Ao retornar pra casa, no ônibus, me aconteceu algo interessante. Atravessei a roleta, e um homem me olhou de cima a baixo com a testa franzida, alguém que estava em pé no corredor, forçava o corpo de modo que ficasse apenas um pequeno vão para eu passar, e ainda reclamou porque, pela obviedade dos fatos, meu corpo era maior e a minha sagacidade também.
E foi assim, com os demais, conforme eu me aventurava a passar pelo corredor do fétido e imundo transporte público que eu tenho de pegar todos os dias, com pessoas mau educadas, que acham que todas as pessoas gordas deveriam morrer ou jamais existir.
Fiquei pensando nisso enquanto o ônibus andava, de como as pessoas são escrotas ao inferiorizar quem lhes é diferente. Como se todas as pessoas no mundo devessem ser iguais, seguindo um padrão estético "natural", e de como cada uma daquelas pessoas provavelmente tinha inúmeros problemas, mas que para fugir dos seus, exaltavam os dos outros.
Fui analisando a utilização da palavra "problema" e concluí que, o incômodo das pessoas é problema delas. Que não aceitar que as pessoas sejam gordas ou magras (sim, existe essa neurose também), é problema delas. Não de quem é atacado. Porque na verdade, a gente não nasce com problemas com nosso corpo... As pessoas inserem essas neuroses em nossas cabeças, porque são neuróticas. São problemas delas, que elas transferem para os outros, pq não sabem administrar.
Penso nisso, com uma certeza tão grande, pois me recordo de um dia desses ter saído de casa me achando perfeita, mas ao encontrar uma daquelas ex-vizinhas idiotas que não tem nada mais pra falar além da vida dos outros, me olhou e disse: "não vai fazer cirurgia bariátrica?"... Enfim... O problema me foi inserido, coube a mim absorver ou não. Se fosse há uns anos atrás, eu teria absorvido, voltado pra casa e chorado durante uma semana. Mas eu preferi jogar fora.
Problema dos outros, a gente joga fora!
Enfim, quando finalmente abriu-se espaço para eu chegar no final do ônibus, meu fone caiu... Era ponto de ônibus, e uma galera ia descer. Um senhor educadíssimo o pegou pra mim, e a galera apressada, começou a brigar comigo. Obviamente que eu soltei uns palavrões (sim, ando meio desaforada!), e no meio do meu esbravejo, uma menina também preta e gorda, começou a me dar razão.
Resenhamos até o meu destino, sobre as condições da mulher gorda nesse mundo imbecil em que a gente vive, onde as pessoas nos olham como se fôssemos extraterrestres, onde homens que enchem o peito pra dizer que AMAM GORDAS, que nos enchem de elogios, mas no final das contas ao invés de nos chamar pra sair, se convidam para "nos fazer uma visita". Confidenciou-me que prefere estar solteira a passar por certas humilhações constrangimentos novamente, com uma grande mágoa, me questionando se eu passava por isso. A maioria de nós acredita fielmente que este problema é individual... Eu, também achava. Achava que o o sentimento estava somente comigo. Conversando com as meninas, percebi que o sentimento é coletivo e que a cura é o amor próprio. Se reconhecer, se aceitar e se amar.
Sem falso moralismo ok, mas fiquei intrigada com o olhar de tristeza e ressentimento que havia ali, e me vi naquele sentimento. De constatar o fato de que meninas e mulheres pretas e gordas estão preferindo estar só, a tentar se envolver emocionalmente com alguém, pois sempre termina em mágoa. E que algumas até se submetem a se deixar levar apenas pelo prazer, por acreditar que o sexo é a única forma de se sentir inserida, se sentir em nível de igualdade. Sexo é maravilhoso, é vida e é delicioso quando existe o respeito: de nós por nós mesmas e do outro por nós! Os motivos é que vem sendo o problema e precisam ser analisados!
Realidade de muitas, senão, da maioria de nós.
Nós nos apaixonamos, amamos, sentimos tesão, nos magoamos, nos entristecemos... As pessoas precisam mudar a percepção que tem sobre nós, como se não fôssemos nada, e tal.
Mas essa concepção, essa percepção da sociedade sobre nós, só vai acontecer, quando decidirmos mudar isso... Nos amando e nos valorizando.
Faz um certo tempo, aprendi a tomar decisões importes sobre mim mesma e tomar as rédeas da minha própria vida. Decidi ser feliz e que ninguém vai interromper esse processo.
Identifico o problema e concluo que eu não faço parte dele... As pessoas que não me contemplam eu jogo fora e agrego quem me traz paz...
Tá na hora de se mover, gatas!
Vamos refletir, moças.
Afrobeijos
Alê de Mattos
FONTE:http://pretaegorda.blogspot.com.br/2014/05/minhas-curvas-te-incomodam-problema-seu.html
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