Em
fevereiro de 2013 um blogueiro oposicionista
(http://rtfonseca.blogspot.com.br/2013/02/bom-jesus-carnaval-2013.html?spref=fb), em sua revolta pelo fato de não ter ocorrido o
carnaval em Bom Jesus, foi enfático em sua postagem, em classificar os
funkeiros de marginais. Em todo o momento o mesmo exclui os cidadãos que fazem
parte desse movimento, de serem indivíduos pertencentes a decente família bom-jesuense,
que os mesmos não têm decência e civilização. Não se farta de vangloriar esses
termos várias vezes.
Para
este blogueiro e o seu grupo da tal família bom-jesuense nós da Cultura de Rua,
Cultura Marginal, na qual o funk também faz parte, ameaçamos a ordem social de
seus contemporâneos que diversas vezes se auto-intitulam detentores do
monopólio da manutenção da ordem municipal, da ordem pública. E por que a Cultura Marginal incomoda tanto
esses bons bom-jesuenses de família nobre, casta e inocente?
Para
esses indivíduos a Cultura Marginal é tida como uma coisa maldita que foge
totalmente os padrões culturais que se enquadram nessa decente cidade, e esses
senhores e senhoras de bem querem imputar, a título de pretérito, suas velhas
paixões saudosistas e suas culturas particulares dignas de apreços reacionários
conservadores, ditatoriais e segregacionistas. A Cultura Marginal é a
representação máxima da periferia, desnuda suas formas, contradições, paixões
inquietantes, desejos furtados e aprisionados, reflete a realidade sem
maquiagem, dando voz a quem antes não tinha voz despertando para o senso
crítico.
Micael
Herschmann em seu extraordinário, O Funk e o Hip Hop Invadem a Cena, expõe
claramente o sentimento de repulsa, nojo e desaprovação de uma sociedade
alicerçada no conservadorismo e num ranço discurso arcaico carregado
explicitamente de racismo, preconceito, discriminação, marginalização,
criminalização. Configura um apontamento de pré-julgamento e um clima de
desconforto com a atual conjuntura dos arranjos culturais, econômicos, sociais
e familiares. Os apontamentos feitos em seu trabalho expressa, de uma forma nua
e crua, a luta desses movimentos em se manter firmes frente a uma escalada
societária determinada em isola-los num campo de concentração patrocinado pelos
senhores e senhoras de bem.
O
fato é que, quando é conivente e conveniente em Bom Jesus, os funkeiros e adeptos
da Cultua de Rua (Cultura Marginal) são tratados como iguais, cidadãos de bem
no suave feito seda. Apertos de mão que são acompanhados de ‘tenho que aturar
por enquanto’ fazem parte de um ritual conservador e de direita macabro de dois
em dois anos, época em que todos os brasileiros são iguais mediante interesses
desses crápulas meritocratas.
É
necessário nós, da Cultura de Rua, unirmos força para termos os nossos
representantes, que lutem pelos nossos direitos sociais e culturais, temos que
repensar nossos momentos e fortalecer a nossa causa na luta do bem comum, unir
forças e parar de darmos munição e créditos aos nossos inimigos que são muitos.
É Nós Por Nós.
Despeço-me
com a máxima do grande rapper Mano Brown do Racionais, que se encaixa
perfeitamente para esses tipos de indivíduos bonjesuenses senhores e senhoras
de bem que representam a santa e casta família bonjesuense, a tal família que
nós, funkeiros, rapper´s da Cultura de Rua, Cultura Marginal, não fazemos parte:
“Ei, Senhor de engenho eu sei bem
quem você é. Sozinho, cê num guenta sozinho cê num entra a pé. Cê disse que era
bom e as favela ouviu, lá Também tem Whisky, Red Bull, Tênis Nike e fuzil. Admito
seus carro é bonito é, eu não sei fazê Internet, videocassete os carro loco. Atrasado
eu tô um pouco sim tô Eu acho ,só que tem que seu jogo é sujo e eu não me
encaixo. Eu sô problema de montão de carnaval a carnaval eu vim da selva sou
leão, sou demais pro seu quintal. Problema com escola eu tenho mil, mil fita inacreditável
mas seu filho me imita. No meio de vocês ele é o mais esperto, ginga e fala
gíria, gíria não, dialeto. Esse não é mais seu ó subiu, entrei pelo seu rádio tomei
cê nem viu. Nós é isso ou aquilo o quê? cê não dizia? Seu filho quer ser preto rááá....
Que ironia cola o pôster do 2Pac aí que tal? Que cê diz? Sente o negro drama vai
tenta ser feliz. Ei bacana quem te fez tão bom assim? O que cê deu, o que cê
faz, o que cê fez por mim? Eu recebi seu tic quer dizer kit de esgoto a céu
aberto e parede madeirite..”
Marcelo
Silles
Assistente
Social
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