Recentemente, ouvi de um colega de trabalho, a
senhora é morena. Eu disse, sou negra, não existe a etnia morena.
Aí...como sempre, veio aquele comentário
infame: Eu falei morena, porque eu não queria ofender a
senhora...(rsrs) >>>A questão de assumir-se como
afrodescendente não é meramente científica, mas politico e ideológica, é
importante que assumamos nossa identidade, até então negada pela
cultura eurocêntrica. Aprendemos na escola que somos o resultado da
mistura de índios, negros e europeus, mas curiosamente, só temos acesso à
cultura européia. Cadê a cultura dos povos originários (denominados
pejorativamente pelos europeus de índios)? Cadê a o conhecimento da
cultura africana ( que há 10 anos virou lei, mas até hoje não é conteúdo
dos concursos oficiais e nem das aulas de história do Brasil)? Muitos
professores ignoram que o Egito é na África. Somos a diáspora africana e
precisamos nos assumir com tal, promovendo o resgate da outra banda da
nossa história. Esse olhar de que somos todos seres humanos, é muito
bonito, romântico e poético, mas é justamente essa leitura que reforça e
justifica o abandono de gerações e gerações de afrodescendentes. De
fato somos "iguais" do ponto de vista biológico, mas numa sociedade
ainda organizada com valores e padrões eurocêntricos, “uns são mais
iguais do que “outros”. O preconceito étnico está nas entranhas, por
mais que ele não transpareça, as frestas das consciências ainda estão
impregnadas e vez ou outra ele vem à superfície. A recente divisão da
sociedade brasileira com a políticas de cotas tem mostrado isso, vem
com aquele discurso pseudo paternalista de que os cotistas não terão
condições de acompanhar o curso... evidenciando de um lado a crença na
inferioridade e a preocupação da saída desses jovens de um lugar que até
então era tido como NATURAL. O fato de discutirmos publicamente tais
questões não nos faz "racistas", precisamos ter coragem de dizer,
colocar o dedo na ferida, fazendo jus a categoria de sujeitos
pensantes. As ciências humanas e da natureza surgiram dentro dessa
lógica, alguns saberes ao longo dos séculos 19 e 20 romperam com esse
formato de educação eurocêntrica, outros continuam reproduzindo e
sustentando “dogmas” de neutralidade política, deixando a “ciência”
acima de qualquer suspeita. Procuro respeitar o direito daqueles que
pensam diferente... mas se tem uma coisa da qual não abro mão é do meu
direito de pensar diferente e de dizer o que penso. Qualquer um que
tenha essa postura é bem-vindo nesse diálogo.