Assistente Social
Fora da imagem mítica e romântica, nossos dias não são tão calorosos
quanto aparentamos ser. Sorrisos largos são distribuídos para disfarçarem a
real sensatez cotidiana de nossos universos. O realismo cotidiano rebate a
empírica cíclica cínica de viver um dia de cada vez e por vezes, sempre
esperando um amanhã melhor numa teoria clássica de Mais Você.
O ainda jovial histórico de negações nos assombra sempre envolto de um
silêncio conspiratório e meias verdades que sempre nos fazem crer que quem não
vence é quem não obteve mérito em sua jornada social. O contexto urbano sempre
fica de fora do debate acalorado de vidas passadas com recortes amargos, e que
esses flashes em certos momentos recordados, expõe a notória e nítida cruel
realidade de uma vida de luta produzida in loco.
Permanecemos, portanto, ainda reféns de estereótipos e imagens
distorcidas, sem mudanças de paradigma num lapso constante de uma mutação que
se reinventa em nos negar e sempre refazendo teorias achacadas de conhecimentos
e saberes destrutivos ao nosso povo preto. Assinaram uma libertação na qual não
havia como não ser assinada, depois de muitas lutas e revoltas pretas, não
porque os brancos tinham pena e misericórdia, mas sim, porque homens pretos e
mulheres pretas avançaram com total voracidade contra um sistema racial que os
escravizava e explorava.
Livres por ordem da lei, mas sob o julgo da marginalidade social, do
preconceito, da exclusão, da segregação vagamos as margens. Em tese teórica de
acordo com suas bondades, nos tornaram livres mas sem reparações sociais e
econômicas. E quando conquistamos alguma coisa ainda insistem em nos taxar de
inferiores? Conversa mais que indecorosa. Querem a torto e direito, nos
empurrar ao precipício da invisibilidade das políticas públicas do Estado, na
luta por cidadania, inserção social e econômica e respeito.
A nossa, aos olhos raivosos, áspera existência sempre foi voltada para
romper o silêncio, banir o estigma, sair da retórica e partir para a ação. E
quando em certo modo estamos deixando de engatinhar para começarmos a das os
primeiros passos querem nos criminalizar como pretos e pretas inferiores, por
simplesmente querermos galgar os postos sociais que antes para nós sempre foi
dito que seriam inatingíveis? Reação de vossas senhorias mais que indecorosa.
A nossa existência expõe inúmeras evidencias que discurso de ódio não
é liberdade de expressão. Nos negar direitos inalienáveis que deveriam ter nos
assistido quando assinaram aquele papel de limpar barro, é a mais expressiva
evidência de um apartheid social e econômico brasileiro evidenciado.
Querer repactuar direitos arduamente conquistados com muita e suor é
no mínimo uma declaração de intolerância a outros grupos sociais. É,
definitivamente querer criar um outro Brasil dentro do Brasil. É racismo.
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