Boa tarde cidadão de cor pode me dá uma informação?
Essa pergunta foi me dirigida no domingo 12 de maio de 2013 na Praça Governador
Portela em Bom Jesus do Itabapoana-RJ, por um senhor aparentemente de avançada
idade e com um perfil cultural bem coloquial ruralista para o nosso tempo.
Inocentemente talvez ingênuo não soube formular sua pergunta em busca de uma
informação de forma correta. Educadamente o informei, não o questionei
sobre a sua conduta mediante a mim, já que o senhor havia sido educado e
notadamente reparei a sua postura tanto corporal quanto em seus gestos, simples
e de modo humilde destituído de certo saber acadêmico que a sua face mostrava o
quão à vida lhe havia sido dura.
O que sempre me chama a atenção é simplesmente a
dificuldade tamanha de pessoas se dirigirem aos negros e os chamá-los de
negros. Ou simplesmente não diga nada, simplesmente diga senhor, senhora esse
lance de cidadão de cor chega uma hora que é um saco. Bom somos a nação que aboliu a escravidão
tardiamente, brasileiro sempre é o último em tudo veja a industrialização, a
abolição aconteceu à apenas 125 anos então os pretos escravizados foram
libertos há apenas uns anos atrás, portanto resquícios da escravidão ainda são
recentes. Bem sabemos que na verdade o final exato da escravização se deu por
volta de 1930, segundo alguns historiadores.
Muitos negros pode se afirmar a maioria, sucumbiram a
subserviência e aos modos de vida branco, foi o germinar para um ambiente
fértil para a implantação do projeto de miscigenação e destruição da raça
negra. Certo nada de novo. Bom o que sempre é novo é essa classificação de “cidadão
de cor”, sendo que cor tem a sua denominação preta, amarela, azul, vermelha
etc. fica muito vaga e ambígua essa classificação a indivíduos negros de
cidadão de “cor”.
Analiso da seguinte forma, muitos negros não
atingiram o seu ápice do devir negro, ou seja, negaram e continuam negando as
suas origens, suas historicidades. Só vem ao caso por conivência, resumindo
para aparecer, o famoso negro é lindo! Ah como eu me sinto como Olinto, um
afro-brasileiro com total alma Africana um vício africano que pulsa em mim os
ancestrais, a pretitude, a negritude
“Zora e eu estávamos fisgados, e não o
sabíamos...
Estávamos arpoados, presos, marcados para
o
resto da vida. Corria o nosso sangue o
vício da
África de que ninguém se livra mais.”
OLINTO, Antonio. In: Brasileiros na
África. São Paulo: Ed. GRD/ Inst. Nac. do Livro, 1980, pg. 229.
Esse rompimento de muitos negros com a diáspora
africana, exercido através de fatores ligados a colonização que forçaram a
negação da história africana como também o clareamento, distorce completamente
a realidade cotidiana dos pretos pobres brasileiros, pois a cultura africana na
diáspora é absorvida e reinventada de forma que possa a ser comercializada com
conteúdos padronizados onde muita das vezes seus reinventores são brancos que
se dizem doutores na cultura africana.
Ontem, data de 13 de maio de 2013, assisti uma cena,
uma aberração transcorrida na novela das 19h da rede esgoto de televisão que se
chama Sangue Bom. Uma atriz que tem filhos adotados, como assisti por acidente,
portanto não assisto novelas e por isso não sei a quantidade de filhos
adotados, apresentou o seu filho branco-africano adotado. Até aí normal o
garoto podia ser da África de Sul e de origem inglesa. Mas pelo que pude notar
o garoto foi apresentado como sendo negro, e coincidentemente estava com uma
blusa escrita 100% negro. Bom nada contra é uma simples camiseta. Mas se fosse
ao contrário se eu saísse na rua com uma blusa escrita 100% branco, será que a
reação de aceitação seria a mesma?
Estou tentando dizer é que, se um branco pega algo
dos pretos como sendo seu tanto o branco quanto o negro acham normal. Mas
quando é ao contrário, até mesmo o negro critica a atitude do negro que está
usando uma camisa escrita 100% branco. Inversão e destruição de valores é o que
permiti chamar um negro de cidadão de “cor” porque simplesmente um branco está
usando uma blusa 100% negro de cor negra. Mas o branco não é cor, portanto o
negro não pode usar uma blusa 100% branco.
Mas acaba-se percebendo que o dizer 100% negro é
muito mais bonito soa muito mais lindo do que 100% branco. É como deixar um
afrobeijo o toque é mais doce do que whitekiss que uma garota branca enviou para
mim uma vez. Confesso que estranhei e achei bem esquisito. Tudo relacionado a
nossa Mãe África suas músicas, culturas, histórias é mágico e lindo. Um dia
irmãos e irmãs acordarão dessa hipnose clara eurocêntrica e enxergarão,
aceitarão suas origens e histórias. Não vivo em África, mas a África vive em
mim.
Rapper Marcelo Silles
Eu gosto / I like!!!
ResponderExcluirTu gostas? / You like?
https://www.facebook.com/Cabo.Funk.Alliance
Salve!
ResponderExcluirSalve.
ExcluirSilles, acho que escrever artigos de opinião é um direito de cada um, mas opinião seja ela qual for tem que ter algum embasamento e pesquisa prévia, a fim de esclarecer mais do que complicar a cabeça de quem está lendo..., por exemplo a questão do termo "Homem de Cor" não tem nada de novo... já era no Brasil corriqueiramente utilizada no séc. XIX (principalmente pelos próprios afrodescendentes livres e libertos, em especial os proeminentes como jornalistas e outros negros em geral miscigenados que haviam conseguido se educar academicamente, eles utilizavam isso como forma de se destacar dos "pretos" ou "negros" ainda cativos ou de baixa/nenhuma escolaridade..., isso se refletiu até no Censo de 1872 com a criação da categoria "pardo" exclusivamente com essa finalidade diferenciadora).
ResponderExcluirOs norte-americanos também assim o faziam mas com sentido contrário e imposto pelos brancos para fins de segregação, que generalizadamente se referiam a negros como "Colored", termo imitado também pelos sul-africanos do apartheid porém aplicado a todos não-brancos que não fossem enquadrados como "Bantus" (pretos óbvios das etnias locais).
O 100% Negro das camisetas , nunca foi uma coisa literal, é apenas um posicionamento AFIRMATIVO, que pode ser declaração política de pertença ou apoio a causa negra, se um paulista ou carioca (mesmo sem origem nordestina) utilizar uma camiseta 100% Nordestino, ou um homem usar uma camiseta 100% Maria da Penha... ele não está "roubando" nada, mas apenas declarando o seu APOIO FECHADO A CAUSA e só isso, por outro lado não se AFIRMA o que não necessita de afirmação pois seria ao contrário do Orgulho Afirmativo (saudável), "Orgulho besta" (supremacista) como o caso de uma camiseta 100% Branco, ou 100% Sudestino ou 100% Alphaville... .
Ser afrobrasileiro é bem diferente de ser africano, tanto podemos ver África em nós, quanto podemos ver Brasil (e outras culturas neles), mas isso a gente só entende mesmo depois que vamos até lá, vivenciamos a vida em África e retornamos...
Boa tarde Juarez, primeiramente agradecer por ter lido o meu texto de coração agradecido pela atenção.
ExcluirSegundo é claro e com certeza, que tudo que escrevo em meu blog são de várias pesquisas bibliográficas e qualitativas. Como expresso a minha opinião a respeito não necessito citar fontes já que as ideias são minhas.
Terceiro que me adentrei ao termo cidadão de cor já está um saco, por se tratar realmente por algo nada de novo.
Quarto a questão da camiseta 100% branca e 100% negra se diz a respeito do cotidiano dos hábitos de reprodução racista imposto nas mesmas, não quis dizer que é proibido e sim que para ambos é normal qualquer um colorido vestir uma camiseta 100% negro mais que se fosse ao contrário um negro usando uma camisa 100% branco seria motivo de ações racistas e preconceituosas de ambos os lados.
E por final, o texto se relaciona na condição de Diáspora, sendo assim não preciso afirmar e nem ir ao continente africano para sentir o Devir Negro é o amor da Terra Mãe África. Pois bendito àqueles pretos que amam sem conhecê-la.