Por toda Inglaterra, os estudantes têm “incendiado a casa grande”. Eles não estão batendo na sala dos diretores, embora eles demandem uma revisão do currículo, predominantemente branco e masculino.
A campanha “Por que meu currículo é branco?” tem atraído centenas de estudantes das principais universidades britânicas preocupados com o modo como os conteúdos dos cursos das universidades refletem o domínio branco e a sub-representação negra.
Estava na hora. A demografia da Grã-Bretanha está mudando. De maneira crescente, a etnia, a religião, a herança e língua são partes da discussão nacional. As universidades desempenham o papel de aguçar o pensamento e a política que pode aliviar estas tensões e adotar uma cultura de justiça e igualdade. Entretanto, eles apenas podem fazer isto se acharem justo e igualitário.
A crítica da campanha argumenta que ela reduz a liberdade acadêmica; que todo conhecimento tem o mesmo valor; que os estudantes devem transcender o contexto cultural em prol da expansão cognitiva; e que existem muitas boas razões do porquê o currículo de filosofia, economia ou história estar cheio de trabalhos de homens brancos mortos. Muito boas razões, de fato: alguns destes pensadores incluem o extermínio sistemático de filósofas, massacres dos pensadores precursores como os Aztecas; e a destruição de cidades africanas milenares que iluminam o pensamento das velhas civilizações.
Isso não é tudo. Quando a reflexão passa pela filosofia, por exemplo – uma disciplina particularmente importante de como nosso mundo é construído por ideias – o trabalho de homens brancos, mortos ou vivos, dominam o campo. Isto não é apenas porque homens brancos contribuíram com um profundo trabalho, mas também durante o flagrante ainda tacitamente silenciado relacionamento entre as estruturas de poder e o conhecimento. Por isso o complexo trabalho da professora de filosofia Angela Davis sobre o sistema de justiça social não influenciaram os estudos de filosofia atuais sobre as prisões como o trabalho de Michel Foucalt sobre o mesmo assunto. Ou porque o filósofo etíope Zera Yaekob, quem muito antes de Nietzsche declarara “Deus está morto”, ousadamente criticou religiões organizadas em seu tratado em 1667, Hatata, quando ele também disse: “Aquele que investiga a inteligência pura... descobrirá a verdade”. Mas além de promover razão desta maneira ele não é aclamado como pai da filosofia moderna como Descartes.
É por isso que Oriki – em resumo, abundante “poesia de louvor” Africana performática, espiritual e filosófica sobre tópicos universais – são considerados mitologia ou folclore, enquanto o poema épico de Homero, A ilíada, é filosofia. E porque qualquer um é familiarizado com os filósofos Montequieu, Maquiavel e Marx, mas não são com Ibn Khaldun, cujo pensamento sobre tudo, desde o ambiente físico para a história cultural de laços sociais foi pioneiro.
Parece que quando um homem branco pensa sobre o significado das coisas, quaisquer coisas, isto é filosofia, enquanto filósofos como estes citados são raramente discutidos nas universidades britânicas.
Para estar certo, não devemos desmerecer os pensamentos de brancos, ocidentais ou homens. A busca pelo conhecimento deve esforçar-se a transcender cultura e etnicidade – um filósofo indiano não é necessariamente o mais indicado para explicar o mundo para outro indiano simplesmente porque compartilham da mesma nacionalidade. Mas este não é o ponto.
O ponto é que para imaginar que somente um homem branco pode engajar-se na busca pelo conhecimento – como os currículos atuais implicam – é ridículo. O “cogito” de um homem é outra “máscara branca”, se eu puder ser existencialista. O que é referido como “filosofia” nas universidades da Grã-Bretanha são na verdade a “filosofia de homens brancos ocidentais”. E, francamente, é com frequência míope e verborrágica. Como um importante filósofo europeu, Michael McEachrane diz: “Os conceitos filosóficos modernos de pessoalidade, direitos humanos, justiça e modernidade são profundamente atravessados pela raça”.
Imagine um futuro onde um estudante interessado em, por exemplo, humanismo, encontre uma extensão global de pensamentos sobre o assunto e não um restrito acervo regional. Tal ambiente criativo e fértil não só é possível, mas é o único que pode reconduzir a filosofia ao seu propósito digno, qual seja, a investigação de toda a existência humana.
Tradutor: Róbson Gil Farias Oliveira
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FONTE:http://www.ceert.org.br/noticias/africa/9530/descolonizar-o-pensamento-e-o-primeiro-passo
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