sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Fundador da primeira escola de samba, Ismael Silva já foi impedido de assistir aos desfiles.


Criador ao lado da sua turma do Estácio da primeira escola de samba do país — a Deixa Falar —, Ismael Silva passou por maus bocados para ver sua criação de perto. Sem dinheiro para comprar o ingresso de Cr$ 8 mil para assistir à passagem das agremiações no carnaval de 1965, o compositor fez um apelo à Secretaria de Turismo para ter direito de acompanhar de perto os desfiles. O pedido nem foi considerado.

Em 75, virou enredo da escola Canarinhos da Engenhoca, de Niterói. No mesmo ano, ganhou dos órgãos públicos dois ingressos nas cadeiras cativas para ver os desfiles através de uma lei estadual. Mas no carnaval seguinte, Ismael, aos 70 anos na época, foi barrado por funcionários da Riotur, quando tentava chegar ao camarote e ocupar seu lugar devido — e merecido.

“Nem sequer me deixaram falar com o pessoal da imprensa, que podia explicar tudo. Fui humilhado, tive que me retirar como se fosse um marginal. No meu caso, por exemplo, mesmo quem não me conhece vê logo que não se trata de um delinquente. Não ofereço perigo nenhum, caminho com dificuldade”, desabafou Ismael Silva ao jornal O Globo na época.

A convite do diário, o poeta do Estácio voltou no dia seguinte, na segunda-feira de carnaval, para acompanhar os desfiles de blocos e ranchos. Só não foi impedido de entrar novamente após a insistência do repórter que explicava ao segurança quem era o senhor de bengala. Ismael entrou e foi cumprimentado por Paulinho da Viola, um dos jurados do concurso de ranchos. Ficou por lá durante duas horas e depois pediu para ir embora. Estava emocionado.

Para tentar contornar o episódio, foram entregues dois ingressos de arquibancada para os desfiles no ano seguinte. Ismael recusou. Não pisaria mais naquele palco. Morreu em 78, desgostoso com aquele mundo que ajudou a criar.





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