Em 21 de Outubro um dos rappers gays em maior evidência do cenário americano, Cakes da Killa, lançou seu primeiro álbum de estúdio “Hedonism”.
Com 10 faixas inéditas, o rapper segue sua tradicional batida eletrônica (que alguns tem chamado de hip-house) e fala sobre fritar na balada, sobre lidar com homofóbicos, sobre dar close onde quer que esteja e sobre ser uma diva. Um pouco “demais” para heterossexuais conservadores do rap? Talvez. Mas Cakes da Killa e seus fãs não se importam nem um pouco para heterossexuais conservadores do rap? Talvez. Mas Cakes da Killa e os fãs não se importam nem um pouco com isso.
Mais do que um rapper gay ou um homem gay negro, Cakes da Killa quer mostrar sua vida e o quanto consegue curtir de tudo, superando barreiras e não aceitando ser diminuído por sua cor ou orientação sexual.
O álbum “Hedonism”, está disponível para compra via iTunes.
Em entrevista para a revista Paper, nesta terça-feira (15) o rapper falou abertamente sobre sua vida e sobre os conceitos envolvidos em seu novo álbum. Na ativa desde 2011, o rapper de 26 anos e assumidamente gay. Confira a tradução de um trecho da entrevista (disponibilizada originalmente AQUI).
Paper: Eu percebi que você não gosta de se intitular como rapper. Ou talvez eu tenha visto notícias antigas
Cakes da Killa: Eu sou rapper agora. Eu sinto que o termo rapper tem uma conotação negativa. Mas agora eu estou refletindo melhor e vendo que eu sou um rapper. É que algumas pessoas não deveriam se considerar rappers.
Parece que isso vem muito rápido para você – ser um rapper. Como é esse processo? Você compõe?
Eu escrevo e muito, o que muitos rappers não fazem… Se eu vou gravar uma faixa, já está na minha cabeça. Eu sei como minha cadência vai seguir, como serão minhas inflexões… Eu escrevo à noite. O melhor horário é entre 2 e 3 da manhã. Vinho. Qualquer tipo de álcool para me deixar aceso.
Então você escreve as coisas. Mas você consegue fazer freestyle também?
Freestyle tem muita pressão envolvida… Mas é por essa razão que eu me considero um performador ou um escritor. Essa merda pode te trazer muitos problemas, especialmente agora em uma época onde muitos rappers são ruins. Se você quer se chamar de rapper, você precisa meio que destruir esses rappers agora.
Mas todos os bons rappers, como Drake – agora nós estamos questionando se eles são realmente bons rappers, por causa da credibilidade de escrever as próprias letras… O que você sente sobre a situação de Drake e sobre ele não escrever as próprias letras?
Eu acho que as pessoas deveriam escrever as próprias letras porque isso tira o trabalho de pessoas que conseguem escrever. Mas eu também sinto que é possível chegar a um ponto do estrelato onde você precisa de ajuda para se manter. Porque você não consegue funcionar tanto assim. E ninguém vai querer perder essa posição.
Você teria um compositor fantasma?
Essa é uma das coisas a que eu sempre fui contrário. Eu já nem gosto de pessoas me dizendo como arranjar as minhas músicas da forma como elas querem… Eu nunca quis ser um artista mainstream… Mas muitas pessoas estão me dizendo “Esse ano será o seu ano, você precisa se virar”. Mas se isso significa me tornar alguém que eu não sou ou dizer palavras que eu não escrevi ou com as quais não consigo me relacionar, eu não o farei. Eu posso até me ferrar, mas não vou engolir isso… Eu até seria co-autor com alguém. Eu não tenho problemas com isso. Mas sobre alguém simplesmente me escrever uma letra… isso não combina comigo.
Você seria um compositor fantasma?
Eu estava justamente pensando sobre sair da música porque eu estava tão cansado sobre falar das questões gays e tão cansado de falar sobre tudo… “Você vai ficar no underground? Você vai virar mainstream?”. Essas conversas eu nunca quis ter. Eu só queria fazer música porque era divertido. Então sim, eu estava pensando em ser um compositor fantasma, mas eu percebi que é importante para mim contar a minha história.
Você parecia muito triste na entrevista para a rádio Ebro [Hot97].
Todo mundo me diz isso. É para onde as conversas vão. Eu sou gay. Eu me assumi no terceiro ano do Ensino Médio. Eu tenho toneladas de amigos heterossexuais, não é como se eu vivesse em uma bolha gay. (…)
Eu não me sinto obrigado a explicar para alguém porque algo é problemático: porque algo é racista, porque algo é sexista. Eu não me sinto na obrigação de ser um guia para mostrar às pessoas porque algo é problemático. Você sente que as pessoas te tratam como um guia do que é ser gay?
Falando sobre a entrevista na Ebro (Hot97) isoladamente… Foi mais ou menos isso sim… Eu estava sendo a ovelha de sacrifício de uma certa forma. Eu nunca pensaria sobre mim mesmo como o melhor rapper assumidamente gay dentro do movimento Rap LGBT. Nunca. Eu sou só uma pessoa.
Nem todo mundo está ciente de artistas abertamente homossexuais. Eles não estão no centro das atenções. Eu não tomo isso pessoalmente.
A recepção internacional é bem melhor. Pessoas de fora estão mais livres no sentido de querer aproveitar algo. Se eles pagam o 5 euros para entrar em um rolê, eles só querem se divertir. Eles realmente não se importam com o que está acontecendo. Eu sinto que sou mais conhecido fora dos EUA do que aqui. Eu tenho viajado para outros países de quatro anos para cá.
Em seu último projeto, “In My Feelings”… Foi mais suave do que seus outros projetos. Você ainda tem algumas barreiras em “IMF” mas – eu não quero dizer sóbrio… Reflexivo, Instrospectivo… Cada projeto é diferente… “Easy Bake Oven” foi com barreiras… “Hunger Pangs” foi um pouco mais pesado. E sobre o “Hedonism”?
Em termos sonoros, é bem barrado nesse sentido. Mas eu sinto que estou mais consciente tentando encontrar o equilíbrio entre não perder o que os fãs, que estiveram comigo desde o começo, amam em mim mas também tentar entender o que o mainstream espera de mim. Nesse ponto da minha carreira, um álbum requer que eu seja fiel a mim mesmo como artista mas também um pouco mais “limpo”.
FONTE:http://www.zonasuburbana.com.br/hedonism-disco-do-rapper-gay-cakes-da-killa-e-um-tapa-na-cara-dos-homofobicos/
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