quinta-feira, 24 de julho de 2014

Os sutis estabelecimentos racistas, excludentes e discriminadores de Bom Jesus. Texto de Marcelo Silles

De tempos para acabar observo o surgimento de alguns estabelecimentos típicos de classe-média a elite em Bom Jesus. São estabelecimentos que claramente decorados, estruturados exigem uma clientela de acordo com seus serviços e ambientes. A clientela desses estabelecimentos exibe um boçal status que trazem e um enojado despeito classista, não disfarçam o horror em dividir certos ambientes com negros e pobres.

Nesse sentido, emerge em Bom Jesus espaços reservados a indivíduos com o perfil encaixável da bendita família bom-jesuense. Espaços rançosos e rancorosos com o único intuito de manifestar o desejo simpático ao apartheid bom-jesuense. São espaços impróprios para pessoas de bem pretas, trabalhadores pobres honestos e periféricos.

Passando em frente desses estabelecimentos e reparando o ambiente decorativo e apanhado percebe-se a indireta e singela expressão de seus freqüentadores e donos, lê-se em suas faces e olhares os seguintes dizeres que não estão explícitos nas placas com os nomes dos respectivos estabelecimentos: “AQUI NÃO É LUGAR PARA PRETO E POBRE.” Se algum preto ou pobre atreve-se a adentrar dentro de um desses estabelecimentos, logo recebe de antemão olhares de nojo e reprovação tanto de proprietários quanto de clientes.

Por um lado, o bom disso tudo é a afirmação da classe bastarda e rançosa desses indivíduos racializados bom-jesuenses que sim são racistas e que sim sentem nojo de dividirem o mesmo espaço com pobres. O que nós pretos pobres e brancos pobres devemos fazer? Não entrar nesses estabelecimentos que nos rejeitam e excluem, portanto o nosso dinheiro também não vale nada para esse tipo de gente. Devemos fortalecer somente os nossos, fechar com os nossos.

Sim, existem jabuticabas e los macaquitos que discordam desse ponto de vista, mas visto que já escolheram o lado que querem fazer parte, claro sentem-se infelizes por terem nascidos negros.

O racismo, a discriminação e o preconceito em Bom Jesus agem de forma sutil, sagaz e silenciosa como várias vezes já havia afirmado. Sim eles existem e se prestarmos bastante atenção em ações do cotidiano através de falas, gestos, posturas podemos enxergá-los a olho nu. 


Marcelo Silles
Assistente Social. Bacharel da Universidade Federal Fluminense, UFF/Campos dos Goytacazes/RJ


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