domingo, 9 de março de 2014

OPANIJÉ, SANGUE DE ANGOLA. (part. G.O.G., Aspri e Gomez)


Sangue de angola
(Rone Dum Dum/Aspri /Lázaro Erê /Gomez)
Cortem a cabeça, cortem a bolsa, cortem até meus livros
Cortem meu dinheiro, só não vão cortar os meus motivos
Pra estar vivo e saber o que a luta é nossa
Quem conhece a cura sabe o que nos reforça
Palavra que destroça pode ser a que faz florescer
Sinta o grave e o poder do erreapê
Não preciso dizer o nome do meu hino
Eu rimo a honra de um afro nordestino
Que desde menino tem que aprender a ter
Responsa de adulto e a grandeza de Erê
Se o homem tem fome, a fome come, o homem morre
Porque quer fumar, quer cheirar, ta de porre?
Moleque, chamado de pivete, mas não se submete
A fuzil, canivete, UNICEF
Na escola jogar bola, parar de cheirar cola
Alimentar a família com a tal da bolsa esmola
É muito mais dramático, é muito mais drástico
Quem matou pixote? O cangaço, o tráfico?
Verdade tão freqüente nos becos, bocas e bares
No sinal quem te sustenta ostenta os malabares
Me diz, que futuro que teve essa infância?
Fome saciada pelo criança esperança?
Nem vem! Não tou dando uma de profeta
A cura tá no sangue e na palavra do poeta
Bota o leite quente na bacia que esse menino tá estranho
Ta comendo como o quê e não está engordando
Anda descalço, sem camisa ou na caatinga feliz
Chupa o delicioso catarro que escorre do nariz
Carrega e come do chão o delicioso biscoito
Nasceu em 14 de maio de 1888
Ainda hoje está vivo depois de tantos equívocos
Tem a marca do “de raspão” do projétil do extermínio
A barriga roncou e o gigante verme saiu
Afoga-se nas tetas fartas da pátria mãe gentil
Merece palavrões e linchamentos pelos absurdos
São os vermes, solitárias, pra matar só voto nulo
Vitalidade impressionante também é o jeito que esse menino pensa
À base de “mingau de cachorro” já ultrapassou os 40
Aprendeu a mágica da sobrevivência na política que vigora
Até quando? O que não mata engorda!
Quer se calar, se acomodar, deixar dominar
Esperar para se entregar a quem quer nos matar
A cultura do absurdo impede que a gente cresça
Sentir o peso do mundo cair na nossa cabeça
Desde cedo o pássaro preto sai do ninho
A alma entende o corpo aprende a se curar sozinho
Portas se fecham. Arrombo, mas entro com classe
A vida obriga a esconder a dor da nossa face
Me lembro de como era bom há mais de 10 anos
Amigos que curtiam som, faziam planos
Sonhavam em transformar a cara da cidade
Lutavam para não cair na mediocridade
Reuniões no Passeio, domingos, tardes de lazer
A união em nosso meio e a militância por prazer
Era mais fácil e possível confiar nas pessoas
Difícil voltar ao nível dos sons da Gambôa
Mas gente boa existe, apesar dos vermes em destaque
Não fico triste, não me afetam seus ataques
A falta de oportunidade minha inimiga mortal
Quer me ver na pagina policial
Mas tou de pé, tou na estrada, minha fé renovada
Sem o rap, seria mais uma pessoa amargurada
Com medo da vida e com a dignidade no chão
Com uma ferida que não cicatriza no coração
O elo da corrente não se quebra assim
Vocês precisam de mais gente pra ver nosso fim
Ruim é andar certo pelos seus caminhos tortos
Ser mais um Lázaro que ressurge dos mortos
Idade nunca foi sinônimo de sabedoria
Se o homem criou as horas e a mãe natureza a noite e o dia
Ficar preso a limites, horas, minutos e segundos
A dias determinados, dia da paz, dia do fim do mundo
A idade como algema e o tempo como grade
A cidade como cela e a sabedoria como chave
Tudo definido, inicio, durante, meio e fim
Caráter ligado a aparência, branco bom, preto ruim
Infância, se o tempo é quem manda
O hip hop se renova e sempre será uma criança
Mas não é como alguém que nasce cresce envelhece e morre
É energia que se espalha e que envolve quem se move
Dos mortais herdou a imperfeição
Tem bondade, tem maldade, tem o sim e tem o não
Tem seriedade e graça, a quietude e a fumaça, vive em casa, vive na praça
Prende a bola e às vezes passa
Erra e acerta, prende e solta, escraviza e liberta
Leva a atos impensados e a atitudes certas
Imperfeito e importante como eu e você
Mas sem ordens chefe, credo, para ditar o que fazer
Sem data comemorativa, pois nasce com a rebeldia
Como a infância, a paz e o amor deveria ter todo dia
Todo dia é dia de índio, todo dia é da vida
Todo dia é dia de amar e de cicatrizar feridas
A todo instante gente nasce, mata e morre sobe e desce
Brota o adulto, morre a infância, morre a paz e a guerra cresce
Liberdade é o que se prega mas se prendem a padrões
A estilos, partidos, problemas, soluções
Sou verdade e sou mentira e até o que não quero ser
Sou a ignorância do adulto e a criança a aprender
Sou um cidadão criança que só aprende e nada sabe
Clamando por justiça para que a infância não acabe



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