NOS DEEM LICENÇA É A SOCIEDADE NÓS POR NÓS
BOM JESUS E PÁDUA ESSA É A VOZ
CHEGAMOS PRA INCOMODAR E DERRUBAR O IBOPE
NOSSO CARTÃO DE VISITA É O RAP O SOM É FORTE.
SEM NEUROSE SEM THE VOICE
É A REALIDADE NUA E CRUA, SEM CLOSE E SEM BUNFUNFA
É A RUA EM BOM JESUS OS EMERGENTES
NEM PIOR, NEM MELHOR APENAS DIFERENTE
CLICK CLECKE BANG OUÇA O ESTALO
NÃO SE APAVORE SINTA O BEAT ESTILO LOCK
E AGORA AS CAIXAS VÃO BOMBAR NO ESTÉREO, GRAVE, AGUDO
ENQUANTO ISSO EU NOS BASTIDORES OUVINDO OS BALANÇOS
DE RAY CHARLES, TUPAC E OS DIAS DE HOJE.
FEITA A APRESENTAÇÃO ME DESPEÇO DE FININHO
DEIXANDO VC´S NA COMPANHIA DO GRANDE MESTRE DA BLACK
BONJESUENSE DJ BETINHO.
Pretérito perfeito ou imperfeito, não importa a
época, só sei que são lembranças maravilhosas. Épocas em que a Voltaça nos
pegou numa corrida da praça indo pela beira-rio até a minha casa na Figueiredo.
Época que me iniciou nas rimas.
Tudo começou com um grupo de funk carioca chamado
Nova Geração, se não me engano havia um grupo num programa da Xuxa que também
levava esse nome não me vem a memória nesse momento quem fazia parte. O grupo
de funk carioca Nova Geração de Bom Jesus do Itabapoana-RJ era formado por mim
Marcelo Silles, Almeida, Betinho, Ostim, JB, Léocadio e mais uma pá de gente,
na verdade era quase uma banca indo para formação de um coletivo. Os mc´s eram
eu Marcelo Silles, Betinho, Almeida, Ostim. MC Almeida (Vitor Almeida) é filho
de uma das famílias tradicionais de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, a família
Almeida. Lembro bem da primeira vez que rimamos no Aero Club de Bom Jesus, o
seu pai e mais um amigo foram lá conferir o evento, de certo festa de preto e
os brancos burgueses tinham medo, pois na época o funk carioca ainda era uma
novidade e classificado como festa de marginais. Recentemente um dito blogueiro
bonjesuense redigiu um texto criticando o carnaval de 2013 de Bom Jesus onde
somente estava tocando músicas para marginais, estava tocando somente funk. O
funk carioca é representante da classe pobre periférica é normal que pessoas
tenham essa visão distorcida, racista e preconceituosa.
Bem a primeira apresentação do grupo, que além de ter
o rap (no estilo funk carioca) como elemento, também tinha a dança, e a
primeira apresentação do grupo foi na Igreja Capela São Sebastião onde a
maioria fazia parte do grupo Jovem na época. E foi uma performance de dança. Eu
não dançava, não sei dançar, rs. O grupo durou muito pouco tempo, um episódio
muito triste marcou o seu fim, a morte do pai do nosso grande irmão e líder do
grupo, Betinho, José Roberto na qual abalou a todos. Betinho logo em seguida,
mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro onde reside até hoje. Quem realmente
continuou por um tempo fomos eu e meu parceiro MC Almeida, o tal da família
tradicional de Bom Jesus. Rimamos num evento de festival de funk carioca que
ocorreu em 1995, no Aero Club de Bom Jesus onde quem venceu foi um MC de
Niterói. Tudo indica que já estava firmada a sua vitória, sabe como é né os
cidadãos de Bom Jesus só dão valor o que é de fora.
No mesmo ano rimamos no Olympico Futebol Clube, onde
também ocorreu um festival de MC´s, 99% do público era da Voltaça. Lembro-me
bem que eu e MC Almeida cantamos um funk exaltando a Figueiredo. O clima para o
nosso lado não estava bom, estávamos representando um bairro rival, a
Figueiredo. Lembro-me bem de geral nos zuando por causa das nossas roupas (não
fazíamos questão de roupas de marca, andar na modinha) e também não tínhamos
fama de comedor e nem de pegador. Nesses estilos quem é comedor demais, pegador
demais ou se puxou um tempo encarcerado tem certa moral com as minas, elas se
amarram.
Essa foi a última apresentação de nossa parceria.
Logo continuei solo. A primeira vez que rimei sozinho, foi no mesmo ano no Aero
Club de Bom Jesus onde muitos gritavam “o Marcelo é rei, uhuuhu o Marcelo é rei”,
confesso que fiquei muito envaidecido com essas palavras hehehehehe. Depois
dessa veio a minha última na quadra do bairro Pimentel Marques no mesmo anos,
onde não fui bem e, portanto perdi a minha coroa, a minha majestade. Mas esse
último evento foi importante pra mim, pois eu descobri que na verdade não
rimava funk-carioca e sim rap/hip hop. Na verdade eu fazia parte da Cultura de
Rua, da Cultura Black Music. Percebi pela forma e formato das minhas rimas, meu
flow e ginga, no emprego das palavras, pela forma crítica e bem elaborada das
minhas letras com conteúdos totalmente diferente dos mc´s daqui. E também pela
forma rasteira. Mas esse processo contribuiu muito para o meu aprendizado e
descobrimento.
Retornei com tudo em 2005 agora na cidade de Cariacica-ES.
De 2005 a 2008, fiz muitas coisas, muito mais de quando eu morava em Bom Jesus
do Itabapoana-RJ. Gravei o meu primeiro single com os meus irmãos B.G. e Nanda
Silva onde fomos convidados a participar da coletânea Hip Hop nas Escolas.
Gravei com o grupo de rap Negritude Ativa, Vila Velha-ES, e com o meu parceiro
MC Agulha, Vitória-ES, e também com o meu grande parceiro de Guiné
Bissau/África Fabian Ifrikan. Atuei em projetos sociais ligados a Cultura de
Rua, e vários outros.
Como a Black Music e A Rua estão na alma, à atividade
não para e junto com o meu parceiro da antiga daquela época de Bom Jesus, DJ
Betinho prossigo na caminhada preparando novos trampos.
Um breve relato de minha parte de como surgiu o
funk-carioca em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, aconteceram muitas e outras coisas
mas o espaço é curto. De volta a Bom Jesus do Itabapoana-RJ e resgatando a
Cultura de Rua. É Nós Por Nós.
Texto:
Rapper Marcelo Silles
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