debater principalmente temáticas acerca das questões de gênero dentro do Hip-Hop.
A organizadora e militante, Nerie Bento, afirma que o movimento Hip-Hop é predominantemente machista. “Hoje nós temos um problema muito grande que é fazer os homens nos enxergarem enquanto profissionais, e melhor ainda, profissionais de qualidade. Por isso, nós temos poucos apoiadores do gênero masculino, e ainda assim os que apoiam, é de forma indireta e com uma participação tímida”, observa a militante.
Os reflexos desse machismo também são observados pela organizadora da Batalha da Dominação, que relata que, embora os homens sejam convidados a assistirem as batalhas e a participarem dando apoio e prestigiando as mulheres, a presença do gênero masculino é pequena nos eventos aonde o protagonismo feminino é o foco, “o machismo dentro do Hip Hop é uma extensão do que acontece na sociedade em geral, então o problema é que os homens reproduzem dentro do movimento as atitudes machistas que eles foram ensinados a ter desde pequenos, e só alguns manos colam nos nossos eventos, e só os que têm a caminhada certa, por que se tiver a caminhada errada, se não respeitar as minas, a gente não faz questão da presença mesmo”, conta Sara Donato.
As organizadoras de ambos os eventos reforçam que, embora o foco seja a discussão do protagonismo feminino dentro do Hip Hop e do Rap, a participação masculina é bem-vinda.
A próxima edição do fórum acontece somente em 2017, mas a Batalha da Dominaçãopossui edições previstas ainda para esse ano que serão divulgadas previamente nas redes sociais do evento.
FONTE:http://www.zonasuburbana.com.br/as-mina-que-rima-representatividade-feminina-no-rap-nacional/

CONHEÇA, APOIE E COMPARTILHE O PROJETO “INTERIOR TEM VOZ”

Divulgando o rap do interior paulista, o programa Interior Tem Voz, gravado em Bauru, traz entrevistas e clipes de artistas da cena independente. Neurônio Produtora e PDG Rec são responsáveis pelas gravações e edições.
Numa cena em que a produção é enorme, mas a divulgação esbarra na saturação e exposição de uma pequena parcela do hip hop, iniciativas como o Interior tem Voz, canal apresentado por Thiago NGO, merecem destaque e apoio. Betim MCBruno BLFP BeatsBandidos em Harmonia, entre outros artistas rima, gravam e debatem temas atuais no programa, que registra todo o processo de produção dos trabalhos.
CLIPES:
FONTE:http://www.zonasuburbana.com.br/conheca-apoie-e-compartilhe-o-projeto-interior-tem-voz/

As Catorzinhas de Moçambique



ANEESA’MARIE ESBANJA ELEGÂNCIA SONORA NO EP “TURQUOISE PINEAPPLES”

Soul, Jazz, R&B, clima aconchegante. Este é o trabalho de Aneesa’Marie, cantora de Trinidad e Tobago que reside em Londres. Com o EP Turquoise Pineapples”Aneesa’Marie faz uma celebração intimista que proporciona um retorno aos sons da golden era.
A artista lançou recentemente, em parceria com a SBTV, o clipe da música “We Are”, vídeo que registra as relações entre amigos, familiares num cenário que muitos de nós gostariam de estar.
O EP “Turquoise Pineapples”:
Assista o clipe de “We Are”:
FONTE:http://www.zonasuburbana.com.br/aneesamarie-esbanja-elegancia-sonora-no-ep-turquoise-pineapples/

CONFIRA O TEASER DO DOCUMENTÁRIO DE RICA SILVEIRA “DO RAP AO ROCK, DO ROCK AO RAP”

Antecedendo o lançamento de seu primeiro álbum solo previsto para o início de 2017, o rapper e instrumentista Rica Silveira de Santos-SP disponibilizou nesta noite de quarta feira 16/11 um teaser do documentário “Do Rap ao Rock, do Rock ao Rap” com depoimentos de nomes como Clemente Tadeu Nascimento (Inocentes/Plebe Rude/Showlivre)Marcelo Mancini (Banda Strike)Cannibal (Devotos-Recife)Janaína Lima (Kaleidoscópio)W-Yo (RPW), entre outros convidados.
O documentário que será lançado na integra em Dezembro conta um pouco da trajetória musical de Rica Silveira desde o seu primeiro grupo de rap formado em 1993 na Zona Leste de São Paulo, passando pelas bandas de rock, hardcore, punk as quais fez parte nos anos 2000, as andanças pela Europa e Argentina, chegando ao início da carreira solo em Junho de 2015 na cidade de Santos.
Assista ao teaser “Do Rap ao Rock, do Rock ao Rap”:
O rapper se apresenta em Recife – Pernambuco na próxima semana, confira a agenda:






FONTE:http://www.zonasuburbana.com.br/confira-o-teaser-do-documentari

o-de-rica-silveira-do-rap-ao-rock-do-rock-ao-rap/

“HEDONISM”: DISCO DO RAPPER GAY CAKES DA KILLA É UM TAPA NA CARA DOS HOMOFÓBICOS

Em 21 de Outubro um dos rappers gays em maior evidência do cenário americano, Cakes da Killa, lançou seu primeiro álbum de estúdio “Hedonism”.
Com 10 faixas inéditas, o rapper segue sua tradicional batida eletrônica (que alguns tem chamado de hip-house) e fala sobre fritar na balada, sobre lidar com homofóbicos, sobre dar close onde quer que esteja e sobre ser uma diva. Um pouco “demais” para heterossexuais conservadores do rap? Talvez. Mas Cakes da Killa e seus fãs não se importam nem um pouco para heterossexuais conservadores do rap? Talvez. Mas Cakes da Killa e os fãs não se importam nem um pouco com isso.
Mais do que um rapper gay ou um homem gay negro, Cakes da Killa quer mostrar sua vida e o quanto consegue curtir de tudo, superando barreiras e não aceitando ser diminuído por sua cor ou orientação sexual.
O álbum “Hedonism”, está disponível para compra via iTunes.
Em entrevista para a revista Paper, nesta terça-feira (15) o rapper falou abertamente sobre sua vida e sobre os conceitos envolvidos em seu novo álbum. Na ativa desde 2011, o rapper de 26 anos e assumidamente gay. Confira a tradução de um trecho da entrevista (disponibilizada originalmente AQUI).
Paper: Eu percebi que você não gosta de se intitular como rapper. Ou talvez eu tenha visto notícias antigas
Cakes da KillaEu sou rapper agora. Eu sinto que o termo rapper tem uma conotação negativa. Mas agora eu estou refletindo melhor e vendo que eu sou um rapper. É que algumas pessoas não deveriam se considerar rappers.
Parece que isso vem muito rápido para você – ser um rapper. Como é esse processo? Você compõe?
Eu escrevo e muito, o que muitos rappers não fazem… Se eu vou gravar uma faixa, já está na minha cabeça. Eu sei como minha cadência vai seguir, como serão minhas inflexões… Eu escrevo à noite. O melhor horário é entre 2 e 3 da manhã. Vinho. Qualquer tipo de álcool para me deixar aceso.
Então você escreve as coisas. Mas você consegue fazer freestyle também?
 Freestyle tem muita pressão envolvida… Mas é por essa razão que eu me considero um performador ou um escritor. Essa merda pode te trazer muitos problemas, especialmente agora em uma época onde muitos rappers são ruins. Se você quer se chamar de rapper, você precisa meio que destruir esses rappers agora.
Mas todos os bons rappers, como Drake – agora nós estamos questionando se eles são realmente bons rappers, por causa da credibilidade de escrever as próprias letras… O que você sente sobre a situação de Drake e sobre ele não escrever as próprias letras?
Eu acho que as pessoas deveriam escrever as próprias letras porque isso tira o trabalho de pessoas que conseguem escrever. Mas eu também sinto que é possível chegar a um ponto do estrelato onde você precisa de ajuda para se manter. Porque você não consegue funcionar tanto assim. E ninguém vai querer perder essa posição.
Você teria um compositor fantasma?
Essa é uma das coisas a que eu sempre fui contrário. Eu já nem gosto de pessoas me dizendo como arranjar as minhas músicas da forma como elas querem… Eu nunca quis ser um artista mainstream… Mas muitas pessoas estão me dizendo Esse ano será o seu ano, você precisa se virar”. Mas se isso significa me tornar alguém que eu não sou ou dizer palavras que eu não escrevi ou com as quais não consigo me relacionar, eu não o farei. Eu posso até me ferrar, mas não vou engolir isso… Eu até seria co-autor com alguém. Eu não tenho problemas com isso. Mas sobre alguém simplesmente me escrever uma letra… isso não combina comigo.
Você seria um compositor fantasma?
Eu estava justamente pensando sobre sair da música porque eu estava tão cansado sobre falar das questões gays e tão cansado de falar sobre tudo… Você vai ficar no underground? Você vai virar mainstream?”. Essas conversas eu nunca quis ter. Eu só queria fazer música porque era divertido. Então sim, eu estava pensando em ser um compositor fantasma, mas eu percebi que é importante para mim contar a minha história.
Você parecia muito triste na entrevista para a rádio Ebro [Hot97].
Todo mundo me diz isso. É para onde as conversas vão. Eu sou gay. Eu me assumi no terceiro ano do Ensino Médio. Eu tenho toneladas de amigos heterossexuais, não é como se eu vivesse em uma bolha gay. (…)
Eu não me sinto obrigado a explicar para alguém porque algo é problemático: porque algo é racista, porque algo é sexista. Eu não me sinto na obrigação de ser um guia para mostrar às pessoas porque algo é problemático. Você sente que as pessoas te tratam como um guia do que é ser gay?
Falando sobre a entrevista na Ebro (Hot97) isoladamente… Foi mais ou menos isso sim… Eu estava sendo a ovelha de sacrifício de uma certa forma. Eu nunca pensaria sobre mim mesmo como o melhor rapper assumidamente gay dentro do movimento Rap LGBT. Nunca. Eu sou só uma pessoa.
Nem todo mundo está ciente de artistas abertamente homossexuais. Eles não estão no centro das atenções. Eu não tomo isso pessoalmente.
A recepção internacional é bem melhor. Pessoas de fora estão mais livres no sentido de querer aproveitar algo. Se eles pagam o 5 euros para entrar em um rolê, eles só querem se divertir. Eles realmente não se importam com o que está acontecendo. Eu sinto que sou mais conhecido fora dos EUA do que aqui. Eu tenho viajado para outros países de quatro anos para cá.
Em seu último projeto, In My Feelings”… Foi mais suave do que seus outros projetos. Você ainda tem algumas barreiras em IMF” mas – eu não quero dizer sóbrio… Reflexivo, Instrospectivo… Cada projeto é diferente… Easy Bake Oven” foi com barreiras… Hunger Pangs” foi um pouco mais pesado. E sobre o Hedonism?
Em termos sonoros, é bem barrado nesse sentido. Mas eu sinto que estou mais consciente tentando encontrar o equilíbrio entre não perder o que os fãs, que estiveram comigo desde o começo, amam em mim mas também tentar entender o que o mainstream espera de mim. Nesse ponto da minha carreira, um álbum requer que eu seja fiel a mim mesmo como artista mas também um pouco mais “limpo”.
FONTE:http://www.zonasuburbana.com.br/hedonism-disco-do-rapper-gay-cakes-da-killa-e-um-tapa-na-cara-dos-homofobicos/

FÁBIO EMECÊ: “FAÇO RAP PORQUE PRECISO ENFRENTAR O RACISMO, A VIOLÊNCIA ESTATAL E TODAS AS SUAS MAZELAS”

“O mundo branco é pautado no entretenimento, eles criaram essa parada pra dominar e, em vez de sermos contraponto, tentamos copiar”, explica Fábio Emecê, MC e ativista, ao ser questionado sobre a atual realidade da arte preta, militante e periférica dentro do hip hop brasileiro. Emecê segue no rap divulgando suas poesias em e-books, fazendo EPs e divulgando os singles do seu mais recente projeto, Dia do Vadio, trabalho que traz a lírica contestadora do rapper de Cabo Frio, artista que divide seus dias entre a cultura de rua e o ofício de professor.
ZS: Novos personagens estão atuando na cena hip hop brasileira, trazendo outros discursos e questionando algumas demandas e projetos que fazem parte da luta periférica e negra. Estes artistas estão chamando a atenção de um grande público jovem e consumidor. Como vê essa mudança no hip hop?
Fábio Emecê: Olha, a ideia de ascensão a qualquer custo ia tomar forma de maneira significativa no Brasil, até porque sempre existiu, uma propaganda implícita pra isso. A frase célebre do 50cent “Fique rico ou morra tentando” acaba sendo verdade pra uma galera que teve acesso aos bens de consumo, mesmo parcelado.

Ter grana é importante, o problema que a ostentação da maneira como é tratada e até mesmo descontextualizada gera desiquilíbrio, né? Nada novo dito nas letras de rap de sempre, nada novo pra uma galera que está no sistema prisional, mas a linguagem sempre se renova. Armadilha velha, roupagem nova. Tenha tudo, mas a que preço? O preço é a desestruturação, seja ela comunitária, familiar e pessoal.
O Hip Hop tá sendo usado de forma significativa pra dar essa roupagem nova do consumo, até com ares de responsabilidade. E aí ficamos naquela de salve-se quem puder, e dentro de uma lógica racista e excludente, quem se salva nunca são xs pretxs, né?
ZS: Sabemos que muitos artistas, como você, falam de diversão, pertencimento e autoestima de uma perspectiva negra. O que falta para que essa cena preta conquiste mais espaço e passe a influenciar no debate cultural e na diversidade?
Fábio Emecê: Falta muita coisa, inclusive mais pautas significativas dando vozes pros nossos. Ainda é muito pífia a amplificação das vozes em qualquer esfera de comunicação. Muitos do nossos capacitados e invisibilizados. Gente de um quilate de Conceição EvaristoAlan da RosaMuniz SodréAna Maria Gonçalves precisam ser mais ouvidos, seus textos discutidos, suas vozes amplificadas.

Ou seja, nossas referências são referências que ficam num círculo nosso, que é restrito e devido à pouca força de circulação, o debate não vai muito além. Esforços louváveis como um site como Zona SuburbanaAlma PretaPolifonia PeriféricaBocada Forte, Blogueiras Negras, revistas como OMenelick 2º Ato têm que ter investimento, além de amor, sabe? Existem pessoas pretas fazendo e isso já vale, como vale!
ZS: Várias vezes, em nossas conversas, você fez essa pergunta: Por que continuo fazendo rap? Já sabe a resposta?
Fábio Emecê: Ah, faço porque preciso fazer. É minha verdade, minha busca, minha utopia pela autonomia dos nossos que o rap me dá a chance de verbalizar. O rap foi desenvolvido pra ser uma forma verbal dos pretas e pretas se afirmarem de forma positiva no mundo. Uma tentativa de enfrentar o racismo, a violência estatal e todas as suas mazelas. Então faço rap porque preciso continuar sendo um desses elos. Nenhum passo atrás…

ZS: Você já publicou e-books com poesia e fez EPs, álbuns com temáticas diferentes, mas sempre pretas. Acha que falta um maior apoio dos militantes, comunicadores e produtores para que suas ideias tenham maior alcance?Fábio Emecê: Talvez os parâmetros para se elencar alguém como realmente bom ou visível em alguns momentos é a emulação da mídia de massa. E sendo assim, invisibiliza uma galera boa que tá fazendo a coisa acontecer, com produções fodas.
O outro sabe que você faz, que faz bem, mas é preferível dar moral pra x e y devido ao projeto ali de se criar uma referência, uma liderança ou um modelo qualquer pra se seguir. O problema disso tudo é que somos diversos, somos pretos e diversos, e aí diante de uma forçada pra um caminho único, lacunas se multiplicam e discursos contraproducentes se multiplicam.
Ou há a atenção aos aspectos poucos relevantes, típicas de revistas de fofoca. Aquilo, o mundo branco é pautado no entretenimento, eles criaram essa parada pra dominar e, em vez de sermos contraponto, tentamos copiar. Aí um Fabio Emecê da vida vai ser pouco conhecido mesmo…
ZS: A cena política está um caos, principalmente quando o olhar parte da favela, as
perspectivas não são nada boas. Parte do hip hop está dividida em diferente formas de expressão: indiferença, apatia, postura conservadora e de direita e paixão pelo neoliberalismo. Existe saída ou retomada?
Fábio Emecê: Ah, existe, né? Talvez não do jeito dos manuais de revolução tentam impor. Ou uma tentativa de etiquetar quem não vota em x ou y por conta de ser burro. É foda, porque nossa história de origem escravocrata é conservadora. A maneira como o império se estabelece, a república se forma e até mesmo a lógica democrática nunca foram coisas de base popular mesmo. Aliás, toda revolta popular no brasil foi devidamente aniquilada poderio militar do Estado. A retomada pode ser essa consciência mesmo, de que o poder popular precisa ser estabelecido de fato. E pra passar essa ideia, a gente usa a arte, mas tem que ser por todo meio necessário.

ZS: Consegue imaginar como seria a realidade atual sem trabalho dos coletivos periféricos e negros?
Fábio Emecê: Ah, Fabio Emecê não teria sentido, assim como CrioloEmicidaElizandra SouzaMel Duarte estariam fazendo outras coisas, bem menos relevantes, bem menos dignas pra afirmação dos nossos. Os coletivos são nossa engrenagem pra dizer que outro mundo é possível. Um mundo em que a periferia realmente tenha mais sorrisos do que dores e que os pretos não precisam mais conviver com o cancro racista que nos mata, nos adoece, nos deixa em depressão.

ZS: No rap, muitos fãs reivindicam o direito de serem machistas e homofóbicos, dizem que a sociedade esquerdista quer impor uma ditadura que envolve tipos de comportamentos e pensamentos. O que acha dessa parada?
Fábio Emecê: A primeira questão é que pessoas que se afirmam como esquerda também são machistas e homofóbicas, né? Ser machista e homofóbico ultrapassa uma ideologia de possível modelo social. Aí o problema, passam a não enxergar isso como errado e quando se é questionado, sendo que os questionamentos estão cada vez mais fundamentados, não há a reflexão, há uma tentativa de justificar o erro e a desculpa da vez é a sociedade esquerdista.

Não ser machista e não ser homofóbico não é ser esquerdista, é ser além! É ser humano em sua complexidade, sendo que a direita e a esquerda sempre derraparam no processo de destruição dos conceitos machistas e homofóbicos.
Ainda bem que existem artistas que estão colocando essa discussão à tona e existem artistas que se propõem a serem melhores e entendem a importância de se posicionar contra e enfrentar esse posicionamento, que não é só de fãs, diga-se de passagem.
FONTE:http://www.zonasuburbana.com.br/fabio-emece-faco-rap-porque-preciso-enfrentar-o-racismo-a-violencia-estatal-e-todas-as-suas-mazelas/

FLÁVIO XL: “FAÇO RAP DE ADULTO, COM OS PERRENGUES NOSSOS”

Com voz marcante e flow único, Flávio XL faz de seu rap ponte para interligar desejos, lutas e missões. Integrante dos coletivos Muntu e Luta Armada, junção de MCs e beatmakers que fazem sons ligados ao cotidiano periférico com olhar político, Flávio segue por vias e áreas pouco conhecidas no hip hop brasileiro.  Ativista que também faz autocrítica, XL tem a poesia do rap como uma constante em seu cotidiano.  “A vida é muita coisa, é tentar parar, olhar e escrever até também para expurgar”, afirma o rapper.  Conheça mais um pouco sobre Flávio XL na entrevista abaixo.
ZS: Chacinas praticadas por policiais, racismo descarado e velado, pessoas que apoiam ações violentas sobre o corpo de negros e pobres. O que o rap tem a ver com isso? O que seu rap tem a ver com isso?
Flávio XL: Meu rap tem a ver com isso na medida de eu escrever aquilo que vejo e vivo. Sou suburbano da zona norte do Rio, cresci na Penha. Nasci na Baixada Fluminense, Caxias, onde mora mais ou menos metade da minha família. Periferia, duas realidades diferentes, sempre tive pais separados, sempre tive duas possibilidades de enxergar como se vive, no que se acredita e os perrengues reais. Um grande amigo meu me disse que é na base da pirâmide que se encontram as coisas mais brutas, as maiores construções e bizarrices. Tem muita coisa boa, lógico, mas periferia é a parte esquecida do todo, o gigante e invisível, onde tem o mais bolado, o descartável, onde se ostenta, onde se mata. Tive sorte, tive quem olhou por mim e sobrevivi, tenho  37 anos. Meu rap vai cantar o arraste dessa vida, dos meus, é por aí. O rap hoje tomou proporções inimagináveis pra gente tem mais tempo no bagulho, pra mim o rap tinha que ser a CNN preta e periférica, como diz o Chuck D. Sem juízo de valor, cada um tem uma realidade, mas sendo clichê máximo, ainda acredito que o rap seja compromisso. Não falar merda seria o mínimo, mas esse assunto não se esgota fácil assim.

ZS: Novos discursos no rap movimentam a cena, mas, em relação ao cenário de desigualdade social, o que estes mesmos discursos paralisam, reproduzem e negam a reflexão?
Flávio XL: Pra mim, nós paralisamos e negamos a reflexão quando a gente se nega a falar do machismo na nossa cultura, por exemplo. Uma porrada dos nossos viu alguma mulher da família apanhar, caralho! Muitas vezes nossa própria mãe, e aí quando conseguimos ter uma caixa de ferramenta mental que nos permita escrever sobre, não tocamos no assunto? Cada um faz som na sua vibe, mas acho que seria interessante cada MC refletir sobre, sabe? O Neto, do Síntese, disse numa entrevista que a caminhada é pessoal, concordo também com isso. A letra tende a ser o íntimo do MC, aquilo que toca sua sensibilidade. Ninguém aqui é puritano, fera, mas sigo na lógica de colocar no verso coisas interessantes para saírem de mim e coisas que aprendo na militância. O rap também faz parte da minha militância.

ZS: Quais experiências você recorda e valoriza quando você diz em seu rap que agradece ao Coletivo Lula Armada?Flávio XL: Eu sou integrante do Lutarmada desde 2008 (saí e voltei ) e é um coletivo combativo no qual aprendo muito. Hoje, do rap, somos eu, Gas-PA –  relíquia do rap RJ – e o Extremo Leste Cartel. Integro hoje também o Coletivo Muntu, com meus manos Fabio EmecêB. M.K.Lé e Dudu Foxx fazendo os beats (que é um moleque maravilhoso lá de Cabo Frio). E sem esquecer também da banca do Adversos, com meus manos aqui do Manguinhos e Jacaré: Magoo Punx, Bigorna Surtado, Leonício e ainda com o Fabio Emece e o Dudu Foxx. Aprendo com todas essas trocas porque são MCs de trincheira mesmo. Todo mundo quer ganhar sua grana, mas o que nos move são as intervenções junto aos nossos, do jeito que der.
ZS: Seu rap é feito do ponto de vista periférico, negro e que mescla ideias sobre família, relações afetivas e valores. O que inspira sua poesia?
Flávio XL: Tenho 37 anos, como disse. Eu olho os meus há muito tempo e quanto mais eu absorvo do que leio, viajo e vivencio, sempre vejo que cabe uma reflexão. Faço rap de adulto, com os perrengues nossos de pagar as contas, criar uma filha, o entorno de onde eu tô e sou. A vida é muita coisa, é tentar parar, olhar e escrever até também para expurgar.

ZS: Sua filha é personagem em sua rimas. Tem medo do crescimento e sobrevivência dela num país racista e machista como o nosso?
Flávio XL: Tenho medo pra caralho! O mundo tá doido, doído. Tento conduzir a criação de forma a essa alma ter uma caixa de ferramentas que permita entender, se defender e sorrir, conseguir viver as coisas boas que a existência dá. Minha filha é fonte de inspiração constante, essa fase inicial é de intensas mudanças, quanto mais cresce mais maneiro e complexo é o desenrolo. Inspira e transpira, porque é um combo de coisas operacionais e amor, muito doido mesmo.

ZS: O que anda ouvindo e lendo? Poderia indicar livros, blogs e sons?
Flávio XL: Minha rotina de trabalho tá tão corrida que tenho procurado pouca coisa, confesso. Mas tenho ouvido muito o som do vale, que gosto muito. Síntese eu amarro demais. Ouço muito o meu bando citado lá em cima, que tá sempre nos corres e produzindo naquela dificuldade do som independente, assim como o Mano TekoPingo, Lasca (meus manos relíquia do funk antigo), ÁtomoAntiéticosNyl MC, Us Neguin que não se cala, sempre acho bom indicar os que fazem a cena independente acontecer. Som bom e discurso contundente. Blog eu não tenho acessado tanto nos tempos últimos, mas, além do Zona Suburbana ,eu sempre dou uma chegada no Polifonia Periférica.

ZS: É difícil unir estética e conteúdo quando se faz rap político? Rimar sobre o nada é melhor em termos de flow?
Flávio XL: Acho que não é nem a questão da estética só, mas também do que vai soar mais vendável. Acho que a vantagem da internet e o barateamento do custo pra fazer som em casa vão permitir discursos e estéticas múltiplas, quero mais é isso. Mas não me sinto na propriedade de falar de mercado porque não sigo essa lógica, nunca assinei contrato. Quero fazer rap sujo e bom. Na rua, a gente firma os contatos e segue a vida. Lógico que ficaria feliz se uma galera gostasse e baixasse, mas é a rua que diz, e gosto das trocas quando faço alguma intervenção, a identificação com aquela alma ali é a que vale. Isso é o real.

ZS: Até que ponto o fenômeno DISS, que é parte do hip hop, deve ser levado a sério? Consegue se imaginar mandando um som pra outro artista?
Flávio XL: Respeito quem faz diss e achei a Sulicídio um serviço, inclusive. Mas não sou dessa não, e também nunca tive o gosto de ouvir as tretas. Mas pra mim Sulicídio é diferente, ela chama a atenção pra uma polarização RJ/SP , acho que uma galera de outras quebradas tem mais dificuldade sim pra ocupar os espaços. Quem diz o inverso tá de má fé em entender o papo dos caras. Também vejo excessos nesse processo, nessa forma, ao meu modo de ver. Mas acho que os caras já se resolveram, passaram a visão, multiplicaram suas visualizações, gente que não tava na treta se meteu e também ganhou visualização… Deve estar todo mundo feliz! (risos)

FONTE:http://www.zonasuburbana.com.br/flavio-xl-faco-rap-de-adulto-com-os-perrengues-nossos/

SUSPEITOS NA MIRA, na praia de Camburi, Vitória-ES