Se você ainda não sabe, Zinzi Clemmons, escritora da newsletter feminista de Lena Dunham, anunciou sua demissão no domingo (19), logo depois que Dunham defendeu o colega roteirista e produtor de Girls Murray Miller, acusado pela atriz Aurora Perrineau de estupro. Clemmons disse que ela tinha “cruzado com os mesmos círculos” de Dunham na universidade. “Na universidade, eu evitava essas pessoas como a praga por seu conhecido racismo, que eu chamava de 'racismo hipster'”, ela escreveu.
Nessa era daltônica e pós-racial de white tears, conheço esse tipo intimamente. Eles eram apologistas da hashtag alllivesmatter antes da tempestade. O tipo que acha que Kanye e Drake são seu passaporte para a cultura negra enquanto pedem cafés de oito sílabas no Starbucks. Eles são os mais não-racistas dos racistas. Eles costumam murmurar suas tendências não-raciais para si mesmos à noite, depois que sua turma de amigos brancos fez piada sobre usar a palavra com N: que é normal, né, porque supostamente é irônico; foda-se aquela censura de My Nigga do YG, eles dizem. E claro, eles têm um amigo negro, eu – a chave definitiva de sensibilidade racial que desculpa tudo isso.
É desse hipster racista que Clemmons está falando, e falo pela maioria dos negros quando digo que a gente não gosta de você mais que do redneck que usa “nigga” como uma espada. Mas olha, se você não sabe se a carapuça serve, eu explico quem é uma racista hipster.
Você "até tem amigos negros"
Já fui um desses amigo negro, muitas vezes, e como um racista hipster, você vai precisar de um também. Às vezes nosso papel é o de professor. Você pode nos fazer as perguntas mais ignorantes que você nunca faria para um estranho. Esse é o nosso papel. Questões universalmente irrespondíveis agora podem ser feitas, tipo “vocês adoram mesmo frango frito e melancia tanto assim?” Ao que, entendiado, vou te passar o link de uma piada do Dave Chappelle. Você vai fazer coisas bobas forçadas, como cumprimentar seu amigo negro com o punho fechado, ou dizer com “mano” quando você sabe muito bem, mas ainda ignora o fato, de que você nunca diz “mano”. E você vai usar meu nome como um escudo sempre que disser alguma coisa racista “sem querer”. Claro, você pode esperar que um amigo negro como eu te dê um tapinha nas costas, e repita “você não é racista, você é meu amigo” até você conseguir dormir à noite. E como um homem negro tubo de teste, piadas racistas perto de mim sempre serão livres para experimentação. É olhar de lado, e no momento em que alguém reclamar, você grita “É brincadeira!”
Você adora bancar o advogado do diabo
Se você é branco, as palavras “Sem querer bancar o advogado do diabo...” podem surgir. Talvez seja numa discussão sobre vidas negras, Colin Kaepernick ou supremacia branca; talvez você nem diga nada e prefira se esconder atrás de um artigo de opinião: “Não quero dizer que concordo com isso, mas olha esse link, tem alguns pontos bons, acho”. Só saiba que o que você fez foi perigoso, e beirando a escrotice. É sempre bom reduzir o racismo a só não ter a mesma opinião política que os outros. Uma que tenha uma solução completamente irracional para um dos lados. Você já está sendo dissimulado no momento em que tenta justificar sua lógica sobre segurança negra. Então continue com a ginástica mental e reduza mesmo a supremacia branca e questões assim a um experimento besta de troca. Seja o mais Megyn Kelly que puder.
Você não vê cor
Todo mundo já parece branco pra você, porque a ausência de cor é claramente branca; chata, sem gosto, sem drama e sem tempero. Esse é praticamente um superpoder; não ver cor é ser imune à besteira dessa coisa chamada racismo, que nem existe mais. Você já é melhor que o país onde você mora. Seu mantra “Eu não vejo raça!” desvia acusações, e mesmo no seu silêncio, ouvimos você dizendo isso. Então foda-se essa merda de racismo sistêmico, toda essa merda de #blacklivesmatter. Ignore os problemas reais do seu mundo sem cor, sem conflito, onde todo mundo é igual, porque se você simplesmente ignorar, todo mundo pode sentar numa rodinha de violão e cantar junto.
PUBLICIDADE
Se aproprie, se aproprie mesmo
Ah, agora você está confortável. Você viu aquela velha dança, aquela velha comida, aquele velho penteado e tornou tudo novo em folha. Você vai gentrificar até o osso, e remover o fedor de cultura para tornar essas coisas user friendly para os brancos como você. Se acomodar na palavra “nigga” é um passatempo para você, então pirateie mesmo os negros, os morenos, os asiáticos os indígenas com sua loja online, Uma Raça Única veste todo mundo, cara. Aprenda com a Kylie Jenner aqui, e deixe o seu look mais negro roubando de lojas de donos negros como a PluggedNYC. Empreste, tome e remova. Venha pro jantar sem ser convidado, pegue um prato sem pedir e dê o seu "toque especial” na comida. Porque não tem nada de errado em roubar culturas; como, tipo, também não tem nada de errado em destruí-las.
Você fala de brancos como se não fosse branco
Você está no auge. Você é praticamente preto por dentro. Você pode falar merda do opressor porque não vê problema em “ser” o opressor. Treine dizer “eca, brancos”, enquanto ignora que você é branco. Intelectualmente, você está acima dos sistemas que beneficiam o tipo de pessoa que protesta por direitos dos brancos. E nesse espaço, você pode livremente confundir causas que deveriam beneficiar pessoas não-brancas, enquanto promove as merdas com que você realmente se importa (feminismo branco, direitos dos animais ou gorilas chamados Harambe). E não tem nada mais racista hipster do que se fingir de aliado.
FONTE:https://www.vice.com/pt_br/article/wjg34w/como-saber-se-voce-e-um-racista-hipster
Nenhum comentário:
Postar um comentário