Resenha crítica ao texto Economia Política:
uma introdução crítica, de José Paulo Netto e Marcelo Braz. Cortez Editora, 2ª
edição.
O mercado continua florescendo, caminhando
com muito sucesso. Com sua maciça propaganda individualista e de auto-consumo,
vai invadindo e conquistando mais e mais lares, arrebanhando adeptos, e
convertendo aqueles “pagãos” “leigos” que são infiéis ao grande capital. No
final das contas, acabam se rendendo a sua doutrina, ao discurso manso regado
de promessas, sucessos, conquistas, algo tentador que converteria nos dias de
hoje até mesmo o grande Karl Marx. Quem sabe?
José Paulo Netto e Marcelo Braz, em
Economia Política: uma introdução critica, traz uma visão da política econômica
mais acessível, de fácil compreensão e entendimento diferente de, outros
autores que só trazem como está escrito no resumo do verso da capa “... são
redigidos para especialistas,..., e/ou são escritos para justificar o estágio
em que se encontra o capitalismo de nossos dias (a globalização)”. Em seus
capítulos 2,3 e 4 destacam questões bastante interessantes, como o ponto da
categoria reflexiva no terceiro parágrafo onde os autores citam a questão banal
do uso da moeda. “O leitor sabe lidar com o dinheiro, expressão imediata de uma
categoria da Economia Política, o valor diariamente, realiza com ele varias
operações, compra, vende, não é enganado nas trocas, revela-se cuidadoso com
seu orçamento pessoal, pede e concede empréstimos e até talvez faça algum
investimento. (pág.55 – 1º par.)”. Certo, mais adiante no mesmo parágrafo já
postam um ponto de vista questionador no uso da moeda pelo leitor, podemos
assim dizer cidadão: “entretanto, se lhe pedíssemos que conectasse o dinheiro
com o valor, que nos dissesse quais as suas funções econômicas, esclarecesse
suas relações com o trabalho e a propriedade ou narrasse como ele se constituiu
historicamente etc., com certeza o leitor se sentiria embaraçado .(pág.55 – 1º
par.)”. Bem o cidadão pode ter lá as suas limitações no que se diz respeito a
economia política, não assimilando suas teorias e transformações neoliberais.
Mas vem-me ao acaso dizer que tal procedimento é fruto de um sistema de modelo
ocidental que deu certo, certíssimo venhamos e convenhamos, portanto foram anos
de implantações e estratégias liberais e neoliberais para se chegar ao estágio
ao qual estamos vivenciando hoje: avanço da globalização e seus ideais
pressupostos do capital. Bem , o leitor aqui, sabe manusear a moeda que recebe
no início do mês, por trinta dias trabalhado quando bate na mão se vai num
passe de mágica, não dá nem pra pensar em constituição histórica do dinheiro e
seu valor, já que o pensamento das próximas contas toma conta total da mente,
já que não vivemos mais e nunca viveremos novamente uma sociedade primitiva, de
valores coletivo por se assim dizer.
A linguagem clara dos autores nos deixa a
par de todo movimento da engrenagem capital em suas forças produtivas que
envolve o trabalho e seus meios, objetos e a força, empregando assim a
produtividade do trabalho “...isto é, a obtenção de um produto maior com o
emprego da mesma magnitude de trabalho”(pág.: 58 – par:3º). O leitor aqui
então, compõe o exército de força de trabalho, nesse ambiente de uma perversa
globalização. No capitulo três, o valor e o dinheiro são postos de uma forma
calculada sobre a força do trabalho, o quanto vale o trabalho humano empregado
de forma bruta e aviltante, expropriado de todo valor humano e ético de
vivência e sobrevivência, a favor de uma política econômica vil e desumana. Mas
tecnicamente no cotidiano, no corre-corre alienado do dia-a-dia, o trabalhador
nem sente que faz parte dessa engrenagem que impulsiona a mola neoliberal. Os
dias são sempre os mesmos, as rotinas sempre iguais. “O fetichismo daquela
mercadoria especial que é o dinheiro, nessas sociedades, é talvez a expressão
mais flagrante de como as relações sociais são deslocadas pelo seu pode
ilimitado”(pág.92 e 93 – par. 3º), citado pelos autores, é o resultado da
transformação dos valores sociais, dos indivíduos cada qual no seu pertencimento
em sua sociedade, em objetos, coisas, sujeitos alienados ao auto-consumo e ao
individualismo. O sujeito torna-se parte da máquina capitalista, não se
importando o quanto custe o seu suor, a sua auto-estima, pois as forças já se
cessaram, seguir com a vida é o lema, porque insistir? se o destino está
traçado, os autores esqueceram de validar essa afirmação e de valorizar o
esforço do sujeito alienado ao apenas classificá-lo de sujeito portador do
senso comum, coloquemos nesse sentido.
No quarto capitulo os autores, voltam a
retomada da exploração da força de trabalho no âmbito econômico, capitalista
com o aval da mais-valia, um termo usado para definir o excedente de esforço de
trabalho do operário e a sua não compensação por esse extra excedente de mão de
obra, que se torna então para o trabalhador não compensatória, já que ele está
vendendo a sua força de trabalho a um preço muito baixo desvalorizando a sua
mercadoria na condição humana, submetendo muita das vezes as condições de
servil a serviço condicionalmente do sistema. As mercadorias feitas pelo
trabalhador acabam saindo para o capitalista, na condição de ressarcir o
vinculo empregatício do trabalhador, muitas das vezes satisfatório, pois ele
tem um excedente fabricado e paga menos da metade pela sua produção em escala.
Nada tem de segredo então nesse entendimento, na produção da mais-valia, visto
que ela é bastante praticada e de comum acordo pelos sujeitos que por ela
sofrem tal ardor do oficio. O salário é apenas um valor simbólico estipulado,
pago bem abaixo do que realmente deveria ser:” é na fixação do preço da força
de trabalho que mais imediatamente vem à tona o antagonismo entre os interesses
do capitalista e os dos trabalhadores”(pag.103 – 4º par.). “... o excedente lhe
é extraído sem o recurso à violência extra-econômica; o contrato de trabalho
implica que o produto do trabalho do trabalhador pertença ao
capitalista”(pág.107 – par: 2º)”.
Enfim, esse processo de exploração,
apropriação alheia da força de trabalho de outrem pelo capitalista, pela forma
mais voraz e subumana condicional do sistema neoliberal, ainda está longe de se
findar. Contudo, os autores José Paulo Netto e Marcelo Braz nos deixam claros
sobre os rumos da economia política em seu viés globalizado, inserido junto às
crises que acompanha o capitalismo desde o seu nascimento até os dias de hoje.
A obra é válida, e o conteúdo bastante proveitoso para estudos e porventura
criticas, pois a nova demanda para um surgimento de um novo modelo social, em
que a economia política torne uma linguagem mais popular, está longe de vir.
MARCELO SILES ALVES
Rapper, Assistente Social.
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