sexta-feira, 1 de novembro de 2013

África sem negros no São Paulo Fashion Week

Por Silvia Nascimento*

Está acontecendo na capital paulista até o dia 1º de novembro, o São Paulo Fashion Week, um dos principais eventos de moda do mundo e na última segunda-feira (28) a marca Tufi Duek, apresentou sua coleção Outono/Inverno 2014. Com a presença da jornalista Glória Maria na plateia e tendo África com inspiração como não ficar ansiosa para ver a coleção criada pelo estilista Eduardo Pombal, baseada no continente que está dentro de todos nós?

Um pouco antes do desfile, corri para página da grife eu fui dar uma espiada na inspiração do criador e me deparo com fotos maravilhosas, de africanas, com marcas tribais pelo corpo, peles escuras com pinturas faciais, ossos grandes pendurados nas orelhas, tão primitivo, tribal e maravilhoso.
A jornalista Glória Maria empolgada na fila A do desfile da Tufi Duek

Backstage do desfile de Tufi Duek durante o SPFW – Inverno 2014. Foto : SERGIO CADDAH/ FOTOSITE FOTOSITE

Pombal disse que outra fonte de inspiração foi o talentoso fotógrafo maliano Malick Sadibe que ficou famoso nos anos 60 por fotografar moda urbana africana em preto e branco. Seria uma moda africana primitiva ou moderna? A euforia só aumentou.
Foto de Malick Sidibe / Dress Me Network

Minha alegria durou pouco. A presença africana estava presente, na costura, texturas, estampas dos tecidos, acessórios, mas não na aparência das modelos da passarela.



Não era de se esperar obviamente, uma presença maciça de modelos negras, o que poderia tornar o desfile caricato que é o temor de qualquer um que trabalha com moda. Fugir do óbvio é a regra. Todavia falar da África em um evento realizado em um país de maioria negra e não ter ao menos uma modelo de características étnico-raciais africana é inaceitável e fora da realidade. Eu pude ver uma ou duas modelos que não posso afirmar se eram negras de pele clara e cabelo alisado ou morenas.


A modelo Naomi Campbell tem levantado a bandeira contra o racismo na indústria da moda e me parece que os responsáveis pelo casting da marca Tufi Duek ignoraram o apelo da top model. Eles se apropriaram riqueza cultural do continente africano para vender roupas, mas dispensam a beleza autêntica das suas descendentes. Estranho, né?



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