ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-RJ & RAPPER.
O meu TCC Trabalho de
Conclusão de Curso foi sobre o bairro Santa Teresinha popularmente conhecido
como Volta da Areia. Escolhi o tema e a discussão mediante estágio obrigatório
que realizei no CRAS do bairro e também por experiência individual. Apliquei um
formulário qualitativo contendo 21 perguntas para 30 moradores do bairro. O
resultado foi impressionante os próprios relataram o preconceito que sofrem
mediante ofensas diretas e indiretas, o racismo escancarado em nosso município
onde as pessoas ditas do “bem” insisti em dizer que não existe.
Debandando por diversos
ambientes, sempre escutamos o famoso “nêgo
vai e atrapalha tudo”, “neguim já chega bagunçando”, “aí que nêgo começa a
fazer zona também porque neguim já chega pra bagunçar”, “não, somente nós da
família se não neguim começa a invadir”. Coitado desses dois indivíduos
nêgo e neguim devem viver com as orelhas esquerdas quentes o tempo todo de
tanto agouro racista e xenófobo. Típico de brasileiro especialista em dissipar
o seu racismo e depois sair por aí dizendo que não é racista.
A tal “invasão cubana”
propagada por alguns órgãos da nossa impressa, ruboriza tudo que representa o
tal “povo heróico de brado retumbante”. O tal “povo heróico de brado
retumbante” estava nos aeroportos, instituições hospitalares, na internet e nas
redes sociais chamando os cubanos negros de “escravos” e que deviam voltar para
a “senzala”. E o mesmo “povo heróico do brado retumbante” exigia que os médicos
que viessem fossem canadenses, ingleses, noruegueses, dinamarqueses, franceses,
ou seja, que sejam brancos europeus. Bom se isso não é uma prova totalmente
cabal de racismo então não sei o que é.
As relações do sistema opressor
democrático brasileiro sempre tiveram o impacto diretamente às classes
inferiorizadas, a periferia nunca conheceu a democracia. Ao contrário das
classes abastadas que sempre e continuam gozando de privilégios por conta de
seus ancestrais europeus. Os indícios da diferença gritante de classes são
altíssimos. Apesar de detectada, por alguns, alguma melhora no cenário
econômico a periferia continua sendo cenário de exclusão, discriminação,
segregação e racismo. Uma medida paliativa econômica é o que está acontecendo
no momento.
E no meio disso tudo está o
bairro Santa Teresinha, conhecido popularmente como Volta da Areia, Voltaça, e
os estigmas criados entorno desse território periférico. Porque novamente
retorno a essa tema? Porque novamente ainda continuo escutando palavras de
conteúdos racistas e discriminatórios em relação ao bairro, mais precisamente
ao morro.
Sabemos que a Volta da Areia
surgiu nas construções da COHAB, Companhia de Habitação do estado do Rio de
Janeiro na década de 1970, foram erguidas casas populares onde posteriormente
outras residências foram sendo erguidas sendo que fora da faixa de zoneamento
urbano. As pessoas que foram habitar esse território eram pessoas pobres de
muito pouco poder aquisitivo e de maioria negra, portanto um dos fatores que
levam a crer fielmente na criação de muitos estigmas relacionados a essas
pessoas por moradores de outros bairros do município de Bom Jesus do
Itabapoana-RJ. O projeto ético-político bom-jesuense por parte dos
conservadores, progressistas e republicanos sempre foi o de centralizar e
elitizar o centro e jogar as margens os pobres e os negros. O discurso
manipulador fica claro nas palavras das ditas pessoas de “bem” de Bom Jesus do
Itabapoana-RJ.
A Voltaça resiste e encanta.
São pessoas humildes, batalhadoras, de bem com a vida, simples e quando podem
ajudar ao próximo o fazem de bom grado. Pessoas que sabem dos preconceitos e
discriminações que sofrem estereótipos que carregam desde a sua fundação. Tem
sua história contada além de seus moradores pelo clube de futebol do bairro o
Rio Branco, e a saudosa escola de samba Acadêmico do Castelo Branco.
Tudo que é belo incomoda, e
a Voltaça está aí mesmo para incomodar. Incomodados que se mudem, ou melhor,
dizendo, ponham-se no seu lugar de abastados, deméritos da verdade. Recalque é
dor de cotovelo e inveja de querer ser o outro, mas não pode, porque querer não
é poder.