quinta-feira, 29 de agosto de 2013
VANONNE RAPMAN
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MC AGULHA
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CONCEITO PERIFÉRICO - A BRISA TÁ PRA NEVE.
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REALIDADE FUNEBRE & LADO BECO
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quarta-feira, 28 de agosto de 2013
DONA MARIA, PRETA, POBRE, EVANGÉLICA E BONJESUENSE.
MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ e RAPPER
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ e RAPPER
Dona Maria, 44 anos moradora do
bairro Pimentel Marques cidade de Bom Jesus do Itabapoana, estado do Rio de
Janeiro. Preta, pobre, doméstica, evangélica. Dona Maria dividi seus afazeres
cotidianos entre os cultos na igreja e a escravização doméstica na casa de uma
madame de classe média bom-jesuense. Dona Maria é mais uma entre várias.
Trabalha nessa residência mais de nove horas por dia de segunda a sábado,
inclusive quando solicitada, aos domingos. A patroa da dona Maria a ameaçou de
demissão, se a mesma aderisse aos direitos das trabalhadoras domésticas. Diante
do assédio moral feito pela patroa madame, dona Maria recuou, aliás, esse tipo
de atitude rebelde se quer havia passado pela sua cabeça. Dona Maria não tem
carteira assinada e ganha menos de um salário mínimo.
Dona Maria cresceu numa família
pobre, é uma das três filhas de sete irmãos. Têm três filhos duas meninas e um
menino, pais diferentes. A sua educação sempre foi baseada na subserviência,
estudou pouco, pai rígido de doutrina machista e conservadora, mãe submissa as
vontades do marido sempre ensinava que lugar de mulher é nos afazeres doméstico
e que não deveria estudar. Dona Maria cursou somente até a quarta série.
Durante infância e adolescência, com as constantes violências domésticas, dona
Maria passou a freqüentar e a se relacionar mais com as amizades criadas na
rua, na vizinhança. Álcool, drogas, sexo e os terreiros passaram a ser rotina
em sua vida. Engravidou aos 16 anos, uma menina, o pai não assumiu. Aos 20 anos
conheceu Antonio, seu marido, na qual foi reside junto. Aos 20 anos,
engravidou-se da segunda menina. Aos 30 anos teve o terceiro filho.
Nada muda em sua nova vida, continuam
as bebedeiras, o uso excessivo de drogas, visitas constantes ao terreiro. Não
era raro sofrer nas mãos de seu esposo, que a espancava cotidianamente, as
crianças assistiam tudo cresciam num ambiente que era para ser familiar e de
referência. A sua filha mais velha
engravidou aos 14 anos de um rapaz dois anos mais velho, os dois foram residir
na casa de dona Maria. Dois quartos, um banheiro no quintal, uma cozinha. As
brigas eram constantes. Dona Maria doméstica, praticamente sustentava a casa. O
marido vivia de bicos, alcoólatra sempre chegava bêbado em casa. A menina de 10
anos apenas estudava e ajudava a cuidar da casa e olhar o irmão menor. O genro
vivia na rua e a filha mais velha cuidava do seu filho e geralmente não fazia
nada.
A rotina teve poucas mudanças,
dona Maria continuava as bebedeiras, deu um tempo nas drogas, afastou-se do
terreiro. Com o passar do tempo descobre que o genro junto com sua filha
estavam traficando. Não demora muito e são presos. Ela agora com 16 e ele com 18.
A casa caiu. Mais uma somatória de decepções na vida de dona Maria. Agora com o
seu filho mais novo com dois anos, a do meio com 12 e o neto também com dois
anos. O marido a larga foge com outra, dona Maria está só, aumenta novamente as
doses de bebedeiras, volta a usar drogas, retorna ao terreiro. O tempo passa, a
idade chega e a vida continua a mesma. Trabalho exaustivo, bebedeiras, consegue
uma vitória largar de vez o vício das drogas e decidi por um ponto final no
terreiro. Converte-se ao protestantismo. Fim das bebedeiras.
Orações e leituras diárias da
Bíblia, feliz por ter encontrado Jesus, mas a vida de tribulações continuava a
mesma. O filho mais novo e o neto, juntos agora com 14 anos. A filha do meio
com 24 havia fugido de casa com um homem casado. A filha que traficava,
retornou, mas continuou no movimento junto com seu marido e novamente encontra-se
encarcerada. O neto e o filho mais novo encontram o mesmo caminho da filha mais
velha, as drogas e o tráfico. São funkeiros, classificados pela sociedade do
“bem” de Bom Jesus como marginais. Os dois fazem parte da gangue que tem rixa
com os outros bairros periféricos, um tipo de status entre as “novinhas” e o
estilo bandsta trazido das grandes metrópoles. Algo esporádico, pois de acordo
com o histórico periférico, não há motivos para existir esse tipo de conflito
urbano em nossa cidade. Mas tudo que é das grandes metrópoles e comercializado
como “status” é absorvido pela classe pobre interiorizada. O glamour do crime,
sacralizado pela grande mídia, pela classe média e a elite é sedutor, atraente
e excitante.
Dona Maria e sua vida sofrida,
trabalho, casa e igreja. A sociedade do “bem” de Bom Jesus não está nem aí para
ela. É somente uma mera individua preta lutando para sobreviver e manter o seu
sustento e de seu filho e neto. São constantes os bilhetes e reclamações da
escola onde estudam. O Conselho Tutelar vive em sua porta. Num triste dia
recebe uma ligação, filho e neto haviam sido presos. Ao chegar à delegacia
encontra-os com as marcas da violência brutal da sociedade em seus corpos.
Feridos pelos capatazes, algozes e carrascos servos da sociedade do “bem”. Dona
Maria desmancha-se em prantos. Recolhidos cumprirão um período de medida
sócio-educativa numa unidade de internação para menores infratores.
Dona Maria, 44 anos moradora do
bairro Pimentel Marques cidade de Bom Jesus do Itabapoana, estado do Rio de
Janeiro. Preta, pobre, doméstica, evangélica. E lá vai ela caminhando, agora
solitária, parentes todos hoje residem na capital, sua residência mantém a
mesma estrutura desde início. Hoje domingo dia do Senhor, 07h da manhã, lá vai
ela atender aos caprichos da patroa madame de classe média bom-jesuense do
“bem”, pessoas do “bem” que não querem ver dona Maria Bem. Oremos e torcemos para
que dona Maria encontre a real felicidade e que finde suas tribulações.
História fictícia, mas que
representa e reflete muitas histórias de muitas mães pobres hoje em nossa
cidade.
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sexta-feira, 23 de agosto de 2013
A VIOLÊNCIA EM BOM JESUS DO ITABAPOANA/RJ
MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ & RAPPER.
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ & RAPPER.
“....... me persegue até o fim
Nesse
momento minha coroa ta orando por mim.
É assim
demorou já é,
Roubaram
minha alma, mas não levaram a minha fé.
Não consigo
nem olhar no espelho
Sou combatente
coração vermelho.
Minha
mina de fé ta em casa com o meu menor
Agora
posso dá do bom e melhor.
Várias
vezes me senti menos homem
Desempregado
e meu moleque com fome.
É muito
fácil vir aqui me criticar
Sociedade
me criou agora manda me matar.
Me condenar
e morrer na prisão
Virá
noticia de televisão.
Seria
diferente se eu fosse mauricinho
Criado
a sustagem e leite ninho.
Colégio
particular depois faculdade não, não é essa minha realidade.
Sou caboquinho
comum, com sangue no olho
Com ódio
na veia soldado do morro.
Feio
e esperto com uma cara de mal
A sociedade
me criou mais um marginal.
Eu tenho
uma nove e uma HK
Com ódio
na veia pronto para atirar.” (Soldado do Morro, MV Bill)
É muito inoportuno e chega a
ser uma situação jocosa os relatos dramáticos da situação da violência em Bom
Jesus do Itabapoana-RJ. Não estou aqui para defender aqueles que praticam, mas
sim de tentar fazer uma análise e desconstruir um paradigma que está sendo
imposto por indivíduos ditos do “bem” que do bem não têm nada. Não sou fã e não
defendo criminoso, porque se for para debater analiticamente a classe criminosa
eu teria que dessecar esse termo em diversas partes, pois em nossa sociedade
existem diversos tipos de criminosos. Mas irei basear-me, portanto, nos
criminosos ditos comuns: pobres, pretos, periféricos, favelados.
O meu professor e mestre
Hélio Coelho que leciona na Universidade Federal Fluminense-UFF/RJ, instituição
onde cursei e me formei em Serviço Social, ao participar da minha banca
expressou-se no dia: ”quando vamos a Bom
Jesus do Itabapoana-RJ, nas partes centrais, podemos observar bem uma cidade de
colonização branca européia, não se vê praticamente negros. Você, Marcelo, com
o seu TCC nos trouxe uma outra realidade.”
Então vamos a nossa análise.
Primeiramente antes de tudo, toda a escalada de violência (furtos, roubos,
física, entorpecentes) é culpa irrestrita da sociedade, a construção da
violência faz parte do embrionário societário. Portanto a violência é algo
gerado e criado pela própria sociedade. Como afirmo isso? Pelo histórico de
construção do Brasil: escravidão, genocídios, exploração, racismo,
discriminação, marginalização, segregação, corrupção etc. Aí me vem um cidadão
bonjesuense culto e diz: “mas não tenho
culpa dessa tal construção, o que passou, passou temos que pensar no agora.”
E eu respondi: “Ok, mas porque você fica
por aí dizendo que sente falta dos anos áureos de Bom Jesus do Itabapoana,
então vamos esquecer os anos áureos e pensar no futuro. Os inocentes pagam
pelos pecadores.”
A relação de senhorio e a
perda desse prestígio representam um dos fatores para o crescente
desenvolvimento da violência em nossa região. Qualquer surgimento de uma
sociedade no decorrer de seus anos sofre mutações culturais e societárias, isso
é algo imutável. Portanto tentar frear bruscamente através de ideologias
conservadoras e arcaicas essas transformações é algo de uma mentalidade insana.
Durante os tempos ditos áureos de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, a gestação do
progresso e do desenvolvimento humano foi forçada a sofrer um aborto social,
sendo assim impedida de dá a luz ao que podia ser uma prevenção dos males que
assim se seguiram, no entanto restrito apenas as regiões margeadas,
periféricas. Numa clássica posição paternalista e assistencialista os
conservadores e a sociedade em prol pensaram que estariam a salvos desses males
se os mantivessem longe de seus arredores.
Não permitir o nascimento do
progresso humano e o seu desenvolvimento social sadio com um intervencionismo
que garanta uma dignidade social justa, é um dos maiores erros e crimes que uma
sociedade conservadora/neoliberal pode cometer. Acreditar que seres humanos
nascem para servir e outros para serem servidos assim posso dizer, é de uma
bestialidade tamanha. O resultado, portanto é o que vemos hoje. O progresso e
desenvolvimento humano precoce de Bom Jesus do Itabapoana/RJ. Sem o
acompanhamento e cuidados adequados, sem a intervenção social que deveria ter
tido o progresso e desenvolvimento humano vai crescendo de acordo com a forma e
adequação da atual sociedade. Se não existiu oportunidades e incentivos o
exemplo é “eu aprendo com quem está mais
próximo”. Abriram os portões para o desenvolvimento das grandes metrópoles,
sem uma estrutura humana adequada, o diagnóstico social apontado para Bom
Jesus do Itabapoana/RJ é o de grave crise social e humana.
Humana porque, aqueles que
cantam pelos sete ventos a canção “ó Bom
Jesus, terra de hospitalidade” pertencem às classes abastadas, não fazem
parte diretamente daqueles que são atingidos pela crise social. Esses
indivíduos abastados, há anos já enviavam seus filhos para estudarem fora
obtendo diplomas das melhores faculdades e cursos. Os que não nasceram
abastados ou sendo as margens, tinham que aceitar o que os senhorios lhes davam,
ou seja, o assistencialismo e o paternalismo, a caridade em troca do senhorio,
o não senhor e o sim senhor.
Social porque é clara e
evidente territorialmente as famílias e os cidadãos que sofrem com essa
violência. Já sofriam desde o nascimento da cidade de Bom Jesus do
Itabapoana/RJ com a discriminação e manutenção da segregação institucional
velada, com o impedimento do nascimento do progresso e o desenvolvimento
humano, e hoje sofrem com as violências que aterrorizam as famílias
cotidianamente, drogas, prostituição, ausência de valores (não me refiro a
valores religiosos e conservadores mais valores que sempre foram criminalizados
por serem valores periféricos) e a humilhação de assistirem seus filhos sendo
carimbados como “criminosos”. Criminosos esses, criados pela própria sociedade
que os criminaliza e os condena.
A história sempre deixou registrada
documentalmente e oralmente o percurso e condições em que a violência urbana percorreu
e se criou e de como esse sistema tentou ser mantido em um único espaço através
de políticas mantenedoras e promovedoras da própria violência urbana em seu
espaço rústico-urbano. Dá-se a entender, que esse processo de manutenção
proposital perpassa a política de higienização e dizimação social desde a
formação do Brasil, processo em que consiste manter os indivíduos indesejáveis
e aquém da sociedade dita do “bem” em seus territórios aplicando a
auto-segregação. Violência gratuita e manipulada para os deleites dos cidadãos
do “bem”.
A violência foi produzida de
uma forma peculiar, administrada por um tempo por indivíduos da elite na qual
pensavam que poderiam adestrá-la e assim sendo mantê-la sob seu controle. Mas o
que se viu e vê foi uma escalada desenfreada da mesma que ao perceber sua
dimensão era tarde demais. Agora como conseguir parar algo que nós mesmos
criamos e adestramos? Pergunta a sociedade refém de sua própria violência.
Pergunta a sociedade dita do “bem” de Bom Jesus do Itabapoana/RJ refém de sua
própria violência. Racismo, desigualdade social e injustiça social também são
as responsáveis pela violência que vivemos hoje, se o senhor do “bem” não sabe.
Lamentar por águas passadas
e ser saudosista, tudo bem direito de cada um. Mas querer culpar indivíduos
pelos seus atos individuais apenas, quero deixar claro que não estou o isentando
de sua culpa, sem levar em conta a construção histórica das relações de classe
e formação desse ambiente violento, é um tanto que injusto.
E segundo Educação vem de
berço? Posso afirmar que isso seja relativo. A criança passa por quatro fases
de sua educação: a família, a escola, a igreja e a rua. Aí te pergunto como
exigir dos pais que eduquem seus filhos de acordo com a moral
cristã-eurocêntrica se os mesmos foram educados sobre opressão da mesma? Foram
criados segundo os costumes de outros e não dos seus? Foram criados conforme as
regras e leis “manda quem pode obedece
quem tem juízo”?
Sendo assim, criação com
formação opressora cria indivíduos distantes da realidade e suas
transformações. Pais pobres com formações conservadoras-opressoras quando
educam seus filhos, educam na forma que foram educados em determinada época,
portanto não acompanham as transformações que ocorrem no mundo. Portanto
educação vir de berço é relativo. Pode ser que funcione como pode ser que não,
dependerá da formação de cada caráter. Dependerá de saber a distinção de certo
e errado, em casos em que o certo é errado e o errado é o certo. Certo e
errado, o bom e o mal são infinitas incógnitas.
Olhemos e analisemos o
passado para podermos realmente julgar, condenar e culpar os verdadeiros
culpados pela sociedade violenta a qual vivemos, não nos direcionemos somente a um indivíduo e suas associações.
“Todos
os homens nascem bons, as sociedades que os corrompem.” (Rosseau).
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
HIP HOP ANGOLANO - Mr Anderson - Estilo Livre ft. Lyro B
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quarta-feira, 21 de agosto de 2013
PRETA ROOTS
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Mc Agulha Hip-Hop Rap Chamado Vagabundo (Parte Diaz)
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terça-feira, 20 de agosto de 2013
Licenciada após racismo, vereadora pede prefeito negro para Piracicaba.
Um dia depois de pedir afastamento de um mês da Câmara de Piracicaba (SP), a vereadora Madalena (PSDB), cujo nome de batismo é Luiz Antônio Leite, concedeu uma entrevista ao G1 Piracicaba. Na conversa, afirmou que o racismo da cidade só vai acabar quando a população eleger um prefeito negro.
Desde que venceu as eleições em 2012, se tornando a primeira travesti a ocupar um cargo eletivo, ela já enfrentou ameaças de morte, cuida de um câncer de próstata e agora sofre com um ato de racismo, em que foi comparada a um chimpanzé em uma foto. Depois disso, a então líder comunitária contou que pensou em desistir do mandato, e que deixou até de comprar bananas nos mercados da cidade.
Depois de quase nove meses ocupando uma cadeira no Legislativo, pouca coisa mudou na vida pessoal de Madalena. Por um lado, ela deixou de ganhar o salário antigo, de R$ 900, e passou a receber R$ 10.900, mas continua vivendo no mesmo lugar de 20 anos atrás. A residência, aliás, está em reforma desde que foi construída e a obra continua parada no mesmo ponto desde a última visita da reportagem ao local, há 11 meses.
Primeira vereadora travesti na história de Piracicaba, Madalena referiu-se a si mesma durante a entrevista usando os gêneros masculino e feminino. A reportagem manteve as expressões tal como foram ditas em nome da fidelidade às falas. Confira a entrevista:
O que te levou a pedir o afastamento? A saúde estava indo muito bem no tratamento, mas tive vários problemas: de ameaça, no meu gabinete, um monte de coisa. Então, abalou tudo e voltou a dor para ir ao banheiro. Fui ontem (quinta-feira, dia 15) ao médico e ele me afastou, me deu um monte de remédios para tomar. O problema pior foi quando cheguei no serviço e tava lá a cara de macaco, que acabou comigo. Fui atrás de advogado, e até o Thame (deputado federal Antonio Carlos de Mendes Thame) ligou de Brasília para mim. Um caso como esse não podia ter acontecido.
Como você soube do ato de discriminação? O marido da minha sobrinha estava na internet e, duas horas da manhã, ele viu e chamou a menina. Na hora que ele confirmou que era eu com a cara de macaco colada no rosto, ligou para o meu chefe de gabinete e avisou. Aí todo mundo viu, foi aquele comentário e eu nem sabia ainda. Quando cheguei lá na Câmara fiquei sabendo e acabou meu dia, fiquei chateada. Não almocei, não jantei. A pessoa que fez isso gosta muito de machucar as pessoas. Eu fiquei passado. Se houver justiça na terra, eu quero descobrir quem fez isso. Eu não vou ficar quieto. Se não pegar quem fez isso, daqui a dois meses vem outra bomba para mim. Se a pessoa fez isso, pode aprontar outra de novo. É gente que não tem coração, não tem família, não tem amor. Para você ter uma ideia, toda vez que eu vou ao supermercado peço um cacho de bananas, peço para a dona e levo. Hoje eu fui comprar a ração para o cachorro e você acredita que eu não consegui pedir para trazer a fruta? Não peguei, pois pensei que podia pegar mal.
Depois que entrou na política, esse foi o único caso de preconceito que você sofreu? Eu tive um outro, mas eu não posso nem falar. Eu nem estava em Piracicaba quando soube, então, deixa quieto. Eu tô triste por causa desse problema do macaco. É chato, todo mundo chega para mim e fala disso. Todo mundo fala que essa pessoa tem que ser presa, mas eu fico envergonhada.
Com relação ao ato de preconceito, depois do episódio, te deu vontade de voltar a ser apenas uma líder comunitária? Se eu soubesse que iria ser essa confusão... a pessoa de cor não tem valor, é pisada, pisada, pisada, pisada, entende? Eu acho que isso tem que acabar, tem muita gente de cor que é importante. Já tá na hora de vir um prefeito de cor para a nossa cidade, mas só depois que acabar o mandato do Gabriel Ferrato (PSDB).
Sobre o período fora, você acha que vai precisar de mais tempo afastada? Não, se eu tomar o remédio direitinho não tem problema, caso contrário, o médico falou que me dará mais 30 dias. Falei com a Kátia (Mesquita, diretora administrativa da Câmara) e com o presidente João Manoel (PTB). Eles me deram muito apoio, e ainda disseram que eu devo procurar eles caso aconteça qualquer coisa. Os vereadores do partido me deram muito apoio e eu fiquei muito contente. O vice-presidente do meu partido (José Aparecido Longatto) me deu muito apoio, todos os vereadores me apoiaram.
O que você pretende fazer nesse mês? Eu vou ficar em casa, vou passar três dias na casa da minha sobrinha para tomar uns remédios. Foi muito duro, sabe, quando um monte de gente fala na sua cabeça? Agora eu quero ficar um pouco sossegada. Minha sobrinha quer que eu viage nesse mês e eu vou pensar nisso.
Qual a avaliação você faz do seu mandato até agora? Estou contente. O que é o meu projeto? Os bairros, andar nos bairros e ver os problemas de lá e ajudar porque os bairros afastados têm muitos problemas. Tem muito vereador que faz isso também, mas eu sou assim: a turma liga e diz que está com problema e eu vou lá e a gente vê campo abandonado, quadra quebrada, rua cheia de buraco, problema de creche, entende? Então, eu estou indo. Mas eu estou contente, a turma está contente comigo, já fiz visita na Casa do Morador de Rua e vou na Casa do Bom Menino quando voltar do afastamento. O que eu sei é que estamos fazendo um bom trabalho.
Isso é o que me segura, pois o povo votou em mim porque acreditava em mim. Já tem 20 anos que eu toco esse bairro (como líder comunitária) e todo lugar onde eu vou tem sempre gente que me chama para ajudar em um problema. E eu vou mesmo, só que alguns vereadores não gostaram que vou no bairro deles (risos), mas tem que ir, porque eu não tive voto só aqui no Boa Esperança, tive em todos os lugares. Na minha campanha eu falei para os outros vereadores: ‘vão ao Boa Esperança também porque eu não mando no bairro’. Não adianta brigar, discutir por causa do bairro, tem que trabalhar todo mundo junto.
Em algum momento você pensou que seria melhor ter ficado trabalhando somente na sua comunidade? Para falar a verdade, eu pensei que se entrasse eu faria um bom trabalho, e eu estou fazendo, só que não depende só de mim. Depende de cada secretário, tem uns que atendem e outros que não atendem. A gente depende deles e eles dependem do prefeito. Eu tenho um secretário muito bom lá que me atende muito bem, se eu pudesse falar o nome dele eu falaria. O prefeito também, eu não tenho nada para falar do Gabriel. Eu tenho certeza que ele vai fazer um bom trabalho. A turma está mandando brasa nele, mas ele vai ser um bom prefeito. Para endireitar uma cidade como a nossa é difícil, e ele começou agora.
Por que você acha que os secretários se recusam a te atender? Cada secretário tem um partido, não é? Então, se tem um secretário de um partido, ele vai atender o vereador desse partido. Eu sinto muito, não deveria ser assim. Eu acho que todos os secretários têm que atender todos os vereadores. Pois todos estão trabalhando, fazendo o serviço deles. Tem que acabar com isso, são todos iguais. Não só eu passo por isso, mas todos os vereadores passam.
Nesses oito meses, você trocou de equipe algumas vezes e muitos dizem que você anda triste com o trabalho. É verdade? Verdade. Muita coisa aconteceu lá atrás, as ameaças e tudo o mais. Outra coisa que me deixou triste foi a troca da equipe, pois dava muita confusão, um não se dava bem com o outro e eu tive que trocar. Eles trabalhavam muito bem, não tenho nada a reclamar; mas começou aquele "pipipi" e eu tive que tomar uma decisão. Eu tinha uma pessoa muito boa, que entendia tudo muito bem, não deixou mágoa nenhuma, trabalhou muito bem. Mas se eu deixasse eles lá, ia dar confusão. Isso me deixou triste.
Mas só isso? Não, um monte de coisa aconteceu. Quando acontece as coisas com a gente, tem que guardar tudo e segurar aquilo, porque muita coisa aconteceu naquela sala (gabinete).
Este ano você passou por uma grande mudança de vida. Agora, convivendo dentro da política, algo te entristeceu nos bastidores? O que deixa a gente triste são as coisas que a gente fica sabendo e a gente não pode falar. Eu pensei que era uma maravilha (fato de ser vereador). Eu era muito feliz quando eu trabalhava na Prefeitura, ia em qualquer lugar. Depois (da vitória), eu vi que a vida de vereador não era nada daquilo. Eu queria que fosse assim: se tem um problema no bairro, faz um ofício e consegue fazer. Eu esperava que todos os secretários atendessem os meus pedidos. O Boa Esperança, por exemplo, é um bairro carente que já sofreu por oito anos, e nunca sai nada nessa área. Minha tristeza é isso aí, pois todo mundo quer o melhor no bairro. Hoje, quatro secretários atendem meus pedidos. Já tivemos uma reunião com o prefeito e todos os vereadores falam disso. O problema é com todo mundo. Tem uma área aqui no bairro que eu sempre trabalhei para melhorar e eu tenho um documento aprovado para construir uma praça. Isso é do tempo do (José) Machado (ex-prefeito do PT). O secretário foi lá, tirou foto com os moradores e disse que ia sair. Aí o povo acreditou no secretário, só que não saiu até hoje. Agora, com esses secretários que nós temos, eu tenho certeza que o prefeito vai fazer alguma coisa por nós. Porque nós não vamos ficar mais oito anos com aquele buraco, que virou um piscinão. Só na região do bairro, tem mais quatro vereadores (Longatto, Carlos Cavalcante, Dirceu Alves da Silva e José Lopes). Se juntasse todos os vereadores, a gente faria alguma coisa, tem que ser um conjunto. Todo mundo falar a mesma língua.
Houve algum projeto em que você votou contra a vontade em função de alguma orientação de grupo? Eu voto em função do partido, mas tem coisas boas do Paiva (José Antonio Fernandes Paiva, do PT) e do Trevisan (Laércio Trevisan, do PR) que eu votei sim também.
O que você pensa sobre as críticas que os vereadores receberam por Facebook? Eu acho que essas pessoas não têm o que fazer e gostam de machucar os outros. Não tem consciência, não tem família. Elas deveriam procurar Deus, ou procurar fazer coisas boas. Se isso não acontecer, são elas que vão se machucar. É triste demais.
Você aumentou o salário depois que se tornou vereadora. Sua vida melhorou depois disso? Eu passei a vida inteira recebendo R$ 800 ou R$ 900 por mês. Com esse dinheiro tinha que pagar conta de água, luz, imposto e eu fiz um empréstimo no tempo do João Herrmann (Madalena foi faxineira da casa do ex-prefeito) para construir meu barraquinho. Com aquele salário eu não conseguia fazer nada, então, quando dava, eu pagava o empréstimo e depois não deu mais. Ia pagando um pouquinho e depois não pagava. Quando eu ganhei a eleição, descobri que devia R$ 10 mil. Eu tinha um monte de conta atrasada e já tinha dito a Deus que no dia que eu ganhasse melhor ia pagar todas as dívidas. Quando eu ganhei, conversei com a minha sobrinha e pedi para ela administrar o dinheiro e pagar todas as contas. Ela me disse que ia demorar uns seis meses ou mais. Ainda estou pagando, mas graças a Deus paguei a maioria.
FONTE:http://pretaegorda.blogspot.com.br/2013/08/licenciada-apos-racismo-vereadora-pede.html
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sábado, 17 de agosto de 2013
MV Bill: "As pessoas podem acordar agora, mas a cultura hip hop nunca dormiu"
Rapper conversa com o iG sobre o novo disco, "Monstrão", e fala sobre os livros que pretende lançar
"Monstrão é uma expressão bastante usada
pela galera do hip hop atualmente. É uma palavra bacana porque tem grandiosidade ao mesmo tempo em que é enraizada", define o rapper MV Bill, em entrevista ao iG , sobre o nome de seu mais novo trabalho. Aos 39 anos, o carioca Alex Pereira Barbosa, o MV Bill, está no hip hop desde 1993 - além disso, desenvolveu também trabalho como ativista em favelas brasileiras e como escritor em obras que retratam a periferia.
"Sou um cara que atravessou uma geracão, e estou cantando para uma nova. Quando esses jovens me chamam de monstrão, entendo como uma forma carinhosa de reconhecimento do meu trabalho", completa. "Monstrão" tem a participação da irmã de Bill, Kmila CDD. As letras CDD do nome da rapper fazem referência à Cidade de Deus, no Rio, onde os irmãos cresceram.
Mulheres "mandam o recado"
"Passei um bom período convivendo com quatro mulheres (a mãe e as irmãs). Eram quatro choros por namorado, quatro TPMs. Acabou que fiquei mais sensível a essas questões que não caberiam na minha voz, mas a Kmila manda o recado", explica sobre a participação da irmã nos vocais do disco novo.
"Alguns pensamentos ficam mais bonitos quando vêm na voz feminina. Ela dá um recado importante que muitas mulheres querem dizer, mas não têm a chance, não dizem por causa da violência ou não têm coragem. A Kmila é esse personagem que entra no disco."
"A cultura hip hop nunca dormiu"
Quando questionado se os protestos pelo País influenciaram na composição das faixas do novo disco, MV Bill, com a percepção de um ativista social, é direto: "Muitas pessoas podem estar acordando agora, mas quem é envolvido com a cultura hip hop nunca dormiu". "Se (no disco) tiver menção que se conecte (com os protestos) é pura coincidência, porque já tenho essa militância há anos. Algumas músicas já proclamavam o repúdio à corrupção."
Ativismo Social
MV Bill é um dos fundadores da Cufa (Central Única das Favelas), organização não-governamental que conecta jovens carentes com a cultura do hip hop. Sobre as atuais ações do governo para pacificar as favelas, o rapper diz que "investir apenas no braço armado não traz transformação ao lugar". Para MV Bill, faltam "outros exércitos além da polícia, como médicos e profissionais que devolvam a autoestima da comunidade".
Rap nacional
Com os ouvidos abertos para a cena de hip hop brasileira, MV Bill toca nos dois programas de rádios que apresenta vários nomes do País. "(Nos programas) só toco rap brasileiro e aproveito minhas viagens pelo Brasil para receber material. Estou curtindo o MC Ramonzinho, o MC Amiri e o MC RAPadura, do Nordeste, que mistura muito bem o rap com o repente."
Pop x underground
"É difícil falar de (um rap que seja) pop no Brasil porque as músicas não entram na programação das rádios, as emissoras de clipe têm restrição. (O rap) é um espaço ainda muito restrito. Como é muito alternativo, qualquer um que se destaca acaba destoando do resto do movimento. Mas esse destaque não é suficiente para chamar de pop. Isso fica para o sertanejo, pagode e uns funks, no sentido literal da palavra", analisa MV Bill.
Segundo o rapper, a cena de hip hop brasileira "ainda não é popular". Em compensação, isso "cria uma estrada mais consolidada, porque é com base na verdade. Não existe a cultura do jabá, com isso tem mais durabilidade. Jovens que não viveram o momento de músicas como 'Soldado do Morro', de 1999, pedem hoje para eu tocar. Se tivesse estourado antes, não sei se teria a mesma força agora."
Literatura das ruas
MV Bill prepara o lançamento de dois livros. Em "Na Boca do Sapo", ele e Celso Athayde (com quem fez livros e o documentário "Falcão - Meninos do Tráfico") escrevem sobre a vida na Favela do Sapo, na visão de Celso, e o dia a dia na Cidade de Deus, segundo Bill.
O outro título, "CDD Anos 80", tem um aspecto mais pessoal do rapper com a comunidade de Cidade de Deus. "Não chega a ser uma autobiografia. Vou falar do período dos anos 1980 da minha vida até uma parte mais recente como o meu amadurecimento e as transformações da CDD."
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Michelle Obama vai lançar álbum com estrelas do hip-hop.
Run-DMC, Doug E Fresh, Jordin Sparks e Ashanti estão no disco.Projeto deve arrecadar fundos para campanha contra obesidade infantil.
A primeira-dama dos Estados Unidos,Michelle Obama, lançará um álbum com estrelas do hip-hop para promover sua campanha contra a obesidade infantil, segundo informações da agência Ansa.
Com 19 faixas, o disco "Songs for a healthier America" deve ser divulgado em setembro, com participações de artistas como Jordin Sparks, Ashanti, Run DMC, Doug E. Fresh e Monifah, de acordo com o site Politico. "We like vegetables", "U R What You Eat" e "Veggie Luv" são algumas das canções.
Não está previsto, no entanto, que Michelle cante, mas ela aparecerá em dez videoclipes que devem ser distribuídos entre escolas norte-americanas. De acordo com dados da organização liderada por Michelle, a Let's Move, o número de criança obesas nos Estados Unidos triplicou nos últimos três anos.
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Anitta, embranquecimento e elitização
Seja pelo preconceito de classe ou pela intolerância diante de letras com conteúdo sexual explícito, as mulheres do funk são grandes vítimas da misoginia e do racismo. Esse grande repúdio contra as artistas femininas do funk é intimamente relacionado à repulsa às mulheres negras, não somente porque a maioria das funkeiras são negras, mas porque o funk tem raizes históricas e é intimamente ligado à cultura negra brasileira.
No entanto, há pelo menos um exemplo atual de mulher que veio do funk e é amplamente aceita e celebrada na mídia: a Anitta. Enquanto as outras artistas têm suas raízes no funk tradicional com letras explícitas, a Anitta é apresentada como uma funkeira voltada para a cultura pop, com uma produção higienizada e pronta para o consumo. Artistas como a Anitta são reposicionadas em uma nova classe social, que embranquece suas expressões artísticas e as torna muito mais “adequadas” para a televisão brasileira.
No entanto, há pelo menos um exemplo atual de mulher que veio do funk e é amplamente aceita e celebrada na mídia: a Anitta. Enquanto as outras artistas têm suas raízes no funk tradicional com letras explícitas, a Anitta é apresentada como uma funkeira voltada para a cultura pop, com uma produção higienizada e pronta para o consumo. Artistas como a Anitta são reposicionadas em uma nova classe social, que embranquece suas expressões artísticas e as torna muito mais “adequadas” para a televisão brasileira.
Há divergências sobre os motivos que levam a Anitta a ter mais sucesso que outras artistas similares. Alguns ativistas acreditam ser devido a uma suposta branquitude. No entanto, enxergar Anitta como uma pessoa branca demonstra a naturalização do processo de embranquecimento racial. Em uma sociedade que tem como branca qualquer pessoa miscigenada de pele clara, o caso de Anitta merece no mínimo uma reflexão.
É preciso entender que a identidade que Anitta ou outras artistas possuem sobre suas cores é algo subjetivo, construído ao longo dos anos sob influência da sociedade. Não adianta relativizar o reconhecimento racial e reduzi-lo a uma questão de afirmação, pois compreender-se como negra não é um fator decisivo para que alguém seja tratada como negra; para isso acontecer, é necessário que a sociedade também consiga ver a negritude nessa pessoa.
A Anitta é um exemplo de uma mulher miscigenada que foi embraquecida e “enriquecida” para que o seu trabalho artístico fosse valorizado. A aparência de Anitta vem se tornando cada vez mais diferente desde a sua fama, com tratamentos de clareamento sobre uma imagem cada vez mais elitizada. Sabendo disso, vale a reflexão: será que Anitta é aceita por ser reconhecida como uma mulher branca ou terá embranquecido em busca de aceitação? Se outras funkeiras passassem por um processo de embraquecimento e elitização classial, seriam elas abraçadas pelos programas da televisão aberta nos mais diversos horários?
Esse processo não diz respeito somente ao embranquecimento de características físicas, como cabelos lisos, pele clara e nariz fino, mas está também relacionado à repressão da sexualidade feminina. O funk bem aceito socialmente é aquele que constrói uma sensualidade feminina tolerável, que não intimida o machismo. E a sexualidade feminina que é aceita é aquela que não causa choques. A Valesca Popozuda é um bom exemplo: embora em sua aparência atual ela seja vista como uma mulher “morena clara”, ou em alguns casos até mesmo branca, o modo como lida com o sexo sem eufemismos faz com que sua expressão artística seja repudiada socialmente.
Artistas femininas sofrem uma imposição de limite sobre a sensualidade, que só pode ser expressada de modo comedido e elitizado: uma mulher que rebola na MTV é muito mais aceita artisticamente do que aquela que rebola em um baile funk no morro. É extremamente importante notar, no entanto, que nenhuma mulher é plenamente aceita ao expressar sua sexualidade. Ao final do dia, todas essas mulheres têm algo em comum: todas elas são transformadas em objetos de consumo.
Ser consumida, nesse caso, significa oferecer a sensação de controle ao público masculino. A mulher objeto de consumo deve expressar sensualidade, mas não ao ponto de fazer com o que o homem se sinta ameaçado, nem na eminência de ser “traído”. Caso a mulher expresse sua sexualidade de forma objetiva e direta, ela é tida como uma “vadia” indigna de valor e seriedade. A mulher negra, especificamente, carrega nos ombros o estereótipo de “mulher consumível” e descartável, para ser “usada” e jogada fora, ao contrário do produto mais cotado e duradouro: a mulher branca. Essa é a realidade da misoginia: as mulheres são tratadas como mercadorias, algumas mais valorizadas do que outras.
Embora a questão da branquitude de Anitta seja debatível perante nossos olhos, o problema é muito mais profundo e está entranhado em diversas nuances da sociedade. A questão não é atribuir uma identidade a Anitta ou outras artistas brasileiras, mas sim levantar o questionamento sobre a possibilidade de sucesso e a aceitação social dependerem de uma branquitude, seja ela real ou imposta. Uma pele clara e um cabelo liso combinados com uma sexualidade moderada e restrita são necessárias para o sucesso das mulheres.
Seja ao chamar mulheres negras de morenas ou ao aceitar o “branco” como padrão, o racismo articula com a violência imposta sobre as classes desfavorecidas e encontra seu apogeu quando atua de forma machista.
É preciso trazer todas essas nuances para o debate e trabalhar para destruir essas violências. A forma como as opressões atuam não é sempre tão óbvia, tampouco tão simplista. São necessárias uma dialética e uma visão abrangente, não polarizada, para que possamos transformar nossa cultura e conquistar a dignidade que é usurpada de tantas mulheres.
Jarid Arraes é educadora sexual, feminista e escreve no Mulher Dialética e no Guia Erógeno.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
PARTICULARIDADES: E OS NEGUIM!
MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ & RAPPER.
Moral da história:
Estado e sociedade inerte com um racismo institucional que tentam velar.
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ & RAPPER.
As particularidades minuciosas
encontradas em nosso cotidiano nos fazem crer que o sentimento saudosista de
uma época em que os descendentes dos colonos que gozavam de totais privilégios,
apesar de ainda estarem gozando, reforçam ainda mais o clamor de um retorno ao
passado do tipo “onde todos sabiam o seu lugar”. Escutei de um senhor que viveu
segundo ele, na melhor época de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, quando se começou a
limpar a beira-rio na gestão do tal ilustre prefeito da época Carlos Garcia.
Detalhem bem o que foi dito por esse nobre senhor da classe do “bem”: começou a limpar a beira-rio. Indaguei-o
sobre o que significava essa limpeza e o mesmo havia dito que: “tirou a zona,
toda a sem-vergonhice e imundice da beira-rio e de Bom Jesus”.
De forma autoritária ele foi
despejando todo o seu preconceito, discriminação e racismo. Disse que havia
conhecido uma empregada negra, mas tinha uma alma branca. Questionei-o sobre o
que significava negra de alma branca, apesar de que bem sabia o que era, e ele
disse: uma pessoa boa, de boa moral. E
eu respondi: o senhor acaba de praticar
um racismo. E ele nervoso disse: não,
nunca fui e não sou racista sempre fui uma pessoa de bem. Essas tais
pessoas de bem sempre me incomodam. A discussão prolongou com o trágico final
do dito senhor de “bem” virando as costas e saindo com seus argumentos fracos
carregados de preconceitos, discriminações e racismos.
E o tal neguim, aaahhhhhh os neguim, as pessoas de “bem” adoram os neguim, “oh feche isso se não neguim invade”, “a
festa rolava tranquila ate neguim começar com a baderna”, “não vou não, porque
neguim vai começar encher a cara e arrumar confusão”. E o tal negão
qualquer preto é negão, mas experimenta chamar todos os brancos de brancão ou
de branquelo pra você ver a confusão que irá criar rapidinho.
São essas particularidades
cotidianas que ao observarmos detectamos claramente o racismo e suas
verbalizações em que os indivíduos ofendidos por não terem essa sensibilidade
acabam reproduzindo. A mistura sanguínea sempre foi e ainda continua sendo umas
das desculpas mais esfarrapadas dadas por aqueles que praticam o racismo de
forma velada e intencional. O branco por mais que se doutore na cultura e
história das Raízes africanas, nunca será um preto, nunca ira sentir na pele as
nossas aflições, conflitos, nunca saberá o que é negar suas identidades,
ancestralidades, o devir negro e sentir a alma africana. O preto sabe tudo do
branco anseia por ser um branco, pois quando nasce já é batizado com um nome
branco, sendo criado numa cultura totalmente branca e marginaliza seus próprios
irmãos por culpar-se de ter nascido negro.
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POVO CHIQUE
MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ & RAPPER
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE-UFF/RJ & RAPPER
Certo dia uma pessoa comentou com
minha pessoa que a tal festa de São Pedro do Itabapoana, é muito boa, melhor
festa da região porque somente vão a essa festa pessoas “chiques”, pessoas “bonitas”
você não vê gente feia. Questionei-me a mim mesmo, o que seria essa gente feia?
A pessoa que comentastes comigo
tem o perfil padrão elite-classe média faz parte do tipo que se incomoda com
moradores da Volta da Areia, Usina Santa Isabel, Nova Bom Jesus, Asa Branca,
Morro do Querosene e demais localidades com pontuações periféricas. Pessoas como
a tal, percebam que coloquei no feminino, não suportam estarem no mesmo lugar
com pessoas que a tal classifica como favelados, barraqueiros, marginais. Portanto,
padrão bom-jesuense das ditas “pessoas de bem”, conservadoras, oligárquicas,
assistencialistas, paternalistas.
Essas tais festas que a tal
relatou são de perfis sertanejos e forrós universitários, onde habitualmente os
indivíduos que as frequentam fazem questão de expressarem suas raízes claro-eurocêntricas.
O padrão branco é totalmente visível, tanto os homens como as mulheres têm as cútis
branca ou clara, é raro vê pretos ou pretas nessas festas. Quando os encontram,
ficam as margens longe dos holofotes que procuram somente as pessoas bonitas,
ou seja, preto não é bonito. Infelizmente isso está acontecendo com o nosso
samba e pagode. Bom as pessoas de “bem” podem entrar numa boa em nossos meios,
enquanto nós não podemos sequer frequentar os seus ambientes sem sermos
tachados de marginais, barraqueiros ou melhor que estamos incomodando ou enfeando
a festa.
Retornando ao assunto da tal
festa de gente bonita de São Pedro do Itabapoana, na qual analiso como um
encontro de tribo que se auto-declara verdadeiros senhores e senhoras dessas
terras e ainda a serem bajulados e adorados por aqueles que eles classificam
indiretamente como “seres inferiores”. Bem se é uma festa bonita onde predomina
indivíduos brancos ou de peles mais claras, deduz-se que pretos e pretas não
sejam pessoas bonitas para os tais.
Comentários com cunhos de
promover o racismo e o segregacionismo são comuns em Bom Jesus do Itabapoana/RJ
e Bom Jesus do Norte/ES. As “pessoas de bem” carregam o ranço de dividirem
espaço com pessoas que em seus círculos os mesmos os classificam de indesejáveis.
O cotidiano da sociedade bom-jesuense é esse.
Portanto, deixo uma análise
crítica do que é o ser bonito e o ser feio. O padrão beleza e o padrão feio. Não
adianta justificarem com questões tipo “você
está vendo coisas e colocando na sua cabeça”, “vocês que estão sendo complexados”, porque o racismo brasileiro
velado é praticado dessa forma, com verbalizações subliminares.
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segunda-feira, 12 de agosto de 2013
CHEGA DE BONDADES
MARCELO SILLES
ASSISTENTE SOCIAL COM BACHAREL DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE/UFF-RJ & RAPPER
Fico observando de longe dos
bastidores, indivíduos que estufam o peito declarando-se representantes do
povo. Pergunto-me sempre, de que povo? Pois o meu povo esses elementos não
representam. Essa nata oligárquica sanguessuga, conservadora que conhecemos
bem, não está nem aí para o povo não passam de parasitas hospedeiros que só
querem apenas o bem deles e de seus grupinhos branco-eurocêntricos. O que
discuto aqui é a real necessidade dos nossos participarmos desses joguinhos com
essa elite ancestral lusitano-hispânica-ítala-germânica-pomerana.
Resumindo: essa raça não
gosta de nós. Verdade que doa a quem doer. Acham lindo quando um dos nossos
conquistam na labuta do cotidiano com suor e méritos vitórias em suas vidas. Mas
os tais “bonzinhos”, “mocinhos” não agem da mesma forma. Só lembram de mim,
preto e dos meus que também são pretos e pretas, em épocas que lhes convêm e
quando somos necessários para eles. Chamam-nos hipocritamente de irmãos, que
devemos lutar juntos por uma igualdade, fraternidade e união para todos. Mas quando
estão no poder, à história toda muda. Aí lanço a seguinte pergunta: Porque nós
temos que suar pela meritocracia e os clarinhos conservadores não?
Teoria e prática preta lúdica
é que nós temos que ser por nós mesmos. A construção histórica da nação
luso-hispânica-ítala-germânica-pomerana-tupiniquim é a prova cabal que quando
galgamos algum cargo de status, região dos clarinhos, somos tachados de
reacionários, racialistas, que estamos sempre correndo atrás de viver do bom e
do melhor. Mas os clarinhos não, né, eles sempre são os santos, as pessoas de
bem que sempre pensam no pretinho pobre humilde das periferias e favelas. Mas os
clarinhos somente aplicam o projeto de auto-segregação, manutenção territorial do
“status quo” beneficiando somente a eles, onde mantêm-nos os pretinhos em seu
devido lugar. Afirmando, eles não nos querem do lado deles, não querem ver nós
se beneficiando das mesmas delicias da vida em que os mesmos se deliciam.
Não existe elite preta no
Brasil. Preto não é só samba, pagode, carnaval, futebol. Preto também é
economista, jurista, médico, executivo, gerente, político, jornalista, repórter,
apresentador, cientista, etc., mas as ditas “pessoas de bem” não nos querem
nesses cargos supracitados e muito mais, a qual sempre reivindicaram supremacia
classista sobre os tais. Fato que comprova essa veracidade é o livro HISTÓRIA DE BOM JESUS DO ITABAPOANA, em
que o autor trata o negro como “elemento”
introduzido em terras bom-jesuenses. Para esses indivíduos ditos do “bem” somos
apenas elementos.
Essas tais “pessoas do bem”
cospem discursos sofistas carregados de paternalismo-assistencialista, não
podemos nos comover mais com essas falácias. São tempos de lutarmos pelos
nossos sem carregar a bandeira dos outros, reaja chega de ficar implorando por
migalhas, por bondades, não podemos deixar que esses sofistas se beneficiem sempre
com suas atitudes classistas querendo que acreditemos que fazem tudo pelo povo.
Reaja ou será morto, reaja ou será morta.
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