quinta-feira, 30 de junho de 2016

O ÓDIO RANÇOSO E O MIMIMIMIMIMI... CONTINUAM

Marcelo Silles
Assistente Social

Fora da imagem mítica e romântica, nossos dias não são tão calorosos quanto aparentamos ser. Sorrisos largos são distribuídos para disfarçarem a real sensatez cotidiana de nossos universos. O realismo cotidiano rebate a empírica cíclica cínica de viver um dia de cada vez e por vezes, sempre esperando um amanhã melhor numa teoria clássica de Mais Você.

O ainda jovial histórico de negações nos assombra sempre envolto de um silêncio conspiratório e meias verdades que sempre nos fazem crer que quem não vence é quem não obteve mérito em sua jornada social. O contexto urbano sempre fica de fora do debate acalorado de vidas passadas com recortes amargos, e que esses flashes em certos momentos recordados, expõe a notória e nítida cruel realidade de uma vida de luta produzida in loco.

Permanecemos, portanto, ainda reféns de estereótipos e imagens distorcidas, sem mudanças de paradigma num lapso constante de uma mutação que se reinventa em nos negar e sempre refazendo teorias achacadas de conhecimentos e saberes destrutivos ao nosso povo preto. Assinaram uma libertação na qual não havia como não ser assinada, depois de muitas lutas e revoltas pretas, não porque os brancos tinham pena e misericórdia, mas sim, porque homens pretos e mulheres pretas avançaram com total voracidade contra um sistema racial que os escravizava e explorava.

Livres por ordem da lei, mas sob o julgo da marginalidade social, do preconceito, da exclusão, da segregação vagamos as margens. Em tese teórica de acordo com suas bondades, nos tornaram livres mas sem reparações sociais e econômicas. E quando conquistamos alguma coisa ainda insistem em nos taxar de inferiores? Conversa mais que indecorosa. Querem a torto e direito, nos empurrar ao precipício da invisibilidade das políticas públicas do Estado, na luta por cidadania, inserção social e econômica e respeito.
A nossa, aos olhos raivosos, áspera existência sempre foi voltada para romper o silêncio, banir o estigma, sair da retórica e partir para a ação. E quando em certo modo estamos deixando de engatinhar para começarmos a das os primeiros passos querem nos criminalizar como pretos e pretas inferiores, por simplesmente querermos galgar os postos sociais que antes para nós sempre foi dito que seriam inatingíveis? Reação de vossas senhorias mais que indecorosa.

A nossa existência expõe inúmeras evidencias que discurso de ódio não é liberdade de expressão. Nos negar direitos inalienáveis que deveriam ter nos assistido quando assinaram aquele papel de limpar barro, é a mais expressiva evidência de um apartheid social e econômico brasileiro evidenciado.


Querer repactuar direitos arduamente conquistados com muita e suor é no mínimo uma declaração de intolerância a outros grupos sociais. É, definitivamente querer criar um outro Brasil dentro do Brasil. É racismo.

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