segunda-feira, 30 de junho de 2014

FAVELA NO AR - Documentário Completo - 13P@2007



O rap é a chave. O rap é a única música que reúne multidões pra falar de consciência. É o poder da comunicação. 
Uma co-produção internacional entre a brasileira 13 Produções, a dinamarquesa Rosforth e a sueca Stocktown, Favela no Ar retrata, na lata, o despertar do jovem pobre paulistano para a consciência social na identificação da vida que imita a arte com a arte que imita a vida. É o capítulo paulistano da história cultural do respeitado rap nacional na voz de seus principais expoentes.
A auto-recuperação de Dexter e Afro-X por meio do rap, a última entrevista gravada de Sabotage, o fortalecimento do movimento hip-hop com a sigla 4P -- Poder Para o Povo Preto --, o dilema da exposição na mídia no entender de KL Jay e no contraponto informado de Xis, o poder transformador do hip-hop como movimento local na voz do RZO... Favela no Ar marca a batida deste movimento de muitos movimentos.



sexta-feira, 27 de junho de 2014

SENTIMENTO DE PERDA DE IDENTIDADE PROFISSIONAL. Texto de Marcelo Silles

Ações e olhares reacionários mediante a tácita decepção vocacional, revelam um quadro desanimador da prática do Serviço Social em Bom Jesus do Itabapoana-RJ. Quando saímos da academia com o orgulho bacharelado munidos daqueles instrumentos teoricamente eficazes, muitos (as) Assistentes Sociais interiorizam o abastardaísmo madames e madamos da sociedade bonjesuense e com isso, incapazes de administrar emocionalmente as tensões junto às demandas que surgem no cotidiano.
            Esses microconflitos acabam por se tornarem macros à medida que os profissionais da Assistência coisificam suas práticas, ações e atendimentos através de discursos de inclusão, mas que acabam por excluir e segregar o usuário da Assistência em todos os setores.
            Gerado por um conjunto de fatores, entre eles o comodismo, a discriminação e o preconceito, os (as) Assistentes Sociais bonjesuenses atuam sob um olhar hostil diante as condições que demandam sua atenção como profissional, comprometendo a qualidade do trabalho nos âmbitos das políticas criando assim um entrave na luta por garantir os direitos sociais dos usuários e a manutenção de seu status quo profissional que não existe.
            O profissional bonjesuense acaba por silenciar qualquer crítica aos arranjos sistêmicos ao sinalizar para a necessidade e os limites do usuário que busca solucionar o seu problema. Provoca o silêncio com receio da crítica constante e com isso nutri cada vez mais o usuário uma insatisfação com o atendimento.
            Com ares de vítima dócil e escrava, o profissional acentua cotidianamente o seu lapso assistencialista minando assim valores de ética e cidadania. Alguns tendem ao papel crucial de mea culpa, outros exibem desde berço o seu espectro mais conservador.
            Apesar dos pesares é possível, em práticas significativas, socializar e ressignificar a prática profissional através de um debate substantivo iniciado a partir de um determinado período histórico.           
            Posições sectárias retraem e desvalorizam a profissão, deixamos de ser agentes catalisadores do direito e cidadania, passando a ser apenas críticos do existencialismo, mas sem conteúdo pois, teoricamente a prática leva a valorização. Precisamos equacionar algumas condições básicas: Atuação compromissada do Assistente Social; Sensibilidade nas análises de estudo; Criticidade ética ao avaliar a demanda surgida; Policiamento do seu eu ao avaliar a problemática trazida junto à demanda pelo usuário.

            E por fim, é necessário rever os conceitos éticos e de cidadania do Serviço Social em Bom Jesus, é preciso entender que, durante o período acadêmico, não é ensinado aderir ao status quo, mas sim discutir e aperfeiçoar a prática profissional. Isso significa valorizar mais o ser humano e deixar de lado um status que nunca foi nosso.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Participação na IX Conferência Municipal de Assistência Social. Texto de Marcelo Silles - Assistente Social

Discussão acerca da palestra apresentada na IX Conferência sobre o tema: avançando na consolidação do SUAS com a valorização dos trabalhadores e a qualificação da gestão, dos serviços, programas, projetos e benefícios.


Observei no seminário a atenção dos organizadores e alguns participantes de rapidamente partirem para a eleição de delegados. Pensei comigo e sobre a palestra a atuação do profissional do Serviço Social e a estruturação e formação das equipes que está estabelecido pelo SUAS na NOB-RH?
            No que tange a discussão a cerca do tema do respectivo seminário ficou a desejar a fala da nossa palestrante que fez nada mais e nada menos um rodeio discursivo uma embromação para simplesmente cumprir o seu papel e o seu horário e todos nós partirmos para o almoço. Mais uma vez, um debate que poderia se enriquecedor sobre a atuação política do Assistente Social e sua importância no cenário político nas questões sociais que visam uma mobilização do indivíduo na garantia dos seus direitos, foi por água a baixo. O projeto ético-político e intelectual do profissional, não garante por si só competência na atuação se esse mesmo não tiver o gingado de lidar com a gestão que está no quadro institucional no momento. Pode assim dizer como afirma Silvestre (2011)
... para termos clareza que como qualquer projeto ético-político, aquele se constrói em torno dos sujeitos presentes no escopo profissional do Serviço Social, também é permeado por divergências e disputas, ou seja, esta direção intelectual e ética não garante por si só uma prática política em uma perspectiva contestadora. (SILVESTRE, Ricardo. A formação profissional crítica em Serviço Social inserida na ordem capital monopolista. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 103, ano 2011. p. 405-432)

            O profissional num ambiente sem espírito de equipe e sem condições estruturais para exercer com dignidade a sua profissão, não colocará em prática o seu aprendizado acadêmico, visto que a prática é totalmente uma versão avessa do cenário acadêmico. Constatei muitas das vezes em que visitei outras instituições como Caps, Posto de Saúde e a própria Secretaria de Assistência Social, que há uma disputa interna por conquistas de prestígios políticos e não um compromisso com o projeto-ético-político que rege a profissão e ferindo algumas finalidades do Assistente Social como cita Fraga (2011)
A finalidade do trabalho do assistente social está voltada para a intervenção nas diferentes manifestações da questão social com vistas a contribuir com a redução das desigualdades e injustiças sociais, como também fortalecer os processos de resistência dos sujeitos (materializados em organizações sociais, movimentos sociais, conselhos de direitos...), na perspectiva da democratização, autonomia dos sujeitos e do seu acesso aos direitos. (FRAGA, Cristina Kologeski. A atitude investigativa no trabalho do assistente social. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 103, ano 2011. p. 40-64)

            Por fim à nossa palestrante ficou a famosa pergunta em que Santos(2003) deixa para ser respondida: Serviço Social: Afinal do que se trata? Muitas assistentes sociais que estavam presente ao evento saíram sem saber o que se trata, digo de profissionais até com mais de dez anos de exercício da profissão. Nós que esperávamos algo de novo, ficamos meio que decepcionados. Mas deixamos duas perguntas simples que causaram um grande mal-estar a quem se sentiu doído e perturbado e até hoje não obtive respostas e com certeza não terei. O SUAS foi somente apresentado e não problematizado, era mais fácil que nos entregássemos uma cartilha nos explicando o seu funcionamento. Faltou o que diz Raichelis(2011)
... refletir sobre os espaços sócio-ocupacionais do serviço social implica considerá-los como expressões das dimensões contraditórias do fazer profissional, nos quais se condesam e se confrontam concepções, valores, intencionalidades, propostas de sujeitos individuais e coletivos, articulados em torno de distintos projetos em disputa no espaço institucional onde se implementam políticas públicas.
... interessar-nos analisar o trabalho do assistente social no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), pela oportunidade de problematizar um processo que está em curso em todo o país, e que pela velocidade e complexidade apresenta desafios as profissões envolvidas que precisam ser acompanhados e desvendados criticamente. (RAICHELIS, Raquel. Intervenção profissional do assistente social. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 103, ano 2011. p. 750-772)


terça-feira, 24 de junho de 2014

PRA FRENTE BRASIL..... Marcelo Silles


Pra frente Brasil... Brasil sem educação, sem saúde, sem cultura, sem política, sem cidadania, sem direitos. Pra frente Brasil, pátria das chuteiras, sem eira nem beira traz o hexa e encha o bolso de alguns patriotas capitalistas-imperialistas dos petró-dollars, soccer-dollars, canarinhos das vitrines plin, plin do ordem e progresso. Pra frente Brasil... terra do Éden, prometida que por ti muitos morrem querida pátria das chuteiras, guerreira nação mais feliz do mundo. Verdadeira democracia, vivo sempre feliz da vida, quem a insultastes merece pena grave, de morte seria pouco para esses desalmados que difamam com mentiras, injúrias a minha pátria das chuteiras, dos meus heróis das quatro linhas, que dançam, gingam que fazem o Brasil país do futebol mais bonito. Pra frente Brasil... pra quê saúde, educação, hospitais, salários justos para os trabalhadores, pra quê cotas, ações afirmativas, pra quê pensar em sociedade justa, temos as chuteiras, nosso futebol, estádios, somos a pátria das chuteiras. Toda em formosura e beleza de etnia eurocêntrica. God save a pátria das chuteiras, eu a sirvo com total subserviência e amor incondicional pelo nosso amado e bem patriótico maior o football. Óh minha pátria das chuteiras, sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor.



Disposição! - Felipe Flow, Rapper NeneMC', Elan Fabolous & Sativa'Mente (prod. NeneMC')




segunda-feira, 23 de junho de 2014

Aos 15 anos, garota 'invade' o mundo do rap em Piracicaba e almeja carreira

Jovem foi a primeira mulher a cantar em batalhas de rima na cidade. Em um ano, ela já teve música gravada e o clipe está em produção.

Gáb, primeira mulher a cantar em batalhas de rap em Piracicaba (Foto: Thomaz Fernandes/G1)

Quando pediu o microfone em uma sessão de freestyle de rap na Praça José Bonifácio, no Centro de Piracicaba (SP), a adolescente Gabriela Fernanda Rodrigues de Oliveira, então com 14 anos, não teve sequer a atenção dos rappers presentes, que já lhe davam as costas. Mas bastou disparar as primeiras rimas para que chamasse a atenção não só dos que estavam no local, mas de todos os que acompanham o hip hop no município. Em um período de apenas um ano, a jovem -- agora com 15 anos -- foi a primeira mulher a participar da principal batalha de rimas da cidade, gravou a primeira música e se prepara para lançar um clipe.
Gáb, como pretende ser conhecida no meio musical, ainda é uma exceção no mundo do hip hop, formado em sua maioria por homens, mas já participa ativamente de eventos ligados ao estilo. A música de sua autoria, "V.I.D.A", se aproxima de 2.000 execuções na rede social Sound Cloud e, com ela, fez a apresentação de abertura no aniversário de cinco anos de um dos principais eventos de rap de Piracicaba, a Batalha Central.
"Quando ela apareceu me disseram para prestar a atenção, pois tinha algo de 'diferente'. E tem mesmo. Apesar da pouca idade, ela tem uma cabeça muito boa e tem tudo para crescer, basta ter disciplina e foco", afirmou Igor Serra, de 34 anos, um dos fundadores da Casa do Hip Hop.
Serra, a quem Gáb chama de "tio", é um dos maiores entusiastas da jovem artista e tem sido um dos conselheiros da garota. "Tem muita gente me ajudando de verdade desde que comecei a fazer rima. Seja ouvindo minhas frases novas ou me dando dicas", disse Gáb. A garota tem uma música gravada, mas diversas frases e pensamentos são escritas diariamente em cadernos, agendas e até mesmo no celular. Ela não revela o que vem produzindo e apenas intitula de "projetos inacabados".
"É muito difícil escrever um rap. Aprendi que primeiro tenho que saber porque aquela música tem de existir, pra que vai servir e o que vai dizer. Depois tem o processo para encontrar uma melodia, o meu outro parceiro faz o sample (melodia baseada no cruzamento de ritmos com uma música) e eu tento achar um sentimento em comum com a letra até que a música fique pronta."
Aos 15 anos, Gabriela de Oliveira sonha em ser
profissional no rap (Foto: Thomaz Fernandes/G1)
Início
Gáb disse que o gosto pela rima nasceu da poesia (o seu autor preferido é Fernando Pessoa) e que se aproximou do rap por meio de amigos. Praticante de skate, a garota contou que sempre escreveu e começou a improvisar rimas com um amigo. "Eu não fazia na frente de ninguém, só pra ele. Como fui melhorando, ele começou a me ajudar e me motivar para participar das batalhas."

A música V.I.D.A começou a ser escrita em um ponto de ônibus pelo celular, mas segundo Gáb os versos também passaram pela morte do namorado Daniel Campos, o Baia. "Até agora ninguém sabe a causa, ele me disse que estava com dengue, mas dias depois morreu e ainda tem a suspeita de leptospirose. Ele foi um dos caras que me estimulou a escrever, foi muito triste perdê-lo." A qualidade da música produzida pelo artista Sampa Beats, da Barraco Records, motivou a gravação de um clipe, que ainda está sendo produzido (veja no vídeo acima).
Desde as primeiras rimas na Praça José Bonifácio, a garota contou que passou a compreender e assimilar os conceitos de ritmo e música. "Eu fiz aula de canto e sou louca por música, sobretudo brasileira. Além do rap do Criolo, Marechal e Racionais, também escrevo ouvindo Djavan, Tom Jobim. Mas eu sou rap, adoro skate, rima, batida."
O fato de ser mulher não é empecilho para a adolescente, mas ela admite que a presença feminina em batalhas de rap ainda é rara. "Eu acho que as outras meninas ficam envergonhadas. A maioria das minhas referências no rap também são masculinas, mas tem a Lauryn Hill, a Dina Dee e outras mulheres que são muito boas", contou.
'Ela mesma'
O rapper piracicabano Daniel Bidia Olmedo Tejera, o Garnet da dupla "Daniel Garnet & Peqnoh" e um dos organizadores da batalha central, é um dos conselheiros de Gáb. Ele se diz um dos admiradores da evolução da garota e crê que nem mesmo ela consegue calcular a dimensão do potencial. "Além de ser mulher, a primeira a participar da batalha, ela ainda é muito novinha e ao mesmo tempo desinibida, esforçada. Fiquei muito feliz."

"Quando a gente é novo não percebe o tamanho das coisas que faz. Ela evoluiu muito rápido desde as primeiras batalhas até agora. Geralmente, quando a pessoa começa a cantar, ela tenta se parecer com alguém que já seja famoso e cada vez mais percebo que ela tenta se parecer com ela mesma. Isso é muito bom", disse Garnet.
O rapper, segundo Gáb, é um "termômetro" para o que ela produz. "No começo eu mostrava uma frase e ele dizia: 'Isso aí, vai em frente'. Hoje ele já fala: 'Pô, ficou legal'. Aí notei que venho melhorando", disse ela. Ainda estudando, a garota sonha em se profissionalizar e se dedicar ao rap no futuro. Por enquanto, recebe puxões de orelha do "tio" Igor Serra para que se dedique aos estudos, pratica skate e atravessa a madrugada escrevendo letras.
FONTE:http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/06/aos-15-anos-garota-invade-o-mundo-do-rap-em-piracicaba-e-almeja-carreira.html

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Helião do RZO se converte ao cristianismo


O rapper Helião do RZO publicou em sua conta no facebook, que aceitou jesus, mas deixa claro que não vai mudar sua postura e nem suas roupas.
Vamos aguardar como vai ser sua caminhada no rap,após sua conversão ao cristianismo.


Caras, aceitei Jesus tranquilo e já tenho testemunhos. Não preciso mudar de roupa, estilo, desviar dos meus caminhos e ainda amo meus Amigos sem precisar chama-los pra Igreja. A fé é inteligente, só tenho que Orar por Eles, fiz isso agora. Só não me deseje paz porque não quero, estou na guerra enquanto houver uma alma perdida. Boa Noite pra Nóis...

Fonte:http://www.noticiario-periferico.com/2014/06/heliao-do-rzo-se-converte-ao.html


Novo álbum do Racionais Mc's esta cada dia mais perto!


A cada dia que passa as noticias sobre o novo álbum do Racionais Mc's vem tomando forma e tudo indica que o álbum sai este ano mesmo ou começo de 2015.
Semana Passada o Dj Cia publicou que estava com os cara em estúdio e esta semana foi do Dj Dri irmão do Lino Krizz que publicou fotos junto com dj Cia, Mano Brown, Negreta e Maspingon do Rosana Bronks.. 

Lembrando que esta ano ainda não o Album Solo do Mano Brown e um EP do Ice Blue com o Helião!

Estes Bang só me deixa mais ansioso para ouvir este álbum!! 
Fonte:http://www.noticiario-periferico.com/2014/06/novo-album-do-racionais-mcs-esta-cada.html

NA BATALHA o passinho como você nunca viu

Ingressos pra galera do CMJ!!
Se liga no sorteio de ingressos, com direito a acompanhante, para o espetáculo Na Batalha que tá rolando no Teatro João Caetano!!
São dois sorteios:
Quero ir na Sexta, dia 20/06: http://goo.gl/CT1qFG
Quero ir no Domingo, dia 22/06: http://goo.gl/JvfYeC
#roléCMJ #CmjNoTeatro



quinta-feira, 12 de junho de 2014

Reprise radio Ifa Brasil - Programa Ifa por uma cultura de Paz - Entrevistada Marli Ogunlade



A bênção meus irmãos e irmãs!
Ontem dei uma entrevista a Rádio Ifá Brasil no programa: Ifá para uma Cultura de Paz, onde falei sobre política, unidade, Cultura de Paz, diálogos religiosos, intolerância religiosa e sobre alguns pontos que necessitam ser discutidos e revisados por todos nós.
Espero que você meu irmão (a) ouça, pense, questione-me e contribua dando o seu comentário se comungamos do mesmo pensamento e visão.
Tem uma hora e sete minutos de duração, porém para que você possa me conhecer um pouco mais é este o canal.


Grata,





Deu branco no futebol - Por Mariana Santos de Assis para as Blogueiras Negras


Até hoje o jogo de futebol mais triste que já vi tinha sido a partida em que meu Timão jogou sem torcida. Naquele momento entendi porque tantas pessoas não gostam de futebol, não conseguem entender as lágrimas, o desespero, o ódio, a euforia e a felicidade incontida de quem torce e ama seu time do coração. Naquele jogo eu entendi essas pessoas porque esse sentimento foi tirado do campo, a devoção da fiel torcida estava ausente, essa falta não foi compensada nem mesmo pela vitória do corinthians por 2X0.
Mas o dia 02 de junho conseguiu colocar esse vazio no chinelo, perto do que o futebol viu acontecer nesse dia, um jogo com estádio vazio não foi nada. Reinauguração do maior símbolo do futebol nacional, depois do Pelé, o estádio do Maracanã, novo, reformado, hiperfaturado e vendido a preço de banana para o dono do mundo, Eike Batista. Mas não foi apenas nosso maior estádio que foi reinaugurado, uma tendência antiga, clássica mesmo do futebol também foi retomada e acalentada pela nossa elite lamentável que vai lotar os estádios ultramodernos, ainda que odeiem futebol e por nossa classe média decadente que vai estourar todos os cartões de crédito em busca de um lugarzinho na corte. A tendência de um futebol para a elite branca!
É, o público que lotou o maraca era a cara que a sociedade brasileira sonha em passar para o mundo, a cara de um povo civilizado, bem comportado, adestrado, branco e rico que se senta e aprecia um espetáculo de raça, sangue, suor e lágrimas – ao menos é isso que os verdadeiros amantes do futebol esperam ver quando vão aos estádios – como quem acompanha uma reportagem instigante do Discovery Channel ou um torneio de tênis animado. O mesmo adestramento que tentam impor em campo, quando criticam o estilo brincalhão dos meninos que driblam e dão o show que imortalizou o futebol brasileiro e o tornou único, a ginga dos meninos do morro, dos pivetes que precisam driblar mais que zagueiros, a meninada que nasceu com a bola nos pés ou na frente da TV vibrando com seus ídolos, aqueles que os “inspira por falta de alguém”, como diria Mano Brown nessa linda parceria com o mestre Jorge Bem, boa sugestão para entrar no clima da paixão pelo futebol.
O futebol e o carnaval são as duas pedras no sapato desse modelo de sociedade perfeita, invenções deles das quais nos apropriamos, melhoramos, mostramos pra eles como se faz e agora eles querem de volta. Há muito tentam nos expulsar dos sambódromos e mesmo das festas de rua. Agora estão nos expulsando dos estádios, como nos expulsaram desde sempre de suas salas de teatro e concertos de música, dita, erudita – mais uma das arrogâncias do estilo branco de fazer arte. Novamente lamento os conservadores, não por nos excluírem, até porque sei que virão atraz buscar nosso samba pra imortalizar na boca de seus playboys rebeldes, nossa capoeira para seus antropólogos generosos, nossa poesia, nossa música, nossa didática…
Lamento porque sei que eles virão muitas vezes, implorando migalhas da nossa paixão pela vida, mas sempre com ares de quem está sendo generoso em aceitar a vida que nunca tiveram e nós temos de sobra. Mas não se enganem, está chegando o dia em que fecharemos a porta na cara deles e diremos: fique com a sua erudição repetitiva e nada original, deixe-nos com nosso primitivismo vulgar que vocês amam e sonham poder consumir com a nossa desenvoltura e consciência tranquila, até porque não existe pecado desse lado do Equador, desse lado que ainda está colado em África, que ainda ama, odeia, sofre, grita, fala ri alto, altíssimo pro mundo inteiro ouvir, sem nenhuma vergonha, culpa ou constrangimento. Isso vocês não vão conseguir patentear, isso não dá pra produzir em plástico com cores lúdicas. Isso é uma questão de vontade de viver e sentir cada emoção como se fosse a última. Podem tentar embranquecer nossa folia, mas sempre que conseguirem voltarão pra buscar mais melanina, mais dessa alegria de viver que vocês nunca tiveram.

Mariana Santos de Assis: formada em letras e mestranda em linguística aplicada na Unicamp, militante no Núcleo de Consciência Negra e na Frente Pró-Cotas da Unicamp
Fonte:http://www.geledes.org.br/deu-branco-futebol/

quarta-feira, 11 de junho de 2014

OS NEGROS, A JUSTIÇA, A BRANQUIDADE, O RACISMO E AS ELITES... Por Reginaldo Bispo

A justiça brasileira sempre esteve associada aos interesses das elites, como o executivo e o legislativo. Sempre se mancomunou e acobertou toda sorte de ilícitos praticados pelas oligarquias, pelo poder econômico e politico, pois está a serviço deles.

A hipocrisia e o cinismo, característico da justiça brasileira, tem lado, não é imparcial, está e sempre esteve, a serviço dos poderosos. Entretanto, isso nunca foi considerado desmoralização da instituição ou escandalo para a sociedade. Proteger os interesses e as falcatruas dos proprietários, financistas e de seus amigos políticos, tem sido a missão das instituições da republica.

Afinal, todos eles bem branquinhos....Corruptos e corruptores. Esses ricos empresarios corruptores e os politicos, em sua pratica extorsiva são os responsaveis pela pobreza, a miseria e violencia. A falta de um Projeto de Nação, nos mostra: O que falta no prato do povo simples, é esbanjado na farta e dispendiciosa mesa das elites, ao custo da exploração criminosa e vil.

Quando algum desses caras, sem devolver o produto do crime, acaba nas barras da prisão (vide Juiz LALAU), os de sua classe, protestam através da midia, em defesa do direito de transgredir, sem ser punidos, pois "não se constituem ameaça a segurança da sociedade?!"  "São homens e mulheres cultos e não violentos." Mas ladrões! É a ideologia hipocrita dos endinheirados, já que exigem que os outros..."Façam o que digo....não façam o que eu faço." Privilégios de uma republica e uma democracia perversa. 

Enquanto o preto, o pardo, o trabalhador e o pobre, são tratados com violencia arbitraria, acima do que determina a lei, com brutalidade na abordagem, algemas, espancamentos e assassinatos de jovens negros desarmados, (mesmo quando inocentes), sob alegação falsa, de letalidade.
As autoridades judiciárias coniventes, fecham os olhos para aos crimes perpetrados por agentes do estado. Sequer investigam, na maioria das vezes, mesmo, os praticados por grupos de exterminio.

Bastou um homem do povo resolver cumprir seu oficio constitucional, ameaçando esses interesses e privilégios seculares, e tudo quanto foi branco burguês e os amigos do rei, resolvessem que a "democracia" (que lhes libera a pratica de ilicitos, tão naturalmente) estava ameaçada. Puro Racismo!

Nunca tantos nomes gringos temeram um só Barbosa... Pasmem, agora, até a "esquerda" (que antes repudiava essas praticas), amiga de Dirceu, apoia.

Imagine se a moda pega, que seria de seus cargos, suas propriedades, seus milhões, seus negócios? Pra ficar tudo normal, o povo deve ficar longe da verdade e da reivindicação por justiça!!!

Joaquim se vai, mas nós ficamos, pois a vida continua, assim como as vitimas e seus algozes. Dançaram, aprendemos alguma coisa!

Preparemo-nos, pois nada será como antes, amanhã!

Reginaldo Bispo - Movimento Negro Unificado - Fração MNU de Lutas, Autonomo e Independente.


Dizzy - Kuduro Brasil Ft. Arcanjo Ras e Fabian Ifrican


A música fala sobre o Brasil o país do futebol, samba, belezas naturais e alegria contagiante. De um povo que trabalha e que quando adoece fica a mercê do SUS correndo o risco de morrer na fila dos hospitais. Fala de como é triste o quadro da violência e educação. Enquanto os corruptos desviam o dinheiro para os seus cofres pessoais envergonhando a nação. Bless Fyaa

Viva o povo brasileiro e sua história de lutas e de glorias!

JÁ ESTÁ NO AR!!

Dizzy - Kuduro Brasil Ft. Arcanjo Ras e Fabian Ifrican 


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segunda-feira, 9 de junho de 2014

O Impacto do Feminismo na Comunidade Preta e a Busca por Reaproriação Histórica, por Ama Mizani.


É possível que você já tenha escutado a frase "O feminismo nunca matou ninguém. O machismo mata todos os dias." Não quero desapontar a nenhuma das minhas irmãs E irmãos, mas é preciso refinar e realinhar a nossa perspectiva enquanto mulheres e homens pretas/os, ou seja, africanas e africanos. Pode ser que, dependendo do seu nível de boa vontade para com a ideologia feminista, a frase tenha causado alguma comoção. No entanto, a frase é falaciosa. O feminismo matou e mata todos os dias mulheres E homens africana. De fato, ele tem sido, assim como todo tipo de ideologia branca, um fator de desintegração e de morte ontológica da nossa comunidade.Aqui minhas referências são mulheres E homens interessados e compromissados com a agência africana; mulheres E homens que agem no melhor interesse do nosso povo. Isto significa agir no centro das suas próprias experiências histórica, social, cultural, econômica e espiritual. Minhas referências são mulheres E homens que sempre se mantiveram conscientes de sua africanidade e buscam a Afrocentricidade a fim de contribuir com a retomada de nossa dignidade como seres humanos segundo nossos próprios princípios e definições de humanidade. Mais uma vez, agindo no melhor interesse do povo preto/africana. Como estas mulheres E homens, também me proponho a esta construção e por isso, este texto. Meu posicionamento de mulherista africana é inegociável. Meu senso de humanidade é inegociável, e, como vida não se barganha, abrir mão das minhas próprias definições neste momento crítico é perpetrar e colaborar com séculos de escravização, colonialismo e deslocamento¹. Localização

Esta pode paracer irrelevante, mas é uma questão importante e deve ser colocada sempre que absorvemos (ou antes de absolver de seu julgamento) qualquer tipo de informação, principalmente quando relacionadas ao nosso povo. Quem é e onde está localizado o interlocutor no momento de sua fala? Onde sua mente, sua construção identitária se encontra no momento de uma análise? É necessário que estejamos atentos a este fator, já que coexistimos em um mesmo cenário de realidades e perspectivas diferentes, e muitas vezes antagônicas. Assim, não é diferente quando se trata de pretas/os e brancas/os. No caso específico do feminismo devemos questionar: qual era a posição das mulheres E homens pretas/os enquanto mulheres brancas buscavam sua emancipação? De quem parte a narrativa de que o feminismo é uma ideologia de libertação? Libertação para quem? Às custas de quem? Qual o interesse de quem fala?

"Por que não o feminismo para a mulher africana?"

Hoje sabemos que a ideologia feminista está estruturada sobre pilares inteiramente racistas que são inerentes à cultura europeia e que pintar o feminismo de preto não dá conta das demandas de mulheres E homens pretas/os. Clenora Hudson-Weems (2003: 155-6), em seu artigo Africana Womanism publicado em The Afrocentric Paradigm, Ama Mazama, faz uma pequena narrativa sobre as bases primordiais do feminismo e sua relação e atitude em direção ao povo africano:

Por que não o feminismo para a mulher africana? Para começar, a verdadeira história do feminismo, suas origens e seus participantes revelam seu baraulhento plano de fundo racista, desta forma estabelecendo sua incompatibilidade com a mulher africana. O feminismo, anteriormente chamado Movimento de Sufrágio da Mulher nos Estados Unidos, começou quando um grupo de mulheres brancas liberais, cujas preocupações então eram pela abolição da escravidão e direitos iguais para todos independente de  raça, classe e sexo, dominou a cena entre as mulheres a nível nacional durante a primeira metade do século dezenove. Durante a Guerra Civil, tais líderes como Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton sustentaram a filosofia universalista do direito natural das mulheres à plena cidadania, que incluia o direito ao voto. Entretanto, em 1870 a Décima Quinta Emenda à Constituição dos Estados Unidos ratificou o direito de voto aos homens africana, deixando as mulheres, mulheres brancas em particular, e seu desejo pelos mesmos direitos sem atenção. As mulheres brancas da classe média ficaram naturalmente decepcionadas por terem presumido que seus esforços a fim de assegurar cidadania plena para o povo africana iria consequentemente be neficiá-las também em seu desejo de cidadania plena como cidadãs eleitoras. O resultado foi uma reação racista em direção à emenda e ao povo africana em particular.                                                                       

 A continuação da propaganda racista destas mulheres "libeirais" desmascaram qualquer posição de libertárias e imparciais que se tente sustentar dentro do movimento que surgia (e do atual movimento). Em 1890, mulheres brancas do norte fundam a Associação do Sufrágio Nacional Americano (NAWSA) e têm o apoio das mulheres brancas do sul. Segue Hudson-Weems sobre a agenda da associação que defendia que 

...o voto das mulheres deveria ser utilizado principalmente por mulheres brancas de classe média, que poderiam auxiliar seus maridos a preservar  as virtudes da República contra a ameaça de desqualificados e biologicamente inferiores (homens africana), que com o poder do voto poderiam ganhar ponto de apoio político no sistema americano. 

A liderança do movimento sustentava, na figura da conservadora sufragista Carrie Chapman Catt, a necessidade de aliança entre homens e mulheres brancos a fim de preservar os fortes valores anglo-saxônicos e a supremacia branca. Assim, deveria ficar assegurado  não somente a exclusão do voto dos homens africana, mas também de imigrantes. A partir disso, se torna mais fácil de identificar que, embora a fala seja em favor  das mulheres (brancas), quando se trata da relação com o povo africana, a solidariedade de raça toma a frente do discurso. A suposta ameaça vista no novo status dos homens africana como eleitores fez com que a verdadeira face do feminismo fosse exposta, já que aqueles  como "membros de uma raça inferior, não deveriam ser concedidos o direito de voto antes da "metade" feminina do grupo dominante" (Hudson-Weems, 2003). Tal postura de hostilidade e racismo em direção ao homem africana e ao povo africana em geral não pode ser deixada de fora de séria avaliação no impacto das ideologias brancas sobre o corpo, a mente e o espírito de africanas. Ao fazer uma análise localizando um discurso em um contexto específico, é possível aplicar a estrutura com propriedade nas experiências históricas (das mulheres) da Europa em uma realidade de misoginia, machismo e patriarcalismo, sendo assim a possível a compreensão da adesão de mulheres brancas ao feminismo. No entanto, colocar todas as mulheres sob a história das mulheres brancas é problemático. Não há nada mais arrogante nem racista do que relegar toda a autenticidade histórica feminina às mulheres brancas. De fato, dificilmente conseguimos pensar em mulheres brancas que tenham tido papel de protagonismo na história branca (se comparado aos homens brancos) sem estarem relacionadas aos seus maridos. De quantas mulheres gregas ou romanas da antiguidade conseguimos lembrar?Os problemas que mulheres E homens africana  passaram a enfrentar com a escravização europeia apontam precedência da dominação racial de mulheres E homens africanas por homens E(!!!) mulheres brancos. Dentre os milhares de problemas do feminismo, aquele que mais diretamente afeta a nossa comunidade africana é que, por estar embasado na historicidade branca,  esta inconsistente ideologia se torna única e exclusivamente um ataque aos homens ao invés de atacar um sistema (branco/ocidental/europeu) que prospera à base da injustiça. Para nós, este é o ultimato à nossa sobrevivência plena. Entender e analisar criticamente os danos de viver numa estrutura branca e antiafricana é essencial e imperativo.Por muito tempo, a academia europeia na tentativa de legitimar as práticas que sustentam a supremacia branca tentou provar que o matriarcalismo era um estágio inferior da evolução das sociedades humanas e que o patriarcalismo seria seu estágio mais evoluído. Desta forma, não só o continente africano, mas similarmente à maioria das sociedades do mundo, ficaria eternamente estagnado no nível da sub-humanidade, já que não antedia aos parâmetros de crueldade com os quais a Europa media/mede seu senso de humanidade  (neste caso, o patriarcalismo). Hoje temos importantes registros como os dos irmãos Cheikh Anta Diop e Teóphile Obenga que permitem que tenhamos uma perspectiva própria e consistente com nossa história. Segundo Diop, o nível de desenvolviento de uma sociedade deve ser medido pelo tratamento relegado às mulheres daquela sociedade. A Teoria dos Berços desenvolvida por ele argumenta que dois berços distintos de civilização se desenvolveram em direção quase que antitética uma da outra. O berço do sul, África, e o berço do norte, Europa, apresentam características inteiramente opostas devido, segundo Diop, às condições climáticas em cada continente. O continente europeu apresenta um histórico de escassez devido às duras condições climáticas durante o período glacial. Sendo assim, a figura do homem se torna central na luta pela sobrevivência e o nomadismo é essencialmente o modo de vida estabelecido. O estudo de Diop² elucida o caminho deste berço até os comportamentos xenofóbico, machista e racista. Como ele explica, no contexto europeu a mulher é um "fardo que o homem arrasta atrás dele. Fora sua função de parir, seu papel na sociedade nomádica é zero...Tendo menor valor econômico, é ela que deve deixar seu clã para se juntar àquele de seu marido, contrário ao costume matriarcal que demanda o oposto" (1990:29).Seguindo a linha de antítese na Teoria dos Berços, o continente africano apresenta uma realidade distinta daquela do berço do norte. Desafiando as teorias evolucionistas europeias, Diop atribui o matriarcalismo a um modo de vida agrário num clima de abundância. Assim, é notável, até os dias presentes, a xenofilia como um dos princípios dos povos africana. Em total oposição ao patriarcalismo do continente gelado, Diop afirma que: Um regime matriarcal, longe de ser imposto ao homem por circunstâncias independentes de sua vontade, é aceito e defendido por ele (1990:120). Desta forma, o raciocínio é de que o matriarcalismo é benéfico à mulher E(!!!) ao homem africana, como afirma Nah Dove em seu artigo Definindo a Teoria Mulherismo Africana publicado por Ama Mazama em The Afrocentric Paradigm (2003):

O conceito de matriarcado realça o aspecto de complementariedade da relação feminino-masculino ou a natureza do feminino e do masculino em todas as formas de vida, que é entendido como não-hierárquico. Ambos mulher e homem trabalham juntos em todas  as áreas de organização social. A mulher é reverenciada em seu papel como a mãe que é a portadora da vida, o conduite de regeneração espiritual dos ancestrais, portadora da cultura e o centro da organização social. (...)O papel de maternidade ou cuidados maternais não é confinado às mães ou às mulheres mesmo nas condições contemporâneas. Como Tedla (1995) explica, o conceito de mãe transcende relações de sangue e gênero. Um membro da família ou amigo que tenha sido afável e atencioso pode ser dito como mãe de alguém. É uma honra que se tem em ser concedido tal título (1995:61). Valores desta natureza foram críticos à sobrevivência do povo africano durante o prolongado e contínuo holocausto. Maternidade, desta forma, retrata a natureza das responsabilidades comunais envolvidas na edificação de crianças e no cuidado aos outros (2003:168).³                                              

Dove ressalta que o patriarcalismo - e o machismo - é uma das faces de dominação e opressão da supremacia branca que recai sobre mulher E(!!!) homens E(!!!) crianças africanas por homens E(!!!) mulheres E(!!!) crianças europeias. Segundo a autora de Afrikan Mothers

Por um lado, sociedades matriarcais, agrárias, reconhecem(ciam) a importância do equilíbrio e da reciprocidade entre os elementos feminino e masculino em todas as formas de natureza, espiritualidade e a natureza comunal de relações sociais. Por outro lado, sociedades patriarcais, nômades, enfatiza(va)m a hierarquia e o poder do princípio masculino sobre o princípio feminino, cujo resultado é o individualismo. Pode ser dito que o desequilíbrio de poder entre a mulher e o homem é a base para desigualdades sociais fundamentais que existem nas sociedades patriarcais. Afinal, o homem e a mulher criam a menor unidade possível para a reprodução da família e da sociedade, segue-se que esta relação de poder desigual, exploradora e antiética será refletida através da sociedade em todo nível.A conquista de África pelos europeus desde a antiguidade até o presente pode ser vista como a conquista do matriarcado pelo patriarcado que era, ao mesmo tempo, a dominação de mulheres, homens e crianças africanas por mulheres, homens e crianças europeias  e a potencial subjugação de mulheres africanas por homens e mulheres brancas, assim como [potencial subjugação] do homem africano.

Diante desta realidade humilhante à qual nosso povo vem sendo submetido, o patriarcado (supremacia branca) tem efeitos diferentes, porém igualmente devastadores em homens E mulheres africanas. Frances Cress Welsing (1991), autora de The Isis Papers - The key to the colors, desenha uma correlação entre sexo e violência. Para ela, o estupro é um símbolo cultural histórico branco onde os genitais viram uma arma. Inadequação sexual, ela argumenta, é a base para o desenvolvimento de armamento como um modo de conquista europeia ou controle no desenvolvimento da supremacia branca (1991: 176-8). Welsing conecta o alto nível de estupro dentro da experiência urbana africana com a degradação do homem africano sob a supremacia branca e sua tentativa de reduzir o que ele percebe ser o maior status das mulheres africanas, e sua possível falta de respeito e apreciação por ele, também degradando-a. Assim, o homem africano degradado sob os efeitos da supremacia branca emprega a norma cultural dos europeus a fim de demontrar sua agressão e superioridade. A hipersexualização do ser preto tem sido uma das mais sujas justificativas para o estupro histórico de mulheres, homens e crianças africanas, sendo a agressão sexual imposta e empregada em mulheres, homens e crianças pretas.Mulherismo Africana: uma reapropriação histórica.Certa vez, durante um debate de muheres feministas, ouvi uma das mulheres que estavam na mesa dizer que Simone de Beauvoir, que é a mãe do feminismo, diz que nunca no mundo houve uma sociedade matriarcal. Declaração mais infame do que esta não pode haver. Certamente, como boa racista e atendendo ao decoro da supremacia branca, Simone de Beauvoir parte da centralidade europeia para fazer tal afirmação, já que sociedades africanas não contam no plano histórico da humanidade como algo relevante; africanos não são nada mais do que um museu vivo onde é possível ver como viviam os homens pré-históricos, segundo esta perspectiva. Desta forma, mulheres E homens africana repetem mentiras históricas por que fomos tolhidos de conhecer a nossa própria experiência cultural africana. Na verdade, desde a antiguidade as mulheres africanas têm participação ativa no núcleo da vivência social africana. Ao longo dos milênios nós temos desempenhado papéis espirituais, militares e políticos que têm sido essenciais nos esforços do controle de nossas terras, recursos e energias. Atualmente, podemos ter acesso, com mais facilidade do que no tempo de nossos pais e avós, ao protagonismo das mulheres africanas. Não é novidade o nosso desempenho na defesa de nosso continente e de nosso povo, como temos nos exemplos das Candaces em Cush (atual Etiópia) contra a falha tentativa de conquista de gregos e romanos. Em Angola temos o exemplo de rainha Nzinga (1581-1663), grande líder e estrategista militar. No Congo, Dona Beatrice (1682-1706) protagonizou sua liderança política e espiritual. Em Gana tivemos Yaa Asantewa liderando batalhas contra a invasão britância em 1900. Nos Estados Unidos, Harriet Tubman foi a mais brava dos combatentes pela libertação (James, 1985:23). No Brasil, Luísa Mahin liderou levantes históricos de resistência à colonizção portuguesa.É ancorada nos incontáveis exmplos de mulheres africanas - que transbordam as linhas deste texto - que Clenora Hudson-Weems recentraliza a história das mulheres africanas nos Estados Unidos, assim como em toda a diáspora e no continente, desenvolvendo a teoria do Mulherismo Africana. Observando com lentes africanas a realidade deteriorante que mulheres E homens africana estavam sendo submetidas, Hudson-Weems aponta a urgentíssima necessidade de desenvolver teoria afrocentrada que atendêsse às necessidades de mulheres E homens africana. Hudson-Weems, entendendo o quão pernicioso para nosso povo era (é) estar lidando uns com os outros dentro de formatações europeias, retomou nosso ponto de partida africano e desenvolveu a teoria mulherista africana. Assim como homens E mulheres brancas foram participantes ativos no processo de escravização do nosso povo, mulheres E homens africana sempre lutaram juntos pela libertação dos diversos tentáculos da supremacia branca. Hudson-Weems explica com precisão a importância desta cooperação e colaboração entre homens E mulheres africana. Ao observar a experiência de mulheres pretas nos Estados Unidos, como Harriet Tubman, Ida B. Wells e Sojourner Truth ela ilustra esta historicidade de unicidade e protagonismo da mulher africana. Harriet Tubman (1820-1913) ao conduzir escravizados em escavações a caminho do norte por liberdade, o fez por milhares de ambos mulheres E homens; Ida B. Wells (1862-1931) tomou a frente de inúmeras cruzadas anti-linchamento no início do século XX e o fez por mulheres E homens africana; Sojourner Truth (1797-1883), foi porta-voz abolicionista e sufragista universal em favor dos direitos de homens E mulheres africana. Segundo Hudson-Weems, estas mulheres podem ser consideradas prefeministas (Hudson-Weems, 2003) já que seu foco não era apenas nos problemas das mulheres. Nos elucidando com grande contribuição, a autora afirma que 

Em vista das atividades das mulheres africanas desde cedo tais como aquelas mencionadas acima e outras incontáveis heroínas africanas que não são mencionadas, o que a feminista branca fez, na realidade, foi pegar o estilo de vida e as técnicas de mulheres africanas ativistas e usá-los como modelos ou diagramas para a estruturação de sua teoria, e depois nomear, definir e legitimá-la como o único movimento substantivo real para as mulheres. Daí, quando elas definem uma feminista e uma atividade feminista elas estão, de fato, se identificando com mulheres africanas independentes, mulheres que elas tanto emulavam e invejavam. Tais mulheres com quem elas tiveram contato desde o início da escravidão americana, até o Movimento dos Direitos Civis moderno, são mulheres africanas ativistas como Mamie Till Mobley, a mãe de Emmie Louis Till, e Rosa Parks, a mãe do Movimento dos Direitos Civis Moderno. Desta forma, quando as mulheres africanas se juntam e abraçam o feminismo, elas estão, na realidade, duplicando a duplicata. (2003:156)

Segundo Hudson-Weems, depois de quase dois anos de debates públicos sobre a importância de se autodenominar e se autodefinir, ela cunhou o termo Africana Womanism em 1987. Mediante termos de pouca substância, como "Mulherismo Preto", para incluir o total significado desejado para este conceito, "Mulherismo Africana" foi uma natural evolução na terminologia que encontrou neste nome a força desejada, segundo ela, por duas razões básicas: A primeira parte da cunhagem, Africana, identifica a etnicidade da mulher em consideração, e esta referência à sua etnicidade, estabelencendo sua identidade cultural, se relaciona diretamente com sua ancestralidade e sua terra base: Africa. A segunda parte do termo, Mulherismo, invoca o poderoso discurso improvisado de Sojourner Truth "And Ain't I a Woman?" [E Eu, Não sou uma Mulher?], no qual ela combate as forças alienantes dominadoras em sua vida como uma mulher africana lutadora, questionando a ideia normativa de feminilidade (Hudson-Weems, 2003:157). Ainda outras análises relacionadas aos conceitos da língua levaram à escolha do termo mulher(ismo): a humanidade que o nome carrega. Hudson-Weems argumenta que o termo mulherismo se torna mais apropriado à medida que apenas uma "fêmea"(daí o nome feminismo) humana pode ser uma mulher. A teoria mulherista africana foi desenvolvida a fim de endereçar as lutas, as necessidades e desejos das mulheres africanas baseada em sua história única. Também a teoria afrocentrada não é para ser confundida com feminismo de qualquer tipo, seja ele branco, preto ou africano. Não há nenhum tipo de colaboração ou identificação entre a mulher africana (neste caso, mulheres e homens que conscientemente se afirmam africanos e de acordo com os interesses de tal, independente de terem ou não nascido no continente) e feministas brancas que participam na opressão de mulheres E homens africana. Além disto, a mulher africana não vê o homem como seu principal inimigo, como faz a feminista que trava antiga batalha contra seus homens que as subjugam como suas propriedades. O homem africana nunca teve os mesmos poderes institucionalizados para oprimir a mulher africana como faz o homem branco com a mulher branca, e mais tarde com a mulher E com o homem africana. A principal luta que mulheres africanas enfrentam é, na verdade, a cansativa batalha contra a hegemonia europeia que cria caos e destrói a relação entre seres pretos. O papel que as mulheres pretas desempenham dentro do movimento feminista é aquele de marginalidade e de legitimação do discurso branco universalita, ou seja, aquele discurso de que as teorias, ideologias e experiências históricas europeias são cabíveis inclusive aos não-europeus. Mulheres africanas nunca foram consideradas propriedades de suas partes masculinas sendo desta forma necessário dispensar a questão de gênero como uma questão de primazia. De fato, o assimilacionismo por parte de mulheres pretas que abraçam o feminismo é deletério à sobrevivência de nossa comunidade, já que quando o fazem, elas abrem mão do compromisso com sua cultura, seu povo e particularmente com a histórica e atual luta de mulheres E  homens africana. A problemática da mulher africana que adota a agenda feminista (preta ou branca) é que, em alguma medida, ela admite ser a questão de gênero o problema mais crítico em busca por empoderamento e autodefinição. No entanto, estando na margem do movimento, já que jamais serão elevadas às feministas renomadas, este é o lugar onde ela não encontrará autodefinição. Ela, com a falsa sensação de estar se definindo e determinando seus próprios caminhos, continua a ser definida por parâmetros alienígenas à sua cultura e experiência de mulher africana. No máximo, ela será concedida pela feminista branca o título de porta-voz universal dos pretos em geral e cooptadora de outras mulheres africanas. O alinhamento e a adoção da pauta feminista está em direta contravenção com as necessidades do povo africana, demonstrando certa falta de perspectiva afrocentrada histórica e contemporânea.  Um dos exemplos de pioneirismo das mulheres dentro de nossa cultura é a independência econômica da mulher africana. Sendo esta - independência econômica - uma das pautas do movimento feminista contemporâneo, muitas mulheres pretas respondem positivamente à noção de ser feminista, sem se dar conta de que este era o modo de vida suas ancestrais matriarcais. De fato, nós, mulheres africanas que nos respeitamos e respeitamos a nossos companheiros, temos preocupações legítimas relacionadas ao homem africana. No entanto, é importante que saibamos a origem destes problemas (supremacia branca/racismo) e que busquemos coletivamente, mulheres E homens, a solução para estas questões dentro de um construto teórico endêmico (Hudson-Weems, 2003). Isso significa que já temos um modelo ancestral dentro de nossas experiências históricas pré-escravismo e pré-colonização (e que deu certo por milhares de anos), quando agíamos no centro de nossa cultura. Mulheres E homens sempre foram igualmente tomadores de decisão de seu destino. Hoje, muitas das mulheres pretas que abraçam o feminismo, na ingenuidade sobre a verdadeira historicidade do movimento, o faz, geralmente, por experiências negativas com os homens pretos, rompendo assim um possível foco de resistência para nosso povo. Hudson -Weems destaca que  as experiências individuais são válidas na determinação de uma visão de mundo pessoal. Segundo ela, "a resultante generalização que muitas feministas pretas compartilham - de que todos ou quase todos os homens africana são menos valiosos do que as mulheres - é baseada em preguiça intelectual, o que requer racionalização sem esforço." A autora ressalta que este comportamento de generalizar o homem preto apenas como opressor é "um clássico exemplo de exagero grosseiro baseado não em fatos mas em polêmicas ou experiências pessoais limitadas" que castiga todo um grupo. Nossas ancestrais, desde que foram trazidas e espalhadas pela diáspora, sempre lutaram pela emancipação plena do povo africana. A percepção do homem africana como inimigo e os problemas das mulheres africana, incluindo brutalidade física, assédio sexual e subjugação feminina, perpetrados ambos dentro e fora da raça, devem ser definitivamente resolvidos em base coletiva dentro das comunidades africanas (Hudson-Weems , 2003). O povo africana deve eliminar todo tipo de influência racista de suas vidas em primeiro lugar e realizar o movimento sankofa de reapropriação de nossa matriz cultural. A fala universalista e de deslegitimização da nossa luta está presente em cada partícula desta ideologia. John Lennon e Yoko Ono quase me convenceram de sua solidariedade, mas foram mais do que infelizes ao escrever Woman is the nigger of the world [A mulher é o negro do mundo]. Primeiro equívoco é reafirmar a condição de escravizada da população africana, ou seja, as mulheres são tratadas como negros, os verdadeiros escravos - tratamento dado pelo próprio povo dele, vale ressaltar. Igualmente desnecessário é afirmar que todo o mundo tem posturas misóginas para com as mulheres. Esta não é a realidade da mulher NEM(!!!) do homem africana. Usar a palavra nigger é altamente pejorativa para nosso povo, no contexto dos Estados Unidos, logo o é para tod@s nós, já que é uma definição utilizada pelo colonizador a fim de reafirmar nossa condição de seres humanos inferiores. "A mulher é o escravo dos escravos", diz um verso da música. Gostaria de ter tido a oportunidade de perguntá-los se qualquer sinhá se sentia inferior ou oprimida por seu escravizado homem ou mulher. Foi infeliz e desrespeitoso, mas olhares mais "tolerantes" me dirão "radical". Não John Lennon, não Yoko Ono! Eu não sou escrava de ninguém. O reconhecimento e a reapropriação da perspectiva mulherista africana afrocentrada é o que temos de melhor a fim de restaurar integralmente nosso ser físico, mental e espiritual. Entendemos a importância de permanecermos autênticos em nossa existência e de priorizar nossas necessidades mesmo que elas não sejam preocupações relevantes para a cultura dominante. Precisamos retomar nossas posições de matriarcas a fim de reconstruir nossa comunidade. Sabemos que a complementariedade é de extrema importância para que possamos explorar todas as possibilidades de um ser sadio física e mentalmente. Este é um trabalho coletivo que envolve mulheres E homens E crianças no retorno de nossa sanidade. Já é mais do que tempo de dispensar as migalhas ideológicas da europa, sejam elas feminismo, capitalismo, marxismo, e romper com os comportamentos normativos da cultura branca. Nós, mulheres africanas que respeitamos a nós e a nossos irmãos, filhos, companheiros, temos razões suficientes para argumentar que o feminismo nos mata sim! 

"O grau de uma civilização é medido pelas relações entre o homem e a mulher." Cheikh Anta Diop

Notas:1. O conceito de deslocamento foi primeiramente cunhado por Molefi Kete Asante como um componente conceitual crítico da Teoria Afrocêntrica nos anos 80 e mais tarde com abordagem mais apropriada nos anos 90. De acordo com a teoria afrocêntrica, cada grupo étnico ocupa um espaço particular, baseado em sua história, cultura e biologia. Este espaço representa o centro ou locação do grupo. No entanto, é possível que um dado grupo desenvolva um senso de locação que não seja congruente com sua história, cultura e biologia. Isso frequentemente acontece quando o grupo se identifica, conscientemente ou não, com outro grupo, o qual ele percebe como dominante, e perde vista de si mesmo, assim causando a ocorrência do deslocamento. A identificação com outro grupo pode acontecer em níveis relacionados: pode envolver a adoção das atitudes do grupo dominante e/ou total ou parcial adoção da cultura do grupo dominante. Ama Mazama

2. A intenção aqui é apenas situar a linha por onde perpassa a pesquisa do autor, e não aprofundar na mesma. 

3. Grifo meu.