REFLEXÃO PRETA
MARCELO SILLESRAPPER
Bem
sabemos desde quando os brancos portugueses invadiram essas terras, junto com
outros brancos europeus, que a política nas terras brasílis sempre foi composta
majoritariamente por brancos. Ora bem sabemos que o porquê desta discrepância
numa terra plural, miscigenada (assim dizem por aí) e multicultural que o
branco sempre representou (crenças da raça branca), a pureza, o bem, tudo de
bom. Assim o branco/a sempre esteve fora de qualquer suspeita, sendo branco/a é
muito mais fácil desviar dinheiro público, roubar dinheiro público, fraudar, etc.
Sem
contar que é um marketing perfeito para se vender a imagem de lobo na pele de
cordeiro. Na última eleição passada para a Alerj, um tal deputado lançou os
dois filhos que saíram vitoriosos, o pai perdeu. A vitória simplesmente se deu
pelos seguintes fatores: cor-fenótipo-cútis branca, jovens de excelente
aparência (aos olhos da sociedade racista), boa família (branca de classe alta)
livres de qualquer suspeita, infiltrando na corrupção nunca serão presos,
julgados, condenados serão sempre inocentes. Se fossem negros, primeiro não
seriam eleitos, segundo sempre estariam na mira de qualquer suspeita. O mesmo
vale para as mulheres brancas candidatas.
Bom
a política em Bom Jesus não é diferente. Como diz MV Bill “um negro não quer
ver o outro negro bem”. Um negro político bonjesuense na década de 80, filiado em
um partido político, engajado nas lutas sociais, movimento negro com uma
participação bem expressiva na militância, na política, católico praticante,
exemplo de família, candidata-se a vereador num determinado período da década
de 90. Infelizmente tem uns míseros votos. Por outro lado, um branco político
bonjesuense, filiado no mesmo partido, bem mais jovem, não tem engajamento
nenhum em lutas sociais, fez faculdade durante a mocidade, teve muita sorte na
vida, bem apanhado, pai de família, candidata-se a dep. Estadual e vence. Sabe
qual o fator primordial de sua vitória? A imagem, o marketing, a brancura.
Jovem branco, pai de família branca aparência bem sucedida, traços
eurocêntricos, bonito para as mulheres pobres, ideal para o partido político e
para a política brasileira. Qual o fator primordial para a derrota do negro? O
fato de ser negro.
Ele
poderia ser um pai de família exemplar, honesto, religioso, militante ativo
todas as qualidades que o outro não tem, mas é negro. O branco somente o fato
de representar uma minoria majoritariamente no poder, garantiu a sua vitória.
Isso
é costume nos partidos políticos brasileiros, em qualquer canto seja de
direita, esquerda, centro todos são racistas, não há democracia racial nos
partidos políticos. À direita e centro são declaradamente racistas. À esquerda
além de racista, prega a distribuição de renda dos outros não as dela. Episódios
como esse acontecem ainda em Bom Jesus, onde quem levanta a voz em defesa da
maioria é prontamente acusado de excitar o radicalismo, a barbárie, o racismo
etc. nunca pensa no bem comum, no bem coletivo no qual inclui a todos de uma
forma geral. O discurso reto e direto incomoda.
Até
quando vamos ficar enojados com a política, até quando vamos ficar sendo
hipócritas distanciando das atividades políticas de nossos interesses e quando
chega à época da eleição elegemos racistas, oportunistas, interesseiros,
paneleiros tudo isso em troca de farra, orgia, sacos de cimento, remédio,
mudança, vasos sanitários, uma conta pra pagar etc. Depois do orgasmo obtido
vem a frustração de uma transa mal feita e o arrependimento.
Ficar
metendo a língua por trás em conversinhas de que na política só tem corruptos,
não adiantou, não adianta e não adiantará nada se não arregaçarmos as mangas e
pegarmos as rédeas da situação. Levantar a bunda da cadeira, sair do comodismo
e exigir da sua própria comunidade representantes fiéis que façam valer seus
direitos ou representantes do nosso grupo, é a única saída. Não deixemos o fato
ocorrido com o nosso irmão negro político bonjesuense, seja algo comum, oportunidades,
chances temos que dar aos nossos, que sabemos bem estão na luta cotidiana
contra o racista opressor, informando, conscientizando, sendo exemplo de
negritude.
Sejamos,
portanto, É NÓS POR NÓS.
PS: COM CERTEZA, IRÁ APARECER UM
PSEUDO-INTELIGENTE E FARÁ O SEGUINTE COMENTÁRIO: VOCÊ ESTÁ SENDO RIDÍCULO,
TEMOS POLÍTICOS NEGROS NO BRASIL OCUPANDO CARGOS. E EU IREI RESPONDER AO
PSEUDO-INTELECTUAL: MEU FILHO, É UMA SITUAÇÃO QUE CONTA-SE NOS DEDOS, NÃO SE
PODE LEVAR EM CONTAR NÚMEROS DE NEGROS EM CARGOS NO LEGISLATIVO COMO UM FATOR
REPRESENTATIVO EXPRESSIVO PARA SE APAZIGUAR UMA LUTA, MÁSCARAR UMA REALIDADE
PERVERSA. IMPORTÂNCIA TEM SIM, MAS FALTA MUITO. NÃO QUEREMOS ALGUNS NÚMEROS,
QUEREMOS MUITOS NÚMEROS.