terça-feira, 13 de agosto de 2013

POVO CHIQUE

MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ & RAPPER

Certo dia uma pessoa comentou com minha pessoa que a tal festa de São Pedro do Itabapoana, é muito boa, melhor festa da região porque somente vão a essa festa pessoas “chiques”, pessoas “bonitas” você não vê gente feia. Questionei-me a mim mesmo, o que seria essa gente feia?

A pessoa que comentastes comigo tem o perfil padrão elite-classe média faz parte do tipo que se incomoda com moradores da Volta da Areia, Usina Santa Isabel, Nova Bom Jesus, Asa Branca, Morro do Querosene e demais localidades com pontuações periféricas. Pessoas como a tal, percebam que coloquei no feminino, não suportam estarem no mesmo lugar com pessoas que a tal classifica como favelados, barraqueiros, marginais. Portanto, padrão bom-jesuense das ditas “pessoas de bem”, conservadoras, oligárquicas, assistencialistas, paternalistas.

Essas tais festas que a tal relatou são de perfis sertanejos e forrós universitários, onde habitualmente os indivíduos que as frequentam fazem questão de expressarem suas raízes claro-eurocêntricas. O padrão branco é totalmente visível, tanto os homens como as mulheres têm as cútis branca ou clara, é raro vê pretos ou pretas nessas festas. Quando os encontram, ficam as margens longe dos holofotes que procuram somente as pessoas bonitas, ou seja, preto não é bonito. Infelizmente isso está acontecendo com o nosso samba e pagode. Bom as pessoas de “bem” podem entrar numa boa em nossos meios, enquanto nós não podemos sequer frequentar os seus ambientes sem sermos tachados de marginais, barraqueiros ou melhor que estamos incomodando ou enfeando a festa.
Retornando ao assunto da tal festa de gente bonita de São Pedro do Itabapoana, na qual analiso como um encontro de tribo que se auto-declara verdadeiros senhores e senhoras dessas terras e ainda a serem bajulados e adorados por aqueles que eles classificam indiretamente como “seres inferiores”. Bem se é uma festa bonita onde predomina indivíduos brancos ou de peles mais claras, deduz-se que pretos e pretas não sejam pessoas bonitas para os tais.

Comentários com cunhos de promover o racismo e o segregacionismo são comuns em Bom Jesus do Itabapoana/RJ e Bom Jesus do Norte/ES. As “pessoas de bem” carregam o ranço de dividirem espaço com pessoas que em seus círculos os mesmos os classificam de indesejáveis. O cotidiano da sociedade bom-jesuense é esse.


Portanto, deixo uma análise crítica do que é o ser bonito e o ser feio. O padrão beleza e o padrão feio. Não adianta justificarem com questões tipo “você está vendo coisas e colocando na sua cabeça”, “vocês que estão sendo complexados”, porque o racismo brasileiro velado é praticado dessa forma, com verbalizações subliminares.




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