Constantemente em rodas de conversas ouço alguém, leia-se branco, dizendo: “Os nego tão ficando racista” (...) “que nego racista”. O “racismo ao contrário” é bastante evocado em discussões sobre o tema; seja para transferir/redimir a culpa ou mascarar as mazelas causadas, exclusivamente, aos negros, pelo racismo. Os brancos estão passando por um surto de coitadismo. Frente a algumas iniciativas negras, nota-se um apequenamento e intensa tentativa de provar que negros estão tão racistas quanto brancos.
“... o racismo beneficia e privilegia os interesses exclusivos da raça dominante, prejudicando somente os interesses da raça subalternizada. O racista usufrui de privilégios e do poder total enquanto o alvo do racismo experimenta exatamente a experiência contrária.” Ele continua;“O racista se beneficia do racismo em todos os sentidos: econômica, política, militar, social e psicologicamente. Não somente ele se sente superior, mas vive uma vida efetivamente superior à vida daqueles que ele oprime.”
Ora, um negro pode até cometer algum tipo de preconceito contra uma pessoa branca, mas ele nunca cometerá racismo. Para isso ser possível a estrutura dominante mundial, ou no mínimo nacional, precisaria ser drasticamente mudada; os negros passariam de oprimidos a opressores. Aí sim, um negro poderia ser chamado de racista e usufruir “... privilégios econômicos e sociais que são negados à população-alvo.” Deter “... um poder hegemônico, de fato, na sociedade...” Que lhe permitiria “... reproduzir e perenizar as estruturas de dominação sócio-raciais em favorda sua prole e dos seus descendentes genéticos...” C. M. – Racismo Através da História.
Para haver um "racismo negro" a estrutura de poder teria que mudar.
No documentário Café com Leite – Água e Azeite? O Antropólogo João Batista Félix resume bem a questão; “Discutir racismo no Brasil é discutir relação negro e branco. E discutir relação negro é branco é: o branco é racista e o negro não é racista. Eu, por exemplo, todo debate que eu vou não engulo mais essa discussão; - ‘Ah, mas tem negro que não gosta de branco’. Tem. Mas ele não é racista porque racismo é uma ação de poder; quem tem poder é o branco.”
Com a falácia de que o negro está racista iguala-se o racista branco com o “racista” negro – notem o perigo que isso representa; podendo um negro ser racista qualquer ação que vise à melhora de condições da raça (termo sócio-político-cultural) negra pode ser acusada de racista;cotas, por exemplo. Portanto, cuidado. Não sejam vocês reprodutores de um discurso de caráter, no mínimo, duvidoso.
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